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Festas de estudantes

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Um estudante de engenharia morreu em festa de alunos de universidade. O rapaz, cardíaco, participava de competição de consumo de doses de vodca. Ele bebeu 25 doses, sofreu infarto do miocárdio e faleceu. Outros participantes da prova estão internados, em coma.

25 doses de vodca (cada uma servida num copinho de café) é bebida suficiente para fazer estragos e mesmo causar mortes. Na competição o vencedor seria aquele capaz de beber mais e continuar em pé.

Bebedeiras de estudantes são comuns. A rapaziada se reúne e perde-se a noção de quantidades. Vai-se bebendo o que aparecer pela frente. Lembro-me de uma cervejada na qual o teste era conseguir ingerir goles de chope sem parar. O vencedor seria quem tomasse a maior quantidade de uma vez só. Até hoje não sei como consegui chegar em casa. Olhe que cheguei a tomar uns bons canecos dos grandes, mas nem de longe me aproximei dos recordes dos caras bons de copo.

Bebedeira é coisa que tem tudo pra não dar certo. Festas de estudantes quase sempre acabam gerando pelo menos uma notícia negativa. Lembram-se do estudante que despareceu numa festa e seu corpo foi encontrado, dias depois, numa lagoa? E os casos de estupro como o dessa universitária que agora se diz perseguida pelos colegas?

Mas, beber como se diz “faz parte”. Bebe-se muito na juventude, embora eu tenha conhecido colegas que não punham uma gota de álcool na boca. Não sei se ainda é assim, mas no tempo em que frequentei faculdade o problema era a qualidade da bebida. Bebia-se qualquer coisa. A agravante era que sendo um bando de “duros”, sem grana, consumia-se pinga que era bem baratinha. E conhaque. E cerveja.

No caso do rapaz que morreu e seus colegas em coma, imagino que tenham consumido vodcas baratas. Não sei se a qualidade da vodca teria influência no desfecho dos casos. O que sei por experiência própria é que bebida ruim significa grandes ressacas.

Sabe-se que o consumo de doses elevadas de bebidas destiladas como vodca e uísque podem causar danos ao músculo do coração. O fígado também é afetado, resultando em vômitos e mal-estar. Por isso, deve-se evitar consumo elevado de bebidas alcoólicas e sempre alterná-las com a ingestão de água e sucos.

Segundo dados o alcoolismo é a doença que mais mata no mundo. O álcool é a droga mais preferida dos brasileiros, estando ligado a efeitos sociais nocivos entre os quais se destacam os acidentes de trânsito.

A morte do estudante durante a competição por consumo de vodca infelizmente não é caso isolado.

Impressão ruim

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Tem gente que nos causa aflição, senão temor, em certos casos repulsa. Em geral não externamos os sentimentos diante de estranhos, ainda mais quando topamos om alguém que nossa causa impressão negativa.

Também existem aqueles com quem de cara não topamos, mas que com o passar do tempo se revelam ótimos parceiros. E os que com seu jeitinho angelical acabam se revelando gente de amargar.

Pois tenho um vizinho de quem não gosto porque o cara é de fato muito fechado. Ranzinza. Daqueles que não respondem ao bom dia no elevador. Dos que batem a porta do mezanino na cara da gente, obrigando-nos a tirar a chave do bolso para abri-la. Dos que entram no elevador e nem se dão conta de que você está junto dele para seguir junto. Enfim, um cara com jeito de poucos amigos a quem o melhor parece ser ignorar. Tanto que nas vezes em que cruzo com ele no prédio arranjo um jeitinho de me esquivar. Detalhe: somos vizinhos há alguns anos e nunca nos dissemos mais que meia palavra.

Entretanto, aconteceu-me estar no centro da cidade e envolver-me numa colisão de trânsito. Embora o motorista do carro que me abalroou claramente fosse culpado tentou safar-se acusando-me de má direção. E fazia isso a altos brados. Ora, eu trafegava na rua e ele estava de saída de um estacionamento. Saiu de repente, bateu na lateral do meu carro. Estaria ele certo?

