Arquivo para ‘Cotidiano’ Category
Acidente aéreo
Caiu nesta manhã um avião da companhia alemã Germanwings do grupo Lufthansa. O acidente aéreo aconteceu sobre os Alpes e os destroços já foram localizados numa altitude de 2000 metros. A bordo viajavam 154 passageiros e seis tripulantes. Não há possibilidade de existirem sobreviventes. O voo partira de Barcelona em direção a Dusseldorf.
Circulam na internet fotos de familiares dos passageiros chegando aos aeroportos em busca de notícias. Há nas faces dessas pessoas um horror indescritível. O espanto diante do absurdo e instantâneo desaparecimento de pessoas queridas estampa-se nos semblantes. Torna-se inacreditável que entes queridos tenham desaparecido inesperadamente.
Sempre que estou em aviões imagino no que viria a ser a catástrofe de um acidente. Como seriam aqueles minutos nos quais nada se pode fazer e o fim é iminente? Por que tantas pessoas reunidas ao acaso num voo fadaram-se a morrer no mesmo instante?
De todas as descrições de dor após acidentes aéreos guardei a de uma mãe que perdeu dois filhos quando um avião não parou na pista de Congonhas e colidiu com um prédio, incendiando-se. Ocorrido o acidente as redes de televisão imediatamente iniciaram a cobertura, trazendo imagens do prédio em chamas. Aquela mãe relataria, tempos depois, o desespero de olhar para as chamas onde os corpos de seus filhos estavam sendo queimados. Horror indescritível, além do que as forças humanas podem suportar.
Há nos familiares que chegam agora aos aeroportos de Barcelona e Dusseldorf o estranhamento diante da exposição frontal à precariedade da vida. A realidade terrível da morte escancara o abismo entre o viver e o deixar de ser e isso parece incompreensível. A morte não anunciada, súbita e inesperada carrega-se de dor incontrolável.
Tenho medo de aviões, sim senhor. Não adianta me garantirem que trata-se do veículo mais seguro do mundo e apresentarem estatísticas que demonstram a segurança dos voos. Quando um acidente acontece a confiança que temos em aeronaves estremece. Ainda bem que momentaneamente.
O maníaco da seringa
Preso semana passada em Fortaleza o “maníaco da seringa” cuja prática é a de abordar mulheres e feri-las com a agulha de uma seringa. Essa é a segunda vez em que o Seringa é preso. Na vez anterior a seringa não estava contaminada e o maníaco ficou apenas 5 dias recluso, sendo depois liberado por se tratar de ferimentos considerados leves.
Desta vez a seringa foi apreendida e está sob perícia para se saber se teria conteúdo perigoso. O maior receio é o de sangue contaminado por vírus da AIDS, caso em que as mulheres feridas estariam predispostas a adquirir a doença.
Ano passado populações de cidades do interior do Piauí assustaram-se com o boato de um maníaco da seringa que estaria contaminando mulheres com o vírus da AIDS. Dizia-se que um foragido da polícia circulava nas cidades, ferindo mulheres. O boato foi espalhado através das redes sociais, obrigando as autoridades a desmentir a presença de algum maníaco da seringa na região. De fato nenhum caso de agressão desse tipo foi constatado.
Sejam lá quais forem as razões de geração de maníacos, o fato é que trata-se de pessoas perigosas. Abusos e traumas sofridos podem levar a distúrbios de personalidade que em muitos casos aflora na prática de atos até mesmo hediondos. No Brasil há casos que se tornaram famosos de maníacos como o do “Maníaco do Parque”, condenado a 271 anos de reclusão por estrupo e morte de mulheres. Aliás, mulheres parecem ser vítima preferidas de maníacos dado a maior facilidade em subjugá-las.
Maníacos dificilmente se regeneram, havendo casos para os quais não há solução. Champinha que torturou e matou um casal de jovens acampados era menor de idade na ocasião dos crimes. Hoje em dia o marginal que teria direito à liberdade continua recluso porque é certo que, caso volte às ruas, tornará ao crime.
