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Geisel

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Já contei que em 70 um grande amigo torcia contra o Brasil na Copa. Depois da estreia em que o Brasil venceu os tchecos encontrei o amigo na empresa onde trabalhávamos. Eufórico com o jogo de véspera não encontrei no amigo repercussão ao que eu dizia. Explicou-me ser contra porque o governo militar se aproveitaria de possível conquista da Copa. Médici estava no governo durante período que entrou para a história como dos mais radicais na perseguição e tortura de opositores.

Geisel esteve presidente entre 1974 e 1978. A ele se atribui a contribuição para o fim da ditadura que viria nos tempos de Figueiredo. Não tenho memória da data, mas Geisel estava na presidência quando, certa ocasião, veio a São Paulo. Era um sábado, por volta do meio-dia. Eu saíra do trabalho na Rua Tomaz Gonzaga, na Liberdade, e seguia na direção da estação do metrô. Antes de chegar à Praça da Liberdade fui contido por soldados que me fizeram seguir, fila indiana, no mesmo sentido, mas, pela calçada, junto dos prédios. Ao chegar à praça, não pude entrar no metrô. Em torno da praça uma multidão acotovelava-se sem saber o que se seguiria. Então saíram da estação do metrô alguns seguranças que se ocuparam em verificar os prédios do entorno. Só depois disso emergiu da estação o presidente.

Geisel passou pertinho de mim, a não mais que dois metros de distância. Lembro-me de um homem claro e forte, semblante fechado. Circulou na praça durante alguns instantes, sempre seguido por um batalhão de seguranças. Depois voltou à entrada da estação e sumiu no metrô. Pouco depois os cordões que separavam o público do interior da praça foram retirados e a vida tornou ao normal.

Nunca me esqueci daquela figura, representação viva de um regime ditatorial fechado, contra o qual nos posicionávamos quase sempre silenciosamente. Geisel viria a falecer em 1996, deixando trás de si o estigma de ter operado pelo fim da ditadura. Entretanto, nos últimos dias a memória do general tem sido arranhada por documentos publicados pela CIA. Segundo esses documentos as ordens para a matança de oponentes do regime vinham de cima. Geisel não só tinha conhecimento sobre o que ocorria como aprovava as mortes nos porões da ditadura.

Ainda é cedo para julgar friamente a veracidade do que atestam as publicações da CIA. Mas, dificilmente, a nódoa que trazem virá a ser descolada da figura de Ernesto Geisel.

Morte assitida

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Recentemente dois alunos de um colégio em São Paulo se mataram. O caso comoveu a opinião, chamando a atenção para o perigo de mais jovens darem cabo à vida.

No Brasil uma média de 11 mil pessoas se matam, por ano. Entre 2011 e 2015 a média de suicídios foi de 32 por dia.

Da minha infância trago lembranças que muito me assustaram. Certo dia veio ao distrito onde morávamos uma japonesinha que - soube-se depois - viera para visitar o túmulo de seus pais no cemitério local. Horas depois acharam-na morta sobre o túmulo da família. Naquela época usavam-se formicidas e venenos agrícolas para os suicídios. Ao lado do corpo da jovem japonesa havia uma lata de formicida.

Outro caso foi o de uma jovem que, inesperadamente, rompeu seu noivado e desesperou-se. Nunca se soube a razão exata de seu ato final. Matou-se ingerindo um inseticida agrícola. A morte dessa moça, a quem conheci e de quem nunca me esqueci, impressionou-me muito. Eu a vi minutos depois de a terem encontrado morta. Cena horrível que ainda hoje permanece na minha memória.

E quanto a viver demais? A velhice rouba-nos forças e disposição. Agregam-se o cansaço da rotina, a perda de perspectivas, o enfado da vida que passou. Não imagino como será chegar aos 90 anos. No atual estágio do conhecimento humano pouco há a se fazer para minorar os efeitos da velhice. Ouço dizer que muitos velhos simplesmente gostariam de morrer, se possível sem sofrimento. Há quem ainda tenha razoáveis condições de saúde na velhice avançada. O pior está reservado aos presos a leitos, cadeiras de rodas etc. A doença judia muito.

