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João de Deus

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Quem vai a Abadiânia vive experiência incomum. O lugar é frequentado por muita gente que para ali se dirige por conta dos milagres de João de Deus. Não são só brasileiros: na Casa de Dom Inácio - lugar onde João de Deus atende aos que o procuram - ouvem-se várias línguas. São visitantes oriundos de vários países em busca de resolução para seus males, muitas vezes doenças graves e até incuráveis.

João de Deus atende a essas multidões que se organizam em intermináveis filas. Ninguém fica sem ser atendido, pertença à primeira vez em visita ao centro ou se já tenha estado ali mais vezes.

A rotina do centro é a mesma em todos os dias. As pessoas, vestidas de branco, aguardam a chegada do médium, seguindo um ritual de orações cadenciadas por membros do grupo de João que ali trabalham. Ao chegar João ocupa-se de cirurgias, algumas delas com intervenções nas quais os presentes veem correr sangue. João não deixa de lembrar aos presentes sua condição de simples veículo para a ação de espíritos. Repete que não cura ninguém, quem cura é Deus. Avisa que ninguém deverá desistir dos tratamentos recomendados pelos médicos. Depois disso, segue para sua cadeira na qual se senta e passa a atender as pessoas das filas.

Estive em Abadiânia por conta do câncer de minha filha. O progresso da doença e a ineficácia do tratamento realizado segundo a medicina tradicional levaram-me a buscar outras soluções. Confesso ter ficado profundamente impressionado com o que presenciei na casa de Dom Inácio. Reúnem-se ali, a cada dia, cerca de mil pessoas, movidas pela fé. Não há como negar a existência de um clima salutar do qual pode se ressaltar o lado bom dos seres humanos. Corre em Abadiânia uma energia positiva que chega a ser palpável. Não há como ficar de fora dessa atmosfera de verdadeiro transe do qual passa-se a fazer parte quase inconscientemente.

Em Abadiânia ouvem-se relatos de verdadeiros milagres conseguidos através da participação mediúnica de João de Deus. Ouvi de um russo, traduzido por intérprete, a história de um câncer que, segundo os médicos, o mataria em menos de três meses. Sua cura, considerada impossível, teria se dado após a visita ao centro. Esse milagre, considerado impossível, teria assombrado aos médicos que tratavam o russo. Impossível, segundo eles, que da noite para o dia nos exames laboratoriais se obtivessem resultados normais, sem vestígios da grave doença que o levaria à morte.

Sempre avesso a fatos dessa natureza vi-me em cheque diante de tantos depoimentos. O fato é que se pode enganar a uns tantos, durante algum tempo. Mas, é digno de nota o fato de João manter trajetória de mais de 40 anos de atividades, fazendo a mesma coisa e contando com a confiança de milhares de pessoas.

Entretanto, repentinamente esse mundo de fé e tantas curas estremece. De repente, vozes se erguem contra João de Deus. Mulheres vêm a público para acusá-lo de assédio sexual. Trata-se de narrativas constrangedoras, nas quais o médium não teria nenhum constrangimento em se aproveitar de momentos de fraqueza dos que os procuram para satisfazer-se sexualmente. Da noite para o dia os depoimentos se avolumam. O caso ganha projeção na mídia. Autoridades se organizam para verdadeira maratona de coleta de novos depoimentos.

Abadiânia se cala. Vivendo à sombra do médium e mantendo negócios em torno das romarias de visitantes, empresários locais certamente temem o fim de suas atividades. Sem João de Deus Abadiânia deixará de ser o polo que atrai aqueles que buscam solução e cura para seus males.

Por meio de seu advogado João de Deus rechaça veementemente as acusações que a ele fazem. Além do que se coloca à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.

Os próximos dias certamente nos trarão novidades sobre o assunto.

Contradições

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O Rafael sempre foi um bon vivant. Para ele o tempo parece não ter passado. Mora há anos no mesmo bairro, encontra-se com velhos amigos, frequenta o barzinho de sempre e, aos 70 anos, continua namorador.

O Rafael sempre foi fiel às suas convicções. No tempo da ditadura fez parte de grupo contrário ao regime. Acabou sendo preso e nunca se abriu sobre o que ocorreu a ele durante o período de reclusão.

