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Desaparecimento
Falava-se sobre pessoas desaparecidas, evitando-se a palavra “mortes”. Era assim em casa de minha avó. Fulano(a) desapareceu e ponto final. Os mais jovens referiam-se à morte dizendo que fulano(a) vestira o terno de madeira, referência óbvia ao caixão.
Bem, tanta gente tem desaparecido em função da pandemia e outras causas - assassinatos sempre em destaque - que a morte tem se apresentado com muita naturalidade. Morrer virou banal. Parece que o homem da foice está livre e solto no mundo, escolhendo ao acaso a quem levar. Vai do dia, da hora, do jeito do cidadão. A foice corta a vida de qualquer um, ninguém está livre da súbita e inesperada consumação de seu destino.
Mas, vez ou outra morre alguém que merece destaque. Na semana desaparece o Di Genio, pessoa de grande sucesso na área da educação. Foi ele o fundador do complexo educacional Objetivo e da UNIP. Homem de grande visão empresarial e realmente dedicado à educação construiu importante carreira no setor. Agora desaparece, após 82 anos de vida.
Bem, conheci o Di Genio. Ele foi meu professor no cursinho, isso nos idos de 1968. Na época, jovem ainda, cercava-se de cuidados para impactar a massa adolescente que frequentava as salas de aula do cursinho. Dele presenciei aulas, no período da tarde, nas quais nos ensinava a parte da física referente a circuitos elétricos. Posso ainda revê-lo, na memória, falando sobre resistências em série e paralelas. Mas, não se tratava de momento qualquer: era ele o dono, carro chefe do cursinho. Daí que na enorme sala, ao lado do quadro negro, mandara ele colocar um sofisticado sofá no qual se sentava nos momentos em que resolvíamos os exercícios. Tudo montado de modo a transferir a ideia de grandeza da qual nós, alunos, fazíamos parte. Estávamos juntos na missão de estudar e superar os futuros vestibulares, seguindo esquema infalível de ensino, no melhor lugar, com os melhores professores etc.
Aliás, o cursinho cercava-se de toda uma mística que sugeria sua grandeza. Quando chegávamos ao prédio, localizado na Rua Tomás Gonzaga, ali na Liberdade, encontrávamos sempre, parados à porta, dois imponentes automóveis aos quais seria impossível ignorar. Não me lembro das marcas, talvez Jaguar ou outras. Não seriam ainda sete da manhã e entrávamos no prédio imbuídos do sentimento de fazer parte de algo grandioso, talvez prodigioso a ponto de nos levar ao sucesso em nossas futuras carreiras profissionais.
Desde que o desaparecimento de Di Genio foi anunciado a mídia tem destacado sua vida e obra. Referem-se a ele não só com respeito, mas com enorme admiração. Construiu um império educacional partindo do zero e logrou deixar, atrás de si, legado consistente.
Como sempre se diz, boa viagem ao desconhecido Mestre Di Genio.
O matador
Cerca de duzentos homens estão envolvidos na caça de certo Lázaro cuja ocupação consiste em estuprar e matar pessoas. O Lázaro carrega nas costas um rosário de crimes. Há o caso da mulher que foi arrastada por ele até próximo a um rio e estuprada. Indigna a invasão de uma casa e a execução sumária de quatro pessoas.
Há quem associe a prática dos crimes a rituais. Não se nega que talvez o cara tenha ligação com o demônio. Discute-se se ele não seria apenas um alienado mental. Serial killer?
Fala-se que o Lázaro fez viagem de um estado a outro, percorrendo mais de 1000 Km a pé. Mas, o pior é que ele conhece mais que ninguém a região onde se esconde. Lázaro é um mateiro. Faz aparte do ambiente onde circula. Esconde-se durante o dia e caminha à noite. Prefere o leito dos rios, evitando cães farejadores.
Lázaro é um mistério. A ouvir o que dele se diz trata-se de caso de um mal encarnado. O sujeito é ruim, deve ser preso ou abatido. Espalha terror na região em que está. As famílias sentem-se inseguras. Uma delas dorme dentro do carro para evitar a surpresa de um ataque noturno.
