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Notícias fúnebres

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Devo a um tio minha curiosidade em relação a notícias fúnebres. Homem culto e leitor de jornais diários tinha ele, por hábito, consultar as notas fúnebres. Vez ou outra vinha o tio avisar que falecera “Fulano de Tal”. Inútil perguntar a ele se conhecera o falecido. Obviamente não, não, não tinha a menor ideia de quem fosse. Mais tarde vim a compreeender que era a finitude da vida, a morte em si que incomodava o meu, tio.

Sou assíduo leitor de jornais. Embora hoje se possam assinar edições digitais aindJosé prendo à leitura dos impressos. O volume de papel nas mãos simula segurança sobre a veracidade do que se lê. Dirão que isso é bobagem, uma coisa nada tem a ver com a outra. Verdade. Mas que fazer se nesse caso é o velho hábito quem comanda não só a ação como, também, a impressão?

Pois, página depois de página eis que se abre aquela em que estão as notas fúnebres. Não há como dobrar essa página e passar à seguinte. A força dela está na parte inferior, junto ao rodapé. Ali ficam os nomes dos ilustres desconhecidos, os tais “fulanos” que nos deixaram. Seus nomes constam de uma lista para a qual olhamos com alguma piedade, piedade essa talvez mais forte em relação a nós mesmos.

Penso que gente como meu tio e eu não somos aficionados das notas fúnebres por simples curiosidade ou mesmo acaso. Talvez as leiamos para nelas procurar nossos nomes, certificando-nos de que continuamos vivos, ainda não desertamos deste mundo.

Quase desnecessário dizer que certo dia o nome de meu tio figurava na lista. Sim, estava lá, com todas as letras, sim era ele mesmo que morrera e tornara-se mais um “fulano de tal”.

Quanto a mim, sigo lendo jornais e dando atenção às notas fúnebres. Esperando pela minha vez de me tornar “fulano de tal”.

Escrito por Ayrton Marcondes

15 abril, 2022 às 9:24 pm

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Exercícios

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Ouço, diariamente, reclamações quanto à preguiça e consequente inatividade física. O tempo é curto, muito trabalho, enormes responsabilidades etc. Daí que não sobram nem uns poucos minutinhos para frequentar academia, trazer um personal para atividades em casa, caminhar etc.

Tenho que essa história de fazer ou não exercícios depende de fatores ligados à personalidade de cada pessoa. Tem gente que adora praticar, outros nem pensar. Esses últimos, entretanto, deixam-se entregar à repetição da lamúria sobre estarem parados e as consequências advindas dessa condição. Fato é que não se encaixam nas atividades físicas programadas. Acontece, mesmo, inscreverem-se em academias, pagar mensalidades e aparecer muito de vez em quando até, simplesmente, desistirem.

Em relação a esse assunto recordo a máxima atribuída a Neuzinha Brizola, filha do grande político Leonel Brizola, já desaparecido. Dizia ela: “quando tenho vontade de fazer ginástica eu me deito e espero passar”.

Até os meus 30 anos de idade não pratiquei nenhum esporte. Então comecei a correr num parque. Foi progressivo. Vencidos os primeiros quinhentos metros, cheguei aos mil, aos dois mil, até os quinze ou vinte. Adorava correr. Parei quando a minha coluna vertebral discordou da intensidade das corridas. Restaram as caminhadas.

Conheço gente que acorda de madrugada para exercitar-se. Um grupo de ciclistas se reúne às 4:30 da madrugada para seguir trajetos de vários quilômetros. Entre eles está um advogado, meu conhecido, que afirma fazer isso porque seu dia é de trabalho intenso. Ele adora pedalar…

Atletas profissionais de todo o mundo empenham-se em treinamentos, visando competições nas quais só os melhores se sobressaem. Mas, a maioria das pessoas pratica algum tipo de esporte ou atividade física por esporte ou, como se diz, para manter a forma. A prática regular traz benefícios à saúde. De modo que para quem se nega aos exercícios fica a dúvida quanto à disposição e bem-estar que seriam, talvez, melhores caso se dedicassem a praticá-los.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 março, 2022 às 12:41 pm

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Quase parando

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Verdade que atualmente a turma do esporte se aposenta mais tarde. Talvez porque disponham de recursos mais avançados de preparo físico. Importam - e muito – as características individuais que, em alguns casos, permitem carreiras surpreendentemente longevas.

