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Velhice precoce
Inundam a internet fotografias de pessoas envelhecidas através do uso de um app. Personalidades a cujas estampas estamos habituados surgem em perspectiva de como estarão daqui vinte ou trinta anos.
Interessante como o envelhecimento digital desperta a curiosidade das pessoas. Aquela atriz, tão bonita, como estará ela quando a velhice chegar? Esse apresentador de TV a cujo rosto estamos habituados o que o envelhecimento fará com suas feições?
No geral o que se tem são aparências de velhos, com flacidez da pele, rugas, cabelos brancos, enfim o inevitável. Mas, para quê? De que serve a uma pessoa ainda jovem verificar as mudanças provocadas pelo envelhecimento? De que a vida passa sabemos bem. De que a velhice e a morte estarão a postos nos últimos capítulos de nossa existência estamos cientes. Mas, não é que o melhor é viver o agora, aproveitar a plenitude enquanto a temos sem olhar muito em direção à morte?
Envelhecer digitalmente celebridades talvez seja um modo de igualar seres humanos naquilo que tem de perecível. Ao feio talvez importe ponderar que ao belo estão reservadas as mesmas vicissitudes que a ele. Não que se pense nisso ao observar uma fotografia de pessoa envelhecida digitalmente. Mas, o subconsciente se encarrega de colocar as coisas em seus devidos lugares.
Por outro lado, publica-se que o app de envelhecimento talvez ofereça o perigo de servir ao roubo de dados das pessoas que o utilizarem. Não será demais se isso acontecer numa época em que crimes digitais proliferam.
Não sou mais jovem. Caso ainda fosse tenho a impressão de que não gostaria de me submeter ao uso do app de envelhecimento. Não gostaria de me ver como sou agora por melhor que esteja. Fico com a impressão de que os proprietários dessas faces envelhecidas que vemos na internet não devem concordar com esse tipo de publicação. Gente de cinema e TV querem-se jovens diante do público. Comparar o que agora são com a imagem possível do venham a ser talvez não seja do agrado dessas pessoas.
Viagem à Lua
Leio que, ainda hoje, 26% dos brasileiros não acreditam que o homem tenha estado na Lua. Armação dos americanos. Filme, nada mais que isso. Acontece no momento em que justamente se comemora a chegada do homem ao satélite. Há 50 anos, no dia de hoje, partia a nave Apolo na missão que levaria o homem a pisar no solo da Lua.
A história dessa façanha todo mundo conhece. Kennedy prometera que os americanos seriam os primeiros. Venceriam os russos na corrida espacial. De fato, venceram. Quando Neil Armstrong desceu da nave e tornou-se o primeiro homem a pisar no solo do satélite os americanos comemoram o grande feito da sua gente.
Hoje fala-se numa viagem de retorno. Querem alcançar o outro lado da Lua. Mas, a grande meta é Marte. Pelo jeito que as coisas seguem não demorará para que essa aventura venha a acontecer. O desafio faz parte da natureza do homem. Vencer barreiras. Olhar-nos de longe. Chegar a um lugar onde nunca antes. Marte é a meta.
Entretanto, por aqui as coisas seguem um tanto malparadas. Os homens não se entendem. De nada parecem servir as terríveis experiências de duas guerras mundiais. O mesmo homem que avança no espaço é o que se envolve em disputas que, com frequência, terminam em grande mortandade. Vidas perdidas, inutilmente.
De que temos noção sobre a pequenez de nosso planeta diante da imensidão do universo não restam dúvidas. Mas, raramente levamos esse fato em conta. Assistimos a filmes sobre impactos inevitáveis que destroem a Terra, mas nem de longe imaginamos que isso venha a acontecer. Atribuímos à Terra uma solidez que ela, na verdade, não desfruta.
O filme “Impacto Profundo”, de 1998, torna real a possibilidade de que a civilização humana possa chegar ao fim. Descobre-se a trajetória de um cometa em rota de colisão com a Terra. Interessante acompanhar o comportamento dos homens durante a espera da grande catástrofe. Desespero diante do inevitável.