Entretanto, existe o outro lado ao qual não se dá atenção. Não é que o Lázaro tem família? Pois. Para começar tem mulher de dois filhos. E tem mãe esse perseguido. Mãe que sofre. Ela e o marido tiveram que se mudar dadas as ameaças que sofreram. Essa mãe implora ao filho que se entregue. Ela tem o telefone grampeado para que, caso receba ligação do filho, ele possa ser localizado.
Impressiona nesse caso o número de policiais e equipamentos utilizados na caça ao assassino de muitas pessoas. O governo de Goiás se empenha na caça e uma deputada vai para a região portando arma de fogo em busca do Lázaro.
Triste, triste mesmo, é a foto da mãe do Lázaro, publicada no jornal de hoje. Nela se vê uma mulher simples, pobre e devastada. No rosto a dor dos acontecimentos incompreensíveis que cercam seu dia a dia. Pobre mulher. Ela pariu um matador.
Sobre nada
Passa que todos os copos estão de cabeça pra baixo, vazios. No estágio de pés na cabeça vale tudo, ou tudo vale. Desde mentiras a céu aberto, desmentidos, desculpas pelos erros. No território da fake news o que parece mesmo não importar são as estatísticas de óbitos, sempre crescentes. Mas, enquanto o falecido não é da família isso não surte o efeito catastrófico tão indesejado. O Marião, aquele do bar ali da esquina, perdeu a mulher e o irmão, por isso anda de cabeça baixa, abatido. Mas, veja, isso aconteceu ao Marião, azar o dele, a coisa não chegou aqui em casa. Por isso, apesar do desassossego, certa lentidão em se preocupar, imagine em protestar.
Não se sabe bem sobre o tempo que leva para se esquecer das coisas. Se perguntarmos a alguém sobre o ano da morte de Tancredo e a comoção que causou é possível que as pessoas se lembram do fato, mas não do que aconteceu ao longo daquele ano. Onde você estava e o que fazia em 1985? Detalhes?
Talvez por isso eu não tenha obtido grande coisa quando perguntei ao meu pai sobre a Gripe Espanhola de 2018. Ele tinha 15 anos naquela época e, no máximo, se lembrava de que morreu muita gente. A epidemia viera através de marinheiros num navio que aportou no Rio. Nada mais permanecera na memória de meu pai e olhe que ele era muito bom nessa coisa de se lembrar das coisas.
E daí? Daí que me pergunto o que se dirá sobre o atual período daqui, sei lá, 70 anos. Estudiosos se debruçarão em textos de mídia e documentos. Haverá quem publique livros, tentando ressuscitar os dias que correm. Mas, se para nós mesmos, os vivos do momento, faltam informações precisas sobre o que rola no mundo submerso na pandemia do coronavírus?
Terá razão a mocinha que diz ser católica e acreditar no poder da oração. A fé salvará, tirando de seu caminho o infame vírus que ceifa tantas vidas.
Será?
Godzila X Kong
Confesso ser fã de carteirinha de King Kong. Da minha infância trago a inesquecível cena, tantas vezes repetida nos cinemas, do enorme símio escalando o Empire State Building. Anos mais tarde, durante curso de pós na USP, ouvi que não por acaso Kong entrava no prédio galgando progressivamente alturas. Tratava-se do “vir de baixo” até a conquista do topo como, aliás, muita gente busca na vida.
Kong já nos deu muita diversão em filmes nos quais sua rotina isolada, em integração com a natureza, é desarranjada pela intervenção do homem. Em busca do lucro obtido pela exibição do monstruoso ser quebram seu isolamento expondo-o à civilização. Fato que, obviamente, nunca dá certo. A convivência do gigante com seres humanos é, de fato, impossível. E dá no que dá: Kong arrebenta as amarras e, livre, passa a destruir tudo por onde passa. Prédios desabam; pessoas correm alucinadas nas ruas, automóveis viram projéteis nas mãos do grande símio. E por aí vai.
