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Assombrações
Não sei precisar a hora da madrugada. Entretanto, mais ou menos no mesmo horário, noite adentro, éramos acordados pelo tropel de um cavalo. O trajeto do animal sempre o mesmo. Vinha pela rua e dobrava à esquerda, justamente na esquina da casa onde morávamos. Então o ruído dos cascos as bater contra o chão diminuía e o silêncio voltava a reinar.
No vilarejo ninguém se atrevia a abrir as janelas para observar o estranho cavalo. Mas, se sabia que, certamente, se tratava de uma mula sem cabeça. Os ruídos na madrugada haviam surgido pouco depois da morte de uma mulher que, assim se dizia, mantivera relações íntimas com um padre. Depois da morte sobre ela pesara o castigo: seria para sempre mula sem cabeça, mundo afora errando nas madrugadas.
Os tempos eram outros. Nada dessas engenhocas eletrônicas que hoje andam nas mãos das crianças. Se nem com a energia elétrica podia-se contar em todas as noites… As quedas de fase eram constantes. Os apagões também. E as tempestades.
Tínhamos medo de tudo. Acreditávamos em tudo. Na falta de outras distrações os mais velhos ocupavam-se em contar histórias. Quantos casos narrados sobre almas do outro mundo, assombrações sempre prontas a aparecer e nos assustar.
Houve o caso daquele Felício sobre quem se dizia ser sujeito muito ruim. Contavam-se ruindades perpetradas por ele, com aquela de matar animais só pelo prazer de matar. E muitas outras. Mas, quando o Felício adoeceu, a criançada se pôs em vigília. Eis que seríamos assombrados por um ser terrível assim que o Felício morresse. Um corpo seco, nisso ele se transformaria após morrer. Esse corpo insepulto vagaria nas noites para desespero de toda gente que, de nenhum jeito, queria com ele cruzar. Gente ruim virava corpo seco, disso se tinha certeza.
Um dia o Felício morreu. Nunca soube se alguém topou com ele sob a forma de corpo seco. Depois crescemos, o mundo mudou e hoje pouca gente se preocupa com mulas sem cabeça, corpos secos e assim por diante. A infância mudou tanto… Muito.
Assassinatos em Atlanta
Entre 1979 e 1981 uma série de assassinatos assombrou a cidade de Atlanta. Nesse período 28 jovens negros de idade entre 7 e 17 anos foram mortos e seus corpos encontrados em lugares diferentes, alguns boiando nas águas de um rio. A possibilidade de um serial killer em ação chamou a atenção nacional sobre o fato. Na cidade as famílias passaram ao desespero pelo medo de algo acontecesse com seus filhos. Grande esquema policial foi montado para prender o assassino, ou mais de um se fosse o caso. Ao final prendeu-se um produtor musical negro que foi condenado à prisão perpétua pela morte de duas pessoas de mais de vinte anos de idade. Mas, Wayne Willians, conhecido como o Monstro de Atlanta, sempre negou a autoria dos crimes. Não se conseguiu provar ter sido ele o responsável pela morte dos 28 jovens.
Os assassinatos ocorridos em Atlanta ganham nova projeção através de uma série televisiva norte-americana chamada Mindhunter. Trata-se da formação de um grupo especial do FBI cuja finalidade é o entendimento do modo de agir dos criminosos. Através de entrevistas policiais do FBI tentam compreender a mente de criminosos famosos, buscando elaborar métodos para combater futuros crimes. Na segunda temporada da série abordam-se os crimes ocorridos em Atlanta e a busca do criminoso.
Mindhunter não deixa de ser interessante pelo modo como atuam os membros da equipe do FBI. A tentativa de penetrar a mente criminosa não se dá sem consequências para os policiais. As entrevistas, realizadas em presídios, são cercadas de grande tensão. Policiais têm à sua frente notórios criminosos aos quais dirigem perguntas nem sempre respondidas a contento. No capítulo da série em que o entrevistado é Charles Mason as coisas se passam de modo bastante complicado. Mason, que faleceu a pouco, foi o idealizador do assassinato da atriz Sharon Tate. Convenceu um grupo de seguidores invadir a casa onde residia a atriz e matar todos os que encontrassem pela frente. Sharon estava grávida e nem assim foi poupada. O fato é conhecido e muito bem explorado no capítulo.