Ocorre que o tal motorista era um rapaz com braços vigorosos, formados em academia. No esplendor de seus vinte e poucos anos constituía-se numa ameaça tal seu descontrole no momento em que saiu do carro. E logo veio na minha direção, dedo em riste, talvez pronto para me dar uns sopapos.

Não sei se você já passou por uma situação dessas na qual a sua desvantagem física é gritante. Obviamente reagi, dizendo que o erro fora dele etc. Ocorreu-me perguntar a ele se não teria seguro de carro tão novo pois o seguro resolveria tudo. Tudo em vão. A situação piorava, na verdade deteriorava a ponto de tornar-se agressão física.

Fui salvo por um anjo que surgiu do nada, defendendo-me. O anjo disse ao rapaz que presenciara a colisão e atestava culpa dele. Mais: o anjo era um cara grande, com cara de poucos amigos, fato que levou o tal fortinho a pensar duas vezes e recuar.

Sabe quem era o anjo? Então, o tal do meu vizinho.

No dia seguinte encontrei-me com ele no prédio e tentei ser educado, agradecendo-o pelo socorro. Ele não moveu nenhum músculo e mal pronunciou um “tudo bem”.

Bom sujeito, mas é assim, do jeito dele.

O paroxismo da barbárie

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São imagens estarrecedoras. Jihadistas do Estado Islâmico (EI) invadiram o Museu da Civilização Mossul, no Iraque. Munidos de marretas e talhadeiras destruíram, em poucos minutos, obras milenares assírias datadas dos séculos VIII e VII AC. A razão? Destruía-se porque os povos antigos adoravam ídolos ao invés de Alá. Essa interpretação radical do Islã permitiu aos invasores destruir obras de valor cultural e monetário inestimável, fato classificado como “intolerável” pelos especialistas.

Vale repetir: são imagens estarrecedoras. O vídeo de 5 minutos mostra a ação de bárbaros para quem o passado e as obras deixadas por povos ancestrais, documentos da cultura daqueles povos, não têm qualquer valor. Agem como funcionários de uma demolidora que se aplicam em derrubar paredes de prédios velhos. Há um momento em que um jihadistas destrói, sem amor nem piedade, uma maravilhosa obra presa à parede. Ele a arrebenta a marretadas, enterrando num segundo o trabalho realizado por mãos há muito desaparecidas. A cena mostra o homem no exercício do que tem de mais animalesco e insensato.

O EI é um movimento dissidente da Al Qaeda e atua no Iraque, na Líbia e na Síria. Governa-se a partir da sharia que é o código islâmico interpretado de maneira radical. Notabiliza-se por assassinatos em massa e mesmo contra cidadãos e reféns considerados inimigos do regime. Aliás, os brutais assassinatos de reféns, filmados e divulgados na mídia, constituem-se em mostras do que representa a ideologia e ação do EI.

O EI é ameaça a países europeus devido ao recrutamento de cidadãos no continente. Um dos executores de reféns foi recentemente reconhecido. Trata-se de um rapaz de menos de 30 anos que vivia em Londres, onde estudou.

Hoje em dia EI, Al Qaeda, Boko Haram e Taliban são movimentos extremamente ativos. Recrutando ocidentais, treinando militarmente crianças e espalhando terror no qual seus membros não se importam em perder a própria vida os grupos extremistas constituem-se em ameaças ao mundo civilizado contra os quais nenhum tipo de reação até agora revelou-se efetivo.

Brilho no planeta anão

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Até hoje não me conformei com o rebaixamento de Plutão de sua condição de planeta. Os astrônomos decidiram que Plutão passasse a ser planeta anão. Se você não sabe o que é um planeta anão veja como os astrônomos decidiram classificar os corpos celestes do sistema solar: planetas (de Mercúrio a Urano), planetas anões (objetos esféricos que não sejam dominantes em suas órbitas e nem satélites) e corpos pequenos (qualquer outro objeto que orbite o Sol).

