2011 julho at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para julho, 2011

Batendo recordes

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É sempre admirável o empenho de atletas para vencer competições. Esportes que envolvem disputas individuais frequentemente nos trazem personalidades surpreendentes pela sua dedicação e empenho. O boxe é pródigo em atletas dotados de determinação invejável. Nem todo mundo gosta de boxe e muita gente não o considera nem mesmo um esporte dada a violência implícita às lutas. Para os amantes do boxe a perspectiva é, obviamente, outra: técnica, eficiência dos golpes, ataque e defesa enfeixam um tipo de arte que exige força, talento e enorme dedicação. Os grandes campeões e suas inesquecíveis lutas fazem parte do imaginário de superação do homem que parece ser capaz de vencer qualquer obstáculo. Por detrás do desempenho nos ringues existe toda uma história de preparo e treinamentos que muitas vezes chegam às raias do absurdo tão obcecados ficam os boxeadores com o esporte que praticam.

Em alguns esportes praticados individualmente a meta dos atletas é sempre a de superar recordes. Nadadores vivem às turras com marcas, existindo índices mínimos a serem atingidos em processos classificatórios para competições. As olimpíadas podem ser consideradas como um momento mágico para a superação de recordes. Durante a realização delas revela-se toda a obsessão de atletas em relação ao esporte que praticam. A busca da vitória e o estabelecimento de recordes representam não só a superação do atleta que vence, mas a quebra de limites. Até onde o homem pode chegar?

Entretanto, estabelecer recordes não é atributo restrito aos esportes. Na verdade corre solta por aí afora uma verdadeira mania de bater recordes, estimulada pelo Guinness World Records”. Fazer parte do “Livro dos Recordes” em qualquer categoria é anseio de muita gente. Na verdade o número de categorias parece ser infinito dado que sempre existem obstáculos a serem vencidos. Isso digo porque só de ontem para hoje dois recordes foram batidos. O primeiro deles foi o do mais longo beijo dado sob a água: um casal de nadadores ultrapassou a barreira dos 3 minutos, beijando-se debaixo d´água. O outro recorde teve lugar numa pequena cidade do Paraguai na qual está se realizando numa feira internacional. O novo recorde refere-se a um feito culinário: a maior salsicha do mundo, de 203,8 metros de comprimento e 120 quilos.

O feito foi atestado por uma representante da organização do “Livro dos Recordes”. Ela comprovou o tamanho da salsicha e entregou o certificado a uma empresa paraguaia que promoveu a iniciativa. Com isso foi desbancada do primeiro lugar a cidade de Málaga, na Espanha, até então detentora do recorde e ter feito a maior salsicha do mundo com  apenas 150 metros de comprimento.

Até esse momento não se divulgou como estão as coisas em Málaga após tão humilhante derrota. No Paraguai há festa porque junto com a enorme salsicha foi feito um pão de mesmo comprimento que ela e pesando 145 quilos.  Pão e salsicha foram distribuídos gratuitamente aos presentes na feira, após o certificado do Guiness.

Mundo, mundo, vasto mundo, dizia o poeta.

Ainda e sempre Cuba

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O câncer de Hugo Chávez abre perspectivas econômicas a Cuba, segundo se noticia. Explica-se que caso Chávez viesse a morrer a ajuda econômica da Venezuela a Cuba cessaria e os cubanos teriam que abrir as portas para o comércio internacional, fazendo negócios mesmo com países que professam ideologias diferentes. Recorde-se que em 2010 a ajuda venezuelana representou cerca de 3% do PIB da ilha.

Aos que admiram Cuba nunca importou muito que a revolução de Fidel Castro contra o regime de Fulgêncio Batista tivesse descambado para o isolamento do país, ditado pelo bloqueio econômico imposto pelos EUA. O alinhamento de Cuba com a Rússia e a ideologia professada pelos irmãos Castro e seus seguidores foi mais que suficiente para seduzir esquerdistas em todo o mundo. Assim, Cuba converteu-se num símbolo de resistência política e ideológica contra o imperialismo norte-americano ainda que isso representasse grande soma de sacrifícios à sua população. Atrás do símbolo erigiram-se heróis, destacando-se a figura de Che Guevara, ainda hoje exemplo de rebelde que levou o estranhamento com o imperialismo às últimas consequências.