Até hoje não foram devidamente esclarecidos os assassinatos dos jovens negros de Atlanta. As próprias famílias dos jovens assassinados não acreditam ter sido Wayne Willians o serial killer responsável pelas mortes.
Em março deste ano a prefeita de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, e a chefe de polícia de Atlanta, anunciaram que as autoridades estaduais e locais testarão novamente as evidências no caso. Hoje se dispõe de meios avançados de investigação, entre eles provas de natureza genética. Seria spoiler acrescentar o que se vê na telinha no último capítulo da segunda série de Mindhunter sobre o final do assunto na década de 80.
80 anos
Pessoa conhecida faz 80 anos. Eu a felicito, desejando muitos anos de vida. Ela responde: deseja isso porque não gosta de mim.
A velhice é a incógnita. Seguir adiante para que? Pelo menos se a saúde ajudar. Mas com tantas dores… A rotina de frequentar salas de espera em consultórios médicos é torturante. Ali se reúnem, todo dia, pessoas em sua maioria idosas. Muitas delas na verdade não sofrem de sintomas que justifiquem tantas vezes aos médicos. É o medo da doença que as conduz. O medo do que está pela frente. O medo do fim. Da morte.
Mas as estatísticas impressionam. A longevidade alcança barreiras até então difíceis de atingir. Relata-se a morte recente de uma mulher aos 122 anos de idade. Por detrás do grande aumento do número de idosos os avanços da medicina. Novas técnicas de diagnóstico. Novos medicamentos. Cura ou mesmo prolongamento da vida em doenças ainda incuráveis. O mundo está aberto a novas conquistas científicas.
A sociedade se acanha diante da mudança na pirâmide de idades. Mais velhos a manter no sistema econômico já abalado. O estreitamento da base e o alargamento do topo da pirâmide revela-se problema de difícil solução. Afora a falência do sistema de saúde que deixa à margem de atendimento tanta gente.
O medo ligado à velhice relaciona-se à perda de controle sobre si próprio. O horror da dependência física num momento em que se perde a capacidade de fazer coisas por si mesmo. A torturante incapacidade dos presos às cadeiras de rodas. Perguntada sobre a velhice famosa escritora resumiu: é uma merda.
Mas, existem outros problemas. Teme-se, com razão, o Alzheimer. Parentes temem vir a sofrer de males semelhantes. Alguém, perto dos noventa, apresenta pequenos esquecimentos. A parenta, passada dos setenta, teme que a prima esteja com Alzheimer. Se acaso estiver será que não acontecerá também comigo? Nada garante. Mas como convencer a mais nova, preocupada, de que não correrá riscos?
A vida passa, não tem jeito. É sempre bom presenciar a chegada de uma pessoa aos oitenta, em boa forma, embora as reclamações quanto a pequenos males que a incomodam. Afinal, a velhice não é o fim do mundo.
A democracia
Nos meios de comunicação dois assuntos predominam: o comportamento do presidente e perigos à democracia. Do presidente registre-se o crescimento da insatisfação com ele e seu governo conforme nos informam as pesquisas. Sobre a democracia são alinhavados comentários que, no fundo, dizem a mesma coisa: o regime democrático segue firme, mas tem sofrido abalos.
Churchill dizia que a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que foram tentadas. Os brasileiros que viveram sob o regime ditatorial haverão de concordar com isso, excetuando-se alguns, naturalmente. Regimes autoritários impostos e mantidos pela força são pródigos em arbitrariedades. Despertam ódios e reações extremadas. Reprimem de forma violenta. Não aceitam o pensar diferente. As regras são impostas, cabe ao povo segui-las.