Depois da abertura, em 1985, o Rafael filiou-se ao PT. De lá para cá sempre apoiou o partido. Um tanto extremado faz parte do contingente que acusa de golpe a demissão da Dilma e de perseguição a prisão do Lula. Sobre esse assunto nem adianta discutir com ele. Atribui à direita - sempre ela - as mazelas do país. Queria Lula - ou Haddad - no poder para que os pobres fossem atendidos em suas necessidades. Mas, as urnas o traíram e agora teima em garantir que nada, nada mesmo, pode se esperar do novo governo.

Mas, quem conhece o Rafael sabe que, no fundo, ele é um grande amante da vida boa. Mulheres, bares, viagens… Trabalho só na proporção para garantir os trocos para suas aventuras.

Tempos atrás eu disse ao Rafael que quando fazemos sessenta anos as coisas se passam dentro da normalidade. Não sente muito a chegada da sexta década de vida. Entretanto, completei, o diabo é quando se alcança os setenta. A partir daí o corpo começa a dar sinais de algum esgotamento e a energia deixa de ser a mesma de antes.

Pois hoje eu me encontrei por acaso com o Rafael que foi logo dizendo que tem pensado muito em mim. Mais especificamente ele tem se lembrado do que eu disse a ele sobre a chegada aos setenta. Pela primeira vez vi no grande namorador sinais de que a idade pesava a ele. Aliás, ele mesmo me confessou que hoje em dia se sente cansado e seu ânimo não anda lá essas coisas. Garantiu-me que o cansaço não é só físico. Falou-me sobre os tempos atuais nos quais toda sorte de problemas nos roda. Uma problemada que não dá folga - garantiu. Assuntos de serviço, de família, de dinheiro, más notícias, violência etc. Está-se perdendo a graça de viver.

Não há como não concordar com o Rafael, ainda mais nesses tempos tão bicudos. Mas, há algo que considero estranho, talvez até mesmo uma contradição - eu disse isso a ele. Trata-se do fato de que, em meio a essa avalanche de pressões, de algum modo a sensibilidade pessoal tem-se agigantado. Coisas pelas quais passávamos incólumes hoje em dia podem até mesmo levar-nos às lágrimas. Contei a ele sobre o fato de ter, ao acaso, sintonizado na TV um canal no qual se apresentava uma pianista japonesa a executar Mozart. Ainda moça, mas brilhante, a pianista se apresentava com tal empenho, sensibilidade e perfeição que, quando dei por mim, notei que lágrima escorriam pelo meu rosto. Talvez a rudeza do mundo que nos cerca nos imponha a necessidade de permitir inesperados extravasamentos de sensibilidade a atestar-nos que continuamos humanos, apesar das adversidades.

Ou apenas a velhice seja a razão de tudo isso?

Orlando da Mata

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Não se nega que entre idosos exista o receio de ficarem sozinhos. A morte de um dos parceiros de um casal deixa aquele que sobrevive em situação quase sempre complicada. São inúmeros os casos de pessoas que se veem obrigadas a viver na casa de filhos, isso em geral contra suas vontades. Há também os casos de recolhimento a abrigos onde os velhos são cuidados até que a morte os leve.

Cada família terá histórias a contar sobre o destino de entes queridos após atingirem idades nas quais já não conseguiam cuidar de si próprios. Ainda que tratados com muito amor a situação de dependência por si só se torna razão de sofrimento para pessoas idosas.

Conheci uma senhora que se manteve solteira até os 50 anos. Terá sido o receio de enfrentar a velhice sozinha que a levou a aceitar a proposta de casamento de um militar aposentado, sujeito de bom aspecto e de muita saúde.

Assim, casaram-se. Eis que o tal - chamava-se Orlando da Mata - revelou-se bom marido e companheiro. Cuidava bem da esposa e era dado a viagens e passeios. Entretanto, tinha lá suas esquesitices. Uma delas, a de ser adepto do nudismo. Pois esse Orlando jamais se vestia quando estava em sua casa. Fosse alguém visitá-lo teria que se entender com ele tão nu como fora nascido.

Para a mulher esse modo de ser figurava-se inaceitável. Pior ainda nas ocasiões em que ele frequentava campos de nudismo e insistia com ela para que também se apresentasse nua.

No correr dos anos perdi contato com essas pessoas. A essa altura, decorridos tantos anos, é certo que já tenham morrido. Não sei quem terá falecido primeiro, deixando o parceiro sozinho, de vez que não tiveram filhos.

Em todo caso, vale recordar que o Orlando da Mata era um bom sujeito. Naqueles anos em que o som estereofônico era novidade, ele ficava horas ouvindo músicas. Tinha grande prazer em detectar a divisão de instrumentos nas caixas de som e elogiava muito os avanços da tecnologia naquela época.

