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Manter a mente jovem

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Conhecido e bem sucedido empresário chega aos 80 e fala sobre a necessidade de manter a mente jovem. Chegar aos 80 com disposição e saúde, manter os bons relacionamentos e ter a fé em Deus. Essa seria, segundo ele, a fórmula para uma velhice bem vivida. Nada de pensar na morte. Nada de esperar pela morte. Quem pensa na morte não vive.

Um cantor e apresentador de televisão grava um vídeo homenageando os idosos no seu dia. Relata lição que aprendeu com o pai. Diz que o pai, aos 83 anos, subiu numa árvore e caiu. Ele, o filho, prontamente o acudiu, levando-o ao hospital para exames.

Na ocasião o apresentador censurou o pai pelo risco assumido devido a elevada idade. Então ouviu do pai o seguinte: meu filho, guarde que a sua mente deve permanecer sempre jovem o corpo é que não entende.

Pois é, o corpo não entende. É pena. A certa altura certas coisas começam a se tornar difíceis de realizar. Calçar meias, por exemplo. Que tal apanhar do chão algo que acaba de cair? Há, sim, os velhotes atletas, exceções na grande comunidade de idosos. A maioria dos que chega aos 80 está sentada na sala de casa, olhos pregados na televisão. Ao acordarem, pela manhã, eis que a eles se apresentam os tais remédios para toda sorte de problemas como pressão alta, diabetes, colesterol alto, problemas na tireoide e por aí vai…

A tal lembrança de que a mente deve permanecer jovem, mas o corpo não entende vem a propósito. Eis que uma mal vinda lentidão atrapalha tudo. Os músculos são vítimas preferenciais da passagem do tempo. A perda de massa muscular tem seus reflexos. A sincronia entre as ordens do cérebro e a resposta muscular merece reparos. E que dizer das falhas de memória?

Mas, dentre tantas queixas uma se sobressai. Trata-se do descaso em relação à velhice. Eis que os velhos, em grande número de casos, se tornam nada mais que um estorvo para seus familiares. A ociosidade em que vivem, aliada à não produtividade, torna-os seres de exceção que exigem cuidados. Velhos são encargos que a custo são tolerados. Ou não.

Opiniões sobre a velhice existem aos milhares. Talvez a mais animadora seja devida ao filósofo estoico Sêneca, falecido no ano 65 DC. Disse o filósofo:

“Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.”

O jeito é seguir em frente, sem pensar no fim.

Escrito por Ayrton Marcondes

29 outubro, 2020 às 8:51 pm

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De um filme

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De um filme

“Crimes de família”, drama cinematográfico argentino, conta a história de uma mulher que se sacrifica para tirar da cadeia seu filho. Na trama ela vê-se obrigada a vender seu próprio apartamento para pagar o advogado. O marido, contrário à venda separa-se dela. Tudo isso para descobrir, ao final, que as coisas eram bem piores do que imaginava.

O filme faz pensar sobre os seres que geramos e a independência deles em relação a nós. Mais que isso exalta as diferenças entre pais e filhos, sejam nas convicções, sejam quanto aos modos de ser, ou ainda, nos caminhos escolhidos para viver. Fato é que a educação e princípios transmitidos aos filhos nem sempre vigoram no futuro de cada um deles.

Ainda bem que, na grande maioria dos casos, as relações ente pais e filhos, embora tensas em muitas situações, mantenham-se graças ao amor existente entre eles. Mas, sabemos de casos nos quais nem mesmo o amor e a fraternidade logram relações bem sucedidas. Ao assistir “Crimes de família” lembrei-me de um caso no qual o esgarçamento das relações entre pais e filhos atingiu o limite máximo.

Conheci o Vargas quando veio à minha casa, trabalhar nos negócios de meu pai. Era então um homem de trinta e poucos anos, recém saído da penitenciária. Meu pai, sabe-se lá por quais razões, entendera que o tempo na prisão tivesse agido no sentido de recuperar a índole do Vargas. Além do que o sujeito se casava muito bem com a necessidade do funcionário de que meu pai estava à procura. Não será demais lembrar de que muitos ex-detentos se dão bem ao serem reincorporados ao mercado de trabalho.