Espera-se a existência de água em Marte. Caso seja encontrada haverá possibilidade de maior tempo de permanência por lá. Enquanto nenhuma viagem tripulada chega ao planeta vermelho fica-se com as aventuras de Flash Gordon no planeta Mongo. Elas nos permitiam, nos anos cinquenta do século passado, imaginar como seria a recepção aos terráqueos longe da nossa Terra.
Na ficção Marte é tido como planeta onde existe civilização avançada. Não é o que nos trazem as imagens obtidas através de sondas que percorrem grandes distâncias para aproximar-se do planeta vermelho. Há poucos dias uma sonda da NASA detectou uma enorme cratera no solo marciano. A fotografia foi tirada a uma distância de 255 km do planeta.
Já a sonda InSight está em Marte desde o final do ano passado. Caso alguém tenha interesse em ver as impressionantes fotografias obtidas através da sonda basta procura-las no Google. Entretanto, afora poeira e pedras não há sinais aparentes de vida em Marte.
1932
Da Revolução de 32 guardei as memórias de meus tios. Muitas vezes ouvi deles narrativas do período em que São Paulo se ergueu contra o governo federal do presidente Getúlio Vargas. As razões da revolta dos paulistas estão esmiuçadas nos trabalhos de vários historiadores. A indignação com a nomeação por Getúlio de um interventor para o Estado que não contava com a concordância dos paulistas está entre as razões da eclosão do movimento. O país não contava com uma Constituição. Inexistiam Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Para um de meus tios era emblemática a sangrenta noite na qual ocorreu o embate entre manifestantes paulistas e tropas federais ligadas ao Partido Popular Paulista (PPP). O evento, ocorrido em 23 de maio de 32, foi uma das razões que desencadearam a Revolução. Na ocasião aconteceu a tentativa de manifestantes de invadir a sede do PPP, localizada na esquina da Rua Barão de Itapetininga com a Praça da República. Os governistas reagiram com fuzilaria e granadas. Como não poderia deixar de ser do tiroteio restaram vítimas. Quatro delas, Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, legaram as iniciais de seus nomes ao movimento que passou a ser conhecido como M.M.D.C. A sigla representava os mártires da causa Constitucionalista. A partir de 9 de julho o M.M.D.C. passou a recrutar voluntários para o combate, dando a eles treinamento, além de arrecadar fundos para o conflito.
Muitas vezes ouvi meu tio repetir os nomes dos rapazes mortos naquele 23 de maio. Repetia-os com emoção. Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo faziam parte do passado não só dele como do povo paulista. De minha tia ouvi sobre a participação das mulheres no conflito. Muitas delas trabalharam na indústria bélica, atuaram como costureiras, enfermeiras, enquanto algumas participaram diretamente dos conflitos.
Um de meus tios participou de combates. Era militar. Distinguiu-se por atos de bravura razão pela qual recebeu promoções em sua carreira militar. Isso soube através de minhas tias porque ele mesmo jamais falou sobre o assunto.
Distanciados em relação ao tempo em que os acontecimentos ocorreram restam-nos as novas interpretações dos acontecimentos que elencam, entre outros fatores, a atuação da classe dominante, as circunstâncias sociais, as dificuldades do trabalho e a incitação o brio dos paulistas. Entretanto, aos que tiveram oportunidade de conhecer pessoas que participaram do conflito restam memórias da emoção com que se recordavam daqueles dias. Mantinha-se naquelas pessoas o amor pelo Estado e a vigência do ideal constitucionalista.
João Gilberto
Em 1958 entrávamos em êxtase com a surpreendente campanha do selecionado brasileiro na Copa da Suécia. Surgia Pelé que se tornaria o rei do futebol. Eram jogadores fantásticos, atuando no 4-2-4. No gol Gilmar defendia as nossas cores. O memorável ataque contava com gente como Garrincha e Didi. Zito mandava no meio do campo.
Naqueles dias, durante a Copa, dei com o Lico na calçada da rua onde morávamos. Falamos sobre a seleção. Quem era aquele Pelé que, através das transmissões radiofônicas, ficamos sabendo tratar-se de um moleque de 17 anos a encantar o mundo com seu maravilhoso futebol?
