2009 maio at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para maio, 2009

Regras para lidar com o inimigo

escreva o seu comentário

Tudo bem, não precisa ser papo cabeça. Também não se exige um intelectual, mas um pouco de conhecimento e atualização ajuda. A repetição cansa: os repetitivos são muito chatos, não dá para agüentar.

Há que se ter certa elegância na escolha das palavras. Palavrões só depois de muita intimidade. Se você aceita um palavrão logo de início, o cara entende que uma barreira foi transposta e isso pode ser perigoso. Lembre-se: um amigo pode até dizer um palavrão a você; um desconhecido nunca.

Desgraça são esses caras confiados. No primeiro minuto já agem com se fossem íntimos. Olham de alto a baixo, avaliam, traçam a estratégia e escolhem o papo. Aí é dar as costas e, se insistirem, apelar até mesmo para a falta de educação.

Cuidado com os bonzinhos! Vá lá que existam bonzinhos de verdade. Mas a maioria deles é fingida. Os bonzinhos são educados, muito gentis e há quem sinta necessidade de adotá-los, protegê-los. Falsos bonzinhos são perigosos, premeditam tudo e geralmente conseguem o que querem.

Malandros descarados são o que mais se encontra por aí. São carinhas sem princípios. É fácil reconhecê-los pelo jeitão vulgar e aspectos que muitas vezes dão nojo. Quando se metem a fazer piadinhas, então…

E os caras da noite? Esses tais freqüentam bares, em geral sozinhos ou com um amigo. São do tipo caçador. Muitos deles têm um carrão, dão umas voltas no entorno, exibem-se, primeiro impressionam com aquele ar de liberdade e alegria. Quando entram, sentam-se e dão uma de desinteressados, olhando fixamente para o copo cheio, depois falando entre si. Tudo estudado. Acredite: no que chegam filmam tudo, localizam possíveis presas e só dão um tempinho antes de partirem para o ataque.

Cara bonito …

Olhe, nem todo mundo é assim, mas…

Duas moças conversavam na sala de espera e simulavam não se dar conta da minha presença. Certamente não consegui reproduzir as palavras que utilizaram, mas parte do que disseram está aí.

Fui chamado para entrar no consultório antes delas. Quando me levantei, enfrentei os olhares das duas e me senti um soldado do exército inimigo. Ante a fuzilaria recuei um passo, mas arranjei coragem e fui em frente.

Já com o médico tive vontade de perguntar se ele seria capaz de identificar o meu tipo. A noção de ridículo me impediu de fazer a pergunta e passamos a falar sobre sintomas.

Escrito por Ayrton Marcondes

21 maio, 2009 às 2:09 pm

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Crianças em ação

escreva o seu comentário

Em Botucatu-SP, cinco crianças – idades entre 8 e 13 anos – invadiram a escola onde estudaram e destruíram tudo o que encontraram pela frente. Depois de salas de administração e de aula partiram para o berçário que arrebentaram todo.

Dia seguinte, uma funcionária limpa o chão e chora por ver o trabalho de muita gente destruído. Diz não compreender as razões das crianças.

Crianças! Elas foram localizadas e confessaram a autoria das depredações. Os pais foram chamados, advertidos e voltaram com os filhos para casa.

Histórias de criminalidade infantil têm povoado os noticiários. Em São Paulo há um menino que já participou de dezesseis assaltos. De vez em quando é recolhido para adquirir um pouco de sociabilidade. Depois é devolvido para a mãe e às ruas para depredar carros estacionados e assaltar.  No mais, basta dar uma olhada nas favelas onde meninos portam armas pesadas e por aí afora.

Não. Esse texto não pretende falar sobre punição de menores infratores, leis, opiniões de juristas, motivações pessoais, desequilíbrios mentais, desigualdade social e outros assuntos pertinentes ao tema que aborda. Esse texto é escrito com a finalidade última de registrar cenas de horror que felizmente não presenciamos, cenas de crianças movidas por um ódio que não podemos compreender, crianças graduando-se numa outra escola, a do crime.