Seja como for o melhor é viver sob regimes democráticos, embora suas contradições. Nenhum outro sistema experimentado até hoje proporciona liberdades comparáveis às oferecidas pela democracia. Vejam-se os países que eram obrigados ao comando comunista russo. Regimes totalitários nos quais as liberdades individuais eram tolhidas. Isso sem falar nos transtornos econômicos que afetam todas as áreas. Enfim, a democracia é imperfeita, mas o melhor que se tem para o momento.
A Guerra Fria foi-se embora com a queda do muro de Berlin. Por aqui tem-se tentado ressuscitá-la. De repente a polarização entre direita e esquerda retorna ao dia-a-dia o que nos mostra que certas ideologias estão insepultas. Reaparece o radicalismo. Não só aqui, mas em outras partes do mundo surgem sinais ou realizações de governos totalitários. Daí falar-se em perigo à democracia.
O Brasil atravessa fase complexa com seu perfil econômico abalado. A insatisfação se dissemina, perigosamente. No caldeirão os ingredientes de uma sopa cujo aroma é perverso. Mas, não se acredita no pior. Pior que está não fica. Daqui para a frente vamos melhoras, não é assim que se manifestam as boas almas?
É preciso abrir os olhos. Permanecer de olhos bem abertos.
Sucesso
Ser bom no que faz é meritório. Exige dedicação, esforço… e tudo o mais. Quando se trata de profissionalismo pouca coisa depende do acaso. Mas, ser bom no que faz não é garantia de sucesso. Chegar ao topo é outra história.
Um radialista esportivo concede entrevista e se declara muito bom no que faz. Atribui esse fato à dedicação e esforço em sua profissão. Acrescenta que, entretanto, não se considera melhor que ninguém. Garante que narra de um modo que, no mercado, não tem para ninguém, não. Diz que é sincero, sua sinceridade é diferente da dos outros, daí dizer o que diz.
Nesse mundo há todo tipo de pessoas. Não deixa de ser bom cruzar com alguém que acredita em si mesmo. As dificuldades da vida fazem com que muita gente, muita gente mesmo, siga de cabeça baixa. No fundo do coração as pessoas sonham com vida melhor, mundo melhor. Mas, o sonho não se realiza e a vida passa. Talvez por isso a identificação com ícones que, da noite para o dia, tornam-se grandes sucessos. Sob a capa do sucesso os ícones trazem a ideia de que o sonho pode ser realizado, talvez num golpe de sorte. Não custa esperar.
A sorte de fato pode ajudar a uns poucos agraciados com prêmios inesperados. É o caso dos sortudos que ganham nas loterias. Verdade que o acesso súbito à fortuna pode confundir. Vejam-se os vários relatos de pessoas que ganharam polpudos prêmios e se deram mal por não saberem administrar o dinheiro e adaptarem-se à nova condição.
Nesse sentido é exemplar o caso de um imigrante vietnamita que ganhou milhões na loteria do Canadá. Ao conferir o resultado o sortudo foi até uma lotérica e pediu que os números sorteados fossem impressos para ele. Então retornou à casa e ficou dias comparando os números de seu jogo aos do papel impresso. Entretanto, não foi receber o prêmio. Só o fez seis meses depois, período que considerou necessário à preparação de sua família para a nova vida. Informou, ainda, que fará uma viagem a vários lugares com a família. Depois disso, voltará para casa e tornará ao trabalho de jardineiro. É jovem e forte, precisa trabalhar.
Há quem tenha consciência de seu próprio valor e vanglorie-se disso. Há quem, como o radialista acima, atribua seu sucesso ao valor próprio, muita dedicação e suor. Existem pessoas de muito valor que jamais terão sucesso em seus empreendimentos. Há aqueles que confiam em si mesmos, mas se escondem, tamanhas suas simplicidades. A multiplicidade de pessoas, suas aspirações e conquistas é estonteante.
Uns poucos seres humanos deixam marcas de sua passagem nesse mundo. São e sempre serão lembrados, seja para o bem ou para o mal.