Pode parecer crime menor um sujeito abordar mulheres e feri-las com uma agulha. Não é. Faz-se necessário tirá-lo de circulação. Resta-nos torcer para que as seringas utilizadas por ele não estivessem infectadas.
Quem quer pode…
… quem não quer manda. Se nenhuma das duas hipóteses servir ao problema em questão, o jeito é …
Não sei quanto a você, mas já me aproximo da saturação nesse imenso rolo político, econômico e social que estarrece a pátria verde-amarela. Nenhuma solução à vista. Ninguém diz algo que realmente encaminhe o imbróglio para os lados da solução. Cada um tem a sua verdade e a verdade de cada um parece não servir aos outros. Afora a teia de mentiras, negações, corrupção inimaginável, descalabro político e falta de governança.
Fala o Brasil: onde foi que eu errei? Não terei entregado o meu vasto território a um povo que não o mereceria? Será que o meu pecado vem das origens, desde o descobrimento? Aquele Cabral que me deflorou era mesmo o cara certo?
Ninguém sabe. Na reunião anual das terras do mundo o Brasil se vê em maus lençóis. Não tem como se explicar. Chega a ouvir gracinhas de minúsculas terras africanas que aproveitam a desgraça alheia para se vangloriarem. Terra por terra o Brasil está em desvantagem. Coisa intolerável para um território quase continental.
Nós que andamos sobre esta terra, nós que a pisamos não temos feito a nossa parte. Pois o que hoje está em falta no país é aquele tal de estadista. Estadista! O tal sujeito que quando quer pode, quando não quer sabe mandar. O tal sujeito com olhos que veem léguas adiante e sabe muito bem o que quer.
A crise do Brasil só se resolve tendo à frente um verdadeiro estadista.
Navio sem comando naufraga na primeira tempestade.
A beleza das mulheres
Atriz muito conhecida, durante entrevista perguntou-se: quanto tempo ainda tenho? Não se referia ela à duração da vida; perguntava-se sobre a perenidade de sua beleza. Até quando ao entrar em algum lugar reparariam nela? Até quando despertaria atenção graças aos seus atributos físicos?
Ouvi de uma mulher que o rito de passagem para a velhice é mais difícil para a mulher. Segundo ela trata-se de mudança de estágio, de patamar. A aceitação do envelhecimento não seria coisa pacífica, principalmente quando a mulher é bonita, atraente etc.
Dirão que existem coisas mais importantes na vida; que o envelhecimento é fato previsto do qual ninguém escapa; que mesmo as mais belas mulheres devem valorizar seus intelectos não se atendo apenas ao aspecto físico. E assim por diante.
Sinceramente, não sei bem o que dizer. Mas, não deixo de dar alguma razão à atriz. É ela mulher de rara beleza que agora começa a envelhecer. Admirada, conhecida por suas posições firmes, intelectualmente muito dotada, realizadora, enfim vencedora. De modo algum parece ser alguém preocupada com a velhice, entretanto talvez a ela pese o desconforto da comprometimento progressivo da beleza. Ao bela face que encontra diariamente no espelho vai mudando devagar, mas mudando.
Há quem diga que homens têm de fato alguma vantagem nisso. Será? Volto ao caso do homem que embarcou num cruzeiro marítimo e logo recebeu o telefonema de uma bela mulher conhecida dele. Estava ela sozinha e ele também. O homem animou-se pela sorte de se dar bem e logo no primeiro dia. Marcaram encontro no jantar, ambos felizes.
Relata o homem ter recebido em sua mesa uma senhora, bastante envelhecida. Guardara dela memória de outros tempos. Esquecera-se dos anos passados daí a fuga da aventura imaginada.
