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Sexo para sempre
Imagino que muita gente faça uso de acessórios para atividades sexuais, afinal existem muitos sex shops mundo afora. Neles se oferecem todo tipo de instrumentos - alguns muito estranhos, diga-se - com promessa de realização de variadas fantasias amorosas.
Sexo é assunto permanente e há quem viva de dar conselhos para práticas mais saudáveis e prazerosas. Amor e sexo constituem-se num binômio capaz até mesmo de unir temperamentos opostos. Em casos extremos o binômio pode emular a ocorrência de tragédias.
Conheci um homem que amava muito a mulher dele. O casal beirava os 40 anos de idade quando ela foi acometida por doença que acabou roubando-lhe a vida. Restou a situação do marido inconsolável, saudoso. Não passava semana que não fosse ele ao cemitério levar flores ao túmulo da amada.
Passado mais que um ano o homem, em pleno vigor físico, interessou-se por uma moça. Depois de algum tempo começaram a namorar e, logicamente, aconteceu o encontro sexual. O diabo foi que de modo algum conseguiu ele a ereção. Preocupado, procurou por socorro médico que de nada adiantou. Foi por essa época que passou a ter sonhos eróticos com a mulher que já morrera. Nos sonhos as relações sexuais eram intensas, atingindo ele o orgasmo. Entretanto, na vida real não chegou a conseguir prática sexual efetiva com a namorada. Nessa situação o relacionamento esmoreceu gradativamente e terminou.
Deixei de ver esse homem, vizinho da casa de meu pai, e não sei como sua estranha aventura em sonhos terminou. Lembrei-me dele hoje ao ler que um designer holandês inventou um vibrador que carrega cinzas de pessoas mortas. Nesse vibrador existe um dispositivo no qual se podem borrifar perfumes antes utilizados pelo morto e um amplificador útil para tocar músicas que ele gostava de ouvir. E há uma caixinha onde podem ser colocados pertences do morto, tais como lenços muito úteis a serem manuseados nos momentos de masturbação.
Eis aí um meio de prolongar práticas sexuais com o homem amado, mesmo após a morte dele. Não imagino qual seja a sua opinião sobre esse assunto. De minha parte acho melhor não dizer nada.
Execuções
Poucas horas nos separam do momento em que uma rapaz brasileiro será fuzilado na Indonésia. Trata-se de um rapaz que viajou para aquele país carregando 6 quilos de cocaína dentro de sua prancha de surfe. Não era traficante apenas transportava, uma “mula” portanto.
O fato gera comoção. Sobre a execução há opiniões divergentes. Ouvi de um senhor de idade que o rapaz deveria ser fuzilado imediatamente pois - acredita ele - só assim se combaterá eficazmente o tráfico. Para esse senhor não importa se o “mula” carregava 6 quilos ou apenas 1 grama. Pego em flagrante ao desembarcar no aeroporto Indonésio tornou-se culpado de um crime para o qual a legislação do país prevê pena de morte. Simples assim.
Obviamente nem todo mundo pensa desse modo. Para começar, independentemente da natureza do crime em questão, fica a aceitação ou não da pena de morte. Afinal, execuções são um recurso realmente válido para retirar definitivamente de circulação bandidos perigosos?
Longe de mim entrar no mérito da validade da pena de morte. Por mais que esforce, por mais que me revoltem crimes hediondos, por mais que considere que o melhor seria realmente tirar a vida de seres capazes de comportamentos animalescos, ainda assim não teria coragem de assinar uma sentença fatal.
O fato é que, justamente, me pesam os tais momentos finais do condenado. Pessoas condenadas à morte em geral ficam presas por longo período antes da execução. Nesse período muitas presos mudam seus comportamentos, tornando-se razoável pensar-se em outro tipo de pena, quem sabe prisão perpétua. Obviamente, cada caso é um caso e há que se reconhecer a existência de pessoas irrecuperáveis.
De todo modo imagino como serão os últimos momentos do brasileiro que será fuzilado na Indonésia. Ficar diante de doze homens que dispararão para tirar a vida do prisioneiro é algo inimaginável. Como será ficar ali nos segundos finais antes de projéteis invadirem o corpo? Como terão sido os últimos instantes nos quais o condenado é conduzido ao local onde será fuzilado?
Afinal, quanto vale a vida?