Por outro lado as críticas ao regime cubano avolumaram-se ao longo dos anos, destacando-se o atraso do país, a ditadura de Castro, a falta de liberdade e as condições de vida na ilha.  Entretanto, tais críticas não se mostraram suficientes para abalar a opinião de grande parte dos simpatizantes do regime cubano. Mesmo entre nós, graças à polarização ideológica nem sempre superada, o assunto ainda desperta discussões acaloradas. Cuba permanece como símbolo de resistência e ponto final.

Nem sempre foi fácil entender a posição dos que simpatizam com Cuba, devendo-se reconhecer o exaustivo trabalho da propaganda contrária ao regime, sempre incapaz de citar qualquer vantagem ligada ao isolamento do país. É nesse sentido que vale a pena ler um texto do escritor argentino Julio Cortázar no qual ele esclarece a sua posição em relação à Cuba e ao imperialismo norte-americano. O texto é de 1969 e busca responder a perguntas formuladas pela Revista Life. Cortázar desde logo avisa que desconfia de publicações norte-americanas, como a própria Life, dado que elas, consciente ou inconscientemente, estão a serviço do imperialismo norte-americano. Segundo ele o capitalismo norte-americano se serve dessas publicações para os seus fins últimos entre outros o de colonização da América Latina. Diz:

“Hoje sabemos que a CIA pagou revistas que falavam muito mal da CIA, um pouco como a Igreja Católica tem sempre um setor avançado que se arremete contra encíclicas e concílios”.

Cortázar declara que seu ideal de socialismo não passa por Moscou, mas nasce com Marx para projetar-se na realidade revolucionária latino-americana, “realidade esta com características próprias, com ideologias e realizações condicionadas por nossas idiossincrasias e necessidades, que hoje se expressa historicamente em fatos tais como a Revolução Cubana, a guerra de guerrilhas em diversos países do continente e figuras de homens como Fidel castro e Che Guevara”. A seguir Cortázar expõe sua visão crítica sobre o socialismo latino-americano e diz rechaçar o prolongamento, em longo prazo, de estruturas revolucionárias.:

“Meu humanismo é socialista…; se não aceito a alienação que o capitalismo exige para atingir os seus fins, muito menos aceito a alienação derivada da obediência a aparatos burocráticos de sistemas revolucionários”.

O artigo de Cortázar faz parte de publicação recente cujo título é Papeles Inesperados, publicado em espanhol pela Alfaguara. Existe uma edição em português, Papéis Inesperados, publicada pela Civilização Brasileira. Dado ao ano em que foi escrito – 1969 – o texto não avança sobre o prolongamento da Revolução Cubana, justamente um dos pontos combatidos por Cortázar em relação a processos revolucionários. Mas, o texto do escritor argentino estabelece, com precisão, as razões pelas quais a simpatia como regime cubano ganhou tantos adeptos ao longo dos anos. Ao humanismo socialista e mesmo posições mais extremistas agregou-se a aversão à inquestionável supremacia norte-americana sobre o continente latino-americano, despertando justas reações contra o imperialismo praticado por aquele país.

Muito século XIX

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A prefeitura de São Paulo rejeita bustos - mesmo por doação - para serem colocados em lugares públicos, alegando que elas são “muito século XIX”. Mas, o que vem a ser esse “muito século XIX”?

A pergunta é interessante e, para começo de conversa, nos obriga a delimitar o século XIX. Os historiadores consideram que o século XIX é o período compreendido entre as guerras napoleônicas (1814) e o início da Primeira Guerra Mundial (1914). Como se vê, pelo menos sob o ponto de vista histórico, os 100 anos do século não se enquadram no esperado “de 1800 a 1900”. O fato é que a Grande Guerra provocou uma enorme ruptura em tudo aquilo o que  o século XIX consagrara como modo de vida.