Li de uma articulista que ela tem vontade de xingar pessoas que falam bem do envelhecimento, na opinião dela uma droga. Cada pessoa convive a seu modo com o tempo que passa. Para mim a velhice não chega a ser um fardo, embora vez ou outra pese dada a mesmice da qual não se pode fugir.
Fim de novelas
Disse a um amigo que as novelas têm fins semelhantes. Os tradicionais vilões são desmascarados e o bem acaba suplantando o mal. Há casos em que malandros terminam com pequenas vantagens, mas não passa disso. Isso quando no capítulo final casais que passaram por toda sorte de vicissitudes finalmente têm suas cerimônias religiosas sob a benção do padre e dos céus.
O amigo ponderou que as novelas copiam a vida. Também os casos reais terminam do mesmo jeito. No fim das contas as pessoas se ajeitam, a lei permite que as coisas andem mais ou menos nos trilhos.
Na verdade não concordo com a visão do amigo. Talvez ela fosse válida tempos atrás. Mas, hoje em dia? Acho que não. A realidade tornou-se escandalosa demais, os malfeitos são praticados à luz do dia e em níveis diferentes. Você imaginaria no passado um sujeito declarar numa CPI que devolveu 182 milhões de reais que recebera como propina em negócios escusos da Petrobrás?182 milhões! E disse isso de cara limpa, sem nenhuma vergonha, como se um “desviozinho” desses fosse a coisa mais natural do mundo.
A novela real demonstra que aqui, fora das telinhas, o mal vai vencendo o bem e de goleada. Para quem não concorda basta prestar um pouquinho mais de atenção nos noticiários. Onde as boas notícias? É só crime, desgraças, safadezas, espoliação e por aí vai.
De modo que os tais vilões das novelas precisam ter seus perfis melhorados. Hoje em dia aqueles que se dedicam a prejudicar casos amorosos, revoltados padronizados, bandidinhos etc, estão fora de compasso. Atente-se para o fato de que os vilões reais são muito mais engenhosos, mais venenosos e capazes de causar maiores estragos que os das novelas.
Talvez por isso muitas novelas tenham baixos índices de audiência. Quando a realidade supera a ficção urge repensar a trama. Aliás, que bom seria se pudéssemos melhorar um pouco a trama da realidade.
Esqueceu-se?
Falam tanto sobre Alzheimer que a gente fica preocupado quando se esquece de alguma coisa. Lembrar-se de coisas distantes e esquecer-se de coisas recentes já não é bom sinal, indicando arteriosclerose. Acontece com o velhos. Agora, perder progressivamente a memória, apagar tudo, deixar de ser quem você é, extinguir sua personalidade, alienar-se por completo de si e do que tem à sua volta, isso é Alzheimer.
Tempos atrás fiquei impressionado com a entrevista do brasilianista norte-americano, Thomas Skidmore, dizendo ter Alzheimer. Isso foi há dois anos. Na época o escritor morava num discreto asilo no interior e escrevia suas memórias antes que se apagassem.
Assisti ao filme “Amor” com Jean-Louis Trintignant (Georges) e Emmanuelle Rivae (Anne), direção de Michael Haneke. Georges e Anne formam um casal de idosos sofisticados que é surpreendido pela doença. Anne começa por se esquecer de pequenas coisas e o mal evolui. Trata-se de um retrato terrível sobre o fim, quando nada mais resta a fazer exceto sobreviver às custas de muito sofrimento. Anne deixa de ser ela para desespero de Georges que cuida dela. Tudo se passa dentro do apartamento onde moram. A mesmice dos dias, a tragédia anunciada, a prisão a um mundo que se desfaz devagar e progressivamente, fazem do filme um duro depoimento sofre o sofrimento e a precariedade da vida.