Creio que, para mim, a verdadeira identidade de Vargas se revelou num dia de grande movimento no negócio de meu pai. Naquela ocasião houve um momento em que uma soma de dinheiro ficou sobre a mesa. Vi, então, Vargas se aproximar da mesa, operando-se nele grande transformação. A visão do dinheiro provou alteração de seu semblante. A face iluminou-se, com súbito rubor. Jamais me esquecerei da face daquele homem ao se ver diante de algo que o transformara. Era a índole do criminoso que ali se revelava em toda a sua extensão, fato que, na época, me escapava por completo.

Aconteceu dias depois quando fizemos curta viagem. Ao sairmos de casa meu pai recomendou ao Vargas que cuidasse de tudo até o nosso retorno. Ele cuidou com tal zelo que reencontramos a casa saqueada: durante a nossa ausência o Vargas e seus cumplices levaram tudo o que puderam.

Vargas era filho de um casal de nossos conhecidos, moradores de outra cidade. Foragido da polícia certa noite foi ter à casa de seus pais que dormiam no momento de sua chegada. Em vão o pai suplicou à mulher que não abrisse a porta. Mas, era o filho dela, como não o atender?

Pressurosa a mãe recebeu o filho. Com ele entraram outros marginais que saquearam a residência. Para Vargas inexistia a noção de mínima reverência a seus pais: fora, apenas, roubá-los.

Pelé, 80 anos

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Dias trás, durante um almoço, falei que tinha visto Pelé jogar. A frase, despretensiosa, provocou reações inesperadas de pessoas mais jovens. Então eu vira o Rei atuar, ao vivo e a cores, num estádio? Pelé, em carne e osso?

Pois é. Muita gente teve o privilégio de ver o Rei jogando, em geral pelo Santos. Aliás, que se diga: por melhor que sejam as transmissões televisivas, por mais polegadas que tenham os atuais aparelhos de TV, nada substitui a emoção e beleza de assistir a um jogo de futebol em meio à torcida, num estádio. Assim, na minha cabeça, Pelé sempre aquele fabuloso, mágico, jogador que vi poucas vezes ao vivo, em campo, e não o que acebei assistindo em inúmeras transmissões de jogos pela televisão. No Pacaembu Pelé, correndo com seu uniforme branco, passava-nos uma relação de intimidade, de proximidade com um ídolo, da presença em um momento inesquecível que não se repetiria, mas seria guardado para sempre na memória.

Por essa razão o tal Edson que agora chega aos 80 anos no traz tanta emoção. Foi esse homem envelhecido quem legou à posteridade as imagens inesquecíveis de alguém nascido como ser único entre seus pares, dotado de qualidades quase sobrenaturais, capaz de milagres que nenhum outro de sua profissão jamais atingiu e provavelmente jamais atingirá. A idolatria, o mistério de Pelé, está ligado a essa unicidade, ao fato de um ser humano sobrepor-se aos demais dadas suas fantásticas aptidões naquilo que tão naturalmente se propunha a executar.

Sim eu vi Pelé jogar, tive, sim, esse privilégio. Pertenci a uma geração que cresceu ao tempo em que Ele estava no máximo de sua grandeza futebolística. Nesses dias vi, na televisão, compactos realizados com a finalidade de homenagear Pelé. Confesso que, em alguns momentos, me vi disfarçando lágrimas furtivas. Acontece que esse homem envelhecido, embora mantenha seu passado intacto, faz-nos lembrar de que também para nós o tempo passa e passou. Também, como para ele, o tempo passou para os membros da minha geração e contra isso nada pode se fazer.

Imagino o dia em que Pelé deixar esse mundo, o tamanho da comoção que seu desaparecimento provocará. É que Pelé carrega consigo um pedaço de cada um de nós, seus fãs. Por isso, em seu octogésimo aniversário, só nos resta afirmar:

Vida longa ao Rei.

Cadeira elétrica

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Não sei se estou errado, mas hoje em dia pouco se fala na cadeira elétrica. Talvez porque as penas de morte e execuções com choques tenham perdido a popularidade. Mas, em meio ao século passado, condenações e execuções desse tipo sempre atraiam a atenção. Atualmente a injeção letal é o método mais utilizado para execução. Entretanto, há casos de condenados que rejeitam injeção letal, optando pela cadeira elétrica sob alegação de que a injeção acarretaria mais sofrimento.

Entre nós quando ocorria um crime bárbaro lamentava-se - e muita gente ainda lamenta - a inexistência da pena de morte e da cadeira elétrica. Enfim, pena de morte figurava-se como execução por eletrocussão, deixando-se de lado outros meios de provocar a morte.