O XIX é sempre lembrado como “o século das revoluções”, dada a frequência de revoltas, levantes e guerras civis que aconteceram no continente europeu.  Grande parte desses movimentos se explica pelo confronto entre os poderes estabelecidos e as forças contestadoras de oposição. São revoltas e revoluções influenciadas pelo liberalismo e ideias nacionalistas.   Na América, em especial no Brasil, trata-se de um período de grandes transformações políticas, na verdade iniciadas, em 1808, com a chegada de D. João VI. A partir daí tem-se a independência, em 1822, o primeiro e o segundo reinados, a Proclamação da República, em 1899, e os governos republicanos até 1914 quando se considera, historicamente, o fim do século. Verificou-se, nesse período, a consolidação da nação.

Mas, o século XIX também foi a período em que se verificou a expansão do capitalismo com consequências sobre o modo de vida. O crescimento da indústria, o impacto da tecnologia e das invenções influiu no cotidiano das pessoas. Obviamente, no Brasil, país periférico, as coisas se passaram mais lentamente, embora o afluxo de ideias movimentasse a elite pensante do país. É de 1870 o famoso texto escrito por Silvio Romero falando sobre as ideias que esvoaçaram sobre os intelectuais da época:

“Um bando de ideias novas esvoaçou sobre nós de todos os pontos do horizonte. Positivismo, evolucionismo, darwinismo, crítica religiosa, naturalismo, cientificismo na poesia e no romance, folclore, novos processos de crítica e de história literária, transformação da intuição do direito e da política, tudo então se agitou e o brado de alarma partiu da Escola do Recife”.

O fato é que a revolução industrial e científica observada a partir da segunda metade do século XIX afetou o modo de pensar, influindo decisivamente na arte onde a tendência passou a ser de rompimento com o passado. Nomes como os de Rodin, Manet, Monet, Van Gogh e Paul  Gauguin estão ligados a uma época na qual triunfam o realismo, o impressionismo, a Arte Nova e o simbolismo. Rompe-se com o “belo acadêmico” e o artista passa a testemunhar o mundo em que vive, deixando para traz o romantismo e o academicismo.

No Brasil, em 1816, chega a Missão Artística Francesa para fundar a Academia Nacional de Belas Artes. Os professores franceses ensinam a seus alunos os conceitos e fundamentos da tradição neoclássica francesa. É assim que o estilo acadêmico neoclássico afirma-se no país com a produção de obras que privilegiam o belo, o equilíbrio, temas heroicos etc. Nomes como os de Victor Meirelles e Pedro Américo se destacam.

Também neoclássica é a escultura brasileira do período, nascida dos ensinamentos da Missão Artística Francesa na Academia Nacional de Belas Artes. Os princípios neoclássicos reproduzem-se na escultura: clareza, ordem, equilíbrio e propósito, austeridade e fundo moralizante.   Destaque para Rodolfo Bernardelli, escultor de bustos de personalidades, monumentos e obras tumulares. É dele a estátua de D. Pedro I que está no Museu Paulista, o Monumento de Carlos Gomes em Campinas e as estátuas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

A República brasileira foi feita por homens de convicções diferentes, destacando-se militares e positivistas, com menor participação de elementos civis de tendências liberais. A vertente positivista foi representada por Benjamin Constant, ídolo da juventude militar que, embora tendo rompido com a Sociedade Positivista, manteve boas relações com seus membros mais ortodoxos. Vários monumentos localizados em praças no Brasil seguem a orientação positivista. Esse é o caso do monumento a Floriano Peixoto localizado na Cinelândia e do em homenagem a Benjamin Constant na Praça da República, ambos no Rio de Janeiro.

O que se pretendeu com essas rápidas pinceladas foi traçar um breve painel sobre a linhagem artística dos monumentos e bustos que existem em nossas cidades. É bom lembrar que cidades como Paris possuem incontáveis monumentos e bustos em suas ruas. O que se contesta na rejeição da prefeitura da cidade de São Paulo à colocação de bustos é a explicação “muito século XIX”. O que deveria importar é a qualidade artística do trabalho e o perfil do homenageado, afinal sabe-se que assembleias e câmaras são pródigas em autorizar nomes de ruas e outras homenagens públicas a figuras sem a menor expressão.

