2011 dezembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para dezembro, 2011

31 de dezembro

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Morreu o jornalista e escritor Daniel Piza aos 41 anos de idade. Piza estava com a família na cidade de Gonçalves-MG, onde passava as festas de fim de ano. Foi vitimado por um AVC e partiu desta para a melhor.

A morte prematura justamente ocorrida às vésperas da passagem de ano é intrigante. Por que um jovem que tinha a vida pela frente, que gozava férias no interior, por que morreu ele? Por que tinha que morrer, deixando atrás de si mulher e três filhos, justamente agora?

Não importa que nos expliquem que o programa que controla a duração da vida está inscrito no DNA. Nem mesmo importa que existam explicações para as mortes precoces que enlutam famílias de modo tão repentino. O que vale é o fato da morte em si, da perda para a família, as saudades inevitáveis pelo vazio provocado por aquele que nos deixa.

Daqui a pouco entraremos em 2012. Um novo ano se iniciará com as surpresas do cotidiano, os altos e baixos que sucedem no decorrer dos nossos dias. Agora, faltando cerca de quatro horas para a passagem de ano, eu me pergunto sobre essa vida que nos prepara tantas surpresas. Quantas pessoas terão saído deste mundo nas últimas horas e não verão o ano que está para começar! A morte de Piza, a quem vi certa vez de relance, acontece justamente nessas horas em que deveria ser proibido morrer.

O fato é que não existe regra definitiva para nada nesse mundo. Dias trás perdi um cunhado, pessoa muito querida que lutou até o fim, mas não verá o amanhecer d o primeiro dia de  2012. É a sensação de estar à mercê de acontecimentos fortuitos, o maior deles a morte, que nos induz a esse apego à vida. É preciso viver, bem viver, passar magnificamente a meia-noite que nos conduzirá ao ano de 2012, porque o futuro é incerto, a duração da existência incerta.

Que vivamos muito e bem, amigos e solidários, porque a vida vale de verdade pelos bons momentos, esses sim aparentemente eternos.

Casos de amor

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Há sempre o modo de ver de Nelson Rodrigues para quem os seres humanos são como são, atores de uma comédia de costumes na qual se acomodam muito bem a papéis tantas vezes tenebrosos. As personagens de Nelson expõem o outro lado da índole humana que fazemos de tudo para ocultar de modo que possamos ser vistos como gente ponderada, boa, sem vícios etc.

Nelson Rodrigues escreveu muitos textos inesquecíveis.  Um deles é a história de um sujeito que é avisado por um amigo de que está sendo traído pela mulher. Como o marido traído parece não acreditar que está sendo corneado o amigo dá a ele o endereço e o horário em que a mulher dele se encontra com o amante. Acontece, então, que o marido vai ao local e, oculto, vê a mulher dele entrar no hotel com o amante, só saindo muito tempo depois. Mais tarde o marido encontra-se com o amigo que pergunta a ele como as coisas se passaram, se presenciou a cena da traição. A resposta do marido é inesperada:

- Não era ela.

Nem todo mundo é assim e histórias como essa podem até mesmo ter fins trágicos como muitas vezes acontece.

Hoje se noticia que um italiano de 99 anos de idade, cinco filhos e muitos netos, pediu divórcio porque descobriu que sua mulher teve um amante nos anos 40. Antonio, o italiano, encontrou numa gaveta cartas de amor da mulher e decidiu partir para a separação. Trata-se do fim de um casamento que durou 77 anos e Antonio talvez seja o homem mais velho a ter pedido divórcio, fato que estabelece um recorde.

O interessante é que Antonio descobriu o caso em 2002, portanto há nove anos. Rosa, a mulher de Antonio, confessou ter escrito as cartas e, a partir daí, Antônio passou a ter ataques de ciúmes e constrangimentos. Mas só agora o marido decidiu-se pela separação, embora os apelos de Rosa que hoje tem 96 anos de idade.

O caso de amor entre Antonio e Rosa fala por si só, não requer comentários, opiniões e julgamentos.

