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O papa riu
A foto mostra o papa quase numa gargalhada. Por que riu o papa? Estava com uma brasileira que disse a ele ser Pelé melhor que Maradona. O papa argentino riu ao ouvir a afirmação.
Nunca vi Maradona ao vivo, só pela TV. Pelé pude ver em ação nos estádios, para o bem e para o mal. Para o bem porque não existiu e talvez nunca apareça outro como ele. Para o mal porque ele acabava com o meu time.
Pelé é alguém em que a genialidade pousou sobre um físico perfeito, arrematando-se com a extrema habilidade do jogador. É como se em laboratório se bucasse alguém perfeito para jogar futebol e se lograsse produzí-lo. O cara era de fato uma fera. Perfeito. Genial. Superior aos demais mortais. Inigualável.
O que não quer dizer que se nega a grandeza de Maradona. O “Pibe” sabia tudo de bola. Perfeito. Fenomenal. Genial. Porém alguns degraus abaixo de Pelé.
Dirão que valorizamos Pelé por ser brasileiro. Fôssemos argentinos, Maradona seria o maior. Será?
Não nego que Maradona era o diabo. Ainda tenho travada na garganta a jogada dele, no jogo contra o Brasil, na Copa de 90. Lesionado Maradona pouco correu no jogo. Mas, na única chance que teve, superou um brasileiro e fez aquele primoroso lançamento para Cannigghia. Gol da Argentina que venceu por 1 X 0, eliminando o Brasil.
Pelé e Maradona, grandes figuras. Talvez por isso o papa tenha rido.
A sensação de fracasso
Acontece às vezes. De repente não deu certo. Mas, se tudo parecia tão nos conformes como pode acontecer? Fica a perda, a sensação de fracasso que pode abater até mesmo os mais fortes.
Dizem que nos Estados Unidos o fracasso num empreendimento serve como estímulo para tentar outro. Aqui as oportunidades talvez sejam mais difíceis e recuperar-se do tombo pode custar muito. Dar certo no Brasil exige exige dedicação e talento, além dos meios necessários. Mas, já vi gente muito boa naufragar em negócios que pareciam ter tudo para dar certo.
Difícil compreender como bilionários passam a milionários da noite para o dia. Há casos de perda de fortunas, ficando os ex-ricos em situações difíceis. Recentemente o bilionário brasileiro Eike Batista viu ruir o seu império o que não deixa de ser assustador. Como pode um homem que a todo transe se apresentava como bilionário empreendedor perder tanto? Naturalmente explica-se, mas…
Que dizer sobre os fracassos reconhecidos por quase todo mundo? Há pessoas que ocupam cargos de grande responsabilidade e visibilidade. O fracasso delas em geral tem consequências que recaem sobre muita gente. Mas, será que em seu âmago essas pessoas admitem o próprio fracasso?
Eis que no momento s senhora presidente da República atinge o mais alto nível de reprovação desde que esse índice passou a ser pesquisado em 1990. Hoje a taxa de reprovação da presidente é maior que a dos ex-presidente Collor nas vésperas de seu impeachment. A curiosidade nos leva a pensar sobre como se sente a presidente a respeito disso nesse momento em que se fala sobre possibilidade da saída dela do governo.
Será que a presidente considera a situação atual como fracasso pessoal? Como se passará na cabeça dela, tida como “durona”, a perda de controle sobre a classe política que cada vez mais a acua, roubando-lhe o protagonismo que o cargo lhe confere?
Seria interessante se daqui a alguns anos, distanciados desse complexo momento da vida nacional, a então ex-presidente abrisse o coração e relatasse seu parecer sobre esses dias. Trabalho para um bom biógrafo que contasse com a sinceridade da biografada. Mas, não creio que venha a acontecer.
Encontro casual
Ontem um desconhecido quis porque quis trocar ideias comigo sobre a situação de momento no país. O assunto me arrepia. De tempos para cá reparo que as pessoas, atônitas, meio que evitam falar sobre a crise. Aliás, crise se constata, sente-se no bolso, revolta a pele. Daí que temi ter sido descortês com aquele senhor que, a meu lado, fazia compras na barraca de frutas. Eu o ouvi, disse qualquer coisa e continuei a andar.
A indignação daquele homem tinha razão de ser. Aposentado, lutara vida afora para criar os filhos , fazendo deles seres humanos respeitáveis. Fizera milagres com seu dinheiro contado e recebido por trabalho honesto. Indignava-se com as espantosas cifras originadas de desvios, falcatruas e roubos envolvendo altos escalões industriais e políticos brasileiros.