A terra tremeu
Você confia no solo sobre o qual pisa. Tanto quase sempre o ignora. O chão está aí para isso mesmo: ser pisado. Ele é compacto, forte, indestrutível. A casa onde você mora tem os alicerces no solo, tão bem construídos que você nem pensa que ela possa ruir.
Você dorme sossegado no seu quarto, noite após noite, ano após ano. As paredes do seu quarto são firmes. O teto também é firme, mesmo que acima dele exista outro apartamento. O teto é tão firme que só muito raramente você consegue ouvir os passos de alguém no andar de cima.
O mundo em que você vive é firme, estático. Os prédios da rua onde você mora nunca saem do lugar, daí que a paisagem do seu mundo é familiar. Você sai de manhã no seu carro e trafega pelas ruas seguindo um trajeto conhecido. A cada manhã tudo continua no mesmo lugar, até as janelas do quinto andar daquele prédio, sempre abertas.
As coisas correm assim até que um dia, de repente, inesperadamente, o mundo resolve mudar. Das entranhas da terra emerge enorme convulsão que coloca o ambiente estático em movimento. Agora a terra deixa de ser confiável, paredes de casas se movimentam, prédios vêm abaixo e rapidamente amontoam-se ruínas. Em segundos o antigo monumento do centro da praça deixa de existir. Para todo lado imagens de desolação. Pessoas soterradas, mortes, desaparecimentos, destruição generalizada, impotência para conter a força que emana da terra como se esta estivesse a vingar-se.
Você talvez imagine, envolto que está pela nuvem de poeira, que se trata do apocalipse, do fim do mundo. Mas, não. Aconteceu um terremoto cujo epicentro foi tão próximo que seus efeitos fizeram-se reais - e terríveis - na cidade em que você mora.
Agora resta o medo. Depois do primeiro tremor, bastante forte, aconteceram outros mais fracos. O jeito é não ficar nas casas, dormir nas ruas, proteger-se. Não se sabe o que poderá acontecer daqui a pouco, que se dirá sobre o amanhã.
Assim, segue o dia em Katmandu, capital do Nepal, devastada por um terremoto de mais 7 pontos na escala Richter Mortes, desaparecimentos, monumentos destruídos, prédios desabados, ruas interditadas, falta de água potável e energia.
A terra tremeu.
Uma história impossível
Comprei um automóvel da Hyundai, ano 2014. Meses atrás o carro apresentou problemas no sistema de som, GPS e câmara de ré do console. Na ocasião lei o carro à autorizada da Hyundai em Santos, a Dapevel. Foram eles solícitos e, depois de algum tempo, realizaram a troca do equipamento.
Entretanto, o conserto não ficou bom: o mostrador no qual ficam o relógio e o indicador de temperatura ficou apagado; algum tempo depois a rádio começou a ligar automaticamente junto com a partida do carro. O GPS não funcionava.
Sabe como é a vida, fui deixando por falta de tempo. Até que marquei horário e, após espera de 20 dias, levei o carro à autorizada.
Horas depois ligou-me o responsável pelo serviço, dizendo-me que não poderia fazer o conserto. O fato é - dizia ele – que eu levara o carro a algum serviço de péssima qualidade que havia trocado tudo, inclusive a antena que não era original. Os cabos presentes no carro não eram originais, havia fita isolante ligando fios, coisa que a Hyundai não usa.
Em vão protestei. Expliquei que de forma alguma levaria um carro novo a uma oficina qualquer, dado que gozava da garantia da Hyundai. Briguei. Em vão. A resposta era sempre a de que a autorizada era profissional com técnicos competentes que jamais fariam um serviço daqueles. Um dia depois fizeram-me uma proposta: eu pagaria pelo conserto, mas, de todo modo, perderia a garantia.
No fim acabei concordando, embora revoltado. Jamais levara o carro a qualquer oficina que não a autorizada. Mas, como provar? Desisti, aliás preocupado com outros grandes problemas optei por me livrar desse.
Foi aí que aconteceu. Num fim de tarde o responsável pelo serviço me ligou, pedindo desculpas. Ligara para a fábrica e constatara que tudo o que estava no carro era exatamente original. De fato eu não levara o carro a outra oficina, que eu os desculpasse pelo engano.
Não sei o que dizer, ou melhor, sei mas, melhor me calar. Só penso na qualidade da mão de obra de que dispomos nos serviços de que precisamos.
Essa é uma história simplesmente impossível.
