Arquivo para janeiro, 2010
Mulher é assim
Dois homens conversavam enquanto estavam na sauna. O mas velho falava pouco, vez por outra balançava a cabeça afirmativamente. O mais novo dizia-se confuso com o modo de ser das mulheres, em particular da mulher dele. No geral, o assunto girava sobre a imprevisibilidade das mulheres. Dizia o mais novo:
- Olhe, não entendo. Sou casado, gosto muito da minha mulher. Pois outro dia estávamos num momento de muito amor, paixão mesmo. Foi aí que liguei a televisão e apareceu um ator de novela fazendo declaração de amor a uma mocinha. Pronto. O nosso momento de paixão terminou ali, naquele instante. A minha mulher enfezou-se, dizendo que eu nunca tinha feito uma declaração daquela para ela. Aconteceu uma enorme briga por nada, acredite. Eu repetia que o que ela vira na televisão era pura fantasia, coisa de novela, nada de amor verdadeiro. Isso só fez piorar as coisas e acabou-se o dia.
O mais velho sorriu e sentenciou:
-Mulher é assim.
Nisso entrou uma mulher, pelo jeito a esposa do homem mais velho. Depois de ouvir mais umas confissões do mais novo, ela disse:
- Mulher é assim. Tem dia que nem eu me aguento.
O mais novo voltou à carga:
- Minha mulher é assim, mas vocês precisam ver ela falando de mim para outras pessoas. Ela me elogia tanto que me pergunto se sou eu o cara sobre quem ela está falando.
Foi a vez do mais velho:
- Mulher é assim.
Houve um momento em que os três olharam para mim, buscando a minha opinião. Achei melhor fechar com o grupo e jurei:
- Mulher é assim.
Ficou por isso.
Primeiro do ano
O ano novo chegou ao Nordeste com uma hora de atraso devido à inexistência do horário de verão. Em Maceió os fogos espocaram normalmente em Pajussara e na Ponta Verde. O céu se encheu de brilhos fugazes, assim como são as breves alegrias da vida.
Mas, tudo estava no lugar certo. A lua cheia fez o que pode para emprestar gala à noite; as luzes da cidade deitaram-se sobre o mar, itinerantes porque esmaecidas por um ou outro brilho inesperado.
Marte fez o de sempre, brilhou como quem foge,seguindo as ousadas rotas que levaram os poetas a alcunhá-lo de Vésper.
Em terra os homens contaram juntos os últimos dez segundos de 2009, do mais alto ao zero. Então estranhos deram-se as mãos como se fossem velhos conhecidos e abraçaram-se. Foi quando os navios ancorados no porto apitaram longamente, saudando o novo ano que se iniciava.
Por breves instantes a Terra pareceu ter parado e os homens foram felizes. Assim aportamos em 2010.