O caso do cientista australiano que se decidiu pelo suicídio assistido chama a atenção. Aos 104 anos David Goodall confessou estar arrependido de viver tanto. Já tentara suicidar-se sem ter conseguido. Na Austrália o suicídio assistido não é autorizado. De modo que Goodall foi até a Suíça, não sem antes visitar e despedir-se de seus muitos parentes. Ontem Goodall finalmente morreu. Na Suíça o suicídio assistido é permitido, mas a pessoa deve ser fisicamente capaz de praticar o ato final por sua própria conta.

O fim do Sol

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Não se assuste, mas o Sol um dia morrerá. Sim, também ele não é eterno. Hoje ele é nada mais que um senhor de meia-idade. Existindo há 5 bilhões de anos restam-lhe outros 5 bilhões para aproveitar de sua estadia no universo. Depois disso a morte. Perderá seu combustível, mas não desaparecerá, transformando-se numa nebulosa planetária massiva. É o que nos informa uma equipe de cientistas em artigo publicado na revista Nature Astronomy.

E quanto à nossa tão querida Terra? Bem, ela não desaparecerá, mas as cosias não ficarão bem por aqui. Dois bilhões de anos antes de o Sol desaparecer ele ficará mais brilhante e o calor gerado será tão intenso que fará ferver os oceanos por aqui, garantem os cientistas.

Para nós que vivemos no máximo 100 anos falar em bilhões parece bobagem. Mas para quem já existe a 5 bilhões parecerá não faltar muito para o fim. Será que o Sol terá que enfrentar algum tipo de crise em relação ao envelhecimento? Claro que sim, mas não da natureza das nossas que assistimos à progressiva debacle dos nossos organismos. No caso do Sol as coisas se passarão de modo bastante traumático. Os cientistas explicam que o Sol perderá cerca de metade de sua massa e suas camadas externas serão expulsas a velocidades de 20 km por segundo. Os restos do Sol brilharão ainda por cerca de 10 mil anos depois de seu fim, estimam os cientistas.

Tudo tem um fim, até o Sol. Enquanto isso seguimos aqui com nossos desentendimentos enquadrados em não mais que sucessões de décadas. O século 20, por exemplo, foi protagonizado com dois conflitos mundiais, isso sem falar nas várias guerras como a da Coréia, a do Vietnam etc. O homem não olha para fora do mundo onde vive. O isolamento na Terra garante às gerações a ilusão de eternidade.

Não se sabe até quando a atual civilização humana sobreviverá na Terra. O apocalipse parece ser uma invenção que jamais se tornará realidade. Por enquanto as leis da física têm garantido o equilíbrio do universo com estrelas, planetas e satélites percorrendo suas órbitas sem entrarem em colisão. Estamos seguros.

Aliás, em relação a planetas uma boa notícia. Lembram-se de que Plutão foi rebaixado e não é mais um planeta? Pois agora erguem-se protestos de cientistas que querem devolver a Plutão sua posição original entre os planetas que orbitam em torno do Sol. Seja bem-vindo ao nosso grupo Plutão.

O brasileiro e o futebol

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Aproxima-se mais uma Copa do Mundo e os brasileiros torcem pela reversão do último vexame. Fomos estraçalhados pela seleção alemã em pleno Mineirão: 7 x 1.

As esperanças estão ao lado do técnico Tite que fez renascer o famoso “escrete canarinho”. Sob o comando de Tite a seleção nacional classificou-se me primeiro lugar, na América, para a Copa que terá lugar nos gramados russos. Jogadores brasileiros de destaque nos campeonatos europeus vestirão a camisa da seleção nacional e espera-se consigam trazer mais uma vez o caneco ao país.

Entretanto, pesquisa recente revela que 41% dos brasileiros não se interessam pelo futebol. Esse número era de 31% em 2010. O aumento de 10% em oito anos é de fato preocupante.

Onde a febre que arrasta multidões aos estádios e gera o consumo de toda sorte de produtos e produções ligadas ao futebol? Teria a permanente crise brasileira desanimado os torcedores a ponto de não se importarem com o futebol?