Também assisti a “Para sempre Alice” que traz Julianne Moore no papel da Dra. Alice Howland renomada professora de linguística que descobre ter Alzheimer. Alice começa por esquecer palavras, mas a doença evolui até a perda total de identidade. Julianne Moore interpreta com brilhantismo o apagar das luzes de uma formidável memória e as implicações familiares da evolução da doença. John, o marido de Alice interpretado por Alec Baldwin, acompanha o problema da mulher até que suas necessidades profissionais o obrigam a afastar-se. O Alzheimer é um isolamento que se impõe ao doente que deixa de se comunicar e torna-se completamente dependente. Moore alcança transferir ao espectador a profundidade de seu drama, a perda progressiva e diária do conhecimento. Dirigido por Richard Glatzer “Para sempre Alice” foi contemplado com o Oscar de melhor atriz para Julianne Moore.
Os casos de Alzheimer nos levam a refletir sobre os avanços da medicina e o fato de algumas doenças permanecerem como desafio quanto à possibilidade de cura. Dispõem-se, atualmente, de avançados recursos de diagnóstico que permitem descobrir a natureza de doenças, mas para algumas delas não se observam passos seguros em direção à cura apesar do empenho em pesquisas.
Tem-se falado muito em Alzheimer nos últimos tempos. A doença surge como um fantasma a assombrar as pessoas que envelhecem, temerosas de que venham a ser afetadas por ela. Confesso que assistir aos dois filmes anteriormente citados, embora sejam eles excelentes, serviu para que eu me interrogasse quanto à possibilidade de vir a ter a doença. Repassei na memória os meus ancestrais, perguntando-me se algum deles não teria tido o problema. Como acontece nas famílias em geral, na minha encontrei toda sorte de doenças e causas de morte, felizmente nenhum caso de Alzheimer. Não posso negar que fiquei bastante aliviado ao constatar esse fato.
Do lado de lá
Não adianta: palcos e tablados configuram a separação de dois mundos. Aqui você que pode ser ator, professor, palestrante, cantor ou seja lá o que for. Do lado de lá o público.
Essa entidade genericamente chamada de público nunca é igual. Mesmo que dia após dia sejam as mesmas pessoas, nos mesmos lugares. As pessoas mudam, sofrem pressões do cotidiano etc. O homem que riria amanhã de um piada talvez não ache graça nela hoje: questão de momento, disposição, reflexão.
Fiz inúmeras palestras e dei milhares de aulas. No tablado fazia o tipo mais irreverente, apelando para alguns comentários jocosos que serviam para amenizar a rudeza de assuntos necessariamente técnicos. Dava certo.
Acontecia, vez ou outra, algum incidente. Se há uma coisa que aprendi nessa atividade foi ter muito cuidado ao me dirigir a uma pessoa do público. Pode não dar certo. O sujeito pode ser um cara de maus bofes ou estar num dia daqueles.
Certa ocasião fazia eu palestra em faculdade do nordeste quando alguém me perguntou sobre o darwinismo. Pus-me a falar sobre Darwin e sua teoria sendo, de repente, interrompido por um homem que se ergueu do assento. Aos gritos ele me acusava de defender teoria absurda, contrária aos ensinamentos bíblicos. Dizendo-se um Testemunha de Jeová protestava ele por divulgar coisa tão indecente, utópica etc.
Ora, o homem de quem falo estava mesmo transtornado. Tanto que na medida em que gritava vinha na minha direção. Só escapei de alguns prováveis sopapos porque o homem foi a tempo contido.
Escrevo sobre isso porque li a opinião de atores sobre coisas que os atrapalham durante suas encenações. No geral todos reclamam do zunzum de conversas, barulhos ao ingerir comidas, movimentos de pessoas que se levantam para ir ao banheiro, toques de telefones etc. Um dos atores confessou aceitar praticamente tudo, exceto alguém na primeira fila balançando as pernas.