Verdade, também, que o passado nos mostra casos de atletas que se aposentaram tarde. Zizinho - o mestre Ziza - foi campeão paulista, jogando pelo São Paulo, em 1957. Tinha ele então 37 anos e, depois disso, ainda jogou por um tempo.

A caso da aposentadoria de Pelé não deixa de ser interessante. Em 1970 era já era “velho” para a seleção. Tinha então 30 anos… Aos 34 anos aposentou-se do futebol brasileiro. Aos 35 foi contratado pelo New York Cosmos e só parou mesmo aos 37 anos.

Para quem atua no esporte o difícil mesmo é saber quando parar. Reservamos, sempre, um suspiro de tristeza quando observamos grandes nomes do esporte bem próximos do final de suas carreiras. Atletas que ocuparam nossas atenções por longo período, pessoas a quem admiramos, de repente desaparecem da cena diária, ficando vazios nem sempre bem preenchidos.

No momento fala-se sobre a proximidade de aposentadoria de Cristiano Ronaldo, Rafael Nadal, Lebron James, Leonel Messi e alguns outros. A eles certamente devemos momentos de verdadeira magia. Quando pararem farão falta, deixando-nos a buscar quem os substitua.

Mas, a vida é assim. Como tudo, a atividade no mundo esporte tem começo, meio e fim. Ficam as memórias que não se apagam. Vão-se os homens, permanecem os seus feitos, alguém já nos alertou sobre isso.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 março, 2022 às 2:30 pm

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Dostoievsky

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Imagino que as gerações mais recentes não se aprimorem no hábito de leitura. O encantamento com meios eletrônicos seria uma das causas. A molecada é fissurada nos joguinhos eletrônicos. Alguns desses jogos transformaram-se em verdadeira febre, veja-se o caso do Fortnight.

Além do que fato é que no geral das residências inexistem livros. Vai longe o tempo em que, após o jantar, conversava-se sobre assuntos interessantes, incluindo-se livros e seus autores. As novelas da TV também contribuíram para deslocar o interesse para as tramas exibidas na telinha. O mundo mudou, não é mais aquele. Devorar páginas inteiras de livros tornou-se anacrônico. E, pelo que se sabe, os livros eletrônicos ainda não fazem parte do hábito das pessoas.

O que é uma pena. Ficam, assim, os jovens alijados da magia da boa literatura. Não conhecerão os grandes escritores russos, por exemplo. Gogol, Tchekhov, Tolstói, Dostoievsky… Perde-se muito com essa verdadeira alienação.

Entre nós de grande importância foram os volumes da “Antologia do Conto Russo” obra de fôlego, em nove volumes, organizada por Otto Maria Carpeaux. Serviu ela como introdução á literatura daquele país. A ela foram acrescentadas traduções de romances de vários autores. Desse modo, ainda jovens, tínhamos já uma razoável iniciação sobre a literatura russa graças ao excelente trabalho de Carpeaux.

Entre os grandes escritores russos difícil - ou impossível - dizer qual o preferido pelos leitores. De minha parte sempre tive Dostoievsky como leitura obrigatória. Impossível esquecer “Crime e Castigo” no qual Raskolnikov convive com seu crime e a pressão psicológica que o atormenta. E que dizer de “Recordação da Casa dos Mortos”. E quanto a “Os irmãos Karamazoff”?

Dostoievsky é um monstro da literatura. Daí que surge como grande ofensa à memória do escritor a reação em voga por ocasião da invasão da Ucrânia pela Rússia. Embora a condenação do mundo ocidental ao que Putin determina não se pode estender ao povo russo a ojeriza provocada pela guerra. Daí soarem incongruentes, por exemplo, pedidos ao prefeito de Florença para derrubar a estátua de Dostoievsky que existe na cidade. Seria manifestação de repúdio à invasão da Ucrânia determinada por Putin.

Infelizmente crescem manifestações contra russos e suas coisas, atingindo até a parte culinária - lê-se até sobre boicote ao estrogonofe. Entretanto, espera-se a volta do bom senso. A estátua de Dostoievsky deverá permanecer onde está em nome de algo que chamamos de civilização.

Gente estranha

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De que existe todo tipo de gente não se discorda. Acho que foi o Caetano quem disse que de perto ninguém é normal. Para começar, uma análise mais profunda exigiria rigor quanto ao conceito de normalidade. Dizer que “normal” é o mais comum não basta. E por aí vai.

