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Experiências com humanos

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Um museu universitário do Japão mostra como soldados americanos reféns na Segunda Guerra serviram como cobaias para experiências “científicas”. As experiências eram realizadas em seus corpos enquanto eles estavam vivos. Trata-se de experiências cruéis como o citado caso de um soldado que teve o cérebro dissecado para se estudar o tratamento de ataques epilépticos.

A dissecação de pessoas vivas infelizmente não é novidade. Durante a Segunda Guerra médicos alemães tiveram à disposição milhares de “cobaias” presas nos campos de concentração. Joseph Mengele, médico alemão, notabilizou-se por terríveis experiências realizadas com gêmeos, tornando-se conhecido como “O Anjo da Morte”. Mengele promoveu estudos para esterilização em massa e utilizou judeus e ciganos portadores de doenças hereditárias. Com o fim da guerra o “Anjo da Morte” refugiou-se na Argentina para, mais tarde, vir a morrer afogado na praia de Bertioga, litoral de São Paulo.

Os alemães especializaram-se em pesquisas com seres humanos vivos. Submeter pessoas a infecções com bactérias, infectá-las com o protozoário causador da malária, colocar pessoas em água gelada por mais de três horas para estudos de hipotermia, obrigá-las a ingerir venenos, submetê-las a experimentos cirúrgicos e outras atrocidades fizeram parte de um vasto arsenal de atitudes inconcebíveis.

Num mundo em que guerras prosseguem sem que se possa prever o seu término os horrores praticados nos períodos de exceção devem sempre ser lembrados para que não sejam repetidos. Diariamente somos avisados sobre os massacres cometidos contra etnias e grupos religiosos. Movimentos terroristas matam impiedosamente centenas de pessoas sob a justificativas pretensamente religiosas. Semana passada 140 cristãos foram assassinados por terroristas numa universidade do Quênia. Refugiados vivem em campos improvisados para fugir a combates intermináveis como acontece nesse momento na Síria.

Não é difícil para o homem tornar-se carrasco quando a ele é concedido o poder de agir sobre semelhantes indefesos. A notícia que chega do Japão sobre o sacrifício de pessoas em experiências soa como mais um alerta em relação aos perigos de guerras que a todo custo devem ser evitadas.

Não dá para generalizar

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Tudo bem, não dá para generalizar, vamos partir disso. Entretanto, parece que hoje em dia os relacionamentos entre pais e filhos se tornaram, digamos, mais ágeis. Você não acha?

Até poucas décadas as relações entre gerações careciam de mais objetividade. O amor era disfarçado. Filho homem beijar pai? Ambos ficavam sem jeito. Repito: não dá para generalizar. Mas, vi e vivi isso na minha casa e fora dela. Entre pais e filhos instalavam-se certas barreiras com tanta naturalidade que até pareciam ser mesmo naturais.

Hoje em dia vigora um novo acordo. As relações tornaram-se mais próximas, talvez porque o próprio mundo tenha se desnudado. Essa loucura da informação instantânea, a obviedade do sexo que já não é escondido, a publicidade dos erros, enfim toda a parafernália resultante da revolução tecnológica parece ter remetido às sombras alguns preconceitos.

Certa vez ouvi meu pai contar a um amigo que o pai dele, meu avô, costumava vir do interior a São Paulo e hospedar-se num hotel do centro da cidade. Meu pai vinha com ele, às vezes. Acontecia de meu avô deixa-lo no hotel à noite e sair para resolver “negócios”. Já rapaz meu pai sabia bem a natureza dos “negócios” noturnos de meu avô. Nunca se permitiram uma palavra a respeito, aliás pouco se falavam. Amavam-se em silêncio.

Não é que me intrometo em assuntos ‘proibidos” da vida dos meus filhos? Não dá para generalizar, mas hoje em dia as relações são mais abertas.

Penso na permanência de tabus, embora desgastados. De todo modo não me surpreendeu o que vi no filme “Advogado” estrelado por Robert Duvall e Robert Downey Jr. Duvall é um juiz cujo filho - Downey - é advogado. Circunstâncias anteriores estabeleceram pontes intransponíveis entre pai e filho. No dia da morte da mãe Downey comparece ao enterro e as barreiras com o pai são reativadas. Mas, o juiz acaba por se meter numa confusão ao ser acusado de atropelar e matar um homem a quem condenara à prisão no passado.