A voz do Mário
Não sei dizer se primeiro li Macunaíma ou se assisti ao filme de 1969. Desconfio ter visto o filme dado que nunca me esqueci de Grande Otelo na pele do “herói sem nenhum caráter” em busca do precioso “muiraquitã”. Inesquecíveis as cenas do safado índio Macunaíma a repetir o que parecia ser para ele uma senha: “ai, que preguiça”.
Tal o perfil do “herói de nossa gente” atraído pela cidade grande e pela máquina no texto de Mário de Andrade. Do livro guardei a estrutura não linear, o surrealismo, a escrita propositalmente corruptiva de normas gramaticais dado o herói escrever e falar conforme fala a nossa gente das ruas.
Do poeta de “Lira Paulistana” guardei os versos do homem que amou profundamente a sua cidade, escrevendo naquele “Quando eu morrer…”:
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
O grande Mário de Andrade, membro do “Grupo dos Cinco” que engendrou a revolução modernista e 1922. Sua obra até hoje inquieta seus leitores que se perguntam sobre quem, afinal, terá sido esse homem, morador da Rua Aurora, romancista, poeta, musicólogo, folclorista, pesquisador e tantas coisas mais.
De Mário restaram as imagens que nos olham de suas fotografias e os depoimentos daqueles que o conheceram. Mas, agora, eis que o vulto ganha novas formas. Descobriram-se na universidade de Indiana gravações da voz de Mário de Andrade, ora cantando modinhas coletas do folclore nordestino, ora falando sobre elas. O homem das fotografias ganha voz, articula-se, aproxima-se de nós, revive. A sonoridade de sua bela voz, a agilidade e perfeição de seu discurso deixam de estar apenas impressas na páginas dos livros e ganham vida através dessa importante descoberta.
Sempre penso no que viria a ser a possibilidade de uma viagem no tempo em direção ao passado. Dizem que isso é impossível, mas como seria fantástica a proximidade com pessoas desaparecidas que nos deixaram sinais vigorosos das suas existências.
Alegrai-vos: Mário de Andrade fala.
Do jazz
Ouvi pela primeira vez o “Time Out”, do Dave Brubeck, em pé numa esquina de cidade do interior. O som vinha da janela de um dentista, localizada na parte superior de um sobrado. Impossível resistir aos solos de Dave e Paul Desmond. Aquele era um ritmo incomum por aqui. Estávamos no final dos anos 60 e Brubeck revolucionava a música, inovando o jazz com um som novo.
Tenho ouvido jazz a vida toda. Tive a oportunidade de assistir, ao vivo, performances de grandes músicos aqui e em NY. Infelizmente o tempo roubou-nos a arte desses artistas, hoje desaparecidos, mas que, felizmente, nós deixaram gravações memoráveis.
Existem muitas definições para o jazz, mas, pessoalmente, nunca alcancei defini-lo. Como definir uma música que extrapola os limites de nossa sensibilidade e nos arrasta por trilhas nunca antes percorridas, vertiginosamente?
Na falta de definição que me satisfaça fico com uma nada convencional, dita a mim por um amigo quando relatava as agruras de sua vida. Tinha ele se separado da mulher e passava pela fase em que tudo é incerto e o futuro enorme interrogação. Então, numa tarde, colocou na vitrola um disco do Charles Mingus e, de repente, viu-se em meio a uma tempestade de areia que invadia a sala de sua casa. A quantidade de areia aumentava depressa, quase chegando ao teto. Eis, então, o meu amigo, perdido numa tempestade e buscando o ar para respirar junto ao teto enquanto Mingus solava o seu contrabaixo. Disse-me ele não se lembrar de como escapou àquela terrível situação. O fato é que passou a temer a música de Charles Mingus que o levara a tão profundo estado de alucinação.
Agora se fala nos 100 anos do nascimento da cantora Billie Holliday, morta aos 44 anos após uma vida extremamente complicada. A voz rouca de Billie, suas interpretações que nos conduzem a extremos quase inantingíveis, sua incrível história de vida, a morte precoce no leito de um hospital quando já não passava de arremedo da mulher bonita que fora, a fabulosa cantora de “Lady Sings The Blues”.
Billie Holliday é o jazz.
Cristãos ao mar
Perseguições religiosas fazem parte do passado bíblico. Cristãos jogados aos leões em arenas romanas são parte de um passado que fez muitos mártires do cristianismo. Coisas do passado?