Novelas
Nunca assisti a uma novela inteira. Em verdade sempre acabo vendo poucos capítulos, situação mais que suficiente para me inteirar sobre o assunto. O cansativo nas novelas é o excesso de romantismo. Personagens talhadas na fôrma romântica trafegam em um ir e retornar de situações quase sempre melodramáticas. O mal é encarnado por personagens, muitas vezes femininas, que se esmeram em atos terríveis. O acordo se dá entre os atores e os telespectadores como não poderia deixar de ser. A personagem do mal mostra-se transparente para o público. Mas, dentro da novela, quase sempre se faz passar por alguém incapaz de maldades.
Muita gente se lembra do grande sucesso que foi “O direito de nascer”. A novela arrastou-se por meses nas telinhas das televisões em preto-e-branco. Quando tudo parecia caminhar para a solução da trama acontece algo inesperado: o personagem que deveria reconhecer seu neto é vítima de um AVC. A partir daí arrastaram-se inúmeros capítulos até que, em certo dia, o velho enfim dissesse: meu neto!
De lá para cá as novelas melhoraram muito. Tecnicamente, com boas tramas e ótimos atores. Em algumas delas a expectativa gerada pelos capítulos finais movimentou multidões. Quem não se lembra da excelência de “O bem-amado” de Dias Gomes?
No momento está nas telas “A dona do pedaço”. O enredo atinge as raias do absurdo. A personagem central, Maria da Paz, é traída pela própria filha, mas se recusa a aceitar evidências da traição. A filha rouba à mãe toda a fortuna adquirida durante uma vida de muito trabalho, fica com o marido da mãe, expulsa a mãe de casa e, ainda assim, a Maria da Paz não se dá conta do verdadeiro caráter daquela que gerou.
Vez ou outra surge na internet gente que ofende Maria da Paz, tamanha a burrice da personagem. Por trás do enredo o autor, Walcir Carrasco, que parece se divertir às custas daqueles que acompanham a novela. Será que um dia Maria da Paz acordará e verá, finalmente, o que todos não aguentam mais presenciar a cada noite, diante dos aparelhos de televisão?
A maioria das novelas termina bem. Justiça feita, criminosos punidos, casamentos felizes etc. Tudo isso bem rodado no caldeirão das peripécias. Caso se chegue a isso sem muitos exageros o público se dará por satisfeito.
O ambiente
Nos anos 70 do século passado pouco se falava sobre preservação do ambiente. Nas escolas o curso de Biologia era mais focado nas subdivisões padronizadas: citologia, genética, zoologia e botânica. Assuntos relacionados ao ambiente eram englobados em aulas de zoologia e botânica.
É preciso lembrar de que, então, não existia a internet. As publicações de que dispunham os estudantes eram obras traduzidas do inglês e francês, algumas do espanhol. Livro importante e utilizado principalmente nos cursos superiores da área era o “Ecologia”, do Eugene Odum, traduzido para o português na década de 70. Entenda-se: não é que não se soubesse - e falasse - sobre chuvas ácidas, aquecimento global etc. Mas, as ameaças ao ambiente não eram tratadas com a ênfase de hoje. Pudera. O mundo era o mesmo em que vivemos atualmente, mas a população bem menor e a devastação ambiental não tão visível a ponto chamar a atenção popular. Alertas quanto ao perigo no futuro apareciam, mas não sugerindo crises imediatas. Enfim, a Terra deveria ser preservada, mas a conscientização em torno da necessidade de salvar o planeta não era, ainda, de domínio público. Hoje em dia fala-se o tempo todo sobre o ambiente e governos brigam entre si quanto à responsabilidade pela devastação ambiental e suas consequências. Cada um busca isentar-se na medida do possível, em geral atribuindo a outrem a culpa pelas mudanças ambientais.