Ser aceito pelo pai como seu advogado e defendê-lo torna-se uma travessia. Não existe entre os dois homens pontos de apoio confiáveis. Mais que nunca o abismo entre pai e filho pauta o andamento das ações.

Nunca privei com meu pai maiores intimidades. Era a regra do jogo. Não dá para generalizar, mas acho que hoje em dia as cosias andam bem mais amenas.

O dia do alemão

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Só se fala no alemão. Melhor dizendo: nos alemães. Há o caso do complexo do Alemão do Rio no qual a UPP passa por crise. Um menino, morador do Alemão, aos 10 anos de idade foi morto por um policial. O complexo vive, há 90 dias, sequência de tiroteios entre policiais e traficantes. Foi numa dessas ações que o menino recebeu um tiro de fuzil.

O Alemão do Rio é o próprio inferno. O governador Pezão declarou que nem 15 anos levam paz ao complexo do Alemão. Com a reformulação das UPPs a segurança vai melhorar, afinal PMs, cabines blindas e trincheiras terão efeito positivo. Talvez temporário, mas que fazer?

Outro Alemão na verdade chama-se Alemoa. O fogo em tonéis do depósito de combustíveis obriga autoridades a restringir a entrada de caminhões no porto de Santos. O problema é que pelo porto se faz grande parte do escoamento da produção industrial e agrícola do país. Na cidade olha-se com temor a fumaça ali na região da Alemoa. Peixes e camarões aparecem mortos, indicando o comprometimento ambiental. E há a imensa nuvem de fumaça que contamina o ar. Poluição danada.

O terceiro alemão do dia é a própria Alemanha. Na crise grega a Alemanha é o país europeu que mais cobra austeridade. Recentes eleições gregas colocaram no governo políticos que se mostram cansados do arrocho. A Alemanha cobra dos gregos? Bem, eles dizem que pagam, mas sob uma condição: de que a Alemanha pague à Grécia dívida de mais de 200 bilhões por conta da ocupação do pais na Segunda Guerra. Afora os roubos de tesouros artísticos gregos dos quais se exige devolução ou compensação financeira.

Assim rola o mundo nesta terça-feira chuvosa. Alemão é alemão, cara. Não é fácil negociar com tanta encrenca.

Blue Jasmine

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Estive para assistir ao filme de Woody Allen algumas vezes, mas recuei. Para ser franco o tema do filme me incomoda. A derrocada de qualquer pessoa, a perda total do que possui, o enfrentamento com realidade antes inimaginável, a impossível readaptação, o comprometimento psicológico, o desgaste emocional, enfim a rota de verdadeira despersonalização realmente não me atraem.

Cate Blanchet (Jasmine) venceu o Oscar por sua atuação em Blue Jasmine. Ela é o filme. A tragédia dessa mulher sofisticada que se perde na intrincada teia de situações que conduzem ao abismo é vivida pela atriz de modo fulgurante. Os flashbacks que a surpreendem, ora no fausto da riqueza, ora na decadência da pobreza, são plenos de impressionante vitalidade. A mulher que perdeu tudo prossegue a mesma de ontem, inconformada com o destino que ela mesmo acabou por determinar.

Jasmine é a dondoca que tem tudo e patrocina festas, circulando em meio às altas rodas nova-iorquinas. Seu marido, vivido pelo excelente Alec Baldwin, a cobre de galanteios e presentes, embora tenha o hábito de traí-la. Na verdade trata-se de um bem sucedido estelionatário cujos golpes bem aplicados permitem a ele a vida de milionário. O outro lado, da pobreza, passa-se na casa da irmã adotiva de Jasmine, papel representado pela atriz Sally Hawkins. Jasmine passa a morar sob o teto da irmã num ambiente de simplicidade para ela inaceitável. As brigas de Jasmine com o namorado da irmã, a quem acusa de ser grosseiro demais, dão o tom de uma convivência diária dolorosa. Por fim há o momento de esperança no qual Jasmine é bafejada pela oportunidade de voltar ao seu mundo através de um relacionamento com namorado rico. Entretanto, o passado a condena, a mentira não pode sobrevier e Jasmine é devolvida à casa da irmã.

