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Prêmio Nobel
Era um rapazote quando encontrei, entre os livros de meu pai, um exemplar de “A ilha dos pinguins”. Li o livro do escritor francês Anatole France (1844-1921) em poucos dias. Achei interessante a sociedade dos pinguins, naturalmente arremedo da humana. Mas, com peculiaridades. Uma delas o fato de filhos, na hora do parto, serem perguntados se queriam vir ao mundo. É descrito o caso de um pai que faz a pergunta ao filho e recebe resposta negativa. O filho se justifica, explicando que justamente não quer viver por receber características semelhantes às do pai, na opinião dele um sujeito confuso etc.
Na capa de “A ilha dos pinguins” havia breve nota sobre Anatole France. Antes de ler o livro perguntei a um tio se conhecia o escritor, enfim se era bom. Ele me disse: bem, ele recebeu o Prêmio Nobel. Foi essa a primeira vez em que me preocupei com a imagem do Nobel. Afinal, qual o significado de alguém ser agraciado com um prêmio oferecido por uma academia sueca?
A história da criação do prêmio por Alfred Nobel, inventor da dinamite, é conhecida. Mas, o fato é que a cada ano eis que aguardamos os nomes dos agraciados em várias áreas. Mais que isso: afinal, o que fizeram para receber tal honraria?
Imagino que cada pessoa se interesse mais pelos agraciados cujos trabalhos se relacionem com suas áreas de atividade. No meu caso o interesse maior é dirigido aos prêmios de literatura e medicina. Neste ano ainda não foi divulgado o nome do escritor a receber o Nobel de Literatura. Divulga-se que cinco mulheres são as mais prováveis contempladas, naturalmente só uma delas. Entretanto, o Nobel por vezes nos surpreende com a premiação de alguém que não estaria entre os mais cotados.
O Prêmio Nobel também é conhecido por ausências notáveis. Na área de literatura grandes escritores foram negligenciados, não recebendo o prêmio. James Joyce, Émile Zola e Jorge Luis Borges, por exemplo, não foram agraciados.
A existência de um prêmio que eleja destaques da inteligência humana é importante. Confere ao nosso dia-a-dia segurança em relação ao tipo de ser que domina o planeta e dispõe de capacidade para contribuir com o bem-estar comum.
A vida é superação. Alfred Einstein nos alertou sobre isso quando afirmou: quando aceitamos nossos limites, conseguimos ir além deles.
A saúde na doença
O Bernardo é um sujeito interessante. Sempre gostou de esportes daí o físico de quem malha pelo menos duas vezes por semana. Não faz o tipo entrão. Nem é muito falante. É daqueles que preferem ouvir antes de dar a opinião. Em geral se sai melhor quando o assunto é esporte. Apaixonado por futebol, torce para o Santos. Vez ou outra acompanha o time, vai ao estádio. É fervoroso e sofre nas derrotas.
Não via o Bernardo a algum tempo. Desta vez encontrei-o na rua e paramos para breve conversa. Mas, apague-se tudo o que foi dito no parágrafo anterior. A pessoa que encontrei não era “aquele” Bernardo. O homem diante de mim perdera o viço. Muito magro, abatido, mesmo sua a voz parecia gerada em profundezas pulmonares. Não chegava a assemelhar-se a gemidos, mas fazia-me lembrar deles.
Afinal, o que acontecera ao Bernardo? Onde a força e a disposição de outrora? Não tive coragem de perguntar. Conversamos e nos despedimos rapidamente. Mas, a imagem do Bernardo de agora calou-me fundo.
Foi o Fonseca quem em esclareceu o que acontecera ao Bernardo. Tempos atrás fora diagnosticado com a doença miastenia gravis. Nessa doença o sistema imunitário ataca a bainha de mielina que reveste os neurônios. Com o sistema nervoso afetado começam os sintomas. Incialmente cansaço que evolui para perda de força, fraqueza, dores, alteração do raciocínio e dificuldades motoras. Como a doença não tem cura os sintomas pioram. O diagnóstico se faz com exame de líquor, extraído da medula espinhal, e ressonância magnética. A doença é tratada com medicamentos, exercícios e descanso.
Pessoas que sofrem de miastenia costumam esconder a doença. O receio é que venham a perder seus empregos. Estatísticas mostram que 40% dos pacientes com miastenia estão desempregados.