Trem-bala

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Confesso que sou favorável às obras que resultarão num trem-bala que ligará Campinas ao Rio de Janeiro. Sei que existem prós e contras, parece até que mais contras do que prós. Em todo caso o Brasil é carente em matéria de transportes, estando o setor ferroviário inexplicavelmente abandonado. Linhas férreas ligando partes distantes deste país imenso seriam muito benvindas. Facilitariam não só a vida dos cidadãos em trânsito como o transporte de cargas, quem sabe desafogando as estradas que, por sua vez, estão em condições precárias.

Mas, ao trem-bala. Imagine você um trem ultrarrápido que permita aos passageiros o movimento entre o Rio e São Paulo sem ter que usar a ponte- aérea. Não adianta me dizer que a obra é faraônica e existem outras prioridades. Prioridade por prioridade não se construiriam estádios monumentais para a Copa do Mundo utilizando, em parte, dinheiro público. Depois, se há uma coisa que aprendi sobre o Brasil é que quando algo realmente útil deixa de ser feito, o dinheiro some do mesmo jeito. Juscelino fez aquela loucura de construir Brasília, na época endividando ainda mais o país. Bem, Brasília existe, está lá, ninguém mais discute o assunto. Sei que não é simples assim, o raciocínio é simplista demais, mas que fazer?

Demais, gosto de trens. A gente nova que anda por aí de carro talvez não conheça o encanto de uma viagem de trem. Quando menino e rapaz fui usuário da Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ) que liga Pindamonhangaba a Campos. O bonde saía de Pinda em direção a Campos - e vice-versa - pegando e deixando passageiros em paradas intermediárias. No trecho do Vale do Paraíba a composição circulava com três vagões. No trecho de serra, muito íngreme, apenas um dos vagões circulava. Esse foi o meio de transporte de muita gente durante décadas de vez que a estrada de terra era péssima. No período de chuvas a estrada tornava-se intransitável obrigando veículos que nela se aventuravam a usar correntes em torno dos pneus. A EFCJ ainda existe, mas já não tem a importância de antes. Hoje em dia o trecho de serra é percorrido por um bonde de luxo no qual viajam turistas que se encantam com as belezas naturais da Mantiqueira.

Também fui usuário, nos meus tempos de rapaz, da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) que liga São Paulo ao Rio. O trecho era percorrido por um trem de luxo, o “Trem de Aço”, nome dado pelo aspecto metálico de seus vagões. Mas, existiam outros trens de passageiros, menos chiques e bem mais baratos. Fui algumas vezes ao Rio num trem de segunda classe que passava pelo Vale do Paraíba tarde da noite. Eu embarcava na estação de Taubaté. Passagem mais barata, bancos duros, vagões apinhados por passageiros que faziam o possível para cochilar um pouco. Eu amava aquilo. Amava ainda mais o raiar do dia e a chegada do trem na Estação de D. Pedro II. Era a glória. Estava no Rio, em geral só com alguns trocados no bolso, uma aventura e tanto. Dormir? Ah, num dos bancos da própria estação, isso após um giro geral noturno na Cinelândia que por aqueles tempos fervilhava.

O Rio era lindo, o trem tinha seus encantos, a juventude fazia todo o resto. É em função disso que espero, ansiosamente, pelo trem-bala.  Serei dos primeiros a embarcar e quero ter o prazer de descer na Estação de D. Pedro II. Quem sabe, nesse dia e só nele, seja decretada uma trégua no Rio para receber o trem-bala. Então será possível sair da estação e circular a pé pelo centro da cidade, sem medo, sem balas perdidas, sem camelôs, admirando aquilo que foi e será num único dia de festa.

Ah, não será mais preciso dormir no banco da estação.