Mas, trata-se de um filme de Woody Allen, daí que talvez se esperasse por um final feliz. Mestre da comédia Allen certamente optaria por um tipo de ajuste pelo menos razoável para uma história complexa e altamente emocional. Mas, Allen surpreende. Fiel ao drama e não à comédia, sabe que há momentos em que mesmo a ficção não pode se render à realidade sob pena de parecer inverossímil. Assim o diretor nos entrega a personagem, repetindo antigas falas ao vento, como se ainda fora a milionária de antes.

A opção pelo nadismo

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Assisti a um programa de TV no qual um grupo de mulheres discutia o nadismo. Para quem ainda não se inteirou nadismo é movimento cuja filosofia é reunir pessoas em praças com a intenção de não fazer nada durante certo período de tempo. O movimento foi criado pelo brasileiro Marcelo Bohrer com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos participantes.

No programa de TV as opiniões foram díspares dado que cada participante do grupo arrogou para si a ideia de simplesmente não fazer nada. Uma delas confessou ser incapaz de parar dadas suas constantes atribuições. Outra disse adorar ficar em casa, ligar a TV e assistir a filmes, sem fazer nada. Uma terceira associou o não fazer nada à necessidade de relaxamento sem o que não se pode levar a vida em frente.

Como todo mundo convivi com pessoas de todo tipo ao longo dessa minha já prolongada permanência no planeta. Encontrei gente extremante ativa, dessas que correm o tempo todo como se a elas tenha sido dada a missão de salvar o mundo. Presenciei caras extremamente parados, sossegados a ponto de causarem desespero nos outros. Lentos e rápidos, calmos e nervosos, neuróticos etc. Posso dizer que a vocação para o ócio sempre me pareceu superar os convites às atividades.

O meu problema? Bem. Acontece que a geração de meus pais e as que a eles antecederam viveram num mundo que, exceto em período de guerras, parece ter sido mais lento que o atual. Pessoas chegavam às idades mais avançadas e podiam gozar de relativo sossego. Parecia existir compromisso tácito de que ao se alcançar certo pórtico de envelhecimento adquiria-se direito a dias mais saudáveis com direito a bons momentos de ócio. Hoje não é assim. Na minha idade atual meu pai seguia a vidinha dele, mais ou menos sossegado. Quanto a mim trabalho tanto quanto aos meus 25 anos de idade. Pessoas esperam de mim a mesma prontidão, agilidade mental e competência. Sou um menino de cabelos esbranquiçados, embora cansado.

Além do que, meu caro, existe a maldita rotina. Acordar de manhã, fazer a higiene corporal e tomar o apressado café porque o tempo urge nada tem de prazeroso. Isso sem falar na escravidão aos meios eletrônicos de vez que se tornou impossível viver sem o computador. As notícias nos acompanham o tempo todo e envelhecem quase imediatamente, substituídas por novidades que procedem dos quatro cantos do mundo. Um sujeito é atropelado num país africano e, minutos depois, aí está a foto do acidente inusitado na primeira página de um site da internet. E há que se conferir os e-mails que chegam a todo tempo, a maioria deles spams contra os quais nenhum remédio é eficaz.

Assim, no mundo de hoje a ideia do nadismo é muito benvinda. Que tal mandar essa loucura toda às favas e gastar um tempinho não fazendo nada em companhia de nossos semelhantes? Que tal meditar, ainda que por poucos minutos, deixando- se de lado o convulso mundo que nos cerca?

Eu quero o ócio, meu direito ao ócio. Quero que se inclua na constituição um parágrafo que determine a obrigatoriedade ao ócio. Lei do ócio. Quero que se ponha um freio ao mundo que gira cada vez mais depressa e nos reduz a participantes de uma peça de horrores mal dirigida.

Que cresça e se espalhe o nadismo!

Escrito por Ayrton Marcondes

2 abril, 2015 às 11:38 am

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Dia da mentira

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No lugarejo de uma rua só havia um rapazote que atendia pela alcunha de “Coelho”. O Coelho não fazia nada, que se saiba nunca trabalhou. Errava pela rua em idas e vindas ao acaso, parando aqui e acolá para dois dedos de prosa. Sempre mal vestido, sujo mesmo, não regulava o hábito de cortar as unhas. Eram compridas as unhas do Coelho fato que fazia dele moleque temido caso houvesse alguma briga.