De modo que a ecologia e o ambiente passaram a ser assunto do café da manhã em todas as mesas. Os noticiários dos meios de comunicação diariamente tratam do assunto. Notícias sobre mudanças ambientais correm o mundo e preocupam as populações. As muito altas temperaturas observadas no recente verão europeu inquietam. As queimadas que resultam em devastações florestais chegam ao primeiro plano das discussões entre países, envolvendo até mesmo a possiblidade de quebras de acordos comerciais. Nas ruas passam a ser comuns protestos contra a devastação ambiental. Acordos relacionados ao clima não contam com a adesão de algumas potências mundiais. Em meio a tudo isso encontra-se quem duvide de que o ambiente corra perigo, ignorando-se alertas e dados científicos publicados por organizações respeitáveis.
É nesse contexto que surge o problema da Amazônia. No momento a grande floresta arde em chamas por incêndios que se investiga serem de natureza criminosa. A Amazônia em perigo gera revolta e protestos em todo o mundo. O Brasil, país que abriga em seu território a grande floresta, passa a ser acusado por não a preservar. Chefes de governo das mais ricas nações do mundo reúnem-se. Na pauta o assunto: queimadas na Amazônia. A par da justificada preocupação com o ambiente o oportunismo de alguns governantes que acusam o Brasil, mais focados em outros interesses de seus países.
Muita gente protesta, muita gente diz besteiras. Pessoas de renome publicam suas opiniões, usando erros como o de atribuir à Amazônia a função de “pulmão do mundo”.
No Brasil o presidente da República esmera-se em fornecer farto material ao estrangeiro, infelizmente utilizado para denegrir o país que governa. Faz isso através de declarações impensadas e nem sempre corretas.
Mas, a Amazônia é importante. Muito importante. Para além das opiniões há que se preservá-la. É nisso que os esforços devem ser concentrados.
A morte
Presenciamos o desaparecimento de pessoas próximas e isso nos faz pensar sobre a precariedade da vida. Ao chegar à velhice a morte se nos apresenta como fato ainda mais palpável. Não há como olvidar que ela nos espera, faminta. Caminha-se em direção a ela numa rota inexorável. Não há como driblar a fatalidade que nos aguarda ao fim de um túnel onde tudo, finalmente, se apagará.
Cemitérios são plenos de lápides nas quais se inscrevem nomes e datas dos desaparecidos. É sempre impressionante observá-las. Estão ali resumos de períodos nos quais aquelas pessoas estiveram entre os demais mortais. São registros que não traduzem emoções, alegrias, tristezas, problemas, dificuldades e tantas outras coisas que permearam a passagem dos dias dos que se foram. As lápides nos entristecem. Levam-nos a pensar nas nossas futuras lápides. Quando?
Morre-se por toda sorte de causas. Morre-se ainda jovem. Morre-se na velhice. Certas mortes nos impressionam mais que outras. Aceitamos com mais facilidade o desaparecimento de alguém que sofria irremediavelmente. Mas, as mortes súbitas nos afetam. Incomodam. Inesperadas, trazem consigo a força da impunidade com que a morte escolhe aqueles cujas vidas ceifa de repente.
Neste final de semana uma morte despertou a atenção. Trata-se do desaparecimento da escritora Fernanda Young. Estava ela em preparação para peça teatral e optou por descansar num sitio. Foi nesse lugar que, acometida por crise asmática, veio a falecer. Subitamente. Inesperadamente, provocando grande consternação entre aqueles que a conheciam.
A morte é assim. Age sem escrúpulos. Leva a quem bem entender, sem maiores explicações. É lugar comum dizer-se que a única certeza que temos é a de que a morte virá. Infelizmente.
Questão ambiental
Seguem as acusações, de lado a lado, sobre o desmatamento da Amazônia. O presidente Bolsonaro taxa de mentirosos os índices divulgados pelo Inpe. A Alemanha e a Noruega deixam de mandar os milhões para preservação da grande floresta. O presidente reage dizendo que querem é comprar a Amazônia, que cuidem de suas próprias agressões ao ambiente.
O Instituto Imazon acaba de divulgar relatório que aponta um crescimento de 66% no desmatamento na chamada Amazônia Legal no mês de julho de 2019, em comparação com o mesmo período no ano passado.