Quando tudo e nada acontece

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Você olha para a cerca de cedro que separa a sua casa da rua. Você observa os buracos por onde entram os vira-latas. Eles rasgam os sacos de lixo e espalham os restos sobre a grama verde queimada pela geada. Malditos vira-latas, maldito você que não ouviu o velho. Você plantou o cedro, cada muda distante um metro da outra. O velho viu e disse: o certo é uma muda a cada meio metro, senão vai ter buraco.

São passados trinta anos desde essa tarde de plantio de mudas e velho falando sobre espaços entre elas. O velho morreu, os buracos estão aí, esperando que você morra para que os vira-latas possam entrar em paz.

Não existe lugar no mundo melhor que as pequenas cidades para que se possa constatar a brevidade da vida. Num lugarejo você conhece todo mundo, tem nas mãos o pulso de uma geração. Você convive com as pessoas que depois de um longo tempo desaparecem. Então você anda pelas ruas e encontra gente que não conhece. Nos lugarejos o vazio torna-se mais presente, impositivo. Você também sabe que não muito longe fará parte do vazio da memória de alguém, mas isso não serve de conforto.

Novos homens virão, com cercas de cedro, buracos e vira-latas passando por eles. Mas, você não verá nada disso porque terá desaparecido, suavemente, como aconteceu e acontece  a todo mundo.

Escrito por Ayrton Marcondes

10 julho, 2011 às 7:50 pm

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Em torno da governabilidade

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Nem todo mundo sabe o que é governabilidade de modo que alguns políticos costumam explicar o significado dela quando a utilizam em suas declarações. Eles tratam a governabilidade como mal necessário dentro do sistema político em curso no país. Em suma, só é possível governar com a sustentação de uma base aliada composta por parlamentares de alguns partidos. Ocorre que o apoio desses parlamentares se faz em função do toma lá da cá. Troca de favores, portanto, na qual os parlamentares aprovam projetos do governo recebendo algum tipo de favorecimento. Isso representa que a máquina administrativa funciona sob os fluídos de uma eterna negociação. Não havendo outro jeito o que se pede é transparência e preservação de princípios de honestidade. Não se negociam princípios essa deve ser a regra que, infelizmente, nem sempre é cumprida.

O grande problema está no fato de que um sistema dessa natureza exige a presença de um gerente capacitado a comandá-lo. Há que ser firme, impor respeito e apto para negociações para que os parlamentares não passem a exigir demais. São essas as qualidades que se esperam do presidente da República daí as críticas que se avolumam em torno do governo de Dilma Roussef. Dela se diz que governa dentro de gabinete, não dialoga e têm proporcionado momentos de perigosos recuos diante de seus aliados, submetendo-se às exigências deles. Posições que deveriam ser firmes não o são de fato e já se fala que a firmeza não é um dos atributos da presidente.

Para piorar um governo de apenas seis meses de duração já perdeu dois ministros acusados de corrupção. O primeiro, da Casa Civil, era figurinha carimbada do governo anterior ao qual teve que renunciar sob o peso de graves acusações; o segundo, dos Transportes, não resistiu a denúncias de superfaturamento de obras e ao crescimento de 86 mil por cento verificado em empresa de um filho dele, isso no prazo de dois anos.

O que nos conduz ao mentor desses arranjos, o ex-presidente Lula. Afinal, foi ele quem tirou da cartola a então desconhecida que hoje ocupa a presidência da República. Os dois ministros acusados de corrupção são, também oriundos do governo dele. Desses e outros fatos fica a impressão de que pode ter existido uma estratégia, agora em curso, de retorno ao governo. Um presidente bom e forte dificultaria a volta de Lula ao poder. Pode até ser que esse raciocínio não passe de pura elucubração diante de acontecimentos que preocupam a opinião. Mas que o caminho para o retorno vai ficando cada vez mais transitável, isso vai. Afinal, fazer-se necessário sempre foi o melhor meio de não ser esquecido.