Da família do Coelho pouco se sabia. Tinha ele um irmão, o “Antônio Coruja”. Esse Coruja merecera o apelido por ser um sujeito soturno cujos olhos grandes demais faziam lembrar a ave noturna. Mas, o Coruja era bem mais composto que o irmão. Ajudava na construção, ora prestava pequenos serviços. Não destoava do grupo local de pessoas pelas quais era bem recebido.

Certo dia o Coelho correu de fora a fora da única rua, avisando que Frederico, o Velho, proprietário da loja de roupas, estava à morte porque engolira a dentadura. O Velho sufocara-se ao colocá-la na boca, de manhãzinha, logo depois de acordar. O Coelho parava de porta em porta e avisava sobre a morte iminente do Velho.

Dado o alarme, as pessoas acorreram à frente da casa do Velho em busca de notícias. Não demorou muito para que o Velho surgisse à janela, muito bem de saúde, e desfizesse a mentira do rapazote. Só então as pessoas se deram conta de que estava-se em pleno 1º de abril.

Consta que o “Dia da mentira” surgiu na França. No século XVI o novo era festejado em 25 de março e as festas só terminavam no 1º de abril. Quando da adoção do Calendário Gregoriano o ano novo passou a ser comemorado no dia 1º de janeiro. Entretanto, alguns franceses continuaram a seguir o antigo calendário pelo que gerou-se o hábito de enviar a eles presentes estranhos e convites para festas que não aconteceriam. Nasceu assim o “Dia da Mentira”.

Hoje vive-se num prolongado “Dia da mentira” que parece durar o ano todo. Diariamente recebemos notícias tenebrosas sobre a corrupção no país seguidas de negativas, obviamente mentirosas. Ninguém sabe de nada, ninguém participou de nada etc. Bilhões são desviados sem que existam responsáveis pelos desvios.

Mentir a granel, eis a nova fase do novo e prodigioso “Dia da mentira”.

Colecionadores

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Ouvi no rádio do carro papo sobre colecionadores. Um dos entrevistados é proprietário de 6 milhões de LPs. Entretanto, não se considera um colecionador. Define-se mais como acumulador. Mas, então, o que é um colecionador? Na verdade não se chegou a consenso. Colecionador seria a pessoa que opta por linha de coisas de que gosta muito e se dá ao trabalho de preencher as lacunas de sua coleção. O colecionador garimpa no mercado partes faltantes de sua coleção. Tudo em ordem e progresso. Não são colecionadores aqueles que trazem para casa um pouco de tudo e mantêm seus pertences de forma desorganizada.

Fui sempre um mau colecionador se é que cheguei, em algum momento, a fazer jus ao título. Quando menino o que havia para se colecionar eram figurinhas. Os famosos álbuns faziam a alegria da criançada. Embora existissem álbuns de vários temas, o preferido era o de futebol. Em cada página onze espaços a serem preenchidos com as figurinhas que se compravam em pacotinhos. O diabo eram as repetidas que serviam ao mercado da troca. Obviamente, as figurinhas se dividiam em fáceis e difíceis. Sempre existia uma delas dita “a mais difícil do álbum”. Grande parte dos colecionadores não chegava a completar os álbuns, empacados que ficavam nas difíceis. Mas, quem conseguia completar fazia jus a um prêmio oferecido pelas editoras de figurinhas.

Que me lembre, nunca consegui completar um álbum de vez que minhas verbas para comprar figurinhas eram mais que curtas. De modo que passava horas junto com outros moleques, trocando. Poucas coisas na vida superam a satisfação de um menino ao conseguir uma figurinha difícil que faltava no seu álbum.

Colecionei, também gibis, que me eram trazidos por um irmão mais velho. Chaguei a ter uma coleção grande do Pato Donald, número a número. Já homem e trabalhando descobri no Parque D. Pedro uma banca na qual encontrei - e comprei - coleções inteiras de gibis do Mandrake, do Fantasma e do Flash Gordon. Infelizmente numa dessas viradas da vida acabei me apartando desses gibis coisa de que me arrependo muito.

Tenho um parente grande colecionador de gibis que os traz trancados a sete chaves. Separou-se da mulher, de todo mundo, mas não dos gibis. Hoje idoso mantém a sua coleção com a mesma vibração dos tempos de rapaz. Línguas maldosas falam dele como alguém que não cresceu. Bobagem. Só quem não conhece os prazeres experimentados ao se conseguir e manter uma coleção podem rir de algo tão sensível.