Tenho lido nos jornais sobre a perda de confiança no governo e políticos com seus reflexos sobre a situação do país cuja economia está em frangalhos. Fala-se no prejuízo coletivo mas, nada de adentrar a porta da casa do cidadão comum e ver o que se passa lá dentro, no seio das famílias. Esse homem indignado está esquecido. É ele o sustentáculo do país, aquele que com seu trabalho gera as riquezas que a safadeza de maus brasileiros se aplica em dilapidar.
O fato é que eu não sabia o que dizer ao desconhecido que se dirigiu a mim na feira. Era um idoso ferido em sua crença nos seres humanos, revoltado com a situação cuja compreensão exata escapa a todos nós. Prisões seguem acontecendo assim como revelações de novas negociatas envolvendo somas inimagináveis de dinheiro.
Que perdoe aquele senhor pela força que não tive apara discutir o problema com ele.
A foto de Joan Collins
A Rede Telecine vez ou outra repete a apresentação do ator Billy Cristal num teatro. Ele conta sua vida e faz o público rir de suas aventuras para se tornar o ator hoje mundialmente conhecido. Em certa parte do show Cristal narra a erupção do sexo no início de sua adolescência. O desejo imperativo que passa a dominá-lo nesse período o leva a confessar suas várias visitas diárias ao banheiro para apagar o fogo de seu priapismo.
É certo que a mesma coisa aconteceu e acontece com a rapaziada de todas as épocas. Hoje em dia a profusão de fotos de mulheres nuas e filmes com cenas eróticas talvez banalize demais o sexo embora certamente estimule os chamados pecados solitários. Entretanto, em passado não tão distante a moçada não contava com tais facilidades. Daí que as revistinhas publicadas com as histórias de Carlos Zéfiro fossem tão impactantes. De fato contribuíam e muito para exacerbar o rubor das carnes noviças e puras que ansiosamente aguardavam a oportunidade de uma primeira experiência sexual a dois, com alguém do sexo oposto.
Dos meus tempos de colégio interno guardei a lembrança da dificuldade de contato com fotografias de mulheres senão nuas, pelo menos vestidas com maiôs em poses provocativas. Foi para esse meio austero que certa ocasião chegou ao internato certo Mário, vindo do Rio de Janeiro. Esse Mário era um sujeito estranho, meio aloucado, portador de óculos com lentes muito grossas, falante e conhecedor de todo besteirol do qual se servia a contento fazendo-nos rir. Mas, mais que isso, o Mário trouxera no fundo da mala uma fotografia da atriz Joan Collins, usando maiô e em posição provocante. Essa foto corria de mão em mão, melhor dizendo, acompanhava os meninos em suas demoradas passagens pelos banheiros. Naturalmente, os mais chegados ao Mário eram os mais favorecidos. Aos colegas que ele não gostava frequentemente negava empréstimo, daí que para alguns a foto só chegava mediante o pagamento de uns poucos cruzeiros. No tempo da imaginação em estado puro do que seriam os encantos de uma mulher a foto trazida pelo Mário causava furor.
Leio no Google que ainda vive Joan Collins em seus mais de 80 anos bem vividos. Em vão procurei nas fotos da atriz aquela que servira aos meninos para aplacar a ira de seus baixos ventres. Não imagino qual seria a reação dessa senhora caso viesse saber de uma coisa como essa. Talvez apenas sorrisse lembrando-se de seus tempos de estrela.
Redução de velocidade
Não dá para dizer se a redução de velocidade nas marginais de São Paulo é necessária ou não. A prefeitura diz visar a redução do número de acidentes. Grande parte dos usuários entrevistados posiciona-se contra medida. O Ministério Público cobra da prefeitura as razões da redução. O prefeito não descarta a possibilidade de retorno às velocidades anteriores caso a mudança não apresente os resultados esperados.
O caso cheira improviso. Improvisa-se no Brasil. A economia em frangalhos parece ser tocada na base do improviso. Estabelecem-se metas para o ajuste fiscal que a meio caminho são mudadas. Economistas garantem que as metas inicialmente propostas eram irrealizáveis.
Fala-se sobre a fraqueza do executivo. O empenho do governo em vencer as eleições passadas, ainda que para isso o país fosse conduzido ao caos atual, mais que improviso cheira irresponsabilidade. Crescem as taxas de desemprego, as demissões são inevitáveis, a indústria se retrai, o comércio entra em desespero. Paga-se a conta da incompetência do executivo que parece não se dar conta de sua responsabilidade em relação à situação atual.
No país das propinas a corrupção assume ares vulcânicos. A Lava Jato coloca atrás das grades gente de colarinho branco. Presidentes do Senado e da Câmara Federal são acusados de corrupção. A classe política estremece frente a possibilidade de desmascaramento de seus integrantes.