Eu era um rapazote quando, certo dia, minha avó me mandou levar uma vasilha à casa do Orlando da Mata. O homem que me recebeu à porta estava nu. Entreguei a vasilha à mulher dele que estava na cozinha. Na volta dei com aquele sujeito pelado, sentado no sofá da sala, ouvindo seu som estereofônico. Essa a imagem que guardei do Orlando, peladão convicto.

Escrito por Ayrton Marcondes

4 dezembro, 2018 às 11:02 am

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Pobre América

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A velha história de que Colombo teria descoberto também o Brasil não encontra eco entre os bons historiadores. Cabral é o homem que aportou em Porto Seguro e iniciou a civilização europeia por essas plagas. Isso a despeito dos índios que já viviam aqui desde tempos imemoriais.

Mas, a América do Sul foi descoberta e, desde então, prossegue como continente subdesenvolvido em comparação com a Europa e América do Norte. Mas, não custa recordar que esta é a nossa terra, a qual amamos, e da qual temos orgulho. Vivemos no Brasil, país de enormes recursos. A grandeza continental do país, a beleza de suas regiões e um povo que, de norte a sul, fala a mesma língua, faz-nos crer que avançaremos rumo a melhoras tão sonhadas pela população.

Mas, à América. Hoje a América do Sul cobre-se de vergonha. Eis que sobre ela pesa ofensa inaceitável. Como se sabe, no futebol disputa-se o título da Taça Libertadores da América. Neste ano a partida final deverá ser entre dois clubes argentinos, o Boca Juniors e o River Plate.

A rivalidade entre as duas equipes é conhecida. Em conjunto, ambos os times contam com mais de 70% da torcida argentina. No primeiro jogo, realizado no estádio da Bombonera, houve empate. O segundo jogo, marcado para o Monumental de Nunes, campo do River, não chegou a ser realizado. Ao se aproximar do estádio o ônibus do Boca foi atacado por torcedores adversários e a partida foi suspensa.

A partir daí o que se viu foi uma sucessão de desencontros até se concluir que o jogo não poderia ser realizado na Argentina. Nesse caso, os países vizinhos da América do Sul possuem estádios de alto nível e poderiam abrigar a tão esperada contenda. Mas eis que os dirigentes da CONMEBOL determinaram que o jogo venha a ser realizado… em Madri.

Ora, eis que se considera que a América do Sul nem mesmo reúne condições para sediar um jogo que decide a Taça Libertadores da “América”. Absurdo. Em primeiro lugar o jogo deveria ser realizado mesmo em Buenos Aires. Que as autoridades argentinas se ocupassem da segurança e criassem condições para a realização da partida. Entretanto, caso isso se revelasse de todo impossível, eis que a lógica nos impõe a realização do jogo na própria América do Sul, nunca na Europa ou na Ásia.

Pobre América.

Delatores

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A delação premiada tem sido utilizada por muita gente. Quando o cerco se fecha sobre alguém e torna a essa pessoa praticamente impossível safar-se das denúncias que sobre ela pesam, delatar é o caminho. Pela deleção alcança-se minorar anos de condenação e, mesmo, conseguir cumprir pena em prisão domiciliar.

A operação Lava-Jato colocou atrás das grades pessoas acima de qualquer suspeita. As delações abriram caminho para a elucidação de crimes de natureza econômica sobre os quais agora pesa a força da lei. Os brasileiros têm assistido a impressionantes relatos sobre corrupção, com desvios de montantes fabulosos de dinheiro. Há que se concordar que, por mais que o delator venha a ser beneficiado, sem a sua confissão as investigações não prosseguiriam.

Entretanto, há que se pensar na figura do delator. Afinal quem é ele? Que tipo de pessoa se propõe a entregar seus comparsas, visando a obtenção da própria liberdade?

Existem aqueles que talvez prefiram a morte a tornarem-se delatores. Sobre uns poucos envolvidos nos casos de corrupção sabe-se que eles se mantêm em silêncio e, talvez, nunca virão a abrir a boca. Fidelidade ideológica? Enquanto isso outros lutam para que suas deleções sejam aceitas.

O ex-ministro Antônio Palocci, homem forte durante o governo Lula, deixa a prisão e passa a cumprir sua pena em prisão domiciliar. Para conseguir essa mudança Palocci serviu-se da delação premiada, incriminando membros de seu partido, inclusive o ex-presidente agora recluso.