Deixei de colecionar coisas quando as exigências da vida diária soterraram meus impulsos de menino. Infelizmente. Acredito piamente que toda pessoa abrigue me seu peito um colecionador, tantas vezes não identificado. Colecionar é algo saudável que permite alegria e descontração nessa vida tão atribulada.

Acidente provocado

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Autoridades francesas divulgam o resultado da análise da caixa-preta na qual se ouve o que aconteceu nos derradeiros minutos, antes da colisão do avião com as montanhas.

Segundo as autoridades o piloto saíra da cabine para usar o banheiro e, ao retornar, achou a porta trancada. Sozinho na cabine o copiloto não abriu a porta embora pudesse ouvir a tentativa do piloto em arrombá-la. Ato continuo provocou a descida do avião até a altura mínima possível, levando-o a chocar-se com as montanhas dos Alpes.

A divulgação dessa notícia estarreceu o mundo. Por que uma pessoa na qual se deposita toda a confiança decidiu morrer e levar consigo 150 de seus semelhantes? Loucura momentânea? Suicídio premeditado? Vingança? Terrorismo? Crise depressiva?

O fato é que a notícia encheu de pasmo pessoas já imensamente constrangidas por acidente tão trágico. Passou-se a falar em assassinatos. Os pais do copiloto que estavam junto com os familiares dos passageiros desaparecidos separaram-se do grupo. A polícia foi ao apartamento onde vivia o copiloto em busca de sinais que explicassem a conduta dele.

Até agora nada para um ato tido como inexplicável. A companhia aérea veio a público para esclarecer que o copiloto passara por todos os testes e estava apto para a sua função. Pessoas que conheciam o copiloto afirmam tratar-se de um bom sujeito, cortês, do qual jamais poderiam suspeitar. Então por que?

O terrível acidente com o Boeing da Germanwings talvez permaneça como fato absurdo para o qual nenhuma razão parecerá satisfatória. Excluiu-se a possibilidade de o copiloto ter sido vitimado por mal súbito dado que a respiração dele manteve-se normal até o momento da colisão.

É de se imaginar o que terá se passado na cabeça desse homem nos momentos em que pilotava para sua morte e a dos passageiros do voo. Queria, talvez, ele ser lembrado, para sempre, pela escolha de uma tragédia no momento em que decidiu pôr fim à própria vida? Que tipo de distúrbio mental levou esse homem a ato extremo de tão grande significação pública? Provocar deliberadamente dor nos familiares desesperados pela perda de entes queridos de forma tão inesperada e absurda?

Quando ocupamos um assento em aeronaves depositamos as nossas vidas nas mãos das pessoas que a comandam. Trata-se de uma relação de confiança que julgamos inquebrantável. Impossível supor-se que do outro lado, na cabine de comando, exista alguém disposto a rompê-la.

Confesso: amo o Brasil

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Nesses dias de imensa turbulência e desencanto ouço falar sobre gente que se prepara para sair do país. Um conhecido gritou: chega! O cara está fulo da vida porque seu negócio emperra, a tributação é exagerada, o dólar dispara e ninguém sabe como será o amanhã. A dívida dele é em dólares e já teme não pagar os fornecedores no exterior. Além do que a receita diminui dada a retração da economia. Pois esse conhecido tem as suas reservas, pode-se dizer que está bem de vida, daí que está de malas prontas para viver em Miami com a família.

Há quem sonhe em cair fora, mas simplesmente não tem como. Vejo gente trabalhando sem vontade, sem estímulo para fazer as coisas com empenho porque o dinheiro do começo do mês nem dá para tapar o buraco deixado no mês anterior. Além do que os juros bancários estão altos demais, desproporcionais aos vencimentos. Dívidas atrasadas em bancos implementam-se com juros sobre juros e daqui a pouco a dívida se torna estratosférica.

Nos jornais leem-se diariamente tentativas de explicar a revolta do povo que recentemente saiu às ruas para protestar contra o governo. Falam e falam, mas todo mundo sabe que o problema está nos bolsos cada vez mais vazios. Descontos são infalíveis nos holerites, mas o governo que arrecada nem de longe cumpre a parte dele que é a de devolver bons serviços e segurança à população.