O tamanho do órgão sexual masculino

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Quem costuma ler a sessão de cartas da Revista Playboy conhece a enorme preocupação dos leitores quanto ao tamanho do pênis. Não é incomum que rapazes escrevam perguntando sobre o tamanho normal do pênis ereto, confessando particularidades pessoais e buscando respostas para as suas situações individuais. Não dá para saber se as respostas da revista, quase sempre tranquilizadoras, recomendando o auxílio de um médico ou às vezes descambando para a piada logram atingir os efeitos desejados. Rapazes menos dotados impressionam-se com notícias sobre pênis maiores e associam o tamanho à eficiência sexual. Destaque-se que a revista em suas respostas repete, exaustivamente, que na média o pênis ereto com 14 cm de comprimento é adequado, insistindo que o prazer sexual da mulher não está diretamente ligado ao tamanho do pênis. Obviamente, não dá para esconder que medidas muito abaixo dos tais 14 cm são preocupantes.

O fato é que o tamanho do pênis está ligado à noção de masculinidade e faz parte das fantasias femininas. Em torno disso prolifera certa indústria de artefatos que prometem milagres de crescimento do órgão genital, fato sempre negado pelas autoridades médicas. Para piorar a situação o mercado da pornografia produz inúmeros filmes nos quais figuram homens com órgãos genitais realmente muito grandes, fazendo parecer aos incautos que todo mundo deveria ser daquele jeito.

Como se vê o assunto permite inúmeras derivações o que não é o propósito destas linhas. O que se quer é apenas falar um pouco sobre o imaginário que cerca o tamanho do pênis. Já que só é possível constatar o tamanho do pênis de alguém  por observação direta correm por aí métodos estimativos baseados em comparações com outras partes do corpo. Os mais comuns e sempre citados são aqueles que relacionam os tamanhos dos pés e das mãos com o do pênis: pés e mãos grandes significariam tamanhos maiores de pênis, havendo quem diga o contrário, propondo esses a tal “regra do inversamente proporcional”.

É de se imaginar a quantidade de piadas que giram em torno dessas avaliações e do próprio assunto. Ninguém leva a sério os métodos de avaliação correntes, sendo que o meio de constatar com precisão o tamanho do pênis de alguém é, como  se disse, a observação direta. Bem, isso até agora porque pesquisa publicada no “Asian Journal of Andrology” propõe método eficaz para a avalição do tamanho do pênis. Segundo os pesquisadores pode-se inferir sobre o tamanho correto do pênis fazendo-se uma continha que envolve as medidas dos dedos indicador e anular. Basta dividir o comprimento do dedo indicador pelo comprimento do dedo anular, sendo que quanto menor for o resultado, maior deve ser o pênis. Em outras palavras homens que possuem o dedo indicador menor que o anular têm pênis ereto mais longo.

A pesquisa foi feita em 144 homens daí os pesquisadores avisarem que é restrita, necessitando-se de mais comprovação. Em todo caso está aí um método não tão empírico de avaliação do tamanho do pênis ereto, chancelado por médicos chineses. A ver como aumentarão as observações de mãos masculinas quando essa notícia for espalhada.

Jornalismo de denúncia

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Tornou-se rotina no jornalismo brasileiro: não se passam mais que poucas semanas - às vezes a coisa é quase ininterrupta – para que seja noticiado um escândalo envolvendo personalidades públicas em atividade no governo ou no Congresso. Há poucos dias ressurgiu o caso dos “Aloprados”, dossiê que teria sido encomendado contra José Serra; na sequência está em pauta o Ministério dos Transportes suspeito de elevação de verbas de onze obras. Isso para ficar no mais recente. Um pouco mais atrás está o caso de Erenice Guerra, o mensalão do DEM, aquele outro mensalão e por ai vai.