Você vai ser multado

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Se você não está satisfeito com as multas aplicadas no trânsito prepare-se: o Conselho Nacional de Trânsito (Contram) revogou a obrigatoriedade de colocação de avisos sobre a existência de radares. Sabe aquela coisa de ver uma placa avisando que logo mais à frente existe um radar e diminuir a velocidade para não ser multado? Pois essa mamata já era.

O ato do Contram justifica-se pelo fato de que de nada adianta um radar que leva o motorista a reduzir a velocidade só para não vir a ser multado.  O certo é trafegar na velocidade permitida, pois, assim, evitam-se tantos acidentes nos quais em geral o alcoolismo está envolvido. Excesso de velocidade e álcool são ingredientes responsáveis por inúmeras mortes no trânsito, quanto a isso não há o que se discutir.

Entretanto, o fato é que as estradas e mesmo vias expressas de cidades são muito mal sinalizadas. Acontece, então, que torna-se difícil aos condutores de veículos saber qual é a velocidade máxima permitida num grande número de trajetos. Você, que está lendo este texto, certamente é capaz de citar muitos trechos de vias ou estradas nos quais é impossível saber-se a velocidade permitida. A sinalização deixa a desejar ou é mesmo péssima e ausente. E não se deve esquecer que a medida do Contram , queira-se ou não, favorece a tal indústria de multas de que tanto se fala.

Hoje mesmo foram publicados dados que nos dão conta da redução do número de mortes no trânsito após a aplicação da Lei Seca. Outros dados revelam que neste natal morreram menos pessoas em acidentes que no natal do ano passado. Boas notícias. Mas será mesmo que a colocação de radares em locais não avisados contribuirá para a redução do número de acidentes? Ou será mais uma dessas medidas que só prejudicam os cidadãos sem maiores resultados práticos?

Só com o passar do tempo teremos respostas corretas para as perguntas acima. O que se sabe é que de fato são necessárias medidas que reduzam o número de acidentes e preservem vidas. Entretanto, no que pouco ou nada se fala é na educação para o trânsito, essa sim medida a ser adotada desde os bancos escolares para a formação de uma consciência coletiva sobre o assunto. Enquanto ficar-se com a aplicação de medidas de caráter punitivo o problema poderá ser minorado, mas não na proporção desejada. A cada dia mais veículos chegam às ruas e o trânsito é um imbróglio de difícil solução. Educação para o trânsito, educação em todas as áreas, é dela que o país precisa.

A questão do Judiciário

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Há quem diga que os três poderes no Brasil a Justiça é o pior. Mas, diante de tanta celeuma o que deve pensar um cidadão que não tem acesso a informações privilegiadas, que sabe sobre o assunto apenas o que se diz por aí?

A atual situação é de conhecimento público: juízes do Supremo Tribunal (STF) suspenderam o direito do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de investigar juízes que teriam recebido favorecimentos ilegais. Em torno desse fato tem-se gerado opiniões, favoráveis e contrárias à medida do STF. A discussão é ampla. Os favoráveis à medida baseiam-se nos direitos constitucionais dos juízes. Dizem que tem que haver processo, a lei deve ser seguida senão o que se instala é a ditadura. Os contrários afirmam que a corrupção atinge também o Judiciário e é mais que hora de se extirpar o cancro que afeta um dos três poderes da República.

Enquanto cidadãos parte-se da intuição de que denúncias devem ser apuradas, ainda mais se justamente se dirigem a membros de um poder que detém a prerrogativa de julgar, absolver e condenar. Por outro lado, não há como não se ponderar sobre a democracia republicana na qual os direitos dos cidadãos, juízes ou não, são garantidos pela Constituição adotada no país. Daí que para o homem da rua, aquele que clama para que a corrupção seja banida, que acredita nas instituições do país das quais depende a vida dele, fica difícil saber “não o que deve ser feito, mas a maneira como deve ser feito”. Logo, o que pensa o cidadão comum é o óbvio: se existem denúncias elas devem ser apuradas, para isso optando-se por procedimentos legais. Quais são os procedimentos e a forma mais rápida de executá-los é assunto para juristas, sendo que não se pode, de modo algum, concordar com a impunidade ou com o fato de que privilégios de categoria prevaleçam. Portanto, trata-se do básico, não?