Talvez o Ministério Público nem precise inquirir sobre as razões da redução de velocidade nas marginais. Este é o país do freio puxado, da economia reduzida no qual só a roubalheira se acelera. Portanto, nada mais normal que baixar os níveis de velocidade na grandes artérias das cidades.
Brasileiros, olho no velocímetro.
O outro lado da moeda
O rapaz que juntamente com outros três estuprou quatro meninas no Piauí foi assassinado. Mataram-no os outros três na prisão. Colocados na mesma cela os comparras o atacaram por ter ele confessado a autoria do crime e denunciado os demais.
O crime acontecido na pequena cidade do interior do país estarreceu o país. Após serem estupradas as meninas foram jogadas de um barranco. Encontram-nas nuas e muito machucadas. Uma delas não resistiu aos ferimentos e faleceu. Além dos quatro menores de idade um adulto participou do crime.
Ainda preso o denunciante mandou carta à mãe desculpando-se pelos seus erros e prometendo ser outra pessoa quando saísse da prisão. Ler a carta dele inquieta. Então sob a pele do lobo existia um pouco de alma, sinais de alguma humanidade?
Moedas têm dois lados embora um deles possa ter maior realce. O bárbaro crime acontecido no Piauí revelou o lado animalesco de seus perpetradores. Não por acaso a população da cidade quis punir os rapazes que talvez seriam mortos não fosse a proteção da polícia. Um deles deixou carta antes de ser assassinado fazendo-nos pensar em um pouco de humanidade em seu caráter. Os outros três seguem na trilha do crime. Mataram mais um deixando-nos a impressão de não passarem de feras presas na condição de seres humanos.
O ponto da carne
Ser churrasqueiro dos bons não é fácil. Acontece a existência de inúmeros, milhares, de churrasqueiros de ocasião. Situações imprevistas levam o sujeito a encostar a barriga na churrasqueira, tratar (mal) a carne e servir o bando de esfaimados a quem outra alternativa não resta que não a de comer aquilo mesmo.
Certa ocasião fiz churrasco para cerca de 20 pessoas no litoral. A filha do dono da casa noivara e convidara a família do noivo para congraçamento. Fizeram quase tudo certinho. Quase! Carne e bebidas compradas, esqueceram-se apenas da… churrasqueira … e de quem faria o churrasco.
Tijolos, espetos enferrujados e carvão operaram o milagre. Mas, a carne… Os elogios ao bom desempenho do churrasqueiro apresentados ao final não foram convincentes. Mas, comeram, afinal estavam com fome. Quanto a mim, nunca mais.
Para quem deseja se aventurar em churrasqueiras é bom dar uma olhada nos vídeos do You Tube no quais profissionais ensinam como assar cada tipo de carne. Agora, quanto ao ponto a coisa se complica. Ontem publicou-se que o jeito é tocar levemente a carne e comparar com o toque na almofadinha da mão. Caso as sensações sejam iguais isso indica que carne está mal passada. Se a consistência for semelhante com a união dos dedos polegar e médio o bife está ao ponto. Carne bem passada tem consistência igual à da união do polegar com o anular. Complicado, não? É só praticar.
Há quem ame fazer churrascos. Enquadro-me na categoria dos churrasqueiros de ocasião. O problema é toda vez que querem “assar uma carninha” a minha escalação é imediata.
Se nem mesmo acredito ter evoluído um só milímetro nessa arte desde aquele churrasco tão mal preparado na casa de praia…
Constrangimentos
Ouvi relatos de pessoas sobre situações que as constrangeram. Uma delas contou ter-se fartado sexualmente e, ao abrir a porta do quarto, calça ainda arrida, deu de cara com o cunhado. Outra se lembrou da tentativa de fugir da escola. Pulava o muro quando topou com dois seguranças que o devolveram à direção.
Um amigo, já falecido, certa vez me disse que anos depois ainda tinha vergonha por ter rompido noivado na semana em que marcara o casamento. Namorara a moça desde menino, famílias amigas, horário de igreja marcado, convites enviados e ele decidiu que não era bem o que pretendia.
Cada pessoa terá o que dizer sobre situações que a constrangeram. Quanto a mim confesso ser proprietário de uns pares de ocorrências desse tipo, a maioria delas dos meus tempos de menino e rapaz. Inesquecível aquela acontecida dentro de um bonde na linha férrea que leva a Campos do Jordão. Não sei bem porque fazia eu parte de uma roda na qual cada um contava o seu “causo”. Na minha vez temperei a conversa com as façanhas de meu irmão, uma delas relacionada a uma visita dele ao cemitério da cidade à meia-noite para provar não ter medo de fantasmas. Dorei a pílula a meu modo e exagerei o quanto pude. Quando terminei, um homem levantou-se e veio até nós. Era o padre da paróquia à qual o cemitério estava apenso. Ouvi poucas e boas do homem de batina que queria saber o nome do meu irmão para tomar providências. Nos meus 14 anos outro recurso não tive que senão enfiar o rabo no vão das pernas e assumir a cara de besta que a ocasião exigia.