Nessa história toda fica claro que, afinal, existe desmatamento. Mas, não há como aceitar o tom impositivo com que os estrangeiros acusam o país. Apontam o dedo. No rádio um comentarista político afirma que Alemanha e Noruega nos tratam como se fôssemos selvagens ainda na pré-história. Fazem isso sem olhar para o próprio rabo, diz ele. Afirma que a Alemanha já quase não possui reservas. Da Floresta Negra alemã restam apenas 2%. A Noruega é responsabilizada pela chuva ácida.
A Alemanha se apressa em divulgar um vídeo, com legendas em português, mostrando suas reservas naturais. Busca contradizer as acusações que a ela fazem.
A questão ambiental preocupa. Embora o presidente norte-americano negue o aquecimento global é um fato. O verão europeu, por exemplo, caracterizou-se por temperaturas extremante altas e preocupantes. O degelo nas calotas polares é inegável.
O que se publica na mídia é que a imagem do Brasil anda em baixa no exterior. Não se pode negar certa conduta de superioridade das nações de primeiro mundo em relação ao Brasil. No fim das contas, o que se pede é prudência e entendimento. Mas, ao que parece, com a radicalização de posições, o entendimento custará a vir, se vier. Enquanto isso vamos vivendo sem olhar para a frente e sem imaginar que mundo será legado aos que vierem depois de nós.
Amigos e política
As redes sociais mais destroem do que constroem. Para muita gente isso é mais que verdade. Mas, não significa que as redes não consigam mais e mais participantes. Para o bem e para o mal.
Nas redes o que está em jogo é a exposição. Num momento em que as polarizações estão ativadas os prós e contras são acelerados. Daí ser difícil entender porque algumas pessoas seguem na trilha, recebendo agressões tantas vezes desmedidas.
Semana passada um padre que conta com grande número de seguidores decidiu suspender a sua conta. Ele havia afirmado que pessoas presas por terem cometido crimes contra os pais, ou filhos, não deveriam gozar a liberdade concedida no dia em que os pais são homenageados. Como sempre existem os prós e os contras. Ao deixar a rede o padre alegou depressão por ter recebido agressões ao divulgar a sua opinião.
Quando o assunto é política as coisas se tornam mais complicadas. É comum que pessoas ligadas por laços de amizade se reúnam através das redes. Diariamente postam mensagens, comemoram datas, comunicam falecimentos etc. Mas, o caldo entorna quando alguém se dispõe a dar sua opinião sobre o jogo político.
Ano passado presenciei furioso embate nesse sentido. Amigos que se conheceram no antigo Ginásio - hoje Ensino Fundamental – reencontraram-se depois de garimpo atrás dos velhos colegas. Localizados, identificados, logo se puseram em uma rede na qual passaram a postar mensagens. O problema surgiu quando um deles passou a defender Lula que teria sido injustamente condenado e preso. De repente ouviram-se vozes dissonantes. Não demorou para que surgissem os defensores da Laja-Jato. De uma discussão pouco amistosa no início a situação evoluiu para troca de mensagens ofensivas.
A certa altura alguns dos participantes do grupo alegaram sair porque não aceitavam o petista. Por outro lado, o petista não poupou agressões que, aliás, brotaram de lado a lado. Foi assim que velhos colegas do tempo escolar, gente que não se via há 50 anos, desentenderam-se, irremediavelmente.
Noutra rede de colegas ao tempo de faculdade alguns dos participantes postam mensagens de teor político. Alguns dos participantes solicitam, com frequência, que os antigos companheiros falem sobre tudo, menos política. Mas, é preciso considerar a natureza de cada um. A política pode funcionar como espécie de ópio que apaixona. O homem é um ser político. De modo que para aqueles que tem a oportunidade de divulgar suas tendências a rede surge como oportunidade imperdível. Há que se doutrinar, convencer os outros… A ver no que vai dar.
Uso as redes para comunicações familiares. Ou contatos e comunicações necessárias. Trata-se de um excelente meio que agiliza procedimentos do dia-a-dia. Não sei dizer se as redes mais destroem que constroem.