Mas, eis que é chegado o grande momento no qual Kong é levado a medir forças om outro grande monstro do cinema: Godzila. O sempre horrível Godzila sai inesperadamente de sua zona de conforto e avança sobre a cidade de Hong Kong, causando enormes destruições. A esse ponto não se pode falar muito dado o perigo de fornecer spoilers. Mas, pode-se dizer que a trama que se vê na tela mostra-se incapaz de prender a atenção do espectador. Bons atores desfilam aos nossos olhos quase que mecanicamente. Não há empatia em suas atuações. Parece-nos que a eles toda aquela balburdia não lhes diz respeito.
Mas, nem tudo é ruim nesse Godzila X Kong. Realmente a tela se enche de expectativas quando do embate entre os dois gigantes. Hong Kong é destruída durante a troca dos poderosos sopapos com que um complementa seu oponente. Milhares de pixels são utilizados para conferir realidade a uma luta inimaginável, não fora ficcional.
Não sabemos se haverá alguma outra aventura envolvendo os dois monstros do cinema. Por certo Kong e Godzila seguirão suas trajetórias isoladas em novas produções. Quanto a nós, cinéfilos com coração de crianças, resta-nos esperar por novos filmes. Porque, convenhamos, é impossível resistir a uma nova aventura de Kong ou a de Godzila. Eles nos permitem retornar à nossa infância, acomodados na plateia com um saco de pipocas nas mãos.
O rosto
Reconhecemos nossos semelhantes através do rosto. Através das expressões faciais é possível identificar o estado de espírito daqueles com quem fazemos contato. Alegrias, tristezas, desespero, depressões, violência, passividade, tudo se reflete na fisionomia. É certo que por vezes tenta-se dissimular o que se passa em nosso espírito. A mulher que chora engole lágrimas para que não se veja seu sofrimento. É possível rir enquanto triste, é possível chorar quando muito alegre. Atores são peritos em incorporar personagens. Deixam de ser quem são para assumir aspectos, posturas e modos insuspeitáveis para quem os conhecem fora de representações. Al Pacino está irreconhecível no papel de Big Boy Caprice no filme Dick Tracy. Big Boy não é ele. Ele não está lá…
Mas, seja como for, o rosto trai o que pensamos, identifica-nos. Não temos, como os atores, equipes de maquiadores capazes de transformar faces a ponto de se tornarem tão diferentes deles mesmos. Por isso, andamos por aí com a nossa boa e surrada cara com a qual enfrentamos o mundo.
Há gente de todo tipo, belas e feias. Um belo rosto favorece, pode abrir portas. Os feios nem sempre contam com o agrado das pessoas. O tempo que passa não perdoa belos e feios. Existe na internet certa compulsão em destruir ilusões. Estão nos sites comparações do tipo “como ele está agora” ou “o triste fim de fulano(a) de tal”. Parece existir certo prazer em arruinar a imagem de pessoas a quem admiramos nas suas juventudes. A quem interessa imagens colocadas, lado a lado, de Alain Delon jovem e agora no período final da vida? E de tantos outros ícones das telas a quem o tempo roubou a beleza? Mas, então, Elizabeth Taylor terminou assim? Aquela velha foi Greta Garbo?
Nos tempos que correm a cada dia se buscam meios para disfarçar a velhice, esconder as tão indesejadas rugas. Cirurgias plásticas devolvem pelo menos parte da juventude perdida. Trata-se de um trabalho insano essa luta contra o tempo que insiste em passar. Daí vermos nas telas da TV faces cujos músculos foram engessados por aplicações de produtos como o famoso Botox. Mas, existem o colágeno, o ácido hialurônico. Mas, pelo amor de Deus, não se trata de criticar quem busca se manter com boa aparência. Muito pelo contrário. Entretanto, existem casos em que algumas pessoas passam a ter, inclusive, dificuldade para mover os lábios…
O rosto é nossa impressão digital. Hoje em dia existem técnicas de reconhecimento facial utilizadas para vários meios. Mas, o que nos comove é o que fica gravado em fotografias nas quais permanecem vivas as faces daqueles que se foram. Guardo em casa fotografias de meus país, avós e de tanta gente com quem convivi. Vez ou outra abro a gaveta e os revejo. Estão lá com seus rostos cheios de vida, a mesma vida que um dia perderam.