As guerras e massacres em alguns países têm motivado a fuga de imigrantes que tentam chegar à Europa em barcos e botes infláveis. O desespero dos fugitivos os coloca em travessias extremante perigosas, muitas delas com fins trágicos. Semana passada uma embarcação levava 550 imigrantes e naufragou no Mediterrâneo, resultando na morte de 400 pessoas. Somaram-se essas mortes às estatísticas que apontam cerca de 22000 mortes desde o ano 2000.
Na última terça-feira um bote inflável partiu da Líbia tendo a bordo 105 pessoas. Durante a viagem um grupo de 15 muçulmanos jogou ao mar 12 cristãos sob a justificativa de professarem a fé cristã. Os demais passageiros só não foram mortos por terem resistido, formando um cordão humano. Os 12 mortos eram originários de Gana e da Nigéria.
Ao chegarem à Itália os 15 muçulmanos, originários do Mali, Senegal e Costa do Marfim, foram presos. Mais uma vez a intolerância religiosa esteve a serviço de uma tragédia.
Com frequência são publicadas fotos e divulgados vídeos sobre imigrantes que fogem de seus países em busca de vida melhor. Arriscam-se a tudo, incluindo suas próprias vidas, por não suportar os horrores das batalhas em seus territórios. A violência e o sofrimento são os motores dessa coragem extremada. Melhor morrer tentando do que sucumbir aos bombardeios, ataques de exércitos ou à própria fome.
Com frequência falamos sobre matanças inaceitáveis que amanhã serão esquecidas. Mortes e mortes parecem apenas servir à consolidação de estatísticas. Então 12 cristãos pagaram com a vida pela sua fé, sendo atirados ao mar. Quem se importa? Mas, há que se imaginar o horror de estar viajando em alto mar dentro de um bote inflável no qual, de repente, um grupo de muçulmanos decide eliminar pessoas que professam um tipo diferente de fé. As coisas são simples assim, mata-se quem é diferente. O terror das pessoas ameaçadas, a visão de seus semelhantes sendo atirados ao mar, o perigo da morte iminente, a organização de um cordão humano de resistência, as vidas salvas por um triz…
Não se trata de ficção, não são cenas de um filme. Trata-se do horror praticado pelo homem contra o homem, algo que escapa à minha compreensão no momento em que, placidamente, tomo o meu café numa manhã de sol e ouço a notícia.
Vida de torcedor
Torcedor não tem vida fácil. Se ao nascer tivessem me perguntado se escolheria entre ser torcedor ou não eu responderia: NÃO!
Quando o time pelo qual torcemos ganha a alegria é grande; quando perde um horror. Sou desses caras que, infelizmente, sofre pelo time. Em certos jogos, quando as coisas de se complicam, chego a sair da sala para ouvir de longe a voz do narrador do jogo. Imagens de jogos difíceis constituem-se em verdadeira tortura.
Também sou desses caras que entram em sintonia quando passam defronte o estádio do time do coração. Que fazer se ali, bem do lado, fica o palco onde tantas vezes assisti a jornadas memoráveis do meu time?
O problema é que, de tempos para cá, passei a ouvir programas esportivos pelo rádio do carro. De repente descubro que repórteres esportivos, na ânsia de divulgar novidades, espalham até mesmo todo tipo de fofocas. Essa turma mexe com o coração da gente, causando-nos apreensões. Para o jogo de amanhã o nosso centroavante goleador poderá não jogar porque torceu o pé no treino desta manhã. Pronto! Eis ai um dia inteiro preocupados com a situação do nosso goleador que tem que jogar de qualquer jeito. No fim das contas o entorse foi pequeno, nada demais e o cara entra em campo. Mas, até aí quanto sofrimento.
Futebol é paixão e paixões são fadadas a não dar certo. Por isso tanta discussão, tanta briga e até mortes. Quando menino, um irmão mais velho que eu torcia justamente para o maior rival do meu time. Ouvíamos os jogos pelo rádio naquela época sem TV. O Pedro Luís, o Edson Leite e o Mário de Moraes traziam o estádio à frente do dial do rádio. De um lado o meu irmão, mais velho, mais forte. De outro eu que sempre acabava levando uns sopapos.
Frequentei estádios durante muitos e muitos anos até parar por receio da violência. Assisti a grandes jogos e presenciei atuações de mágicos da bola. Vivi momentos inesquecíveis sentado nas gerais e arquibancadas de estádios de futebol. Dá para dizer que sou apaixonado por esse esporte que rouba um bom tempo dos meus dias em termos de atenção.