Há em meu passado outros tantos constrangimentos. Aprendi que a lição de minha mãe sobre em boca fechada não entrarem mosquitos é de imenso valor. De modo que fui deixando para trás a peculiaridade de ser uma “boca aberta”. Silêncio ajuda e muito tenho isso como norma de vida.
Inconformismo
Há quem fale bem da velhice e exalte as possibilidades de bem viver nesse período. Não existe concordância sobre isso. A bem da verdade não tenho ouvido de idosos coisas boas sobre a idade avançada. Limitações físicas, doenças e depressão fazem parte de queixas comumente divulgadas.
Dias atrás um empresário de academias de ginástica falava sobre a importância de manter-se a forma na velhice. Exaltava ele a importância dos músculos que a todo custo devem ser mantidos fortes. Músculos garantem força, movimento, equilíbrio, dizia. Ao que o repórter perguntou se nas academias era comum a presença de idosos. Respondeu o empresário que sim. Aconselhou aos idosos a musculação. Exercícios condizentes com a capacidade física de cada um, nada de exageros. Nada de colocar o velhinho num daqueles aparelhos que exigem grande preparo físico. Tudo nos conformes, esse o ideal.
Há poucos dias faleceu um homem que morava no mesmo prédio que eu. Vez ou outra conversávamos e ele reclamava de já não dispor da energia de antes. Parecia-me que ele no passado teria sido um desses viciados em sexo porque, conversa vai, conversa vem, ele passava a falar de mulheres. Admirava muito uma moça, também moradora do prédio, que nos fins de tarde voltava da academia com trajes muito justos, destacando a forma do corpo dela. O velhinho tinha a pachorra de ficar na portaria só para vê-la entrar no prédio. Certo dia perguntei a ele se acaso ainda fazia sexo com alguém. Respondeu-me que vontade não lhe faltava, entretanto, a idade…
Escritora muito famosa disse, sem meias palavras: a velhice é uma mer… Lembrou o quanto fora bonita, atraente etc. Agora…
Um conhecido que já passa dos 80 anos não se conforma com seu estado físico. Coragem e vontade não faltam a ele, mas a desoladora tontura o impede de realizar seus negócios a contento. Consultou vários médicos, experimentou toda sorte de medicamentos e nada de melhorar.
Senhora minha conhecida teve queda e fratura do fêmur. Agora vive na cadeira de rodas. A clientela que sempre atendeu em seu ofício escasseou até desaparecer. Passa os dias em casa. Fui visitá-la. Ao me despedir ouvi que a ela só restava passar o tempo, esperando a morte se lembrar dela.
De todo modo a tal “melhor idade” parece não ter nada de melhor. Um amigo que viaja muito diz ter arrepios em aeroportos quando ouve sobre a preferência de embarque para pessoas da “melhor idade”. “Melhor”? - pergunta ele.
O fato é que a juventude infelizmente não dura para sempre. Resta-nos aproveitar bem a vida e curtir da melhor forma possível a velhice quando ela chegar. De preferência sem reclamar, adaptando-se às condições impostas pela perda do vigor físico.
Rumo a Plutão
Na próxima terça-feira nossos irmãos de Plutão receberão a visita da nave New Horizonte que lá chegará após viajar 5 bilhões de quilômetros. Nove anos se passaram desde que a nave partiu rumo ao mais distante corpo celeste do sistema solar. Felizmente a viagem chegará a bom termo. A nave terá oportunidade de fotografar a superfície de Plutão em distância que permitirá reconhecer detalhes.
Não se sabe como o povo de Plutão receberá a intromissão em seu espaço aéreo. Desde o rebaixamento de Plutão da condição de planeta corre a notícia de enorme insatisfação entre os plutonianos. Pior ainda o fato de que o rebaixamento foi tramado e realizado pelos terráqueos. De modo que aTerra e seu povo no momento não contam com a simpatia dos plutonianos.
Plutão fica muito longe do Sol de modo que a superfície é gelada e montanhosa. Relata-se que lá vive civilização avançada e a existência de cidades subterrâneas. Sendo cinco vezes menor que a Terra e percorrendo órbita diferente da nossa o fato é que existe grande curiosidade sobre Plutão.
Espera-se que para além das diferenças relacionadas ao rebaixamento a presença da New Horizon seja bem recebida pelos plutonianos. Dada a distância que nos separa no momento é impossível que possamos visitá-los. Mas chegará o dia em que, finalmente, os dois povos poderão estreitar laços.
Afinal, como serão os plutonianos?