Escrito por Ayrton Marcondes

20 maio, 2009 às 12:07 pm

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Ciclo de Estudos sobre Euclides da Cunha

escreva o seu comentário

Euclides da Cunha E.inddAproxima-se o centenário da morte do escritor Euclides da Cunha, morto tragicamente em 15 de agosto de 1909.

Sobre o autor de “Os Sertões” foram escritos incontáveis ensaios e análises durante o século que se passou. Diversidades de opiniões à parte, críticos e estudiosos convergem na grandiosidade de “Os Sertões”, livro que passou à posteridade com o epíteto de “vingador” por denunciar a tragédia de Canudos.

Em função do centenário será realizado, em Santos, um ciclo de estudos sobre Euclides da Cunha.  As palestras serão proferidas no Teatro Guarani (Pça dos Andradas, S/N, Centro Histórico, Centro, Santos-SP).   A programação é a seguinte:

20/05/09, às 19h – Palestra: Euclides da Cunha, vida e obra: aspectos introdutórios.

Prof. Ayrton Cesar Marcondes. Médico, pesquisador e ficcionista. Entre outros livros publicou: Canudos, as Memórias de Frei João Evangelista de Monte-Marciano, Editora Best Seller, 1997; Campos Salles, uma investigação na República Velha, EDUSC, 1999; Por onde Andará Machado de Assis? Nankin Editorial, 2004; Machado de Assis, Exercício de Admiração, Editora A Girafa, 2008.

Prof. José Leonardo do Nascimento. Doutor em História da Cultura pela Universidade de Paris. Organizador e Autor do livro Os Sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos, Editora da UNESP, 2002; co-organizador do livro Juízos Críticos – Sertões e os olhares de sua época, Editora da UNESP/Nankin Editorial, 2003; autor do livro O Primo Basílio na Imprensa Brasileira do século XIX- Estética e História, Editora da UNESP, 2008.

25/06/09, às 19h – Palestra: Os Sertões e a interpretação de Canudos

Prof. Marco Antonio Villa. Professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFSCar.Autor de diversos livros, entre os quais Canudos, o povo da terra, Editora Ática 1995; Vida e morte no sertão. História das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX, Editora Ática, 2000; Jango, um perfil, Editora Globo, 2004 .

29/07/09, às 19h – Palestra: Euclides da Cunha: arte e perspectiva histórica.

Prof. José Leonardo do Nascimento

12/08/09, às 19h - Mesa Redonda

Temas:

 Euclides da Cunha como crítico da República - Prof. Marco Antônio Villa

A ciência na obra de Euclides da Cunha – Prof. Ayrton Cesar Marcondes

Euclides da Cunha: o indivíduo e a História – Prof. José Leonardo do Nascimento

 

Até lá.

Escrito por Ayrton Marcondes

19 maio, 2009 às 11:36 am

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Os”sem”

escreva o seu comentário

O Brasil é o país dos “sem”: sem-terra, sem-teto e outros mais aos quais agora se juntam os sem-namorado.

Os sem-namorado formam uma nação bem humorada. Dizendo-se cansados de ficar sozinhos, organizaram passeatas no Rio e em São Paulo. Entrevistados, alguns deles não se constrangeram em falar sobre a própria solidão e afirmar que chegou a hora de dar um basta nessa situação. O grande terror da maioria – declararam – é passar o dia dos namorados sozinhos.

E assim foram pelas avenidas, portando cartazes, fazendo muito barulho, divertindo-se, verdadeiro exército Brancaleone, a seu modo rindo da vida e tirando partido de algumas das suas tristezas. Seus gritos de guerra eram: “ado, aado, eu quero namorado” e “inho iinho, cansei de ser sozinho”.

Os sem-namorado fizeram mais que sair às ruas com a sua passeata aparentemente esdrúxula: lembraram-nos do Brasil alegre, piadista, capaz de rir de sua própria miséria, Brasil sem terno e gravata, esquecido de crises econômicas, país de torcedores fanáticos, gente capaz de se dar as mãos e sair por aí, participando de um movimento que, de repente, pode até virar moda e se espalhar pelo mundo.

Ado, aado, viva os sem-namorado e boa sorte pra eles.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 maio, 2009 às 10:35 am

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Manhã de domingo

escreva o seu comentário

Domingo de maio. Manhã como a do poema de Cassiano Ricardo: nítida como um caco azul de garrafa no muro.