Do futebol passamos à música. Eis que o Lico me diz que, de modo algum, aceitava o tal João Gilberto. O sujeito não tinha voz. Nem de longe se aproximava de um Orlando Silva, do Vicente Celestino, do Nelson Gonçalves, do Carlos Galhardo…
Nascia a Bossa Nova. Aquele sujeito que cantava de outro jeito, na linha do Mário Reis, mas superior a ele, entrava na vida musical do país, estabelecendo um antes e um depois nos ritmos musicais do país. Verdade que o Jhonny Alf já trazia impressões do novo ritmo. Mas, o João viera para ficar. Já ouvíramos a batida do seu violão naquele “Chega de Saudade”, acompanhando a Alaíde Costa.
O fato é que, até então, vivíamos com o samba. Maravilhoso samba. Quem não se enternecia, ouvindo Ataulfo Alves? Ismael Silva e tantos outros. E as deliciosas marchinhas de carnaval?
Mas, a Bossa Nova se impôs. Ela incorporava novas harmonias à musica, não só a brasileira como a mundial. O jazz americano não resistiu a invasão da Bossa. Lembro-me bem do noticiário, um tanto negativo, em relação à apresentação dos músicos brasileiros que levavam a bossa ao Carnagie Hall. “A Bossa desafinou nos EUA” trazia uma das manchetes. Mas, os grandes do jazz entenderam o recado. Pouco tempo depois foram influenciados pelo novo ritmo trazido por João Gilberto, Tom Jobim e tantos outros.
João Gilberto fez-se celebridade apresentando-se nas principais salas do mundo. Encarou plateias estrangeiras em palcos sofisticados. Só ele e seu violão. Deixou-nos gravações memoráveis de músicas cujas letras sabemos de cor.
Mas, como tudo passa eis que a vida de João Gilberto também se foi. Semana passada deixou-nos. Partiu com o mesmo silêncio que manteve durante toda a sua vida. Ficou essa gigantesca lacuna que só os gênios são capazes de legar quando desaparecem.
Boa viagem João.
Jogo do Brasil
Confesso que já não me atraem tanto as peripécias realizadas em campo durante partidas de futebol. Acontece-me preferir mais ouvir a narrações de jogos que os assistir. Ligo a TV, mas só olho para o vídeo nos momentos em que os narradores enfatizam iminências de gol ou jogadas interessantes.
Nem sempre foi assim. A paixão pelo futebol sempre existiu. Ainda menino fui levado ao Pacaembu para assistir a um jogo entre o São Paulo e o Palmeiras. Tarde de domingo, ensolarada e inesquecível. No Palmeiras atuava um jovem atacante, Mazzola, que, mais tarde, jogaria na Itália. O São Paulo tinha Poy, Mauro… No fim um empate por 0X0.
Naqueles tempos as transmissões pela TV iniciavam-se. A Copa de 58 ouvimos pelo rádio. A terrível excursão da seleção brasileira pela Europa, em 56, também nos foi trazida pelas ondas de rádio. Retenho imagens difusas do jogo de 50, Brasil e Uruguai, no Maracanã. Não chegara ainda ao quarto ano de idade. Mas, tamanha era a euforia com a Copa, realizada no Brasil, que, em todo o país, pessoas se acotovelaram em torno de rádios para ouvir a transmissão da partida. Na sala da minha casa não foi diferente. Momento forte foi aquele em que Gighia anotou o segundo gol que daria a vitória ao Uruguai. Era inacreditável: a seleção brasileira perdia a Copa em pleno Maracanã. Uma grande nuvem de depressão e tristeza passava a pairar sobre os brasileiros.
Mas, o tempo passou. Comemoramos 70 como loucos. Que jogos! Mas, devagar e imperceptivelmente, o interesse pela seleção veio diminuindo. Ao que parece hoje em dia o país não mais se une em torno da seleção nacional. A tal pátria de chuteiras perdeu pelo menos parte de sua antiga força.