Muitas razões podem ser citadas para o atual desinteresse. Prefiro apegar-me a uma delas: a baixa qualidade do futebol praticado entre nós. De fato, os jogos de campeonatos nacionais tornarem-se sonolentos. Raramente surgem os grandes jogadores capazes de improvisos que impulsionam as torcidas. Além do que não há como comparar o futebol hoje aqui praticado com o que se joga na Europa. Dias trás ouvi de um repórter que trabalha no velho continente que nunca se viu nos gramados europeus jogos de tão alta qualidade. Equipes como o Barcelona, o Real Madri, o Liverpool, a Roma e tantas outras protagonizam embates realmente inesquecíveis. Enquanto isso por aqui segue-se rotina modorrenta, com jogos nos quais são raros os momentos de emoção.

Verdade que os tempos são outros. O país não é o mesmo de 1958, ano em que ganhar jogo numa Copa parecia ser questão de vida ou morte. Acompanhavam-se partidas pelo rádio, torcendo loucamente pela seleção nacional. Ainda hoje se fala sobre a inesquecível derrota de 1950 quando mais de 150 mil pessoas boquiabertas viram o Uruguai sagra-se campeão em pleno Maracanã.

Soluções existem para renovar o espírito futebolístico dos brasileiros. Entre elas a doção de medidas sérias em relação a dirigentes, enfim , os homens que comandam o futebol.

Até no Nobel?

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No ano que corre o Prêmio Nobel de Literatura não será concedido a ninguém. Acontece que a instituição Nobel passa por crise com divisões entre seus membros. A razão? O fotógrafo francês, Jean-Claude Arnault, que dirige um projeto da Academia Sueca, foi acusado de ataques sexuais a mulheres integrantes e mulheres de integrantes da mesma academia. Algumas delas relatam ter sido atacadas dentro da própria academia. A mulher do fotógrafo também é integrante da academia e seus pares votaram pela expulsão dela. Entretanto, nem todos concordaram com isso fato que ocasionou divisão entre os membros que decidem o Nobel de Literatura. Daí a supressão do prêmio neste ano.

Eis aí uma notícia que nos estarrece pois envolve uma instituição que consideramos acima de qualquer suspeita. O prêmio foi inventado por Alfred Nobel em 1885. De lá para cá, ano após ano, exceto durante as guerras, pessoas proeminentes de algumas áreas têm sido contempladas com o prêmio. A dignidade do Nobel é incontestável, embora existam premiações nas quais as escolhas nem sempre coincidam com a opinião geral. Casos como o do escritor argentino Jorge Luis Borges nunca agraciado com o prêmio são considerados omissões imperdoáveis.

Em casa de meu pai havia um livro do escritor francês Anatole France cujo título é “A Ilha dos Pinguins”. Ainda muito jovem li a obra de Anatole France da qual me recordo a passagem na qual um dos personagens pergunta ao filho, ainda não nascido, se quer nascer. Para estranheza do pai o filho responde que de modo algum quer vir ao mundo. Ele se xplica: seria infeliz dada a herança recebida justamente de seu pai cujos defeitos menciona.

Naquela época nem sonhávamos com a possibilidade de um Google para consultar dúvidas. De modo que perguntei sobre Anatole France, se era bom escritor etc. A resposta que obtive foi a de que France recebera o Nobel de Literatura, o que não era pouco. Foi essa a primeira vez que senti o peso do prêmio concedido em Estocolmo. Daí a natural curiosidade sobre os ganhadores de cada ano.

Anatole France (1844-1924) foi agraciado com o Nobel de Literatura em 1921. Entre seus livros estão “O crime de Silvestre Bonnard” e “A Rebelião dos Anjos”.

O fim do universo

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Não se sabe quando tudo começou. O Big Bang, formidável explosão, teria dado origem ao universo tal como o conhecemos. As estrelas que vemos no céu caminham para a extinção. O universo se expande, estrelas desaparecem. A teoria da relatividade geral e a mecânica quântica se opõem e deixam margens para dúvidas talvez insolúveis.

Assim caminha a humanidade. O homem olhando sempre para o próprio umbigo. Como se fôssemos só nós nessa imensidão que se chama universo. Aliás, universo múltiplo? Universo infinito ou finito? Em seu último trabalho Steven Hawking posiciona-se por um único universo e finito.