O Bernardo sempre foi funcionário de um banco estrangeiro. Certa ocasião esteve por três anos nos EUA, trabalhando na matriz do banco. O Fonseca não soube me dizer se o Bernardo comunicou a doença à empresa onde trabalha. Aliás, disse isso e emendou: ele diz que goza de muita saúde na doença.
O garoto de 12 anos
Crimes sempre impressionam. Alguns mais que outros por conta dos detalhes de sua execução. Vive-se a época de ascensão da criminalidade. Há medo. A próxima vítima pode ser você é tão real que cada um teme de fato ser o próximo.
A incontrolável sede de violência parece incontornável. Miséria, pobreza e déficits de educação compõem fértil caldo para ebulição de criminosos. Não há dia em que não se recebam notícias sobre assaltos, latrocínios, assassinatos, balas perdidas etc. E mortes. Inexplicáveis mortes que poderiam ser evitadas caso houvesse melhora das condições sociais e mais segurança. Mas, se mesmo as forças policiais são acuadas e cresce, entre elas, o número de suicídios de seus integrantes… O horror pode não ter limites.
Dias atrás um crime despertou a atenção pelo requinte de quem o realizou. Ao sair de uma sessão de exercícios físicos uma jovem, 19 anos, encontrou seu carro com o pneu furado. Um homem, solícito, ofereceu-se para ajudá-la. Do meio-fio o carro foi levado a uma chácara defronte, local onde se realizaria a troca do pneu. Mas, eis que o tão solícito homem era um criminoso há pouco saído de reclusão. O restante do caso soubesse depois. A moça despareceu. Em desespero a família acionou a polícia e puseram-se a procurá-la. Encontraram o corpo da moça enterrado na chácara. Depois prenderam o criminoso. Ele premeditara o crime, esvaziando o pneu para pegar a moça. Inenarráveis as cenas do pai da moça, inconformado com a brutal perda da filha.
Uma menina de 9 anos está na fila de um pula-pula. É uma festa escolar. Atrás dela um menino que mora na mesma rua que ela. Os dois costuma brincar e estudam na mesma escola. Ela tem dificuldade em se socializar. Há um ano foi diagnosticada com autismo e segue tratamento. Num momento a mãe deixa a menina na fila e vai, com o outro filho, comprar pipoca. Quando retorna já não encontra a filha.
Mais tarde o menino de 12 anos conduz a polícia até um lugar onde a menina é encontrada morta, amarrada a uma árvore. Está desfigurada. Apanhou muito e sofreu pauladas no rosto. Num dos braços traz amarrada uma meia masculina. Crime horrível, violência descabida, ato inumano contra uma criança. Mas, nos interrogatórios o menino acaba confessando ser o autor do crime.
Agora o garoto de 12 anos está na Fundação Casa, deixando, atrás de si, enormes questionamentos. Por que uma criança cometeria tal barbaridade? Será este um caso de desequilíbrio mental? O que fazer com um garoto de 12 anos que poderá, ficando livre, tornara cometer crimes tão hediondos?
O melhor é não ficar a par de acontecimentos como os aqui narrados. Eles nos tornam medrosos, ainda mais inseguros. Tememos por nós e pelos nossos. Pelos filhos, pelos netos, pela família. Pelas pessoas que conhecemos. Por aqueles que não conhecemos e nunca conheceremos. Pelas crianças. Pelo medo de que andem por aí outros garotos de 12 anos dispostos a cometer crimes.
Primavera
Do que mais se fala? Da morte. Na mídia, articulistas abordam o assunto. Nas primeiras páginas notícias sobre mortes ganham destaque. Mas, que tipo de mortes? Afinal, do que mais se morre hoje em dia?
Morre-se de todo jeito, como sempre. Mas, o que ganha espaço no noticiário são as mortes devidas à violência. No Paraná um ex-marido vinga-se da mulher que não quis reatar com ele. Para isso sequestra o próprio filho e o leva numa viagem sem volta. Mete-se numa rodovia e joga o carro que dirige numa carreta. Pai e filho morrem. A promessa de morrer, levando consigo um pedaço da mulher, está cumprida. Resta a dor.