Sempre repito o caso vivido por ocasião de uma passagem de ano numa capital do nordeste. Convidado para a festa conheci, durante o evento, um sujeito boníssimo. Boa prosa, educado, extremante simpático. As coisas só saíram do prumo quando conheci a mulher do gajo e falei bem dele a ela. A mulher sorriu, disse que o marido era ótimo exceto por um probleminha: ele tinha por hábito esperar que todos da casa adormecessem para só depois ir à cozinha e desligar a geladeira. Fazia isso todas as noites, religiosamente. Então voltava para cama e dormia. A mulher esperava que ele adormecesse para então ela ir à cozinha religar a geladeira. Não poderia perder os alimentos armazenados.

Convivi durante anos com um homem extremante correto que trabalhava na área da Justiça. Homem nascido no começo do século 20 vestia-se com esmero, era educado e cortês. Nos domingos permitia-se um ou dois goles de alguma boa cachaça e isso era tudo o que poderia se dizer sobre sua personalidade sempre afeita ao comportamento exemplar. Entretanto, eis que esse senhor tinha lá a sua “loucura”. Nos dias quentes em que hordas de mosquitos invadiam o ambiente, divertia-se ele em colocar veneno para esses animais num pires e observá-los nos momentos em que, atraídos, ficavam à mercê da substância que os mataria.

Acontece que, nesse caso, a morte não é súbita. Os pequenos animais se debatem sob ação do veneno, tentando levantar o já impossível voo. Pois àquele senhor essa batalha entre a vida e a morte, o sofrimento dos mosquitos ao dançar a fúnebre valsa do fim, tudo isso era de seu extremo agrado. Não se continha o senhor em gestos e palavras ao assistir àquele ritual da morte dos animaizinhos.

Como dizia um amigo de meu pai, há muito desaparecido, cada um com o seu peru.

Escrito por Ayrton Marcondes

9 março, 2022 às 11:19 am

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Na rota

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Todo mundo morre. A morte é a única certeza absoluta que temos. Seja quem for, rico ou pobre, gênio ou retardado, fato é que a morte o espera no fim do túnel da vida. Essas frases são repetidas à exaustão. Muito sabidas. Muito evitadas porque, estando vivos, pouco queremos saber da morte.

Mas, ela existe. Tem levado humanos em quantidades a perder de vista. Quando se procuram informações sobre alguém no Google encontram-se datas de nascimento e morte, a última exceto se o pesquisado ainda estiver vivo. Por exemplo: Paul Samuelson, Nobel de Economia em 1970. Nasceu em 1915 e morreu em 2009. Deixou-nos obras importantes, inclusive aquele livro sobre economia usado nas universidades. Foi consultor de John Kennedy e Lindon Johnson. Mas, embora brilhante, não pode evitar a morte.

De modo que estão todos na rota, alguns distantes, outros próximos. Há os que são surpreendidos por doenças graves, acidentes etc. Esses alcançam o extremo final antes, precocemente. Há, também os longevos, a turma que encara os 90 ou mais, desdenhando daquela que mais cedo ou mais tarde os submeterá.

Mas, por que falar sobre essas obviedades? A questão de se aproximar do fim começa a incomodar a partir de certa idade. De repente o velhote olha para o espelho e encara a realidade, deixa de ver o costumeiro rosto jovial. Em verdade esse rosto já desapareceu há tempos, mas os tão benignos olhos… É quando emerge a pergunta: até quando? Enfim, mais quanto tempo seguindo na rota em direção ao fim? Pior: como será morrer? Haverá sofrimento? Haverá alguma coisa após a morte? Existirá o barco de Caronte para a travessia até o Hades?

Perguntas sem respostas. Disso tudo a única e terrível certeza de que, mais adiante, em certo dia…

Escrito por Ayrton Marcondes

4 março, 2022 às 12:06 pm

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Em Kiev

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Há pouco tempo exibiu-se na TV uma visita de repórter à Ucrânia. Vimos um povo pacífico, ordenado, mas preocupado. Sobre eles pesava a mão russa que, promessa feita, um dia os atacaria. Jovens ucranianos falaram de suas expectativas e do amor ao seu país. As imagens mostravam um país seguindo adiante, modernizando-se.

Putin tornou suas ameaças realidade. A Ucrânia está sendo invadida pelo exército russo. Assistimos a isso em tempo real dada a divulgação constante de imagens pelos meios de comunicação.