Um senhor pergunta à vendedora de flores a direção da praia. Ela se volta e aponta o mar alvíssimo. Um homem observa, calado, capas de revistas com mulheres nuas expostas na banca de jornal. Duas moças passam com cães enormes que mal conseguem segurar. O motorista de táxi dorme na direção de seu carro enquanto espera um passageiro que tarda a aparecer. Na orla da praia velhos e moços exercitam-se, aspirando o ar puro da manhã.

Os sinos de uma igreja próxima dobram chamando os fiéis para a missa. As badaladas evocam outros sinos, inclusive os da igreja barroca de São Francisco de Assis, em São João Del Rey, em cujo cemitério repousa Tancredo Neves, velando pelo Brasil.

É nesse mundo de calma absoluta que um motoqueiro avança o sinal vermelho e atropela uma idosa. De repente, tudo começa a se mover depressa, pessoas se agitam, há trânsito, buzinas ecoam e mesmo o mar parece empalidecer.

Agora os sinos já não dobram e um desenho escarlate impregnou-se no asfalto, emoldurando tristemente a cabeça da mulher morta.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 maio, 2009 às 2:24 pm

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Memórias do dia do seu aniversário

escreva o seu comentário

Tudo igual a começar pelo som do despertador. A impressão de que o colchão está afundando é a mesma de sempre, assim como a lembrança de que é preciso comprar um novo.

Você se levanta. Sua mulher ainda dorme e você sai devagarinho do quarto para não fazer barulho. Segue-se a rotina de fazer a barba, tomar banho, vestir-se e ir para a cozinha onde o espera o café feito pela empregada.

Está tomando café quando a sua mulher entra na cozinha chamando-o de benzinho. Rápida troca de beijos, ela demora a sentar-se porque antes verifica se tudo está no lugar, se nada falta na mesa.

Vocês se olham com algum interesse, ela avisa que a gravata está meio fora do lugar e aí começa o assunto de sempre: o colégio dos filhos, as despesas enormes, a necessidade de férias e aquela coisa para a qual não sobra dinheiro que é a plástica que ela precisa fazer.

No carro e a caminho do serviço você faz o trajeto de sempre, parece até que cercado pelos mesmos carros. Chegando ao trabalho você enfrenta os problemas de sempre, lugar para estacionar, a fila do elevador e a cara do pessoal que o cumprimenta com desinteresse.

Você agora está na mesa de trabalho e, de vez em quando, ouve os gritos do chefe que fica numa sala acima da sua. Ele é um velho chato, você tem vontade de mandá-lo para os diabos que o carreguem, mas não faz isso porque existem o colégio dos filhos, as prestações, o condomínio e o dinheirinho que está separando, mês a mês, para a plástica da sua mulher. A idéia é, mais para frente, fazer uma surpresa a ela.

O resto do dia é igual aos antecedentes, sem nenhum retoque. As coisas acontecem do mesmo modo, a secretária já meio passada usa os vestidos curtos de sempre e cruza as pernas para chamar atenção, a faxineira passa perto de você e bate a vassoura na sua mesa, isso já se tornou um hábito dela. A rotina se repete até que chega a hora de fazer o caminho de volta para casa onde o espera o merecido descanso.

Todo dia é assim, é para ser assim, nada parece impedir que seja assim. Hoje, porém… Às seis da tarde o chefe pede que você vá vê-lo, você não imagina o que o velho chato pode querer numa hora dessas. A conversa é rápida, o assunto é a sua demissão, conseqüência simples da tão falada crise. Quinze anos no serviço e uma demissão pura e simples, só isso.

Na volta para casa o caminho parece não ser o mesmo. Você abre a porta, está desesperado, mas respira satisfeito porque ninguém chegou. Então senta-se, olha para a parede sem ver nada, tem vontade de chorar e pensa em dar um tiro na cabeça. Logo desiste, levanta-se, enche um copo com uísque sem gelo, toma metade de um só gole e, por acaso, vê a sua imagem no espelho da sala. Ainda é um quarentão bonito e os poucos fios de cabelos brancos estão um charme. Mas nem isso ajuda a animá-lo.