Por detrás de fatos como esse fica a pergunta sobre a convicção política do homem que delata. O certo é que em momentos passados o cidadão, que hora entrega seus pares, foi membro atuante dos atos corruptos que agora expõe. Quando da realização desses atos teria a personagem em questão alguma postura crítica em relação ao que se estava fazendo?

Não será simples, aliás até mesmo impossível, penetrar na alma de um homem que hoje delata. Difícil acreditar que o faça por arrependimento ou em prol do bem comum. O que se diz é que se trata, nada mais, de enredo construído para salvar a própria pele.

Mas, os cadáveres ainda estão frescos e só num futuro distante talvez possamos vir a ter alguma luz sobre esses tenebrosos dias.

Livros e discos

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Ainda tenho muitos Lps (long-plays) comprados quando nem mesmo existiam os CDs. As novas gerações não conheceram o mundo sem internet e celulares. Bons discos eram adquiridos nas casas do ramo, para os paulistas localizadas no centro de São Paulo. Levavam-se as preciosidades musicais para casa onde picapes Garrad as aguardavam. Nem de longe os equipamentos sonoros se aproximavam, em qualidade, dos que hoje dispomos. Existiam, sim, bons e raros equipamentos, mas muito caros. De modo que os ouvidos se habituavam ao som dos equipamentos disponíveis.

No tocante a livros sempre dispusemos de bons escritores no país. Ao contrário do que hoje se observa, verdadeira plêiade de grandes autores estavam vivos e produzindo. Poetas de primeira linha, romancistas e críticos publicavam suas obras. Além do que se contavam com boas traduções de grandes autores de outras línguas.

Ler é e sempre foi importante. Através da leitura adquire-se cultura e aprimora-se a formação humana. Nas casas de meus familiares sempre encontrei bons livros. De modo que acabei herdando o hábito de manter livros por perto. Com o passar dos anos fui montando uma pequena, mas selecionada, biblioteca. Muitos desses livros estão comigo até hoje. Infelizmente, nas andanças da vida a muitos deles perdi.

Tudo isso para confessar que, de tempos para cá, fui deixando de lado as obras impressas em papel. O diabo foi um amigo certo dia aparecer em casa com um livro eletrônico. A primeira coisa que fiz foi dizer a ele que de modo algum, jamais, trocaria um livro por uma engenhoca daquelas. Onde o prazer de ter o livro em mãos, anotar com o lápis, etc.?

Entretanto, aconteceu de vir a receber, de presente, um kindle. Olhe que resisti a ele, bravamente. Até que um dia… O caso é que se podem baixar pela internet obras de interesse e armazená-las na memória da engenhoca. De repente, anda-se por aí de posse de uma pequena biblioteca eletrônica a qual pode ser consultada a qualquer momento. E o kindle tem lá suas propriedades como as de permitir escolher o tipo e tamanho de fontes, fazer anotações, consultas a dicionários, marcações etc.

Já faz algum tempo que olho para os meus livros, tratando-os como companheiros a quem não frequento. Há pouco comecei a reler “o Homem sem qualidades” do Robert Mussil. No kindle… E dizer que a mesma obra repousa, em capa dura e papel, na minha estante…

Comecei falando sobre discos. Depois dos Lps vieram os CDs. Mantenho comigo grande número de CDs de jazz, música clássica e popular. Mas, também os CDs passaram ao segundo plano. De tempos para cá foi impossível não aderir ao Spotify. Milhares de gravações estão disponíveis no sistema pelo qual pode-se ouvir qualquer tipo de música e continuamente.

A conclusão é a de que se tornou impossível resistir aos avanços da tecnologia. Não se podendo adivinhar o futuro não dá para imaginar sobre o que nos espera em termos de mudanças no modo de vida e disponibilidade de artefatos eletrônicos. A inteligência artificial tem avançado e robôs quase humanos deverão circular por aí em tempo não muito distante.

Por enquanto a vida humana continua a ter duração limitada, raramente as pessoas ultrapassando os 100 anos de idade. Mas, também isso pode mudar. Quem viver nas próximas décadas certamente verá e desfrutará de recursos hoje inimagináveis.

A missão do padre Calleri

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Há 50 anos, no dia 26de novembro de 1968, o jornal “Folha de São Paulo” noticiava sobre a chegada a Manaus do mateiro Álvaro Paulo da Silva. O mateiro era o único sobrevivente da expedição do padre João Calleri na Amazônia. Essa expedição fora organizada em função da construção da rodovia Br174 - Manaus- Boa Vista - em cujo trajeto se localizavam os índios waimirins-atroaris.