Não se sabe até quando o bate-boca sobre o Judiciário vai perdurar. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) posiciona-se favoravelmente ao direito do CNJ investigar juízes, apurando valores recebidos pelos magistrados. Segundo o presidente da OAB a Constituição Federal atribuiu ao CNJ competência para exercer o controle administrativo e financeiro do Judiciário e o cumprimento dos deveres funcionais dos juízes.

A ver no que isso vai dar. A situação coloca em xeque a cúpula da justiça brasileira e isso não é pouco quando se trata de um dos três poderes da república. O curioso nessa história toda é que se está a falar sobre favorecimentos a juízes, pessoas sempre respeitadas, cidadãos acima de qualquer suspeita. Talvez seja justamente essa dificuldade de sobreposição da palavra denúncia à palavra juiz o que mais nos confunde nessa história toda, afinal sempre achamos que juízes foram e devem estar no lado correto das coisas.

A 6ª economia

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Acaba de ser divulgada a classificação do Brasil como 6ª economia do mundo, ocupando o lugar do Reino Unido que desce para a 7ª posição. A mudança realizada por economistas foi publicada pelo jornal inglês The Guardian.

É de se imaginar como isso será utilizado como sinal de avanço e obra do governo federal, afinal não é todo dia que um país do chamado terceiro-mundo assume posição dessas. Antes o Brasil estava à frente no futebol, agora as coisas começam a se inverter. O futebol brasileiro passa por grande crise na qual a palavra que mais se ouve é “repensar”. O atual técnico da seleção brasileira concedeu entrevista na qual declarou que o que nos falta no futebol é continuidade. A verdade é que o Barcelona deitou e rolou sobre o time do Santos, na final do mundial realizada no Japão, e pôs a nu algo que todo mundo sabia, mas não acreditava. Mas, o mais duro foi ouvir dos vencedores que estão fazendo o que nós sempre fizemos, ou seja, jogar bem, coletivamente e com a participação de grandes jogadores no elenco.

Deixando de lado o futebol constata-se ser difícil entender a atual conjuntura do mundo. Mesmo os mais dedicados leitores da imprensa mundial, aqueles que acompanham de perto toda a movimentação política e econômica dentro e fora do país, encontram dificuldade em fechar num só novelo tantas informações que, no fundo, parecem desencontradas. Então, o Brasil é a 6ª economia do mundo? E como se explica essa vertigem de problemas não resolvidos, a espantosa crise no setor de saúde, a desigualdade social, a violência que cresce a cada dia etc.? E o país chegou a essa posição apesar de tanta corrupção revelada e sabendo-se que há muito, muito mais dela da qual não se tem notícia? Que dizer do atual governo federal cuja presidente da República goza de notável aprovação pública ainda que, na verdade, seu governo esteja mais que claudicante e não tenha mostrado, pelo menos até agora, a que realmente veio?

Mas, o Brasil é o Brasil e entendê-lo nunca foi, nem é fácil. Neste gigante territorial existe um povo mais dado a deixar para lá os problemas cruciais porque há que se viver, melhor dizendo, sobreviver. Verdade que nos dias de hoje viceja mais atenção do povo em relação aos problemas que mais afetam a vida cotidiana. Movimentos de algumas categorias de trabalhadores buscam a melhora de serviços públicos, o que não deixa de ser bom sinal. Outro bom sinal é o de gente saindo às ruas, protestando para exigir medidas que melhorem a situação de atendimento às necessidades dos cidadãos.

Para ficar num só problema eis que a 6ª economia do mundo convive com uma tremenda crise no setor de saúde pública. Diariamente os jornais televisivos exibem imagens de péssimas condições de atendimento em várias partes do país. Dias atrás, por exemplo, divulgou-se a situação esdrúxula de pacientes submetidos a hemodiálise em local totalmente fora dos mínimos padrões requeridos para esse procedimento; ou a de um hospital cuja recomendação é ser fechado dada a precariedade da situação em que funciona.

Se o assunto é saúde vale citar o engajamento das entidades médicas com seus permanentes alertas em relação à situação da medicina no país. No momento deplora-se a reprovação do Senado Federal aos apelos das lideranças e entidades médicas para que fossem destinados mais recursos ao SUS. Discute-se, também, a política nacional de criação de novas escolas médicas dados os problemas do baixo nível apresentado por médicos em provas avaliativas de seus conhecimentos e a desigualdade de distribuição de profissionais no território brasileiro.