Grande repercussão em todo o mundo aconteceu com a condenação dos imigrantes italianos Nicola Sacco e Bartolomeu Vanzetti. Eram dois anarquistas italianos que viviam nos EUA. Foram acusados de assalto e homicídio. O julgamento dos italianos demorou muito e foi pleno de contradições. Ao final os dois foram condenados. Passaram seis anos na prisão e só depois disso receberam a sentença de morte. Em 1927 foram executados na cadeira elétrica.

Mas, o caso que mais movimentou a opinião, no início dos anos sessenta, foi o de Caryl Chessman, um ladrão, violador e raptor, condenado em 1948. Chessman notabilizou- se por escrever livros na prisão, tornando-se conhecido em todo o mundo. Desse modo conquistou a simpatia de muita gente embora também houvessem aqueles que o odiavam pelos crimes que cometera.

Chessman foi executado na câmara de gás em junho de 1960. Para que se tenha ideia da comoção causada basta lembrar de um fato ocorrido justamente no dia da sua execução. Na época era eu estudante, num colégio interno. No período da manhã tínhamos aulas, à tarde horas de estudo. Aconteceu que certa tarde nosso estudo foi interrompido pelo diretor da escola. Muito sério comunicou-nos ele, voz grave, que Caryl Chessman acabar descer executado.

Não me é possível dizer o que diabo, na ocasião, tínhamos a ver com aquilo. Mas comoveu-nos. Era um homem a quem a vida fora tirada. Não nos importavam suas culpas. Coisa bem dos anos sessenta.

Hoje em dia, criminalidade em alta, há quem lamente muito a inexistência de pena de morte em nosso país. Mas, o assunto é controverso e contra a pena de morte existem argumentos poderosos.

O caso do Sr. Pimenta

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Nos idos dos anos 50 do século passado aconteceu ao Sr. Pimenta enlouquecer. Pode-se caracterizá-lo, naquela época como um louco manso. De fato, a loucura do Sr. Pimenta resumia-se a um conjunto de práticas que contrariavam a ordem costumeira das coisas. Andar com sapos nos bolsos das calças, instalar fechaduras com a tranca do lado de fora das portas e outras pequenas falhas constituíam o universo em que aportara aquela mente, antes disso tão equilibrada.

Mas, a loucura do Sr. Pimenta tinha lá esquisitices que muito impressionavam os seus conterrâneos. Entre elas certamente se destacava a estranha amizade que passara a desenvolver com algumas espécies de animais. O já citado caso dos sapos com os quais estabelecera grande relacionamento muito impressionava. Não era incomum ver o louco com um sapo nas mãos, dirigindo a ele palavras que pareciam constituir eloquente troca de ideias. Tamanho contato com esses anfíbios resultou na atitude de colocar vários sapos sob as cobertas da cama onde sua esposa dormia. Foi o contato da pele fria dos sapos que despertou a velha senhora, diga-se, gritando diante do horror da situação em que se viu envolvida.

De grande repercussão, entretanto, foi a relação estabelecida pelo Sr. Pimenta com os corvos. Pois houve um dia no qual, estranhamente, presenciou-se o Sr. Pimenta a andar na rua tendo um corvo a seguir seus passos. Ora, sabe-se que corvos não são associados a boas coisas, entre elas a própria morte. No caso específico do corvo que acompanhava o Sr. Pimenta depressa compreendeu-se que tão estranha relação teria o significado de prenuncio do fim dos dias, ou, seja, da morte.

Durante três dias o negro pássaro fez corte ao louco. Quando estava ele no interior de sua casa eis que a ave de negra plumagem acomodava-se no telhado.

No terceiro dia eis que o Sr. Pimenta enfim descansou. Seu féretro foi acompanhado pela família, amigos e… pelo corvo. Comprova o fato uma foto à qual más línguas atribuem o artifício de uma montagem.

É certo que tal narrativa não fará eco na maioria das pessoas que a tomarão por nada mais que exercício ficcional. Entretanto, notícia recente nos dá conta de um fato até hoje desconhecido: “os corvos pensam”. Cientistas atestam que corvos são, inclusive, capazes de montar ferramentas que permitem a eles conseguir alimentos. Não são os homens, portanto, os únicos seres na natureza a pensar. Corvos, macacos e talvez outros seres pensam, elaboram pensamentos.