Calleri partiu de Manaus com a missão de fazer contatos amistosos com os atroaris. O grupo era formado por onze pessoas, nove homens e duas mulheres. A princípio as relações com os índios foram amistosas. Entretanto, segundo o relato do único sobrevivente, o padre Calleri teria agido com teimosia e rudeza, despertando a ira dos índios que acabaram por massacrá-los. Álvaro abandonara a expedição um dia antes do massacre e salvara-se por verdadeiro milagre em meio à floresta.

Em 1998 o padre Silvano Sabatini publicou o livro ”Massacre” no qual aborda o malogro da missão Calleri. Segundo Sabatini, Calleri foi ao encontro dos índios consciente de que tinha 50% de possibilidades de retornar vivo. Calleri entendia que, caso não fosse, os índios viriam a ser totalmente exterminados quando da construção da estrada. Mas, Sabatini concluiu que, na verdade, Calleri e seu grupo não foram vitimados somente pelos índios. Comandados por um mateiro, brancos e índios atacaram e mataram os membros da expedição. A ação teria sido orquestrada pelo pastor americano Claude Lewitt.

Entretanto, a morte de Calleri serviu como pretexto para que os waimirins-atroaris viessem a ser quase exterminados. De 3000 índios em 1968 a população foi reduzida a 332 em 1983.

O episódio de 1968 remete-nos ao momento atual no qual empresários, índios e parlamentares se mobilizam para uma nova fase de conflitos em torno da exploração de terras indígenas. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, sugeriu que os índios usem suas reservas para obter royalties de hidrelétricas e de outros projetos.

Casos de invasão e desmatamentos ilegais em áreas indígenas acontecem com regularidade. Há três anos, no Maranhão, índios gamelas foram atacados por homens munidos de armas e facões. Na ocasião treze indígenas foram feridos. De todo modo conflitos acontecem em torno da demarcação de áreas indígenas. Interesses diversos estão na base de uma situação ainda longe de que venha a ser resolvida.

Tempos de ódio

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É assustadora a maratona de notícias sobre atitudes odientas que diariamente recebemos. Maratona, sim, porque parece mais haver uma competição de tanta brutalidade gerada por toda sorte de ódios. Nesta semana, por exemplo, houve o caso de uma avó que vivia na companhia de seu neto. O rapaz saíra e deixara velhinha sozinha. Eis que um ladrão entrou pelo telhado e deparou-se com a mulher. Ato contínuo, matou-a a pauladas. O detalhe é que a velha senhora tinha 102 anos de idade. Que tipo de ódio levará alguém à barbárie de tão grande monta? De que infernos terá saído espírito tão maligno, capaz de tamanha atrocidade?

Aconteceu ainda nesta semana: um homem matou sua ex-mulher e a filha de poucos anos. Ato contínuo matou-se. Então? Paixões extremadas justificariam atitudes de tal envergadura?

O assunto segurança pública predomina sobre outros nos dias de hoje. Vivemos assustados, horrorizados. Crimes sem sentido repetem-se a toda hora. Semana passada um médico japonês foi fuzilado por um rapaz de 18 anos de idade. O médico retornava de uma pizzaria e, ao estacionar o carro, foi surpreendido por dois rapazes. Não teve tempo de soltar o cinto de segurança. Baleado, morreu. Do assassino, já identificado, sabe-se que desde os 11 anos rouba carros. Com várias passagens pela polícia o rapaz tornou-se perigoso criminoso. Segue por aí.

Nos programas televisivos exibidos no período da tarde sucedem-se narrativas de crimes, alguns deles macabros. Ao expectador os relatos podem soar incompreensíveis. Atitudes animalescas desafiam a ordem natural das coisas. Embasbacado o cidadão teme sair à rua.

Atravessamos a era do medo que, esperamos, venha a ter um fim. Sem garantias e à mercê do imprevisível nada mais nos resta que seguir em frente. Expondo-nos. Torcendo. Acreditando contar com a sorte.

Vida e morte

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Durante turbulências aéreas ocorre aos passageiros ponderar sobre a fragilidade da vida. Fica-se à mercê da aeronave que estremece, mas avança, felizmente. Cada pessoa terá um caso a relatar em relação a essas situações. Quanto a mim houve ocasião em que vi de perto a possibilidade do fim. Voávamos em calmaria quando, de repente, um solavanco e a queda da aeronave por uns bons metros. Gritos, desespero, lágrimas. Nada mais que um grande susto, que depressa se desfez.