Paixão é paixão, não tem jeito. Ainda não me decidi, mas gostaria de vir a ser enterrado pelo menos com um distintivo do meu time dentro do caixão. Quem sabe ele venha servir como código de entrada no outro mundo, exceto se o porteiro de lá for algum corintiano.
Ditadura de costumes
Acontece na moda, na alimentação, em tudo. Você é envolvido por convenções, modismos, jeito de ser. Dirão que sempre foi assim. Ninguém participava da corte de Luiz XIV sem as vestimentas adequadas. Não se senta à mesa de um banquete para comer com as mãos. Há que se obedecer a uma hierarquia de talheres. Ninguém corta com os dentes o pedaço de bife preso ao garfo se participa de uma boa mesa. Aliás, nem sozinho.
Então o que mudou? Ora, a informação. Hoje em dia dispõe-se de canais abertos para ditar regras, angariar seguidores, até mesmo criar fanáticos. Veja-se a ditadura dos regimes para perder peso. Revistas especializadas, blogs, programas na TV, tudo sob a tutela da tal boa alimentação que, aliás, nem sempre é mesmo boa. O fato é que aspirar a um corpo perfeito parece vir antes dos alimentos saudáveis. Não se come o que é bom pela saúde, mas para manter a forma.
A artista de novelas perdeu cinco quilos em uma semana. Como conseguiu isso? Que regime permitiu esse prodígio? Entrevista-se a atriz. Ela aparece feliz e recomenda o regime reproduzindo-o integralmente para que as pessoas possam segui-lo. Faça exatamente isso e você poderá ter um corpo como o meu.
E quanto à moda? Você sairia à rua com uma calça boca de sino? Cuidado com as combinações de peças. Atenção aos desfiles fashions. Veja lá o que as modelos estão usando. E os cuidados com a maquiagem? As sobrancelhas devem realçar os olhos. Isso sem falar nas cirurgias plásticas, no Botox… Mas, cuidado, veja que na França as modelos estão proibidas de se apresentarem tão magras.
Dê uma olhada na primeira página de um desses grandes sites. Encontrará pelo menos uma opinião de nutricionista, uma sugestão sobre decoração, notícia sobre moda e assim vai.
Mas, nada disso me incomoda. O que mais me chama a atenção são as sugestões sobre sexo. O prazer está sendo regrado com sugestões ao alcance de todos. O velho Kama Sutra é a toda hora lembrado. Ontem recomendava-se a prática do pompoarismo, técnica para aperfeiçoar os movimentos vaginais.
Não são passados trinta anos e as conversas eram outras. Não havia tanta gente dando conselhos sobre praticamente tudo. Você até desfrutava de um pouco mais de direito de ser você mesmo.
Roedores na Câmara
Peraí: ninguém aqui está chamando os nobres deputados federais de ratos. Essa boa gente pode até ser xingada por aí, mas a alcunha “ratos” pressupõe a realização de crimes danados.
Aconteceu na CPI no início do depoimento do tesoureiro do PT, o tal Vaccari. Começada a sessão um funcionário da Câmara abriu uma caixa e soltou roedores. A foto mostra os deputados na mesa de comando da CPI e os roedores correndo na direção deles.
Ninguém duvide: a foto correrá o mundo. Vá bem que a coisa toda foi obra de um funcionário que será prontamente exonerado. Mas vai ficar como retrato com as implicações dele decorrentes, dando caldo a todo tipo de interpretações e piadas.
No Brasil é moda dizer-se que CPIs terminam em pizza. Considera-se a realização de CPIs pura perda de tempo. Longos discursos, intermináveis perguntas, poucos esclarecimentos, negação de tudo que possa sugerir alguma participação em falcatruas.
Nesse momento mesmo tem gente atrás das grades que negou tudo, tudinho, recentemente ao ser ouvida na CPI da Petrobrás.
Há brasileiros que parecem não ter sido feitos para serem culpados de nada. Gente boa, sorridente, amigável. Enfiam a mão em cumbuca de abertura grande, tão grande que dá para tirar a mão cheinha de dinheiro.
Assim, sem culpados, os dinheiros da República viajam para contas no exterior, são consumidos em campanhas eleitorais, usados para enriquecimento ilícito etc.
Quanta gente bem de vida às custas da viúva!
É o Brasil.