O homem é um ser construtor. Leva meses ou anos para levantar prédios enormes, ruas, praças, cidades. Organiza-se socialmente. Convive com suas diferenças e vai levando a vida do jeito que ela se apresenta. O problema surge quando a ordem é quebrada. Imagens de um prédio destruído pela ação de bombardeios não combinam com a ideia de construção. Surgem elas alarmantes aos nossos olhos. Quando recebemos a notícia de que o maior avião de cargas do mundo, estacionado num aeroporto, foi atingido isso nos faz perder o fôlego. Mas, pior que tudo isso é assistir, ainda que de longe, às injustificáveis mortes na população civil e mesmo nas forças de combate.

A destruição provocada pela guerra deprime e revolta. Não há sentido ver desabar em segundos algo que se levou tanto tempo para construir.

O cerco dos russos à capital Kiev se agiganta. Os ucranianos resistem com bravura, defendendo seu território. Milhares de pessoas emigraram, buscando refúgio em outros países.

Não sai da memória a fotografia de um grupo de mulheres portando armas, prontas para combate. Não pertencem elas à esfera militar. São civis que lutam pelo solo onde nasceram.

Escrito por Ayrton Marcondes

3 março, 2022 às 2:02 pm

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De novo Plutão

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Para os romanos o Deus mitológico Plutão era o comandante do submundo. Teria vindo à superfície apenas para raptar Perséfone que se tornaria sua mulher no mundo dos mortos. Plutão usava máscara que o tornava invisível e era muito temido.

Nos dias que correm o nome Plutão está associado ao pequeno corpo celeste localizado na rabeira do sistema solar. Fica tão longe que demora 248 anos para dar uma volta completa ao redor do Sol. Pequeno, frio e escuro, assim é Plutão. Aliás, de anos para cá convencionou-se desclassificá-lo como planeta, passando à condição de “Planeta Anão”.

Na astrologia Plutão é associado ao signo de escorpião. Escorpionos e escorpianas são tidos como pessoas passionais, generosas, possuindo sexto sentido afiado e espírito de detetives. Pertencem ao signo os nascidos entre 23/10 e 21/11.

Nossa curiosidade em relação ao espaço que nos cerca é grande. Com frequência discute-se a possibilidade da existência de seres extraterrestres, enfim de vida inteligente fora da Terra. Afinal, por que em meio à vastidão do universo só nesse planetinha chamado Terra teria surgido a vida? E quanto a esses misteriosos objetos que por vezes são avistados no céu, movendo-se a velocidades espantosas? Seriam naves espaciais a nos observarem?

Vez ou outra nos deparamos com notícias sobre Plutão. Hoje fala-se que o nome do planeta anão foi dado por uma menina de 11 anos de idade, Vanessa Phair. Neta de um bibliotecário aposentado de Oxford, ao saber que o então planeta era pequeno e escuro sugeriu ao avô o nome Plutão. O avô em contato com o pessoal universitário fez a sugestão chegar aos cientistas que batizaram Plutão.

Talvez o que nos atraia em Plutão, além da curiosidade científica, seja justamente o fato de ele ser pequeno, escuro e tão distante. Fica como alguém desgarrado da família de planetas que orbitam em torno do Sol, alguém inclusive rebaixado para sua condição atual de anão. Gira longamente, sem luz, gelado, inútil, existindo por força de uma decomposição de massas que gerou o sistema solar. Pequeno e último pode ser olhado como obra do acaso que, talvez, por muitopouco teria se desintegrado.

Pela distância e condições é de se imaginar que o homem nunca pisará em Plutão. Mas, o Anão continuará existindo, dando asas à nossa imaginação.

Escrito por Ayrton Marcondes

21 fevereiro, 2022 às 11:24 am

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Tragédias

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A forte chuva provocou verdadeira hecatombe em Petrópolis. As imagens divulgadas assemelham-se às de lugares em guerra, captadas após bombardeios. Tragédia imensa com expressivo número de mortes e desaparecidos afora grande destruição de imóveis e outros bens.

No passado recebíamos as notícias através de relatos ou pela mídia impressa. A profusão de meios de captação de imagens transfere-nos o que acontece em tempo real. As pessoas do lugar produzem vídeos impactantes e os divulgam pela internet. Assim, passamos a fazer parte quase instantânea do quadro de aflição geral que cerca os acontecimentos.