Parece-me pior a claustrofobia. Há um conto de Edgar A. Poe chamado “Enterrado Vivo”. Poe esmera-se na descrição de um homem que acorda preso dentro de um túmulo. O grande escritor nos conduz com mestria à situação final. Começa por relatar casos e casos de sepulturas abertas nas quais foram encontrados cadáveres em posições diferentes das que foram enterrados…

Há quem não suporte nem mesmo o transporte em elevadores. Ambientes fechados são insuportáveis para muita gente. Então, o que dizer sobre quem embarca em submarinos? Permanecer dentro de um navio preparado para submersão completa durante longos períodos… Filmes sobre submarinos atacados durante guerras são assustadores. A impotência do homem à mercê das contingências que escapam a seu controle é terrível. Não há para onde fugir. A vida se decide entre troca de torpedos. Nada mais.

Os argentinos enfrentam momento de grande comoção. Decorrido exatamente um ano do desparecimento do submarino Ara San Juan eis que acaba de ser localizado a uma profundidade de 900 m. Fotografias indicam que o submarino implodiu. Com autonomia para profundidades de no máximo 300 m o navio não suportou a pressão da água. A bordo viajavam 44 tripulantes, 43 homens e uma mulher.

O desfecho do caso do submarino argentino, como não poderia deixar de ser, suscitou interrogações quanto à morte dos tripulantes. Teriam sofrido? Como teriam sido os momentos de horror ao saberem-se perdidos? No momento da implosão a morte teria sido instantânea?

Especialistas garantem que a morte dos tripulantes se deu em segundos. Tão depressa que não a teriam sentido. Mas, para as famílias enlutadas nenhuma explicação será suficiente para aplacar a dor. Seus entes queridos jazem nas profundezas marítimas e parecem não existir meios para resgatar seus restos.

Familiares exigem a devolução dos seus para enterrá-los dignamente. Um pai afirma que se enviaram seu filho para lá que o tragam de volta. A dor não tem remédio.

OVNIS

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Uma senhora garante que em Ilhabela, no fundo do mar, existe uma colônia de extraterrestres. Semana passada circulou um vídeo no qual se mostravam manchas no céu, confundidas com naves espaciais.

Um médico, já falecido, liderava um grupo de adeptos à existência de extraterrestres. Não seria o caso de negar a ele a existência. O ponto que mais chamava a atenção era a certeza de que somos observados por seres de outras galáxias, isso o tempo todo. O médico não só tinha certeza disso como apresentava uma série de fatos comprovantes. Segundo se diz por aí os governos, mormente o norte-americano, teria em seu poder cadáveres de extraterrestres que, ainda hoje, são objeto de pesquisas.

Trata-se de assunto nebuloso. Conheço pessoas muito confiáveis que juram ter visto naves espaciais em situações inesperadas. Há relatos não só de luzes estranhas, mas, também, de visões de objetos voadores que se locomovem em grande velocidade.

Até hoje não recebemos a visita de nenhum povo habitante de outro planeta. Nada confirmado. O cientista Stephen Hawking, recentemente falecido, advertia sobre o perigo de enviar mensagens ao espaço dando conta da vida em nosso planeta. Tais mensagens poderiam ser recebidas por povos nada pacíficos que poderiam invadir a Terra e colocar fim à espécie humana.

Verdade ou não o tema é instigante. Há pouco luzes estranhas foram verificadas no espaço, na região norte do Chile. De seis aeronaves em voo comercial na região surgiram relatos sobre não só a presença das luzes como da velocidade em que movimentavam. No Brasil há o relato de um comandante da Vasp que presenciou estranha luz que acompanhou o Boeing que ele pilotava no trajeto entre Fortaleza e o Rio. Esse fato ocorreu em 1982, durante a madrugada, e muitos dos passageiros o presenciaram.

Há quem considere que a chegada de alienígenas não passe de apenas questão de tempo. Difícil acreditar que na imensa vastidão do universo somente a Terra tenha sido premiada com a existência de vida. Se os futuros visitantes serão pacíficos ou belicosos impossível saber. A depender do cinema não se deve esperar muito dessa turma vinda do espaço. Nos filmes os alienígenas têm sempre a intenção de dominar a Terra. Há casos em que para certos visitantes do espaço o homem não passa de alimento rico em proteínas…

A ver.