Nunca me esqueci de uma japonesinha, minha aluna, que tinha o dom de me tirar do sério. Era ela uma bonequinha, bonita, interessante e tudo o mais. Acontecia, porém, ser viciada em chicletes de bola. Sentada na primeira fila eis que do nada tirava o maldito chiclete da bolsa e o metia na boca. Você não sabe como a menina sabia mascar aqueles chicletes. Ela tinha jeito para a coisa. Fazer bolas não fazia porque sabia que ia dar problema quando estourassem. Mas, quanto a mascar…
Nunca me esquecerei da boca - e dos dentes - da japonesinha que me roubava a concentração, obrigando-me a pedir que parasse com os chicletes. Tenho a impressão de que ela fazia aquilo de propósito, só para me irritar. Certa vez surpreendi sorrisos nas faces de colegas dela, divertindo-se com o meu agastamento.
Pois é, era uma japonesinha tão bonitinha, uma boneca.
Panelaço
Ontem li Ferreira Gullar desculpando-se por tornar sempre ao assunto política brasileira. Justificava-se o poeta, dizendo ser impossível ignorar o que se passa no país.
Não dá mesmo. Você até pode fazer força para se alienar, mas aí para no posto para abastecer o carro, faz compras no supermercado, paga o plano de saúde e a escola do filho etc. A realidade bate à porta, melhor dizendo, no bolso. E garante-se que as coisas tendem a piorar e muito.
Enquanto isso a Lava Jato vai comendo pelas beiradas, correndo em direção ao centro. A tal lista do Janot deixou a classe política de joelhos. Um bando de acusados de se locupletar com propinas cedidas por empreiteiras teve seus nomes acolhidos no Supremo Tribunal Federal. Seguem-se, agora, os inquéritos.
Os acusados protestam. O vice-governador da Bahia produziu a seguinte pérola: “estou cagando e andando, no bom português, na cabeça desses cornos todos”. Depois desculpou-se da ofensa à sociedade. No fundo todo mundo está mesmo é tremendo. Ouvi no rádio que existem provas contundentes. No que vai dar só saberemos no futuro.
No momento ninguém fala bem do Brasil. Dá tristeza ver o que se publica sobre o país no exterior. Pintam o pior dos cenários. O escândalo da Petrobrás feriu fundo a credibilidade do governo e do país.
E o governo, atônito, se emprega em negar o tamanho da crise. Culpa a economia exterior e tudo o que puder ser apontado como fator desencadeante do que está aí. Enfim, não se assume.
Por tudo isso as pessoas protestaram ontem durante a fala da presidente na televisão. Panelaço. Viramos a Argentina.
O que assusta é a ausência de perspectiva. Não se acredita que da noite para o dia o trem volte aos trilhos. O Brasil exuberante encontra sua imagem algo deformado no espelho da história.
Vai passar, temos que acreditar.
De apresentações e shows
Sinal de velhice ou não o fato é que vai-se perdendo aos poucos a paciência de comparecer a shows e apresentações. Hoje em dia me pelo de medo de estar presente em realizações como o “Rock in Rio”, o “Lollapalooza” etc. Tempos atrás, numa das vindas de Paul MacCartney ao Brasil, estive para me abalar até o show dele num estádio. Fiquei a meio caminho. Mas, me arrependo de muitas coisas às quais deveria ter comparecido em geral descartas pala preguiça etc.
Bem, não é só preguiça. Também conta o desconforto e certas atitudes, digamos espaçosas demais, de parte do público. Certa vez fui a um clube/bar de jazz, em São Paulo, assistir a uma apresentação de John Pizzarelli. O cantor estava muito em voga naquele momento graças a uma regravação de músicas dos Beatles. Aconteceu que pessoas presentes passaram a acompanhar as músicas cantadas, batendo com talheres nos copos. Além do que o falatório era geral. Mas, o pior é que a parte superior da casa havia sido alugada para um encontro de executivos de uma empresa para quem o show musical não interessava. Então, a certa altura, o bom Pizzarelli avisou que passaria a cantar músicas para dançar e convidou os presentes a se comportarem como lhes aprouvesse. Foi assim. Fui embora.