Não imagino como o povo de Plutão terá reagido ao rebaixamento. A decisão foi tomada em 2006 e, ao que se saiba, até hoje não fomos notificados em sentido contrário. Talvez Plutão abrigue uma civilização avançada que simplesmente tenha desprezado a norma estabelecida pelos terráqueos. De minha parte continuo recitando os nove planetas que aprendi no curso primário. Hoje em dia as crianças aprendem que existem oito planetas e ponto final.

Agora surge um mistério a esclarecer no nosso sistema solar. Trata-se de um ponto brilhante existente em Ceres, planeta anão localizado entre Marte e Júpiter. A espaçonave Dawn, da Nasa, no momento aproxima-se de Ceres e envia fotos nas quais pode-se ver um ponto brilhante. Não se sabe do que se trata. Supõe-se que possa ser vulcanismo, mas isso só será confirmado quando a sonda norte-americana se aproximar mais do planeta anão.

Suponho que talvez você nunca tivesse ouvido falar em Ceres que agora nos instiga tanta curiosidade com seu estranho ponto brilhante. Na verdade já se sabe que são dois pontos brilhantes fato confirmado pela maior aproximação da Dawn.

A ver o que se noticiará quando a sonda entrar no espaço orbital de Ceres no próximo dia 6. Quem sabe poderemos ter uma visão mais detalhada e esclarecedora dos misteriosos pontos brilhantes.

Cinzas

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A quarta-feira de hoje parece não ter o significado de antes. Aprontava-se no carnaval, mas as cinzas da quarta-feira restituíam as coisas ao devido lugar. Minha mãe não abria mão de que a acompanhasse à igreja para que o padre colocasse cinzas na minha testa. Ai de mim se limpasse as cinzas. Deixava a marca na testa até chegar em casa e lavar o rosto.

E vinha a quaresma, tempo de meditação e ausência das alegrias fáceis. Era um mundo de regras aquele, pontuado pelas determinações da fé. As mulheres, chalé preto às costas, visitavam-se e falavam baixo. Minha mãe ralhava com meu pai acaso erguesse demais a voz.

Pecado ou não, o carnaval era muito bom. Vestíamos fantasias, fabricávamos sangue do diabo e perseguíamos as meninas nas ruas. Os bailes de salão, animados, atravessavam as madrugadas. A última noite, terça-feira gorda, anunciava o fim da alegria geral e prenunciava o tempo que viria. Por isso o bom folião dava tudo de si, esbaldava-se a valer naquelas horas em que tudo parecia valer, inclusive umas cheiradas na Rodouro que tinha o dom de fazer girar tudo à nossa volta.

Era assim o carnaval. Diferente desse que ontem terminou no qual luxo e pouca alegria deram o tom. Não há naturalidade nos desfiles das capitais nos quais a exuberância toma lugar da espontaneidade. Carnaval mais que cronometrado, alegria de tempo contado. Até tudo se desmanchar na Praça da Apoteose e começar o sufoco da apuração.

Nas ruas os blocos, os trios elétricos, as imagens de sempre que ainda contam com bons foliões. Em alguns lugares o estouro da violência, as depredações, o lixo acumulado, as necessidades pessoais feitas ali mesmo, no meio-fio.

Tudo é carnaval - dirão. Talvez o melhor fosse dizer que tudo são cinzas, sucessão interminável de quartas-feiras.

A necessidade de mentir

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Dizem que todo mundo mente pelo menos uma vez por dIa. Desde que li sobre isso tenho me policiado. Será que vivo a mentir sem me dar conta disso?

Há gente que não sabe mentir. Conheço pessoas que se traem ao contar uma mentira. Para elas sinais como rubores na face são incontroláveis. Tive um amigo que ficava vermelho até quando dizia a verdade. Por outro lado existem os caras duros que não dizem nada até mesmo sob tortura. E há os que vivem em mundos imaginários, supondo que dizem a verdade sobre ficções que arrancam da própria cabeça.

Ao que parece o homem precisa mentir, ainda que sejam mentiras discretas, mentirinhas. A mulher que trai mente ao marido. Eis aí um caso em que dizer a verdade pode não ser conveniente. Conheço um cara, apaixonado pela mulher, que acabou metendo-se numa traição. Durante viagem conheceu uma mulher no hotel onde se hospedava. Para encurtar acabou passando a noite com ela. O diabo foi que se arrependeu. Atormentado pela culpa confessou o erro à esposa. Tomou. um pé no traseiro e hoje vive separado, embora continue apaixonado.