Mas, chegará o dia em que a Terra seguirá o caminho das estrelas e desaparecerá. Os buracos negros são famintos, engolem tudo. Quando? Ora daqui a milhares de anos quando, talvez, o nosso planeta não venha a ser nada mais que um deserto, girando em torno do sol.

Deus? Terá sido Ele? Quando perguntado sobre o que Deus fazia antes de criar o universo Santo Agostinho não respondia. Dizia: estava criando o inferno para gente que faz esse tipo de pergunta.

Deus. O criador. Não se sabe nada sobre Deus exceto reconhecê-lo pela fé. Afirmá-lo ou negá-lo não é possível com um simples impulso. Deus não é questão de opinião. Talvez nem mesmo de crença. Deus é enigma, o maior dos enigmas e isso basta dado ser impossível compreendê-lo.

Num mundo convulso onde cada vez mais os homens não se entendem, num mundo em que todas as teorias parecem ter falhado, num mundo em que nenhum sistema de governo logra unidades, nesse mundo seguimos desesperançados, perguntando-nos: afinal, o que é tudo isso? De onde viemos, para onde vamos?

A história é pródiga em casos de inteligências luminares que se convertem a Deus no fim de seus dias. Ateus de carteirinha muitas vezes bandeiam para o lado da fé quando acossados pela morte. Haverá um outro lado? Céu e inferno? Melhor não arriscar.

A velhice nos surpreende cada vez mais em dúvidas. Não nos foge a mínima dimensão de nosso mundo em perspectiva com a grandiosidade do universo. A morte nos visita sem que tenhamos respondido a perguntas que preocupam o homem desde os primórdios da civilização.

A ciência de Newton, Einstein, Planck, Heisenberg e tantos outros parece caminhar a passos lentos quando o assunto é a origem e fim de tudo.

Escrito por Ayrton Marcondes

3 maio, 2018 às 2:49 pm

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Tragédias urbanas

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Americanos adoram fazer filmes sobre catástrofes. O poder de invenção da turma do cinema parece ser infinito. Lembram-se daquela história de que o mundo acabaria em 2012? Pronto. Eis que fizeram filme sobre o fim do mundo no ano aprazado. As cenas de cidades inteiras sendo destruídas impressionam. Do alto assiste-se à cena de as águas do mar tragarem uma cidade inteira. Edifícios, casas, ruas, pessoas, veículos, enfim tudo, tudo mesmo desaparecendo em poucos instantes. O mar engole a civilização humana. O planeta é flagrado em imagens de desacerto final. O homem nada pode fazer contra a fúria da natureza. Mas, é filme. Após assistir-se à queda do Cristo Redentor e à destruição da Basílica de São Pedro é preciso que o homem sobreviva, afinal ele é o dono do planeta. Então alguns privilegiados sobrevivem dentro de uma embarcação que suporta toda a força da destruição. A partir daí o homem está pronto para recomeçar.

Mas, repito, é filme. Já não é ficção, nem obra cinematográfica, a destruição real que por vezes acontece no mundo. Tsunamis, terremotos, furacões, incêndios e por aí vai. De modo algum nos damos bem com fatos de tal magnitude. Embora possam acontecer em terras distantes, assustam-nos porque expõem a fragilidade humana diante de fenômenos contra os quais o homem é inerme.

Entretanto, existem situações que dependem de providências que as impeçam. O incêndio de um prédio de 24 andares ontem, em São Paulo, é desses casos que nos fazem pensar sobre a responsabilidade de pessoas que administram o bem público. De repente, algo até previsível acontece. Um prédio enorme, ocupado por pessoas que não têm onde morar, incendeia-se. As labaredas altíssimas formam imagens terríveis na noite da grande cidade. Moradores conseguem sair do prédio, embora não todos. Os bombeiros lutam valentemente contra as chamas que se propagam. Até o clímax, talvez inesperado: o prédio desaba.

No rescaldo do incêndio a busca de causas e responsáveis. Nos meios de comunicação declarações desencontradas de pessoas que ocupam postos públicos. Na praça defronte o lugar onde havia o prédio, moradores esperando, sem ter para onde ir. A situação é pródiga a toda sorte de imagens que são exibidas na televisão.