O Brasil
O Brasil brasileiro, do samba, carnaval, mulatas etecetera e tal, nossa pátria, nosso chão, nossa casa, nosso tudo a quem amamos perdidamente, terra maravilhosa de climas tropicais invejáveis, país em que tudo dá, terra de dimensões continentais onde vivem 230 milhões de brasileiros, tudo isso e muito mais, pois esse país de conto de fadas, está mais que mal das pernas.
Quem anda por aí a algumas décadas há de ter notado no semblante das pessoas o desconsolo, a irritação, a revolta, a insatisfação com o que se passa. De repente um manto de incertezas cobre tudo e já não se sabe no quê ou em quem acreditar. Desgastam-se os pilares da República e a crise de confiança estampa-se a céu aberto.
Enquanto isso números inimagináveis de óbitos são diariamente divulgados. Ontem quase 2500 pessoas foram a óbito por conta das variantes do coronavírus. E dizer que não houve preparo, previsão, não se tomaram medidas efetivas para que não perdêssemos entes tão queridos.
Agora é mar, diz a letra do samba. Agora é o barquinho num mar revolto e sem marinheiros com soluções para enfrentar o desastre. Aliás soluções existem, aliás soluções sempre existiram. Daí que nas ruas corre a certeza do descaso com a vida, como se perdas fossem naturais e inevitáveis.
O Brasil brasileiro está a carecer de verdadeiro milagre para prosseguir na sua grandeza tão desprezada. Mas, é numa hora dessas que se faz necessário lembrar-se de que o brasileiro não nasceu para a derrota, não é gente para abaixar a cabeça e conformar-se com o que parece inevitável. Povo que já deu provas de sua força e resistência há que passar por isso, se recuperar.
O Brasil brasileiro tem raça, tem futuro e esperança nas gerações que hão de vir e que farão a grandeza de suas terras.
No mundo dos reis
Tivemos aqui a família real portuguesa que proporcionou à nossa história dois imperadores. Pedro II governou o país por quarenta anos e ainda hoje existem entre nós adeptos da monarquia. Se bem me lembro há alguns anos foi realizado um plebiscito no qual a população optou por continuar sob as regras do regime republicano.
A monarquia inglesa sempre atraiu a atenção pela tradição, riqueza e longa existência. Os ingleses vivem sob o regime monárquico embora o primeiro-ministro e as câmaras administrem o país. Entretanto, prevalece a mística em torno da família real sendo a vida de seus membros alvo de constante vigilância por parte de órgãos de imprensa. A Inglaterra conta com vários tabloides nos quais, assim se divulga, não é permanente o compromisso com a verdade. Mais vale o sensacionalismo que parece se coadunar com o gosto dos ingleses.
Assim, exceto possível engano, acontecimentos relacionados à família real sugerem, grosso modo, um tipo de reality show. Não há como príncipes, duques e portadores de outros títulos de nobreza se livrarem da curiosidade que cerca suas existências. No alto da hierarquia está a Rainha Elizabeth II, amada pelo seu povo e merecedora de muita consideração pela longa trajetória no trono.
Entretanto, nem sempre os acontecimentos se mostram favoráveis aos membros da família real. Basta lembrar do triste episódio envolvendo a princesa Diana que se casara com o herdeiro do trono, príncipe Phillip, de quem se separou e veio a falecer num acidente automobilístico em Paris. No momento, em pauta a renúncia aos títulos de nobreza pelo filho de Diana, Harry, casado com uma americana de origem negra.
