Arquivo para janeiro, 2009
Sinfonia de ruídos
Eu ia escrever sobre música, optei pelo barulho. Entre nós vicejam vários ritmos. Nas grandes tetas da bossa nova penduram-se os artistas mais velhos – estão desaparecendo devagar – e uma nova gente que reinterpreta antigos temas, na maioria das vezes devendo às gravações originais. Existe por aí uma voz feminina padrão bossa nova, meio sussurrada, que pretende ser cool e que, não raro, acaba viajando na maionese. Gente boa tem, sim, mas recriar às vezes é mais difícil do que criar. Penso em Maysa falando sobre Elizete e dizendo que sua meta era chegar aos pés da rande diva. Não é o que se vê hoje em dia.
Funk, samba de raiz, rock, sertanejos ou o que seja, o que incomoda mesmo é o barulho. Há no Brasil, melhor dizendo, no brasileiro, a idéia de que o prazer pessoal deve ser repartido e a alegria precisa ser coletiva. Que ninguém se engane: o brasileiro é um tipo barulhento. Agora que a tecnologia se socializou e se pode comprar rádios e aparelhos de muitos watts mais barato, o inferno do barulho generalizou-se. Acontece nos prédios onde o gênero musical adorado pelo morador do quinto andar é repartido com os demais moradores; nas ruas onde os proprietários de carros abusam do volume dos rádios; isso sem falar naqueles que colocam som de potência nos porta-malas e, parados numa rua, dividem com os bairro todo os seus prazeres musicais.
E olhe que essa barulhada toda não tem horário fixo. Não é incomum sermos acordados na alta madrugada pelo som altíssimo de alto-falantes de carros que passam pela rua onde dormimos o sono cansado e atrasado dos justos.
Valha-nos Deus. Você acorda espantado, fica em pé, pensa em ligar, mas, para quem? A polícia estará por aí com coisas mais importantes a fazer que o nosso sono, caçando criminosos que andam aos bandos e agora parecem competir entre si para a realização de façanhas ainda maiores.
Então, o que nos resta é deitar de novo e esperar pelo sono, do que se conclui que o brasileiro é um cidadão conformado, isso para não dizer desiludido.
John Updike
Morreu nesta semana o escritor norte-americano John Updike, autor de muitos livros traduzidos entre nós. Entre eles, destaca-se a série “Coelho Cai”, “Coelho Corre”, Coelho cresce” e “Coelho em crise”.
Updike pertence a uma geração que sucedeu outra à qual pertenceram grandes nomes da literatura norte-americana: Ernest Hemingway, William Faulkner e Scott Fitzgerald. Este último tem sido lembrado ultimamente graças a um pequeno conto que escreveu e que faz parte do livro “Seis contos da era do jazz”. Um desses contos é “O Curioso Caso de Benjamin Button”, agora transformado em filme e em cartaz nos cinemas.
Livro interessante de Updike é uma coletânea de ensaios intitulada “Bem perto da costa”. No livro, Updike situa os ensaios como escritos menos perigosos, realizados bem perto da costa; na mesma linha, os textos técnicos são os escritos de terra firme; já os romances pertecem ao universo das vastidões oceânicas onde o escritor está só em seu pequeno barco e à mercê de toda sorte de perigos. Quem já se aventurou pelos caminhos da elaboração de textos concordará essa opinião de Updike.