Foi com esse espírito que ontem ouvi/assisti ao grande jogo entre o Brasil e a Argentina. Jogo para não se botar defeito. Duas equipes reeditando seus melhores momentos em clássicos do passado. Uma delícia ver Messi jogando. E o fantástico Daniel Alves?
Paixões antigas estão sempre prontas a renascer. O futebol é dessas coisas das quais não nos livramos. No coração do torcedor resta sempre uma última semente a germinar. Pelo que vi ontem a minha semente, que julgava adormecida, segue bem ativa.
Brasil olvidado
Um brasileiro que participa de congresso em Lisboa comenta que na Europa, o Brasil simplesmente não existe. Aliás, não só o Brasil: toda a América Latina está desimportante. Sobressai-se a África onde se realizam bons negócios e há crescimento.
Americanos em seu país, quando perguntam de onde somos, em geral nada sabem sobre o Brasil. Os que apoiam Trump entendem que o “América First” faz dele um dos melhores presidentes que o país já teve. Uma americana pergunta: mas entre vocês também não é “Brasil First”? Acrescenta: Trump é bom porque enriquece os EUA e favorece o enriquecimento de vocês.
Cresci numa época em que os EUA eram acusados de serem ricos às custas do restante do mundo. Era o tempo do “entreguismo”. Creio que ainda é assim, mas nem tanto. Alguém pergunta sobre a diferença entre Brasil e EUA. A resposta é simples: eles são ricos, nós não. A riqueza permite a existência de uma sociedade que funciona, embora existam percalços. Dá até um pouco de dor de cotovelo a sensação de segurança que se experimenta por lá. Isso porque aqui o que há é insegurança. Não se anda por aí sem receio de ser atacado. Lá você pode circular a qualquer hora com riscos próximos ao zero.
Infelizmente o Brasil não conta com boa fama no exterior nos dias atuais. Muita coisa negativa vem sendo noticiada fato que leva estrangeiros a terem opiniões negativas sobre o país. A violência que hoje existe nas nossas cidades é tomada como imagem de um povo no qual a ordem não é preservada. Corrupção e pobreza entre outros problemas alimentam a imagem negativa do país.
Para completar atravessa-se período de grande instabilidade política e econômica. Pronunciamentos disparatados proferidos por autoridades atravessam as fronteiras nacionais e são motivo de descrédito para o país no exterior. Para completar nesses dias até um sargento que viajava num avião da comitiva do presidente, em missão no exterior, foi preso. Era o responsável pelo transporte de 35 kg de cocaína. Esse fato, como tantos outros, pegou muito mal no exterior.
O Brasil vem sendo lembrado pelo que tem de menor. Por trás dessas imagens negativas dorme um fantástico país, proprietário de enormes recursos naturais, em luta por maior industrialização e, principalmente, de governos e classes políticas voltadas para necessidades e interesses do povo. Daí a crise que parece não ter fim e a perda de confiança da população nos homens que nos representam.
Mas, coisas boas também acontecem. O fechamento do acordo entre o Mercosul e a União Europeia é uma auspiciosa notícia.
O “não” à vacinação
Vacina faz mal à saúde. Há crianças que, após serem vacinadas, contraíram a doença. Existem inúmeros paralíticos em consequência de terem sido vacinados contra poliomielite. E por aí vai. Aliás, a terra é mesmo plana. E a chegada do homem a Lua foi uma ficção engendrada pelo cinema americano. Acrescente-se que o ataque às torres gêmeas, em New York, foi de fato realizado pelos próprios norte-americanos.
Muita gente acredita em coisas como essas. E não vacinam suas crianças. Fui criança nos anos 50 do século passado. Tive sarampo, caxumba e outras doenças então tão comuns na infância daqueles tempos. Depois vieram as vacinas. Fui vacinado contra varíola e nunca adquiri a doença. As crianças de minha família que nasceram mais tarde foram vacinadas e não tiveram as doenças infecciosas comuns na infância. Entretanto, na última campanha de vacinação contra gripe a adesão da população ficou abaixo do esperado
Agora certas doenças, como o sarampo, voltam à baila. Há casos de sarampo, inclusive em adultos. Um conhecido, adulto de cinquenta e poucos anos, teve caxumba. Em regiões do país a febre amarela apresenta-se com número significativo de casos.