No Rio a tragédia envolve a menina Ágatha. Ela tem oito anos. É atingida por bala perdida. Levada ao hospital, não resiste. Em torno desse assassinato levanta-se a opinião. Protestos surgem de toda parte. A morte inaceitável gera, mais ainda, desconforto e medo às famílias. Hoje Ágatha, amanhã não poderá ser o meu filho?
Em meio ao sofrimento e discussões a primavera chega devagarinho às nossas casas. Veio mansinha, chegou ao alvorecer, sem ruído, quieta, sem estardalhaço. Abriu-se numa manhã chuvosa em que mesmo os pássaros talvez tenham decidido a se recolher.
Na rua em vão procurei por sinais da primavera. Onde as flores? Onde a alegria da nova estação que começa? Teria o mundo se congelado numa cena interminável de inverno?
Mas, eis que nem tudo está perdido. No sinal de trânsito, aí está a velhinha com um cesto de flores a oferecê-las aos sisudos motoristas. De repente, o milagre: flores na manhã cinzenta, trazidas por um anjo a nos lembrar que é primavera e a vida prossegue.
À hora do almoço imagens do enterro de Ágatha na TV. Flores sobre o pequeno caixão. Tributo a uma criança tão cedo levada pela morte. Muito triste.
E dizer que já é primavera.
A face
Lembro-me sempre de Gregory Peck. Era, nas telas, o tipo de herói ideal. Inesquecível sua atuação como advogado em “O Sol é para todos” no qual defendia um negro acusado de estupro.
O cinema preserva imagens. Assim Gregory Peck sempre será lembrado em seu aspecto de jovem ou já na maturidade, homem alto, feições fortes e bem definidas. Mas, fora das telas Peck envelheceu como outros mortais. Observar a face do ator envelhecido nos traz o desconforto da constatação de que mesmo aqueles que tínhamos como heróis, os mais fortes, também eles sucumbem. É a lei da vida, a imposição da natureza, nada escapa a isso.
A cada manhã nos vemos no espelho ao cuidar da higiene pessoal. As muitas faces que tivemos sucedem-se, quase imperceptivelmente. Muitas vezes não nos damos conta de que, dia após dia, passo a passo, a juventude se desconstrói e a velhice se impõe. Mas, há um momento em que se torna impossível fugir à constatação do envelhecimento. É quando a face que o espelho nos devolve apresenta-se tão mudada e já não há como enganar-se a respeito.
Narciso era belo e as ninfas apaixonavam-se por ele que as rejeitava. O adivinho Tirésias dissera à mãe de Narciso que ele jamais poderia ver seu reflexo pois isso seria sua ruína. Eco, ninfa apaixonada por Narciso e também rejeitada, entristeceu-se e definhou. Dela se apiedou a deusa Nêmeses que puniu Narciso, fazendo-o ver o próprio reflexo. Então o jovem enamorou-se de si mesmo, sentou-se à beira do rio, observando-se e definhou.
Tudo passa. Seres humanos passam. Juventude e velhice compõe um quadro sombrio quando de comparam as duas fases da vida. Na internet é comum a publicação de fotos de pessoas famosas, comparando-as em sua juventude e em tempo atual. Envelheceram. Perderam a jovialidade e beleza. Aquela linda mulher de formas tão perfeitas como terá ela se transformado nessa senhora que em quase nada faz-nos lembrar do que um dia ela foi?
O espelho nos devolve a cada dia imagens que não prevíramos. Não há razão para desespero. Trata-se apenas do “cumpra-se o destino” para o qual fomos gerados.
Suicídios
Foi na madrugada em um hospital. Eu acabara de receber a notícia da morte de minha filha e faltava-me o chão sob os pés. Ali iniciavam-se os terríveis procedimentos do post-mortem. Minha mulher foi ao Serviço Funerário da prefeitura para tratar dos mecanismos legais. Liguei para a empresa funerária para o traslado do corpo e entrei em contato com o cemitério para a liberação do espaço para o enterro. Coisas duríssimas. Desesperadoras. Às quais se seguiria o terrível momento do reconhecimento do corpo antes que fosse levado do hospital.