Está assim, distraído, trocando idéias com a parede, quanto chega a sua mulher acompanhada por algumas pessoas. Elas entram e começam a abraçá-lo: não se esqueceram do seu aniversário.  São as pessoas do escritório, no meio delas o chefe que ri e fala bastante sobre o trote bem passado a respeito da sua demissão. Você ouve isso, tem vontade de mandar o chefe à merda, mas ele é o chefe e as contas existem. Então a sua mulher beija a sua cara de estúpido enquanto, pela primeira vez, você repara que as pernas da secretária não são de todo desinteressantes.

Escrito por Ayrton Marcondes

16 maio, 2009 às 12:25 pm

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Estamos vomitando impunidade…

escreva o seu comentário

Quem grita essas palavras é a mãe de um dos rapazes mortos no acidente provocado por um deputado estadual. Ela está fazendo uma via sacra em órgãos públicos, protestando pela absurda morte do filho.

As imagens dos carros envolvidos no terrível acidente são impressionantes. O carro onde estavam os dois rapazes teve o seu teto aberto e transformou-se numa massa de ferragens.

Mais impressionante é a imagem da mãe que grita. Há nela algo além da perda irreparável. Seu protesto traduz a indignação acumulada em todos nós em relação à impunidade e a desconfiança de que a punição aplicada ao infrator seja atenuada dadas as prerrogativas de que ele dispõe e a natureza das leis brasileiras.

Em 5 de julho de 1989 um rapaz invadiu a Praça da Paz Celestial, em Pequim, e fez parar uma fileira de tanques de guerra, postando-se à frente deles. O mundo assistiu aparvalhado ao protesto do chinês anônimo que foi considerado uma das pessoas mais influentes do século XX.

Depois disso, nada parece ser impossível. Talvez o ato da mãe paranaense que grita por todos nós, protestando contra a impunidade, seja finalmente seja ouvido.

Escrito por Ayrton Marcondes

15 maio, 2009 às 10:17 am

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Subindo na vida

escreva o seu comentário

policia_rodoviariaOlá gente boa: não sei se já receberam a notícia, mas quem está na berlinda são os bons rapazes da Polícia Rodoviária Federal. Acontece que desde o começo deste ano o sistema de promoções da categoria leva em conta o número de multas aplicadas: multas por infrações leves valem um ponto; multas por infrações graves rendem dez pontos.

Tem mais: policiais que no prazo de um ano não atingirem as metas terão que fazer um curso de atualização; se o problema persistir no ano seguinte, os policiais poderão enfrentar processos administrativos disciplinares. Depois disso nem é preciso dizer o quanto vale a pena estar atento e aplicar multas que somarão pontos e promoções na carreira.

Mas vamos e convenhamos: policiais rodoviários também são humanos e não será demais esperar que alguns deles, pressionados, exagerem e contribuam para o crescimento da indústria de multas.

Você só avalia o quanto um guarda rodoviário é um sujeito sangue bom quando precisa dele. Por ocasião de acidentes eles realmente se transformam e muitos parecem fazer parte da família tal o apoio e conforto que nos dedicam.

Agora, coloca-se entre os policiais rodoviários e o cidadão comum a necessidade e o estímulo ao ato de multar. Para ficar no mínimo, a nova norma fere fundo a confiança entre as partes envolvidas nas questões de trânsito. O fato é que poderemos ser multados em ocasiões nas quais não seríamos, em algumas delas sem ter cometido qualquer infração.

Depende do guarda, da honestidade dele, dirão. Pois é, depende do guarda obrigado a acumular pontos para subir na vida.

Escrito por Ayrton Marcondes

14 maio, 2009 às 8:40 am

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

Roda de amigos

escreva o seu comentário

Numa roda de amigos, só homens, os assuntos são, por ordem de freqüência: mulher, futebol e política. Dependendo do nível social é possível, ainda, outra ordem: mulher, política e futebol.

As mulheres dirão: mas eles não conversam sobre outra coisa? Não é possível.