Não vou ficar aqui botando o dedo na cara dos outros, reclamando. Quem sou eu primo? Mas, não é o que tantas vezes se passa no cinema? O casal sentado na fila de trás que conversa tão espontaneamente é mesmo um saco. Isso sem falar no barulho das pipocas e outras coisinhas que incomodam.
Muito bem, dirão que se trata de muita exigência. Pode até ser. Mas, por que em outros países o público se comporta de modo tão exemplar? Se você fizer algum barulho durante as apresentações no Village Vanguard, certamente será convidado a deixar o lugar. Tudo na boa paz.
Mas, há casos opostos. Falo sobre esse assunto porque li que o Moraes Moreia e o filho dele estrão se apresentando em São Paulo no fim de semana. Grande Moraes Moreira. Nos anos 70 do século passado os Novos Baianos fizeram furor. Tanto que numa noite os membros do grupo, então pouco conhecidos, apresentaram-se no Teatro Municipal, em São Paulo.
Fiz parte da pequena plateia que compareceu ao espetáculo do Municipal. O diabo foi que aquela música jamais poderia ser adaptada o local onde foi apresentada. O som era de volume capaz de furar os tímpanos. De modo que as pessoas foram saindo, saindo…
Pelo jeito o dia é para falar sobre o que não deu certo. Pois termino dizendo que tive, ao longo da vida, a felicidade de assistir a apresentações memoráveis, tanto aqui como no exterior. Vi e ouvi de perto grandes nomes da música brasileira e expoentes do jazz. Pelo que digo a quem tem fôlego e saúde: compareçam a shows, vejam o que puderem porque a vida é uma só e o passado não tem volta.
Verdadeiras e falsas
Ser brasileiro nunca foi fácil. Atribui-se a Tom Jobim a frase “o Brasil não é para iniciantes”. Não é mesmo. Afinal, como decidir de que lado estamos? O que é verdadeiro e o que é falso nessa montanha de notícias que nos chega diariamente? Quem é honesto e quem é corrupto nessa história toda? Devemos torcer pelos mocinhos ou pelos bandidos embora nunca saibamos ao certo quem é quem nesse roteiro de surpresas infindáveis?
Se os presidentes da Câmara e do Senado também estão na lista da Lava Jato em que devemos pensar? Não foi o presidente do Senado que ontem devolveu ao governo a Medida Provisória que geraria novos impostos sobre a folha de pagamento das empresas? Não foi ele que foi cumprimentado até por opositores pelo ato considerado de grande discernimento porque demonstrava a independência da Casa em relação ao governo? E ele, também, na Lava jato? Não é confuso?
E o tal juiz que bloqueou todos os bens do Eike Batista e foi flagrado dirigindo um carro de luxo do empresário? E o piano do empresário na casa do vizinho do juiz? Mas, não é que os juízes estão aí para fazer cumprir a lei? Como entender?
Que dizer do tal Zóio Verde bandido com patrimônio de 100 milhões que foi preso há alguns anos por homicídio e saiu por bom comportamento para não voltar à prisão? Que depois foi novamente preso e libertado por erro do Judiciário? O tal Zóio movimenta 50 toneladas de cocaína e desapareceu, sumiu, ninguém sabe para onde ele foi, dizem que está na Bolívia. Como entender que o homem não ficou na cadeia?
E agora o Battisti que condenado a prisão perpétua na Itália vive livre e solto no Brasil dado que o então presidente Lula optou pela não extradição? E agora uma juíza manda deportar o condenado? Afinal é para ficar ou não?
Rapaz, que confusão. Enquanto isso continuamos a ensinar às crianças sobre o certo e o errado, bons modos etc. Chamamos a isso de educação. Mas, como será quando elas crescerem e se encontrarem com realidade que não bate com aquilo que aprenderam?
Pois é, estou confuso.