Como sempre acontece após tragédias surgem comentários, acusações etc. Em Petrópolis tem sido destacada a ocupação irregular de terrenos, a falta de planejamento urbano e mesmo a ausência de medidas que possam vir a diminuir os efeitos de possíveis deslizamentos de terra. Vai daí que a chuva inesperada e muito forte leva um morro a vir abaixo, soterrando pessoas e tudo o que encontra pela frente. Toneladas de terra passaram a cobrir corpos de mortos já identificados e de pessoas desaparecidas.

Mostra a experiência que daqui a algum tempo a tragédia de Petrópolis será gradualmente esquecida. A cidade será reconstruída, áreas de destruição renovadas e tudo parecerá em ordem porque o tempo passa, as pessoas mudam e o mundo continuará a girar como sempre. De tudo o que poderia e pode ainda ser feito certamente restará algo a fazer isso por conta de prioridades, ausência de recursos, compromissos políticos e toda a sorte de situações que envolvem a administração pública.

Entretanto, para nós ficam imagens dolorosas. Como esquecer a face da mãe de 22 anos que veio a falecer soterrada juntamente como seus dois pequenos filhos? Ela segue viva e sorridente na foto ao lado das crianças. Eles não precisariam ter suas vidas interrompidas tão precocemente acaso algo de relevância tivesse sido feito para pelo menos minorar os efeitos nocivos da grande tempestade.

Também ficam as imagens do esforço de pessoas do lugar irmanadas aos bombeiros na busca de desaparecidos e cadáveres. São imagens angustiantes aquelas nas quais vemos tantas pessoas, enxadas nas mãos, a buscar, em meio a imensa montanha de barro, possíveis sobreviventes.

Tragédias despertam atos de solidariedade e muita coragem fazendo-nos refletir sobre o fato de que afinal somos humanos e devemos aos nossos semelhantes.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 fevereiro, 2022 às 12:13 pm

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Ídolos

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Ídolos se tornam a partir de imagens que deles formamos. Admiramos alguém que, em sua atividade, se torna fora da curva. Pele não é ídolo por acaso. Ele foi - e ainda é - o brasileiro mais conhecido e lembrado nos cinco continentes. Quem em viagem ao exterior não ouviu, ao falar de sua origem brasileira, a identificação: Brasil, Pelé…

Diego Maradona é ídolo argentino. Incontestável. Entretanto, sua imagem vem sendo arranhada por desvios comportamentais que a comprometem. Para nós, fãs de seu futebol, é sempre triste ouvir noticiais sobre os últimos dias de vida do grande craque. Admirado em todo o mundo eis que nos contam sobre situações realmente deprimentes ocorridas inclusive nos dias que antecederam sua morte.

Fato é que que certamente preferiríamos que nossos ídolos permanecessem em sua estelar condição, sem deles virmos a saber sobre circunstâncias que denigrem suas imagens. Afinal, não se pode negar que ídolos contribuem para a emulação de nossas vidas tão comuns, por vezes insossas. Perdemo-nos na admiração que nos serve como válvula de escape frente às mazelas do dia a dia. Essa fantasia é preciosa daí o zelo que se tem em relação a ela.

Mas, o mundo é lugar no qual o bem e mal travam combate diário. Pessoas são, por natureza, contraditórias. Daí a emergência de duplas faces que tão inesperadamente se revelam. Comportamentos podem adequar-se, inesperadamente, a circunstâncias. Revela-se aí a outra face da personalidade a qual até então fora mascarada aos olhos de outrem.

Se me perguntarem sobre o melhor goleiro de futebol que vi jogar a respostas será: Gilmar. Grande Gilmar, o “goalkeeper”, o “guarda valas” das seleções de 58 e 62 que nos trouxeram a sonhada taça Jules Rimet. Que confiança tínhamos naquele goleiro que, debaixo das traves, segurava não só as estocadas dos adversários como a necessidade que aquele Brasil das décadas de 50 e 60 tinha de impor-se ao mundo.

De modo que para mim e tantos brasileiros Gilmar é ídolo. Pois é com grande tristeza que leio sobre declarações reveladoras de um Gilmar até então desconhecido, um Gilmar despachante no DOI CODI órgão repressor durante a ditadura militar. Circulava ele nos corredores do órgão, facilitando negócios e até sendo beneficiado com a posse de uma revendedora de carros. É o que se diz.

Sinceramente, não sei como reagir ante a duplicidade de características de um homem a quem sempre tive como ídolo. Vem-me à mente as histórias sobre gigantes de pés de barro que podem ser destruídos com facilidade.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 fevereiro, 2022 às 1:18 pm

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