Mas, que dizer quando se trata de mentira completamente desnecessária? Em pauta o caso do âncora da TV norte-americana que mentiu sobre estar num avião atacado durante a guerra no Iraque. O azar do âncora foi um militar divulgar que não se lembrava da presença dele no tal avião. Então, não teve jeito senão confessar a mentira. A consequência foi suspensão de seis meses sem salários e muitos dizem que esse foi o fim da carreira. Agora,  por que um sujeito de tanta projeção, o Bonner dos americanos, precisava de uma mentira dessas?

Vai saber o que se passa na alma humana. Mas, se é verdade que todo mundo mente, realmente não sei como classificar as pessoas que não sabem mentir. Há muitos anos um rapaz, meu parente, morava numa pensão em São Paulo e foi roubado. Acontece que o ladrão foi pego e o meu parente, juntamente com outros moradores da pensão que foram roubados, foram chamados a uma delegacia para depor. Eram onze da noite quando meu parente me ligou: estava desde o fim da tarde na delegacia e não sabia o que fazer.

Bem, fui socorrê-lo. O ladrão surrupiara dele uma camisa velha. Combinei com ele dizer ao delegado que o roubo fora de pouca monta, assim e dadas tantas testemunhas, pedia para ser dispensado. Treinamos bem a encenação e, quando houve oportunidade, fomos ao delegado. Como combinado eu disse ao delegado que ficaria tudo bem caso o rapaz ao meu lado fosse dispensado. Então o delegado perguntou a ele se realmente não fazia questão da camisa.  Nessa hora olhei para o rosto do rapaz. Suas feições assumiram tom avermelhado e ele declarou:

- Faço questão, sim senhor.

Saímos da delegacia às quatro da madrugada, logo depois do meu parente depor sobre a camisa que fora roubada.

Os muitos Brasis

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Meu tio era um sujeito formidável, embora de temperamento explosivo. Profundamente humano só se perdia quando algo parecia a ele errado demais. Não aturava os discursos eivados de mentiras. O crime, a corrupção e a desigualdade social davam-lhe nos nervos.

Meu primo, filho de meu tio, era muito diferente do pai. Jovem nos anos sessenta e início dos setenta o rapaz deixara-se influenciar pelo modismo da época que incluía o modo de ser dos músicos dos Beatles, a começar pelos cabelos longos etc. Para meu tio que nascera no começo do século e fora estudante na década de 20 a novidade muitas vezes soava incompreensível. Havia para muitos dos jovens da época um sentido de protesto nem sempre determinado contra quem ou o quê. Meu tio achava que o filho simplesmente assumia um modo de ser não convencional, sem que isso representasse adesão a qualquer ideologia.

Meu tio tinha em sua casa uma estante apinhada de livros entre os quais figurava o “Os dois Brasis” do francês Jacques Lambert. Meu primo sempre se referia a esse livro para dizer que aquele era o mundo do pai que tanto o criticava. N verdade achava engraçado o título do livro que, assim suponho, nunca chegou a ler.

Lambert escreveu seu livro na década de 50 quando o país passava por período de muito entusiasmo. Vargas retornara ao poder do qual saíra ao se suicidar em 1954. Juscelino, eleito em 1956, iniciara período de aposta no desenvolvimento com seu programa “cinquenta anos em cinco” com o qual visava vencer anos de atraso na história do país. Entre outras considerações Lambert destacava a disparidade entre Sul/Sudeste e Norte/Nordeste.  Assim, o Sul e o Nordeste, eram como países diferentes dentro de um mesmo país: o primeiro, industrializado e com melhores condições de vida, o segundo, arcaico e subnutrido.

Ainda hoje se fala na existência da dicotomia apontada por Lambert. O resultado das últimas eleições presidenciais evidenciou a dicotomia entre Norte/Nordeste e Sul/Sudeste.