Mas, minha filha não se suicidou. Foi levada pelo câncer, doença contra a qual lutamos por quase três anos, sem vencê-la. Entretanto, naquele momento, logo após saber sobre minha filha morta, eis que me vi na recepção do hospital a esperar a chegada do pessoal da funerária. Seriam umas quatro da manhã. Ali, sentados a um sofá, estava um casal. O senhor, percebendo a minha aflição, acercou-se de mim, perguntando-me o que acontecera. Disse a ele que acabara de perder a minha filha. Para consolar-me ele relatou que dois meses antes também perdera uma filha. Foram, ele e a mulher, surpreendidos ao encontrar a moça morta em seu quarto de dormir. O fato fora surpreendente. Nada nos dias anteriores revelara qualquer intenção da moça despedir-se da vida. Ela não deixara nenhum bilhete, nenhuma explicação. Caso estivesse depressiva nos últimos tempos, escondera isso muito bem. De modo que os dois ali estavam, ainda combalidos, à espera de um filho que no momento passava por cirurgia.
De certo modo o caso da moça que se suicidara devolveu-me um pouco e equilíbrio. Aquilo funcionara com compartilhamento de um dor insuportável. Dor essa que, passados quatro anos desde aquela noite, ainda me incomoda bastante.
Se bem me lembro a primeira vez que ouvi falar em suicídio foi na minha infância. Um parente metera um tiro na cabeça por conta de ter perdido a mulher para outro homem. Apaixonado, não suportara a dor da perda. E se matara.
De lá para cá o número de suicídios tem aumentado. Há quem diga que, na verdade, hoje em dia o número de comunicados de suicídios aumentou, engrossando as estatísticas. Mas, o que se têm é a divulgação de cerca de 4,3 suicídios por dia no Brasil. Razões não faltam, entre elas a depressão. Há um aumento crescente do número de casos. Mais homens se suicidam, mas casos entre mulheres têm aumentado.
Por fim à própria vida é algo que foge à lógica de nossa preservação. Situações limítrofes levam pessoas ao ato extremo. Existem suicídios talvez explicáveis, ainda assim difíceis de aceitar. O caso do grande ator Robin Willians deu o que pensar. Doente e já sem perspectivas de cura ele enforcou-se em sua casa. Mas, ainda assim, fato que nos impressiona.
Há quem diga que o suicídio exige coragem. Outros o consideram ato de extrema covardia. O crescimento do número de casos em que pessoas tiram a própria vida é preocupante. São muitas os fatores que conduzem ao suicídio em geral ligados a quadros de depressão. Tentativas de suicídio envolvem o uso de medicamentos e venenos. Suicídios consumados resultam do uso de aramas de fogo, enforcamentos, etc.
A atenção a sinais que podem sugerir a tendência ao suicídio é importante. Diante do risco de alguém se suicidar devem ser empregados meios hospitalares e mesmo policiais diante de emergências.
Em cinco estados norte-americanos o auxílio médico à morte é permitido. Trata-se da assistência médica a pessoas que desejam por fim a suas vidas, em geral por portarem doenças incuráveis, evitando-se mais sofrimento.
Em boa hora os Ministérios da Saúde e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos estão lançando, hoje, campanha de valorização da vida e combate à depressão com foco no público jovem.
Fake news
A moda dos “fake news” segue adiante, confundindo as pessoas. Por vezes torna-se muito difícil separar o joio do trigo, a verdade da mentira. Deturpar as palavras de alguém virou rotina. Eis que o que teve seu discurso deturpado vem a público para desmentir o que não disse. Mas, é tarde. A fake já se espalhou a muitos crédulos passam a tê-la como verdadeira.
As redes socias são pródigas na divulgação das fakes. Alguém publica alguma coisa e, rapidamente, o texto é copiado, chegando a centenas de grupos. Acontece da fake ser tão bem elaborada, oportuna, que a adotamos como verdadeira. Daí os transtornos provocados.
Os meios de comunicação, em geral jornais, abrem sessões nas quais publicam desmentidos sobre “fake news”. Em épocas eleitorais as fakes são muito úteis para a condução dos mais desavisados a votos impensados. Há quem se eleja por conta de publicações favoráveis e nem sempre verdadeiras. Há candidatos que são muito prejudicados.