Mas, afinal, o que está acontecendo? O problema se liga ao desconhecimento e à desinformação. Lembram-se de quando se dizia que não se deveria tomar Coca-Cola por que os americanos colocavam coisas nelas para nos tornarmos favoráveis a eles? Eram os tempos da Guerra-Fria. Pois muita gente acredita nos fakes que correm na internet contra a vacinação. Daí que os incrédulos não vacinam seus filhos, achando que com isso os protegem contra um mal ainda maior. Em consequência, as epidemias avançam.
O Ministério da Saúde informa que as vacinas usadas em crianças de menos de dois anos de idade têm tido queda desde 2011. Segundo o ministério há razões para isso, podendo ser citada que a eliminação de certas doenças no país contribua para a falsa ideia de que a vacinação tenha deixado de ser necessária. Também contribui a resistência da vacinação, embora não saiba o peso desse fator na queda verificada.
Assim, por exemplo, com o sarampo que não existia mais no país. Eis que a doença retorna devido à queda de vacinação contra essa doença. E que não se enganem: a criminosa divulgação de fakes contra a vacinação terá como resultado o recrudescimento de epidemias e vítimas fatais ocorrerão. É tempo de realização de campanhas de esclarecimento da população para que crianças cresçam sadias e não sejam afetadas por graves doenças que, em muitas casos, poderão roubar-lhes a vida.
Azar e sorte
Há quem diga que azares sempre antecedem períodos de sorte. Existem pessoas que convivem com o azar durante toda a vida. São os tais azarados. Para esses nada parece dar certo. Tudo em que o azarado se mete acaba dando errado. Um conhecido comprou um ponto comercial no qual funcionava uma lanchonete de grande movimento. Não mudou uma só linha no negócio. Nenhum detalhe foi modificado. Três meses depois e sob a gerência do novo dono a lanchonete estava à mingua. Dirão que o conhecido não tinha tino comercial. Mas, se não foi a primeira vez… Fracassara em outras tentativas, nem sempre por culpa dele. Aliás, não foi ele quem começou com uma loja de roupas a qual, inexplicavelmente, foi destruída por incêndio? Perda total era com ele. Um bem-acabado espécime do tipo azarado.
Convivi com pessoa de minha família conhecido pela falta de sorte. Meteu-se em tantas coisas que não deram certo que seria inútil citá-las. Mas, para que se tenha ideia, certa ocasião peguei carona com ele numa viagem pela Via Dutra. Era um dia bonito, céu azul, impecável. Nenhuma nuvem. A certa altura um caminhão deslocou uma pedra do asfalto. Naturalmente a pedra veio a atingir o para-brisa do carro no qual viajávamos. Vidro estilhaçado, fomos obrigados a parar, retirando cacos de dentro do carro e os restos que haviam ficado presos no para-brisa. Ao retomarmos a viagem recebíamos na face o forte vento provocado pelo deslocamento do carro. Como reclamei o parente me contestou, dizendo: não reclame, afinal o céu está limpo e não está chovendo.
Mas, era ele, o azarado. Minutos depois eis que o céu, repentinamente, é coberto por nuvens negras. Não demorou a chover. Sem o vidro no para-brisas, recebíamos as gotas de chuva com a força de pequenas pedras que colidiam em nossas faces. Quem não tem sorte não tem. Pronto.
Mas, a sorte existe? Certa vez perguntaram isso ao pintor Pablo Picasso. A resposta de Picasso é conhecida: “toda vez que a sorte me procurou me encontrou trabalhando”. Mas, é inegável a ocorrência de períodos em que tudo dá certo para algumas pessoas. Uma coisa chama outra, como se diz. Há gente que parece nascer predestinada. Trazem do berço uma estrela cuja luz parece nunca se apagar. Sorte? Acaso? Não se sabe. Mas, acontece. Um rapaz que saiu de sua cidadezinha no interior veio a São Paulo para tentar a sorte. De formação primária era a ele difícil arranjar emprego. Foi salvo por um bilhete de loteria. Aliás não foi só essa vez que teve o bilhete de sua posse premiado. Também teve sorte ao aplicar o dinheiro. Uma gleba de terras que comprou por quase nada, no interior, foi revendida, anos depois, por uma fortuna. Quando morreu o sortudo tinha até apartamento até em Manhattan.