Certamente nos próximos meses ouviremos explicações e mais explicações sobre as causas e responsabilidades em relação ao acontecido. Mas, como hoje, o fato estará consumado. Havia numa esquina da Av. Rio Branco um prédio no passado ocupado pela Polícia Federal. Abandonando, foi ocupado por pessoas sem teto. Um dia pegou fogo. Assim será contada essa história.

Vítima de bullying

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Na China um homem de 28 anos matou nove estudantes e feriu dez, todos com idades entre 12 e 15 anos. Matou-os esfaqueando-os. Preso, justificou-se, dizendo ter sido vítima de bullying nos tempos de estudante, daí odiar seus colegas.

No Brasil o ensino escolar tem mudado nos últimos 50 anos. Nem todo mundo sabe, mas pela metade do século passado o ensino era feito na base de porradas. Nunca me esquecerei do primeiro dia em que frequentei o Grupo Escolar no distrito em que morava. As crianças formaram uma fila, no pátio, em direção à porta de entrada da sala-de-aula. Aguardávamos ali quando veio em nossa direção um homem que seria o nosso professor. À frente da turma ele mandou que todos estendessem o braço direito com palmas das mãos voltadas para cima. E veio ele, criança por criança, batendo nas mãos com uma régua. Aquilo doeu. Era o início de uma vida escolar marcada por pancadas que, segundo se acreditava, serviam para manter a ordem e obrigar a atenção ao aprendizado.

No quarto ano tivemos um professor, um certo João, cuja paciência simplesmente inexistia. Batia-nos com fervor. Certa ocasião exagerou no castigo em mim. Ao chegar em casa, minha mãe - aliás adepta às boas pancadinhas - notou o exagero e mandou meu pai acertar as constas com o professor. Mas, a essa altura, o João não mais estava na escola e acabou ficando por isso mesmo.

Certa ocasião o João aplicou um direto na boca de um menino, o Felipe, que se sentava ao meu lado. Mesmo com o sangue escorrendo pelos lábios do menino, a aula prosseguiu como se nada houvera ocorrido.

Há poucos anos encontrei por acaso um antigo colega do quarto ano primário. Batíamos um papo quando ele, inesperadamente, perguntou-me se sabia onde encontrar o nosso professor João. Tantos anos depois a pergunta soou-me descabida. Afinal, para que nos importaria saber sobre o destino que levara aquele desgraçado? Pois o amigo explicou-me: queria encontrá-lo para meter a mão na cara dele. Apanhara tanto do professor nos tempos de criança que ainda o odiava. Jamais se esquecera daquele maldito que tanta humilhação e dor a ele causara.

Retorno ao chinês que matou e feriu estudantes, vingando-se neles do bullying que sofrera de colegas no passado. Certos ódios infelizmente nunca são superados, como o caso do meu antigo colega e classe. Daí que são necessários cuidados constantes e muita observação em relação a sinais de perseguição a alguém. O bullying praticado contra alguém indefeso pode despertar reações momentâneas ou futuras de grandes consequências.

Do que se fala

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Em síntese: do Brasil. Aqui a politicagem não dá sossego. A cada momento os noticiários divulgam novidades sobreo Judiciário e políticos envolvidos em falcatruas. Diz-se que o STF se esfacela. No rádio jornalistas deploram embates públicos entre ministros do Supremo. O cidadão comum não consegue entender o emaranhado de avanços e recuos sobre decisões judiciais. O que foi lei ontem, pode deixar de ser hoje. Há quem acuse ministros de agirem politicamente. O resultado é que, infelizmente, os brasileiros vão perdendo a confiança nos homens que cuidam de nossas leis. Críticas surgem de todo lado e não se esconde a insatisfação. No que vai dar isso?

Enquanto isso, o ex-presidente continua preso em Curitiba. Encontro um velho amigo e puxo assunto sobre a situação do país. Na verdade, provoco um pouco para que ele se abra. No passado o amigo foi ferrenho trotskista. Deixou de sê-lo, mas, jamais, abandonou a esquerda. Segue esquerdista convicto e crê que a doutrina em que acredita ainda seja a solução para o mundo. Do capitalismo interessam a ele as benesses. Mas, permanece inconformado com a injustiça social. Culpa o sistema capitalista como fonte de enriquecimento de minorias e miséria da maioria. Para ele a solução está nos governos socialistas. Comunistas? Não chega a tanto.