Mas as fakes sempre existiram, embora não tivessem esse nome. Em “O alienista” Machado de Assis descreve o modo de divulgação de notícias na cidade de Itaguaí. A coisa era feita através de um homem que percorria a cidade com sua matraca. Nas palavras do escritor:
“De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, - um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc.”
E Machado conta sobre um vereador da cidade sobre quem constava ser perfeito domador de cobras e macacos. Havia quem jurasse tê-lo visto com cascavéis dançando sobre o seu peito. Como o vereador mantinha sua fama? Machado explica dizendo que ele “tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses”.
Enfim. Não sei se todos já ouviram o ressoar das matracas. Dos meus tempos de menino, no interior, lembro-me das matracas soando nos dias da Semana Santa. Um coroinha da igreja, devidamente trajado com sua túnica, seguia pela rua, matracando. Era um modo de lembrar aos mortais sobre os perigos do pecado e a importância da fé.
Cada época tem suas fakes, variando o meio de divulgá-las. O hábito de mentir também pertence ao homem.
Terror
Numa sessão da tarde assisti, assombrado, ao filme “O vampiro da noite’, de 1958. Christopher Lee era Dracula; Peter Cushing fazia van Helsing, o caçador de vampiros. Não é o caso de repetir aqui a trama do filme que gira em torno de ações nas quais vampiros mordem o pescoço de suas vitimas para obter seu sangue. Mas, a cena final marcou-me e muito. Segue o spoiler. Van Helsing está num salão onde se encontram os caixões nos quais os vampiros passam as horas do dia, dado não suportarem a luz. Dracula chega para entrar no caixão e encontra Van Helsing. Perdido, van Helsing percebe que o dia começa a amanhecer. Então, corre, abre as cortinas, a luz entra no ambiente e Dracula se desfaz.
A cena final com o vampiro se esfacelando ao ser atingido pela luz é das grandes do cinema. Inesquecível. Apavorante. Tive medo de vampiros no início da minha adolescência. A face final do Dracula no momento em que é atingido pela luz é inesquecível.
Adorava filmes de terror, deixei de assisti-los. Não me agradam os filmes que abusam de clichês e sustos. Mas, há um tipo de terror que incomoda e muito. Assisti, há alguns anos, o filme “Alien, o oitavo passageiro”. É terrível a cena na qual o corpo deum dos tripulantes da nave praticamente explode porque abrigava um ser do espaço. A ameaça que ronda a tripulação é a de que seus corpos sejam invadidos por seres estranhos que neles se replicam. É um tipo diferente de horror, muito impactante. Lava-nos a pensar em situações nas quais um ser humano passa a ter, em seu organismo, um vírus, bactéria, fungo ou outro tipo de ser vivo para o qual não existe cura. O horror está em ter dentro de si algo que resiste ao combate dos meios terapêuticos disponíveis.
Histórias de terror bem escritas ou filmadas constituem-se em formidáveis meios para fugir à rotina do cotidiano. É um grande prazer ler Edgard Allan Poe. Que tal tornar a assistir ao “Dr. Phibes”, estrelado por Vincent Price?
O terror é um gênero literário criado para assustar, aterrorizar. Nem sempre as histórias de terror apelam para o sobrenatural, mas isso é o mais comum. A ligação entre tramas de terror e a ficção científica vez ou outra garante bons resultados.
Conheço gente que, de modo algum, suporta tramas e terror. De nada adianta dizer a elas que textos e filmes de terror são obras de ficção. Pura ficção.
A primeira dama francesa
O conceito de beleza muda em acordo com gostos, épocas etc. Há pessoas bonitas e feias. Aliás, mais feias que bonitas. Quando você se olha no espelho a imagem que vê pode fazê-lo sentir-se bem ou não. Há feios que se tem por bonitos. Há bonitos que não estão nem aí para a própria beleza.
Se algum dia algum marciano baixar aqui na Terra e sair da nave é certo que achará os terráqueos muito feios. E não cairemos de amores pelos marcianos, povo feio para nós.
De modo que quanto ao item beleza o melhor é cada um se recolher ao próprio julgamento, sem fazer alarde quanto à opinião sobre os outros. Cada um no seu quadrado, não deve ser assim?