Cada brasileiro leva na alma, hoje em dia, o peso de viver num pais onde tudo parece ter sido contaminado pela corrupção. É bem o caso do que se diz nas ruas: esses caras roubam bilhões e querem que nós paguemos a conta. De fato é sobre o povo que recaem as dificuldades dos ajustes econômicos, da reforma tributária etc. Vive-se sob o império da propina, palavra que passa a fazer parte do cotidiano de forma arrasadora. É de se ver a naturalidade como bandidos que optam pela tal delação premiada relatam manobras envolvendo milhões de reais. Falam como se desviar dinheiro fosse a coisa mais natural do mundo. E a turma na rua comendo o pão que o diabo amassou, dando duro em troca de uns míseros reais.

Pelo que a gente se pergunta se a humanidade chegará algum dia a descobrir um sistema político realmente eficaz ou que pelo menos se aproxime disso. Socialismo, liberalismo, comunismo, democracia, presidencialismo, parlamentarismo, ditaduras etc não passam de sistemas que, na prática, não funcionam direito. Além do que, convenhamos, a tal igualde social é meta que nunca será atingida pelo menos nesse mundo.

Pois é. A afirmação de que o homem é um animal político não tem logrado maior sorte por aqui dada a conhecida precariedade da classe política em atividade. No momento o Legislativo encosta na parede o Executivo cujas forças se exaurem dia-a-dia. Ninguém sabe no que isso vai dar. No exterior olha-se o Brasil como país das negociatas. A Petrobrás afunda-se a olhos vistos encampada que foi pela corrupção. Outro dia perguntaram a uma jornalista que pedido faria caso pudesse. Ela respondeu: que devolvam a Petrobrás ao Brasil.

Daí que me vi perguntando se, caso pudesse, sairia do Brasil. Rapaz, não posso. Eu não conseguiria viver noutro lugar do mundo, morreria de saudades da minha querida terra, onde nasci e quero morrer. Já passei uns tempinhos no exterior, tudo muito bonito, direitinho, mas não dá. O fato é que pertenço a essa confusão. Adoro esse Oiapoque ao Chuí, essa nação continental, esse povo mestiço. Os batuques me empolgam, o frevo me emociona, o carnaval nem se diz. O clima pavorosamente tropical é um bálsamo quando penso naqueles montanhas de neve nas ruas e verões curtos do hemisfério norte. Que dizer da natureza deslumbrante, da vida animal, dos rios, das florestas e - por que não - das nossas cidades?

Vivendo no exterior eu não passaria de um exilado de minha parte. Lembro-me sempre do sofrimento do Juscelino, apartado de sua terra, desesperado. De outros exilados também.

Então me cabe confessar que de fato amo o Brasil. Daqui não saio, daqui ninguém me tira.

Angelina Jolie

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Não há como não admirar o enfrentamento da grande atriz com o câncer. Ela perdeu a mãe, a avó e uma tia com a doença. A mãe faleceu aos 56 anos de câncer de ovário.

Há pouco tempo Angelina submeteu-se à mastectomia total, retirando as duas mamas. Agora submeteu-se à retirada dos ovários dado ter sido detectada a possibilidade de câncer neles. Angelina brinca, falando que seus filhos nunca poderão dizer que a mãe morreu de câncer de ovário.

Há mais de quarenta anos minha avó foi vitimada pela doença. Não se dispunham, naquela época, dos recursos terapêuticos hoje disponíveis. Realizada a mastectomia no Hospital do Câncer, seguiu-se a radioterapia da qual resultou queimadura extremamente dolorosa. Depois disso minha avó sobreviveu durante alguns meses com intenso sofrimento.

Atualmente, meios de diagnóstico, medicações e recursos cirúrgicos radioterápicos têm aliviado o sofrimento e proporcionado a cura em muitos casos. Detecção precoce da doença é fundamental para que se mantenham esperança e efetivem-se curas.

Infelizmente grande parte da população não têm acesso aos recursos de ponta hoje disponíveis. Atrasos no diagnóstico da doença e as dificuldades em receber tratamento adequado comprometem os prognósticos.

Depois que minha avó faleceu minha tia - filha dela - nunca mais pronunciou a palavra “câncer”. Referia-se à causa da morte de sua mãe como “aquela doença”. Minha tia tinha horror de vir a ser diagnosticada com a doença. Acabou morrendo após ser lançada para fora do carro durante um acidente de tráfego.

Há que se elogiar a divulgação feita por Angelina Jolie de seu problema e tratamento. Angelina estimula as mulheres a cuidar de suas mamas e precaver-se em relação ao câncer.