Pergunto ao amigo sobre a prisão do ex-presidente. Ele se altera. Diz que a farsa começa a se revelar. O ex-presidente será solto, ganhará a eleição e tempos de bonança voltarão a existir para os pobres. Pergunto se, afinal, toda essa maratona de processos, sentenças, se tudo isso realmente não passa de perseguição. Ele me responde: você tem alguma dúvida sobre isso?

Gosto muito desse amigo, embora nem sempre concorde com suas posições. Ele me faz lembrar de Trotsky. Há dois anos estive na Casa Azul onde viveram Diego Rivera e Frida Kahlo. Trotsky também morou na Casa Azul quando veio para o México. Ficou lá até brigar com Rivera. Mais tarde foi assassinado. O assassino de Trotsky, Ramon Mercader, era um agente russo e o crime foi longamente planejado pelo stalinismo.

No vídeo “Em casa de Frida Kahlo” existem imagens do filósofo no período em que esteve com Rivera e Frida. O vídeo pode ser visto no Youtube.

Quando estive na Casa Azul em vários momentos me perguntei o que fora fazer lá. Atraíra-me o fato de ali terem estado personagens tão importantes? Ver os pincéis de Rivera? Os quadros de Frida? O quarto onde dormiam Trotsky e a mulher? Não sei responder.

A saga dos heróis

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Com alguma frequência o cinema americano busca em fatos reais enredos para suas produções cinematográficas. Por essa via ficamos sabendo de trajetórias plenas de heroísmos nas quais, em nome da pátria, soldados arriscam suas vidas e alcançam verdadeiros milagres.

É o que acontece no filme “12 Strong” entre nós exibido como “12 Heróis”. A trama se passa imediatamente após o ataque às Torres Gêmeas em New York, acontecida em 2001. Como se sabe, sob o comando de Bin Laden terroristas derrubaram as duas torres em pleno coração de Manhattan. A ousadia dos terroristas causou estupor em todo mundo. Começava aí a caçada a Bin Laden que só viria a terminar anos depois, no governo de Barack Obama. Em 2001 suspeitava-se que Bin Laden escondia-se no Afeganistão, país em permanente conflito sob ação de grupos como o Talibã e a Al- Qaeda.

Em “12 Heróis” a trama se passa no período imediatamente ao 11 de setembro. Um grupo de 12 soldados, comandados pelo capitão Mitch Nelson, é enviado ao Afeganistão para desempenhar uma missão praticamente impossível. Cabe a eles convencer o comandante da Aliança do Norte, Rashid Dostum, a aliar-se aos estadunidenses no combate aos grupos terroristas que operam no Afeganistão.

A partir daí assiste-se a uma sequência quase inimaginável de atos da mais pura bravura. Apenas 12 soldados, trilhando caminhos inóspitos ao lado das tropas de Dostum, enfrentando os perigos de ferozes batalhas. Embora um dos soldados tenha ferimento grave nenhum dos 12 heróis morre durante a ação.

Como se disse o filme baseia-se em fatos reais e não existem motivos para duvidar deles. Entretanto, não deixa de chamar a atenção o modo como a indústria do cinema trata e cuida do amor ao seu país. Filmes de ação como “12 heróis” haverão de despertar nos jovens o sentimento de viverem num país vitorioso no qual cidadãos arriscam suas vidas em nome do bem-estar comum. Num momento em que Mitch Nelson e Dostum discutem o general afegão decide afastar suas tropas do combate. A partir daí o final da campanha fica a cargo dos 12 heróis. Serão eles contra milhares de terroristas. Ainda assim o capitão americano decide prosseguir porque cabe ao seu grupo impedir que novos ataques ao seu país voltem a ocorrer. Munidos dessa certeza os 12 homens prosseguem na luta.

Os “12 Heróis” é um bom filme de ação. Se as cenas de guerra são algo que já vimos nas telas, ainda assim a trama nos atrai pelo desejo de verificar no que aquilo tudo vai dar. E o final acontece dentro do que se espera.

Escrito por Ayrton Marcondes

23 abril, 2018 às 1:56 pm

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