É benvinda a notícia de que o país galga a sexta posição entre as economias do mundo. Mas, para quem está aqui dentro, quem vive hoje no Brasil, é de se perguntar no que isso refresca a vida do cidadão que enfrenta toda sorte de problemas, destacando-se a violência e a falta de recursos na área de saúde, isso para ficar apenas em duas das questões que estão a exigir dos governantes ações rápidas e acertadas.

25 de dezembro

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Chove, chove muito na Baixada Santista. Ainda bem que é natal, dia em que ficamos em casa sem necessidade ou pressa para sair. O dia 25 é o “depois da ceia” no qual, em geral, dá-se seguimento aos excessos de comida e bebida tão comuns nesta época do ano.

Não me recordo onde li que nas duas últimas semanas do ano as pessoas são tomadas por sentimentos mais humanitários e passam a tratar melhor, com mais urbanidade, umas às outras. De fato, nessa época ficamos propensos a uma espécie de balanço das nossas atitudes, da nossa vida. Existe, sim, a correria da compra dos presentes, as obrigações nem sempre agradáveis, o irritante lado comercial do natal, mas, tudo isso, torna-se pequeno diante de lances de fraternidade entre pessoas, às vezes mesmo entre aqueles que são mais arredios ao contato humano, mais fechados, mais revoltados, ou o que quer que seja que os afaste do bom convívio.

É pena que esse momento de pausa, de reflexão – e porque não de esperança – seja esquecido tão logo o novo ano se inicie. Então, tudo volta a ser como antes no quartel de Abrantes: a correria, a necessidade de ganhar a vida, as disputas, o cansaço que nos rouba a paciência, as preocupações, enfim um mar de problemas que em geral empana o lado bom da vida, o tão esquecido lado bom das coisas.

Mas, é natal e é preciso viver bem esse momento. Se abrirmos um jornal poderemos encontrar textos nos quais se enfatiza a necessidade de entendimento entre os homens, que falam sobre a esperança no porvir, textos sobre o significado religioso da data que se comemora ou lembranças de alguém sobre natais passados em sua vida. No fundo está implícito o fato de que a sociedade está a exigir mais tolerância, mais cuidados de uns com os outros, mais compreensão. Isso é dito de formas de formas diferentes, em estilos diversos, mas trata-se do mesmo assunto, do mesmo apelo, embora se perceba nas entrelinhas que quem escreve não acredita muito que as coisas venham, no futuro, a se resolver levando-se em conta o simples bom-senso.

Enfim, é natal e chove muito. Com a chuva o grande calor dos últimos dias dá trégua e o dia é muito agradável. Enquanto isso, os noticiários já nos dão conta do grande movimento de retorno para a capital, verificando-se congestionamentos. As autoridades emitem alertas para os motoristas porque pistas molhadas e muito trânsito requerem maior cuidado. Como se vê o mundo continua a girar no modo de sempre, amanhã será segunda-feira, o início da última semana deste ano de 2011 que, na média, deixou muito a desejar.

Vésperas

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Amanhã à meia-noite as famílias estarão reunidas para a ceia de natal. Trata-se de momento de intimidade entre pessoas ligadas por parentesco que se sentarão à mesa para comer e beber, deixando de lado problemas, desafetos, enfim as mazelas do cotidiano.

Desconfio que, ano a ano, o natal venha perdendo parcelas de seu encanto. Nesses dias fui, como todo mundo, às compras de presentes para entes queridos e não percebi nas pessoas o entusiasmo que o natal em geral provoca. Vi pessoas na maioria das vezes fazendo o que tinham que fazer, levadas talvez pelo hábito, mas não pude encontrar os sorrisos fartos de felicidade. Culpa da crise mundial, mundo confuso demais, receio de recessão futura? Não é possível dizer, talvez os números a serem publicados depois do natal sobre o movimento do comércio nessa época possa nos dar uma ideia da influência da economia sobre o ânimo das pessoas.