De todo modo fica claro que os últimos anos foram pródigos em denúncias de negociatas, coincidindo com o período de governos de pessoas que, no passado, proclamavam-se campeões da honestidade. Esses fatos suscitam aos brasileiros perguntas difíceis de responder. Afinal o que acontece? Teria se tornado o jornalismo de denúncia um derivado do sensacionalismo que, afinal, atrai leitores e vende muito? Não haveria algum exagero persecutório na busca incessante de desmascaramento de pessoas e mesmo órgãos do governo? Teria o país sido entregue a uma mal parida e formidável geração de corruptos que praticam a corrupção compulsivamente como se fosse ela traço inalienável do caráter dos políticos? Estaria em vigor legislação de tal modo leniente, constituindo-se em verdadeiro convite às transgressões? Teríamos atingido um ponto irreversível no qual o espaço público estaria aberto a toda sorte de maquiavelismos de que é capaz o animal político? Afinal, qual a raiz de comportamentos como o de prefeitos acusados de corrupção, ministros denunciados de falcatruas, presidentes acomodando-se ao vai-e-vem de necessidades partidárias, desvios de dinheiro público, lodo de negociatas, favorecimentos etc?

Parodiando a letra da música, alguma coisa acontece no coração do Brasil que resiste bravamente à corrupção. Um novo tipo homem parece habitar as instâncias superiores nas quais não hesita em colocar interesses pessoais, ainda que escusos, à frente dos interesses do Estado. O manto do crescimento do país confere a ilusão de destino glorioso, mas acobertando situações absurdas que, sob o ritmo frenético de declarações ufanistas, são encaradas como normais dentro de um processo de amadurecimento.

Enquanto isso o inverno segue. Temperaturas baixas no sul do país flagelam pobres. Um casal e seus sete filhos moram numa casa de tábuas e dispõe de apenas dois cobertores. É aprovado um pacote de benefícios fiscais para a construção de um estádio para o Corinthians em Itaquera. Publica-se que a União pagou R$ 14 milhões por internações de mortos. O BNDES está para patrocinar com a quantia de R$ 4 bilhões um acordo entre o Pão de Açúcar e o Carrefour. E esperamos, sem ansiedade, as próximas denúncias envolvendo órgãos e personalidades públicas. Exagero? Tudo certo? Tudo errado?

Há muitos invernos não fazia tanto frio no sul do país.

Três pinos

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E entramos na era dos três pinos, novo tipo de tomada que visa prevenir choques, curtos-circuitos, incêndios e tudo o mais. Agora as lojas não podem mais vender tomadas e plugues de dois pinos. Para que serve o terceiro pino? Ele funciona como fio terra para aparelhos que precisam de aterramento.

A notícia é benvinda principalmente para os homens a quem cabe a solução de problemas elétricos, vazamentos, entupimentos, barulhos estranhos, carregamento de objetos pesados e até enfrentamento de estranhos caso apareçam nas casas. Homem também sofre - dizia um filósofo de botequim após o décimos copo de cerveja. Lembrava o filósofo que aos homens pertence o combate a baratas, aranhas,  lagartixas, pererecas, ratos e todos os seres que provocam pânico em mulheres. Homem – acrescentava – é aquele cara a quem cabe a troca de um pneu furado em meio à tempestade enquanto a mulher espera dentro do carro, muitas vezes ligada no espelhinho, corrigindo a maquiagem enquanto o sofredor se atola com o macaco.

De vez que falei sobre o filósofo de botequim não custa traçar um perfil dele, antes de retornar aos pinos. Pois esse filósofo era homem de respeito, muito lido e conhecedor de civilizações antigas em cujo comportamento baseava suas considerações do presente.  Achava a vida um teste ingrato de sobrevivência dado que a obrigação de civilidade tolhe os mais profundos impulsos da natureza humana. Admirava-se do fato dos seres humanos – animais domesticados – submeterem-se sem revolta a códigos impostos pelos poderosos de todas as épocas. Via nas religiões método eficaz para disseminar culpas e gerar multidões de infelizes, sendo os credos nada mais que ferramentas utilizadas para abafar os sentidos e conter revoltas – instrumentos de dominação, reforçava.  O filósofo não chegava a ser anarquista porque certas tendências autoritárias geravam conflitos em seu espírito. De todo modo ensinava que a civilização impôs ao homem - ao macho – obrigações exageradas tal como a responsabilidade do sustento da família. Era esse o modo de pensar dele. Pouco antes de morrer assistiu ao processo de libertação da mulher, mas permaneceu cético em relação à igualdade entre os sexos.