Henry e Meghan, sua mulher, concordaram em ceder entrevista à Oprah Winfrey na TV americana. A entrevista, realizada ontem, era aguardada com preocupação pela corte inglesa e muita curiosidade pública. Esperavam-se críticas aos membros da família real pelo modo como trataram Meghan no período que com ela conviveram. Entretanto, Meghan surpreendeu a todos denunciando racismo por parte da família real. Citou, na entrevista, que, estando grávida, ouviu sobre preocupação da família com a cor da pele que virá a ter a criança.
Não se sabe se a família real responderá aos pontos abordados na entrevista de Meghan. Enquanto isso o caso permanece em aberto, fornecendo muito material para os tabloides e aguçando a curiosidade pública.
Tragédias existem
Um terremoto de grau 8.1 (o máximo é 9) aconteceu em águas próximas à Nova Zelândia. O país se prepara para a chegada de um tsunami. Populações que vivem no norte do país foram orientadas a abandonar suas casas e refugiar-se em regiões mais altas.
Não será a primeira vez que um tsunami arrasa regiões. Em 2004 tsunami ocorrido no Oceano Índico resultou na morte de 230 mil pessoas; em 2011, no Japão, 1600 pessoas morreram.
Mas, não só de terremotos e tsunamis vivem as tragédias. No momento a humanidade enfrenta tragédia, com grande número de óbitos, provocadas pela pandemia do vírus Covid-19. Em nossos país autoridades sanitárias avisam sobre proximidade do caos que já se instala. Com o número crescente de óbitos diários a tragédia anunciada se corporifica. Em alguns estados opta-se pelo fechamento de tudo. A capacidade de atendimento dos hospitais esgota-se e pacientes morrem enquanto aguardam a vez de serem internados. Com vacinação deficiente e sem política nacional estabelecida para o combate à pandemia espera-se pelo agravamento da crise nos próximos dias.
Destaquem-se ponderações sobre a retração da economia, do número de empregos e a fome que avança nas camadas mais pobres. Essas razões fazem parte do discurso contrário ao lockdown que de fato agravaria a situação. Mas que fazer se o vírus se propaga velozmente e ninguém está a salvo, exceto se conseguir as raras doses de vacina?
Tragédias existem e acontecem. No momento está entre nós acontecimento de grandes proporções que exige dedicação, preparo e solidariedade para ser vencido. Aqueles que perderam entes queridos e os que ainda perderão clamam por medidas efetivas e urgentes para que a tragédia não se alastre ainda mais.
Não custa lembrar que o dever de proteger aos semelhantes também existe.
Tempos de pandemia
Que o mundo muda não é novidade para ninguém. A história é plena de percalços sejam eles guerras, epidemias e outros males que ceifam inúmeras vidas. No século 14 a Peste Negra, provocada pela bactéria Yersina pestis, provocou a morte de entre 75 e 200 milhões de pessoas na Eurásia. Há mais de 3 mil anos a varíola, agora erradicada, tem atormentado os homens. A epidemia de gripe espanhola, em 1918, provocou a morte de entre 40 a 50 milhões de pessoas.
De lá para cá a ciência evoluiu bastante. Novos arsenais terapêuticos foram incorporados ao dia a dia das populações. Antibióticos, vacinas e outros recursos passaram a ser utilizados minorando o sofrimento. A medicina tem experimentado importantes progressos no terreno de tratamento das doenças.
No momento a humanidade enfrenta as graves consequências da propagação de um vírus surgido na China e que se espalhou em todo o planeta. Seu súbito aparecimento estabeleceu grave crise dado tomar de surpresa os meios habitualmente envolvidos na prevenção e tratamento de doenças. Assim, o Covid-19 e suas variantes mutagênicas seguem driblando autoridades e cientistas que lentamente se aplicam na produção de vacinas. A emergente necessidade de vacinas não tem sido acompanhada pelas quantidades produzidas dadas as limitações de preparo, testes e aprovação necessárias ao estabelecimento de campanhas seguras de vacinação.