Certamente o corvo que acompanhou os últimos dias de vida do Sr. Pimenta tinha consciência do que estava a fazer. Havia entre ele e o louco estranha relação cuja natureza não pode ser alcançada pelos meios de análise hoje disponíveis.

Meninos, eu vi.

O São Paulo tem camisa

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O pior momento para fazer críticas é quando aquele a quem nos referimos está na pior. Mas, que fazer quando a paixão nos move e a tristeza se impõe?

Não é de hoje que o querido tricolor deixou de ser o que sempre foi: um grande e respeitado time de futebol. Para quem a décadas acompanha o São Paulo, para quem conhece a história pregressa do clube a situação atual é inaceitável. O São Paulo de hoje desonra a tradição de um clube que já foi, entre outros numerosos títulos, tricampeão mundial.

Quando menino acompanhei a conquista do título paulista de 1957 decidido na inesquecível vitória contra o sempre rival Corinthians. Entre outros, aquele notável time do São Paulo contava com o mestre Zizinho e o ponteiro esquerdo Canhoteiro. Era um time que tinha a responsabilidade de honrar a camisa anteriormente vestida por grandes ídolos como Friedenreich, Leônidas, Bauer e tantos outros. Mais tarde vieram muitos jogadores que entenderam a importância de fazer parte de uma equipe cuja trajetória sempre encheu de orgulho a comunidade tricolor. Jogadores como Raí, Waldir Peres, Mauro, Lugano, Bellini, Dario Pereira, Roberto Dias, Pedro Rocha, Rogerio Ceni, Serginho Chulapa, Careca… Cada um deles, em sua época contribuiu para o brilho da bandeira tricolor.

De lá para cá o mundo mudou e, com ele, o futebol. Negociações financeiras de vulto, altos salários, disputas políticas, tudo isso certamente contribuiu para que o futebol se tornasse, cada vez mais, apenas negócio. Acompanhando essa grande transformação a perda de amor ao clube agigantou-se. Já não se veste a camisa tricolor como o respeito que ela merece,

Talvez fosse o caso de uma ilustrativa visita ao memorial do São Paulo. Dirigentes e jogadores entrariam em contato com as memórias daqueles que os precederam e sentiriam na pele o peso da camisa que têm agora a honra de dirigir e defender em campo.

Alguém precisa avisar a dirigentes e jogadores que o clube é muito mais do que esse pobre time que tem desonrado a vitoriosa história que os precedeu. O São Paulo tem camisa e vesti-la é uma responsabilidade com o empenho em campo. É preciso ter em mente que do lado de cá, fora das quatro linhas, existe uma multidão que torce, desesperadamente, por um time que, no momento, infelizmente, tem sido para todos causa de muita vergonha.

Naufrágios

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Naufrágios sempre despertam atenção talvez por ser insondável o destino de embarcações que se acomodam nas grandes profundezas marítimas. Vidas e destinos de tripulantes e passageiros são incorporados a histórias de tempestades, mares agitados quando não a erros humanos que desencadearam catástrofes.

Entre todos o caso do RMS Titanic é seguramente o mais icônico, talvez pelas circunstâncias de lançamento ao mar de um navio considerado indestrutível ou, ainda, pelo fato da colisão com um iceberg ter desencadeado o naufrágio. O naufrágio aconteceu entre 23h40min - 2h20min de 14-15 de abril de 1912. 1514 pessoas morreram e 710 conseguiram se salvar. O acontecimento entrou par a história, sendo até hoje lembrado quando se fala de navios naufragados. O filme Titanic trouxe às telas imagens realistas dos acontecimentos daquela noite de 1912. O RMS Titanic encontra-se no fundo do mar e desperta o interesse de empresas e mergulhadores que dele se aproximam em incursões exploratórias.

Menos falado, mas sempre citado, foi o afundamento do vapor alemão MV Wilhelm Gustloff no qual morreram quase 5 mil pessoas. O vapor foi atingido por míssil enviado por submarino russo, em 30 de janeiro de 1945. Era um navio de cruzeiro transformado em navio hospital durante a guerra. Quando foi atingido nele viajavam 10582 pessoas entre tripulantes e passageiros.