Bem, aos pinos. Há pouco tempo ouvi de jovens recentemente casadas que seus maridos são uns incapazes dado que não ajudam em nada em casa. Se uma simples lâmpada queima o jeito é chamar o eletricista. Não nego que achei exagerado o fato desses tais não se prestarem a realizar coisas simples como a referida troca de lâmpadas. Entretanto, devo confessar minha solidariedade a eles, pelo menos no terreno das coisas elétricas. O caso é que, em geral, somos inaptos para certos tipos de coisas, entre elas serviços elétricos. Resistências de chuveiro queimadas, por exemplo, nem pensar. E aí se poderia acrescentar uma longa lista de inaptidões dos valorosos e tão criticados maridos.

Tá bom que um choquinho de 220 V não é lá grande coisa. Entretanto, se você estiver no alto da escadinha que sua mulher usa para guardar coisas na parte de cima dos armários o tranco pode até ser perigoso. Daí que recebo com muita satisfação essas tais tomadas de três pinos nas quais caberá ao pino terra fazer a parte dele, impedindo acidentes. Pelo menos quando eu estiver no alto da escada, trocando uma lâmpada fluorescente de quase dois metros, poderei sorrir tranquilo, esbanjando a segurança dos que conhecem muito bem o ofício, impressionando os presentes com os meus dotes de eletricista, ainda que falsos. Disfarçando o medo, essa é a regra.

Altos e baixos

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Dirão que mais cedo ou mais tarde a verdade aparece o que não passa de lugar-comum nem sempre verificado. Em todo caso o episódio envolvendo o Strauss-Kahn, o ex-poderoso chefão do FMI, dá o que pensar. O fato é por demais conhecido e escandalizou o mundo: Strauss-Kahn abusou sexualmente de uma camareira do hotel onde estava hospedado. Denunciado o chefão foi preso e sobre ele se abateu toda sorte de reprovações. Da noite para o dia surgiram na imprensa mulheres para atestar os maus antecedentes de Strauss-Kahn, relatando terem sido assediadas por ele e mais que isso. A circunstância de Kahn ter saído muito depressa do hotel esquecendo-se de pertences pessoais, a prisão dele quando já embarcado num voo para a Europa, a eficiência da polícia norte-americana, as imagens de homem tão poderoso conduzido por policiais, tudo isso acrescentou à torpeza da violência sexual contra a pobre camareira um colorido especial. Aos quatro ventos indagava-se: por que homem tão importante deixou-se vencer pelos instintos bestiais que a civilidade reprime, entregando-se à caça e posse de uma fêmea e isso a qualquer custo?

De repente, ao fato sedimentado acrescentam-se novas cores: a camareira cai em contradição e muda o seu depoimento. Com isso a justiça norte-americana decide libertar Strauss-Kahn embora mantenha a acusação de ataque sexual. De imediato passa-se a falar em armação contra Strauss-Kahn que seria vítima de bandidos ou de inimigos políticos, tese que no princípio era considerada improvável.

O caso Strauss-Kahn ilustra bem a manipulação de opinião a que estamos expostos.  Entre os fatos e a interpretação deles interpõe-se toda uma cadeia de intermediários. Os fatos contundentes inicialmente apresentados nos levaram a supor que o abuso sexual tenha ocorrido. Agora surge a possibilidade de que tudo não tenha passado de um bem arranjado meio de incriminar Kahn, com consequências para as ações do FMI e a próximas eleições presidenciais francesas. Resta saber se a atual versão é verdadeira e não haverá surpresa caso novos ingredientes sejam acrescentados a essa mal cozida sopa de infortúnios.

No mais, o episódio envolvendo Strauss-Kahn e a camareira do hotel ilustra exemplarmente os altos e baixos dessa louca vida. Há não muitas horas a reputação de Kahn estava destruída; agora já se fala na possibilidade de ele candidatar-se à presidência da República na França. Do topo ao fundo, dele ao topo.