Hoje em dia o que desperta a curiosidade é saber-se, afinal, quantos Brasis existem, tamanhas as diferenças econômicas, sociais e educacionais em nossos vasto território. Nos anos 50 Lambert previa crescimento vertiginoso da população do país e destacava a necessidade de empenho educacional gerando-se, assim, a mão-de-obra especializada tão necessária ao desenvolvimento. Considerava ele ser o Brasil um dos raros países com possibilidade de se tornar grande potência equiparada aos EUA e URSS.

Passados mais de 50 anos o Brasil vê-se, ainda, sob o estigma das dicotomias e dificuldades de afirmação no cenário internacional. Abre-se o ano de 2015 com perspectivas sombrias de estagnação, gerando-se na população receios em relação aos dias futuros.

Meu tio não acreditava em problemas não resolvidos. Para ele e muita gente de seu tempo o esforço comum e a honestidade sempre gerariam bons frutos. Ele acreditava no Brasil e no povo brasileiro. Várias vezes eu o ouvi repetir que, infelizmente, não viveria para conhecer o belo país que teríamos no futuro.

E nós, viveremos?

Queda de popularidade

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Políticos sobrevivem na profissão às custas das popularidades pessoais. Alguns deles permanecem ativos durante muitos anos. Outros têm trajetórias meteóricas, subindo depressa e caindo na mesma velocidade. O ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, é um bom exemplo disso.

Neste ano dois políticos de grande visibilidade deixaram o Senado: Sarney e Pedro Simon.  Eram ícones, para o bem e para o mal. Contaram com reeleições garantidas em várias legislaturas. Sarney chegou à presidência da República com a morte de Tancredo. Simon notabilizou-se pelo esforço em prol do que considerava correto e justo.

O problema na política é o tempo de duração das promessas. Promessa tem pernas curtas. Sabe-se que políticos fazem de tudo enquanto concorrem a cargos eletivos. Prometem o céu se preciso for. Depois de eleitos assumem seus cargos e dão de cara com a realidade muitas vezes incompatível com as promessas que fizeram.

Nesse momento em que todos os radares apontam para uma crise incontornável no país, políticos recentemente eleitos enfrentam a dualidade entre o que prometeram e as atitudes que se veem na iminência de tomar. Face a esse fato as pesquisas de opinião retratam quedas nas popularidades, sendo enorme a da atual presidente da República. Para muita gente a presidente teria mentido divulgando promessas de campanha que não poderia cumprir. A adoção de política econômica pregada por seu adversário nas urnas - à qual combateu - tem sido adotada pelo seu governo em segundo mandato. Embora considerada correta no momento a atual política econômica infringe as promessas realizadas. A popularidade da presidente despenca.

O mesmo acontece com o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alkmin, a quem se acusa de ter escondido, no período eleitoral, a dimensão do problema da água. O racionamento que está por vir não fazia parte do discurso do candidato que negava a necessidade de implantá-lo. As pesquisas mostram queda da popularidade do governador.

Mas, a pergunta é: acaso fossemos nós os candidatos teríamos sido honestos com o povo, fazendo declarações que quase com certeza resultariam em derrota nas urnas?  Eis aí uma questão muito fácil de responder quando não se está na pele de um candidato a cargos eletivos. Entretanto, dá o que pensar quando se coloca em perspectiva a mente de um político que atua num meio complexo como o da política brasileira.

Claro que somos contra o vale tudo. Juramos que diríamos a verdade caso fossemos nós os candidatos porque enganar o povo é inaceitável. Mas, será que todo mundo pensa do mesmo jeito? Está visto que não e só nos resta conviver com o que está aí.

Sem água

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Espero com preocupação o racionamento de água. O tal 5 X 2 é assustador. Li sobre o repórter que se impôs o regime de racionamento a título de experiência. Banho com regador! Que dizer dos utensílios sujos, das descargas, etc? Rapaz…

Na década de 90 do século passado m internei no sertão da Bahia, rumando em direção a Canudos. Passei quase 20 dias na região, visitando lugarejos e cidadezinhas. Vi de perto - na verdade na pele - a seca e seus efeitos. Seguindo pela caatinga, sob sol inclemente e pisando solo seco, esturricado, compreendi o que é viver naquelas paragens desoladoras. Na época não existiam as estradas que hoje cortam a região. Queimadas, Bom Conselho, Massacará, Euclides da Cunha e o sertão inóspito com seus mandacarus, barrigudas e toda sorte de cactáceas!