Com alguma frequência fala-se sobre naufrágios. No momento o assunto tem aparecido na mídia por conta do naufrágio do MV Golden Ray, ocorrido em 8 de setembro de 2019 na costa da Georgia, EUA. Nesse cargueiro estavam 4 mil carros que foram parar nas águas marinhas. Agora divulga-se que o cargueiro naufragou devido à carga mal posicionada o que teria gerado instabilidade e deixado seu centro de gravidade muito alto.

Durante a Guerra das Malvinas, em 1982, um submarino nuclear britânico afundou o cruzador argentino General Belgrano provocando a morte de 323 marinheiros. A disparidade de forças disponíveis entre britânicos e argentinos era por demais conhecida. Entretanto, a ditadura argentina declarara guerra contra forças que não reuniam condições de enfrentar, sendo certa a derrota.

A conhecida rivalidade entre brasileiros e argentinos hoje em dia talvez esteja restrita ao futebol. Na ocasião da guerra era certamente maior. Entretanto o afundamento do cruzador argentino foi aqui recebido com espanto e tristeza. Naquele momento irmanamo-nos com sul-americanos agredidos.

A derrota

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Quando pequenos é difícil acostumar-se com a ideia de derrota. Meu neto torce para o São Paulo que experimenta prolongada má fase. O time não conquista nada a bom tempo. Somam-se fracas atuações isso para desespero da grande torcida tricolor. Meu neto tem oito anos e sofre com o time. Dias atrás desesperou-se quando o São Paulo tomou um gol logo no início de uma partida.

Para mim as derrotas vieram muito cedo. Era muito pequeno quando do 4×2 da Hungria sobre o Brasil na Copa de 1954. Fiquei sabendo depois, mas passei os anos seguintes acreditando que o Brasil fora espoliado por um certo Mr. Ellis, árbitro da partida. Era comum afirmar-se sobre um ladrão quando de algum roubo: “deu uma de Mr. Ellis”.

Mas, a verdade acabou por se impor. Aquela seleção húngara era o que havia de melhor. Tinha, entre outros, o grande Puskas. O Brasil contava com grandes jogadores, mas ainda sem a organização que seria vitoriosa em 58.

Numa época em que a todo custo precisávamos granjear projeção internacional - Brasil desconhecido, terra do arco e flecha - eram poucos os ícones de representatividade reconhecida no exterior. Eder Jofre, boxer peso galo, ídolo no país, seguia com sua carreira de campeão mundial. Pois me vem nítida a memória do dia em que Eder enfrentou, no Japão, Fighting Harada. A luta se travou na noite japonesa, manhã no Brasil. Eu acabara de desembarcar do bonde da Estrada de Ferro Campos do Jordão no qual viajava, diariamente, para frequentar as aulas do ginásio local. Ainda na plataforma da estação ouvi pessoas falando sobre a derrota de Eder. Perdera por pontos com jurados parciais. Até hoje se discute se o resultado foi correto. Eder era o campeão, talvez o melhor teria sido o empate. Mas, estava-se no Japão que queria e ficou com o título.

Não há como descrever a tristeza do rapazote sentado num dos bancos da estação. Eder fora derrotado. Resultado inaceitável, fosse pelo que fosse.

Mal sabia eu que ali se iniciava o longo período da vida no qual vitórias e derrotas se alternariam de modo sempre surpreendente. Entretanto, ainda não consigo aceitar derrotas como acontecimentos “normais”. O ser humano não foi gerado para o fracasso, essa a índole de uma espécie afinal vencedora no planeta.

Domingo passado, ao presenciar meu neto constrangido diante do gol sofrido pelo São Paulo, me vi inclinado a dizer a ele que, afinal, a vida é isso mesmo, vitórias e derrotas viriam. Mas, me calei. Será o futuro a dizer e ensinar a ele as regras desse jogo confuso que é estar vivo.

Fugindo da Terra

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Nos tempos que correm é comum ouvir-se sobre a possibilidade de mudança do país. Ah, se eu pudesse… E muita gente vai mesmo. Há quem quebre a cara como divulgado sobre brasileiros que se desencantaram com Portugal e nem mesmo dispõem de dinheiro para a passagem de volta. Por outro lado, há os que saem daqui e se adaptam muito bem à vida no exterior. Miami é destino comum.