Azar e sorte talvez não existam. O melhor é dizer que acontecem bons e maus momentos. Atribuir a esses momentos a condição de azar ou sorte, nomear sortudos e azarados faz parte do cotidiano, embora não exista certeza absoluta sobre isso. Mas que tudo isso é muito esquisito, lá isso é.
Imigração
Toda sorte de problemas relacionados à precariedade das condições de vida leva milhares de pessoas a atravessar a fronteira entre EUA e México. A busca pela vida em um país rico no qual oportunidades de trabalho existem é o motor da aventura à qual se arriscam os imigrantes.
No mês de fevereiro deste ano 76 mil pessoas atravessam a fronteira. É esse número elevado de imigrações que leva o presidente americano a exigir a construção de um muro. Além disso, Trump ameaça o México com sanções econômicas caso o governo mexicano não haja no sentido de impedir a imigração. Para responder a essa exigência o México deslocou para a região fronteiriça 15 mil soldados.
A fronteira entre México e EUA tem mais de 3 mil km. Nos EUA os democratas se opõem à construção do muro. Mas, enquanto se discute o movimento de imigração ilegal prossegue. Daí que crianças acabam sendo separadas de seus pais e recolhidas ao que muitos consideram como verdadeiros campos de concentração.
Quanto a esse assunto as opiniões são divididas entre os americanos. Há quem destaque que sem imigrantes o país não conta com gente para a realização de serviços básicos. Outros chamam a atenção para o fato de que com os imigrantes há elevação de taxas a pagar. Duas irmãs têm opiniões opostas sobre a imigração: para uma a pergunta sobre quem vai lavar o carro dela prevalece. Para a outra será ela a pagar mais pela imigração desenfreada.
A travessia da fronteira é, entretanto, perigosa. Pessoas desaparecem, muitas delas vítimas de coiotes enganosos que cobram para levá-las ao outro lado e não o fazem. Outras são presas e devolvidas aos seus países após serem recolhidas a prisões nos EUA.
A imigração é um problema de difícil solução. O risco à vida dos que se aventuram nas travessias é alto. Hoje está publicada foto de um pai e sua filha, mortos dentro de um rio. A menina tem o braço em torno do pescoço do pai. O sonho americano custou a eles a própria vida.
Canudos de plástico
De que a utilização de objetos de plástico deve ser coibida não restam dúvidas. O meio ambiente agradece a todas as medidas de proteção adotadas em relação a ele.
Nesta semana o prefeito de São Paulo proibiu o uso de canudos de plástico na cidade. Num programa de rádio os locutores ironizaram o destaque dado à medida governamental. Para eles houve excesso de publicidade num ato de nem tanta repercussão. Acrescentaram que, entretanto, problemas de maior monta permanecem esquecidos. Citaram a poluição dos rios que cortam a cidade, a precariedade do sistema de água e esgotos, a falta de medidas contra as frequentes enchentes nos períodos de chuva e assim por diante.
Segundo pesquisa realizada, em 2015, pela revista Science a humanidade gera 275 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano. Destes entre 5 e 12 milhões de toneladas chegam aos oceanos.
Nos oceanos são enormes os danos causados pelos plásticos. Para começar afetam dramaticamente a vida dos seres marinhos. Alguns tipos de plástico podem liberar substâncias cancerígenas. Também é fato que o lixo plástico pode aumentar a resistência de corais a doenças.
A utilização de canudos de plástico é muito grande no mundo. A suspensão de seu uso, embora não sejam eles o principal problema, tem o mérito de chamar a atenção das pessoas em relação à necessidade de proteção do ambiente, conscientizando-as.
Pode ser que a medida do prefeito não precisasse de tanto aparato, mas isso não impede que tenha sido muito útil na prevenção da poluição ambiental.