No sertão ousei compreender porque tanta gente se desloca para os grandes centros do país em busca de vida melhor. Nada pode ser pior que a carestia dos lugares onde vivem, assim me explicou um caiçara a falta do irmão que viera se arriscar em São Paulo.

Daquilo tudo ficou a falta de água. Povoados onde vez ou outra um caminhão pipa da prefeitura aparece para socorrer os necessitados. Gente carregando vasilhas enormes, percorrendo longas distâncias para trazer para casa uma merreca do preciso líquido. Os banhos impossíveis. As marcas de pés no chão que não se apagam porque não chove.

Quando voltei do sertão tive dificuldades em relação ao consumo de água. Sentia-me culpado toda vez que abria a torneira. Parecia-me injusto usar e abusar do líquido enquanto tantos brasileiros não dispunham dele. Briguei com a turma de casa para que economizassem água.

Desde aquela época trato a água como um bem a ser preservado. Nunca mais tomei banhos prolongados e sempre cuidei de evitar exageros com torneiras abertas. Posso dizer que aprendi a regra do sertão.

Agora a seca bate à nossa porta. Vejo com preocupação pessoas alheias ao perigo que correm, descuidando-se da economia de água. Talvez valesse a pena homologar uma lei, punindo quem não economize água. A pena seria, por exemplo, passar dez dias no sertão, bem no meio da caatinga. Tenho certeza de que as pessoas voltariam mudadas de lá, certificadas de que a água é um bem comum e que com mau uso dela corre-se o risco de esgotá-la.

Escrito por Ayrton Marcondes

9 fevereiro, 2015 às 12:24 pm

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Memória de São-Paulino

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Meu neto ainda não tem 3 anos e já torce pelo tricolor. Esforço do pai que o ensinou a falar o “São Paulo” toda vez que ele chuta a bola (o menino é louco por bola). Meu pai nunca se importou com futebol. Nascido no começo do século XX em cidade do interior paulista cresceu ele numa época em que nem mesmo a maioria dos times que conhecemos havia se formado. A febre do futebol viria mais tarde.

Em casa meu irmão mais velho torcia para o São Paulo. Outro irmão era corintiano roxo. Eu me tornei São-paulino numa noite de derrota. Meu irmão mais velho e um primo escutavam um jogo entre o São Paulo e o Santos na cozinha. Corria o ano de 1957 e os dois torcedores sofriam ao lado do rádio. No fim do primeiro tempo o São Paulo vencia por 2X1. No segundo o Santos virou. Lembro-me bem do quarto gol, marcado pelo Del Vecchio, que levou os dois São-paulinos ao desespero. O placar final foi 4X2. Ainda hoje guardo na memória as imagens de meu irmão e meu primo, torcendo junto ao rádio, na cozinha de casa. Naqueles momentos eu me tornei, irreversivelmente, São-paulino.

Torcer por um time é algo que não se escolhe. É caso de amor e pra toda a vida. Nem sempre é possível explicar-se essa devoção que nos proporciona alegrias e sofrimentos. Passados tantos anos, entre vitórias e derrotas, continuo firme na torcida pelo tricolor. Não resisto a ler notícias sobre o meu time e, pelo rádio do carro, muitas vezes me ligo nos programas esportivos.

Nos domingos bem que me esforço para não assistir aos jogos pela TV. Acontece que se o São Paulo vier a perder a noite de domingo está perdida.

Minha mulher, que é corintiana, diz que eu não passo de um bobo com essa história de ficar nervoso pelo tricolor. Respondo a ela que amor não tem explicação, é coisa que só acaba quando a gente morre. Aliás, corre o risco de não acabar se existir vida após a morte e pudermos acompanhar os jogos de lá.

Avante tricolor!