Ah, se seu pudesse. Fosse mais novo teria coragem de deixar o país e tentar a sorte no estrangeiro? Talvez. O Brasil, terra que amamos, tem cansado demais o seu povo. Desanimado a quem vive do trabalho. O problema são as amarras que nos prendem a uma série de circunstâncias. Família, negócios, encargos…

Mas, volta e meia nos chegam notícias mais desafiadoras que a simples mudança de país. Não é que seguem em andamento projetos de colonização de Marte? E agora que descobriram na atmosfera de Vênus a fosfina, substância que só existe onde se encontram seres vivos? Vida em Vênus? Vênus colonizável? O problema são os 450º de temperatura em Vênus. Mas, sabe-se lá o que o futuro distante nos reserva.

De todo modo explorar o espaço faz parte da natureza aventureira do homem. Existe, sim, uma incrível curiosidade de ver-nos de fora. Olhar-nos, ver a o lugar onde vivemos, mas do espaço. Daí existirem projetos turísticos de viagens suborbitárias nas quais os ilustres passageiros poderão experimentar sensações que, seguramente, não estarão à disposição do comum dos mortais.

A Virgin Galatic, empresa de voos espaciais, está desenvolvendo aeronaves para turismo intergaláctico. Os testes estão em andamento e caso sejam bem sucedidos o primeiro voo terá lugar no final de 2021. O problema é o preço das passagens: cerca de 1 milhão de reais. Mas, não se espantem: cerca de 600 pessoas já compraram ingressos, entre eles gente famosa como Leonardo di Caprio, Tom Hanks e outros. Essas pessoas poderão chegar à altitude de mais de cem quilômetros e, depois de ver tudo do espaço, retornar à Terra.

Nada se fala, ainda, sobre a segurança da viagem. Imagina-se que os primeiros turistas espaciais deverão ser dotados de alguma coragem. Depois, caso tudo dê certo, esse tipo de turismo se tornará rotineiro. Relatório do banco suíço UBS estima que, nos próximos 10 anos, o turismo especial será uma indústria de US$ 3 bilhões.

Ao espaço, portanto.

Escrito por Ayrton Marcondes

21 setembro, 2020 às 8:51 pm

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Na velhice

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A Rede Globo demite alguns ícones de sua programação. Estão velhos. Ganham muito e a muito não participam de produções. Os fãs reagem. Surge a pergunta: no lugar de um sessentão contratarão duas pessoas de trinta?

Fato é que a paisagem vai mudando. Novas caras nas telinhas e no mundo. O lugar reservado aos velhos só encolhe. Velho é velho, ainda mais com suas chatices.

Nos comentários que surgem as opiniões são expressas por pessoas mais jovens sobre os velhos. O cronista que escreve sobre as choradas demissões de Tarcísio Meira e Glória Menezes certamente tem menos idade que eles. Trata-se do presente, olhando para o passado.

Mas, e quanto ao que acham e sentem os velhos? Que acham e sentem eles sobre a paulatina exclusão da qual não podem escapar? Pode não ser regra geral, mas paira certo ar de aceitação, senão conformismo. A velhice é um gigante contra o qual faltam aos velhos forças reais para combater. Verdade que existem fases. A tinta no cabelo, os exercícios, cuidados com a saúde etc., tudo isso contribui para a manutenção da jovialidade que dia-a-dia escapa. Até quando as forças decaem irreversivelmente: é o fim.

Para quem chegou até aqui, na velhice, muitas coisas são claras e inegáveis. De fato, não há como negar que essa máquina, o tal do organismo, não foi feita para durar para sempre. Assim, o declínio é inevitável. Para cada ser humano o declínio assume características em acordo com sua complexão física e possíveis cuidados tomados ao longo da vida. Fumou, não fumou, bebeu, não bebeu, doenças anteriores etc. Não é tão simples assim, mas passa por isso.

Entretanto, o grande problema é “estar na velhice’. Sentir-se incorporado ao batalhão de reservistas que, não muito adiante, deixarão esse mundo. Perceber no próprio corpo mudanças irreversíveis contra as quais pouco se pode fazer. Enfim, “ser velho”.

Nisso se pensa toda vez que as pernas doem e fraquejam, quando a respiração se torna mais ofegante, a cada visita ao médico que nos prescreve a lista de medicamentos sem os quais já não se pode viver.

Mas, apesar disso tudo, a ideia não é converter a velhice em período sempre depressivo. Há que se manter a flegma. Sobreviver. O segredo é não desistir. Nunca. Não custa nada ter sempre em mente coisas boas da vida, mesmo quando já não se possa desfrutá-las integralmente.