Daí o estranhamento diante dos comentários de políticos do país quanto ao aspecto da primeira dama francesa. De repente Brigitte Macron passou a ser questionada pela sua beleza ou falta dela. Um internauta publicou fotos nas quais compara Brigitte a um animal. O presidente da República do Brasil achou de concordar. Foi o início de discussões lamentáveis. O presidente Macron protestou. Mulheres brasileiras saíram em defesa da primeira dama francesa. A mídia ocupou-se do assunto. O caso correu o mundo.
Mas, já nos esquecíamos disso quando o senhor Ministro da Fazenda achou de retomar o caso. Paulo Gudes concordou com Bolsonaro, dizendo que Brigitte Macron é feia mesmo.
A quem tudo isso servirá não se sabe. Quanto ao enorme desserviço e desgaste nas relações entre os países não restam dúvidas. Desceu-se da questão de estado a ser tratada entre países para o nível mais abaixo. Trata-se da tal prerrogativa de que homens se sentem possuidores de taxar mulheres como bens. Não são bens de posse as nossas mulheres, muito menos as mulheres dos outros.
Na TV um jornalista brasileiro que vive no exterior indigna-se. Diz-se envergonhado pela falta de educação do presidente e do ministro. O jornalista fala sobre a imagem do Brasil no exterior. Pergunta: o que está acontecendo no país?
O fato é que Brigitte Macron tem mais idade que o marido. Talvez o que se queira é que o líder da França seja casado com moça bem mais jovem que ele…
Mas, vivemos tempos nos quais o bom-senso e a educação vem sendo deixados de lado. Ainda nos surpreendemos com coisas bizarras. Mas dizem que o melhor é que nos acostumemos. Afinal, desta vez o futuro se apresenta mais que incerto e surpreendente.
D Pedro I
Capricha-se negativamente em relação aos personagens da dinastia portuguesa que empreendeu a descoberta, a colonização e implantou o império em nossas terras. Ninguém escapa. D João VI é tratado como quase idiota. Em relação a D. Pedro I valoriza-se sua sexualidade exacerbada. D Pedro II nada mais teria sido que um Habsburgo com pretensões intelectuais, perdido nos trópicos.
Sobre D. João VI o melhor a fazer é ler o grande livro de Oliveira Lima, “D. João VI no Brasil”. Se depois da leitura dessa obra formidável restar algum tipo de dúvida sobre o rei português há que se considerar a possibilidade de certa dose de má vontade. Aliás, sobre D. João VI bastaria lembrar sua visão ao deixar aqui seu filho, mantendo o país sob o domínio da coroa portuguesa.
D. Pedro veio ao Brasil em 1808 quando a família real portuguesa fugiu de Portugal para não lutar contra tropas francesas. Tinha, então, oito anos de idade. Em 1817 casou-se com D. Leopoldina de Habsburgo, filha do imperador da Áustria. Mas, em 1820 seu pai, D. João VI, retornou a Portugal por causa da Revolução Liberal do Porto. D Pedro ficou na colônia como príncipe regente, nomeado que foi em 1821.
Mas, as Cortes portuguesas passaram a insistir no retorno do regente a Portugal. Atendendo aos pedidos dos brasileiros D. Pedro decidiu ficar, fato conhecido como “Dia do Fico”. Entretanto, a pressão de Portugal prosseguiu condição que o levou a proclamar a independência no dia 7 de setembro de 1822.
Com a independência iniciava-se o Primeiro Reinado que durou até 1831 quando D. Pedro I abdicou e retornou a Portugal. Como seu pai, D. Pedro I deixou aqui seu filho que, mais tarde, seria coroado imperador aos 14 anos de idade. D. Pedro II seria imperador do Brasil por quarenta anos, até a proclamação da República em 1889.
Os fatos lembrados acima são de conhecimento geral. Fazem parte dos currículos de História do Brasil ensinados nas escolas. Entretanto, não se emprestam a eles as devidas reverências. A cada ano, por ocasião da comemoração da independência do país toma-se D. Pedro I pelo que teria de menor, ou seja, sua sexualidade descrita como exacerbada. Somos lembrados da amante de D. Pedro I, Domitila de Castro, a Marquesa de Santos. Os meios de comunicação tornam a falar sobre a amante, a casa onde viveu, o túmulo onde está enterrada etc.
Lembrar de Pedro I através de suas aventuras amorosas é pouco para um homem que tornou o Brasil independente.