Bem. A conversa pode até começar com outras variantes, o preço das geladeiras por exemplo. Isso acontece quando casais amigos se reúnem. Na ocasião, os homens falam sobre todo tipo de banalidades, pintura, escultura, novelas etc. Isso dura até que os homens tomam seus tragos e arranjam um jeito de ficar sozinhos na cozinha. A partir daí não tem jeito: o assunto passa a ser mulher.

Mulheres em geral duvidam disso, não podem acreditar que o marido, sujeito de respeito, pai de seus filhos, às vezes até um intelectual, se dê o desfrute de uma coisa dessas. Nesse caso, o único consolo será pensar que o marido participou da conversa para não ficar de fora, às vezes até por medo de que os amigos pudessem desconfiar dele.

Crise social? Educação deformada? Arrogância masculina? Exibição de virilidade? Será que hoje em dia a vida no trabalho e as responsabilidades são tão desgastantes que os homens precisam de uma válvula de escape, às vezes inventando situações que não viveram?

Infelizmente não. Pelo que se diz a coisa sempre foi assim. Quem já leu os livros de Machado de Assis sabe que esse genial escritor sempre sugere cenas de amor e sexo, mas jamais as descreve. Pois um crítico que conheceu Machado, Araripe Junior, certo dia deu uma curiosa explicação sobre o modo de ser do grande escritor. Araripe escreveu que se Machado estivesse numa roda de homens e o assunto descambasse para os inevitáveis mulher e política – na época o futebol não estava na parada – o escritor se levantava e saia de fininho. Daí que, segundo Arararipe, Machado jamais poderia descrever cenas de sexo porque não estaria integrado à safadeza geral de seu tempo.

Homens são homens e pode-se também dizer que há homens e homens. Não existe regra geral. Que sejam aqui poupados os muito dignos, mesmo que às vezes tanta seriedade nada mais seja que uma bela fachada.

Um indivíduo muito atuante no início do século XX, no Brasil, teve uma vida algo devassa e tinha muito orgulho disso. Chamava-se Medeiros de Albuquerque. Antes de morrer ele escreveu um livro de memórias, intitulado “Quando eu era vivo”, e deu explícitas instruções para que só fosse publicado muito tempo após a sua morte. Essa exigência explica-se porque no último capítulo do livro, chamado “Capítulo dos amores”, Medeiros relata casos amorosos que teve. Faz isso detalhadamente, pormenorizadamente. A publicação póstuma nada mais foi que um prazo que ele deu para que todas as mulheres sobre quem falou tivessem, como ele, tempo para morrer antes da publicação de suas aventuras sexuais. Para os interessados, o livro do Medeiros pode ser encontrado em sebos.

Depois disso tudo temos que convir que os homens muitas vezes são mesmo surpreendentes.

Escrito por Ayrton Marcondes

13 maio, 2009 às 10:44 am

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano

O Prático

escreva o seu comentário

Face redonda e o nariz fazendo lembrar o de um dos três porquinhos valeram a ele o apelido: Prático. Chamavam-no assim nos tempos da escola e ele não ligava, atendia a todos e tinha sempre um sorriso nos lábios.

Sujeito ótimo o Prático. Formado em medicina e especialista em neurologia revelava seu lado humano reservando, toda semana, tempo para atender aos que não podiam pagá-lo. A carreira bem sucedida com direito a reconhecimento no exterior nunca o fez desviar-se um só centímetro de seu modo simples de ser.

Não via o Prático há bom tempo quando, por acaso, encontrei-me com ele num sábado e paramos para tomar um café. Falou-me sobre os filhos que moram no exterior e a mulher vitimada pelo câncer. Mas não se queixou: entendia a vida como ela é, sem fantasias, talvez com algum fatalismo.

 Soube da morte do Prático, ocorrida ontem, através do obituário de um jornal. Lá estava o nome dele, naquela lista que ninguém faz questão de estar, secamente e sem alusão ao excelente homem e profissional que ele foi.

Mais tarde liguei para um amigo que me falou sobre o “causa mortis”: derrame cerebral.

Não fui ao enterro. O Prático era um cara alegre e não gostava de cerimônias fúnebres.

Escrito por Ayrton Marcondes

12 maio, 2009 às 8:53 am

escreva o seu comentário

Postado em Cotidiano