Em função disso tudo se instalam situações alarmantes em várias partes do mundo. Em nosso país destaca-se a inoperância de medidas até agora adotadas no combate à epidemia. Variando-se desde o atraso quanto à aquisição de vacinas ao descaso de parte da população que se recusa ao uso de normas de prevenção, fato é que pouco a pouco aproxima-se de um muito possível caos. Hospitais sem vagas de UTI para receber doentes funcionam como termômetro da crise. Também contribuem os problemas gerados no setor econômico sempre afetado quando medidas restritivas ao funcionamento de empresas e do comércio são adotadas. O PIB em queda e alta taxa de desemprego colocam autoridades diante de decisões particularmente difíceis.
Nada do que aqui se escreve é novidade. Todo mundo sabe disso. Importa, entretanto, lembrar de que por mais que tenhamos enfrentado situações difíceis nos últimos 50 anos nenhuma delas teve o peso significativo da atual. Aqui não se trata de simples mudança de rumos, da sempre necessária necessidade de acordo entre partes. Embora isso seja muito importante no momento não se pode esquecer de que, ideologias de parte, existe um inimigo comum que a todo custo precisa ser contido. O Covid-19 transmite-se velozmente, provoca grande número de óbitos e pode-se dizer que, até o momento, está vencendo essa guerra. Urge, portanto, solidariedade entre os homens, acordos entre governos, direcionamentos claros no combate á pandemia. Aqueles que já perderam ou os que ainda perderão entes queridos anseiam por humanidade e profissionalismo dos homens que nos dirigem.
De Marte
Depois de sete meses de viagem o rover Perseverance pousou, com sucesso, em Marte. Desde então temos a oportunidade de observar fotos e vídeos que nos chegam, finalmente expondo paisagens do planeta vermelho sobre o qual temos tanta curiosidade.
Para nós leigos as imagens revelam nada mais que um grande deserto. Trata-se de um mundo inabitado, sem o menor sinal de que lá exista ou tenha existido algum sinal de vida. Leva-nos a imaginar nosso planeta há bilhões de anos antes do surgimento da vida nos mares primitivos. Certamente a missão em Marte, até agora coroada de êxito, fornecerá preciosas informações sobre o planeta. Cientistas se debruçarão sobre dados recolhidos na missão e muita coisa poderá ser esclarecida.
À ambição humana de explorar e conquistar o espaço tem-se acrescentado a motivação de possível colonização de astros próximos da Terra. Fala-se muito na colonização de Marte o que para nós surge mais como peça de ficção. Entretanto, não se pode negar que os crescentes avanços tecnológicos poderão contornar as dificuldades envolvendo viagens espaciais e mesmo o estabelecimento de colônias fora daqui.
O cinema utiliza com frequência enredos nos quais viagens especiais são rotineiras. Invasão da Terra por alienígenas e catástrofes decorrentes da colisão de grandes meteoros fazem parte do imaginário popular, trazidas com realismo nas telas dos cinemas. De modo que quando recebemos notícias sobre rotas de corpos celestes atravessando o entorno da Terra ficamos, naturalmente, preocupados. Agora mesmo há um grande corpo celeste que deverá passar perto da Terra, por perto entendendo-se milhares de quilômetros de distância.
Das fotografias que nos chegam de Marte impressionam imagens do espaço visto de lá. Aqui vemos o céu com os pés fincados ao mundo em que vivemos. De Marte o que se tem é o mundo inanimado a fazer parte de um universo sobre o qual quase nada se sabe. É desesperador. Há uma solidão profunda nessas imagens, solidão que não se pode entender completamente por que não vivenciada. O silêncio do cosmo que ali se exibe com tanta pujança e indiferença faz-nos sentir nossa pequenez ao extremo. Circunda nosso planeta um universo indiferente à nossa presença, aparentemente consciente de nossa infinita falta de expressão diante de tanta grandeza. Nada mudaria nesse universo caso simplesmente desparecêssemos. A Terra e o próprio sistema solar em nada mudariam a grandeza do universo caso fossem colhidas por um buraco negro. Esse fato torna inevitável a pergunta sobre a razão de vivermos em intermináveis disputas, guerras, desrespeito ao ambiente que nos acolhe etc.
As imagens de Marte são poderosas e didáticas sobre o começo e o fim de tudo.