O que está em andamento agora é a grande circulação de pessoas. Como acontece em todos os anos o trânsito de fim de ano está caótico e o movimento nas estradas cresce assustadoramente. Para o final do dia desta sexta-feira espera-se grande movimento nas estradas com o fluxo de veículos que abandonam as capitais com destino ao interior. Em São Paulo espera-se muito trânsito nas vias de acesso ao interior, particularmente nas que conduzem às regiões praianas.

Tudo isso traz a sensação do já visto, do já acontecido, repetição de quadros que ocorrem em todo fim de ano, daí a nostalgia ligada aos natais passados, emoções vividas e assim por diante.

O fato é que já estive em muita ceia de natal e sentei-me à mesa com pessoas diversas, algumas das quais não mais me encontrei e outras que simplesmente morreram. Onde aquela gente toda que frequentava as casa de minha avó? Onde os meus tios dos quais guardo tão boas memórias? Todos mortos, deixando na memória tantos anos terminados, com natais e festas que sobrevivem apenas nas lembranças daqueles que eram crianças e jovens naquele tempo, os poucos que restaram.

Então, se amanhã será comemorada a noite de natal, a passagem do dia 24 para o dia 25, com ceias acontecendo nas mesas do Brasil, quero dizer que não irei à Missa do Galo e confessar que desde os meus tempos de menino deixei de comparecer a essa missa. Talvez porque minha mãe tivesse envelhecido e adoecido e eu não fosse mais à igreja com ela, talvez por descaso meu, talvez por vacilações da minha fé, talvez por tudo isso e muito mais eu tenha deixado de ir à Missa do Galo.

Enfim, amanhã será a véspera do dia de natal. É possível prever como as coisas se passarão amanhã, como as pessoas se comportarão e mesmo as notícias que receberemos através da mídia sobre as comemorações do natal. Ninguém fará, entretanto, menção a natais passados, aqueles perdidos na memória, nos quais minha mãe servia à mesa o frango assado que fora criado no próprio quintal da nossa casa. Aquele natal, assim como tantos outros perdidos no passado me pertence e tem o condão de fazer reviver os meus mortos, dar a eles a brevidade de retorno à vida ainda que apenas dentro de um jato de memória.

Fim de ano - I

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Dada a natureza algo repetitiva dos fatos que acontecem no dia-a-dia o que mais chama a atenção nesse momento são os olhares sobre este 2011 que agora já entra em agonia. Como acontece em todo encerramento de ano os meios de comunicação apelam para linha reflexiva como se a humanidade ansiasse se harmonizar com o passado e torcer por bom futuro. O ano vindouro é sempre esperança embora opiniões negativas, principalmente de economistas que não veem solução imediata para a crise internacional.

Fala-se daqui e dali para no fim eleger-se o tsunami ocorrido no Japão e as mortes de Bin Laden e Gadafi como fatos mais significativos de 2011, pelo menos até agora. A tal Primavera Árabe ocupa noticiários sendo que a morte do líder líbio ainda dá pano para mangas suspeitando-se de assassinato puro e simples fato que teria consequências. Quanto ao tsunami as imagens flagradas em vários lugares destruídos pelas águas do mar continuam a nos impressionar. Está na internet uma coleção de fotos e vídeos sobre a tragédia japonesa e simplesmente é impossível ignorá-la. Creio que mais que a observação da destruição as fotos são testemunho da fragilidade do homem e do mundo por ele criado frente à força da natureza. Se ensinamento maior pode se retirar do tsunami ocorrido no Japão é o de que a humanidade é fraca demais diante de alterações ambientais, quaisquer que sejam as origens delas. Se placas tectônicas se movimentam e geram ondas marítimas gigantes que invadem as praias ou se a destruição do meio ambiente pela atividade humana progride as consequências são e poderão sempre ser terríveis. Se nada pode impedir o movimento das placas muito há a se fazer em relação aos fatores que desequilibram os ecossistemas. Disso depende, como se repete à exaustão, a continuidade da vida na Terra.

Mas, aproxima-se o natal. É estimulante observar gente que se dedica às pessoas carentes, principalmente crianças que vivem em orfanatos e outras instituições. Sem entrar no mérito das razões que levam seres humanos a serem solidários com outros e deixando de lado explicações simplistas vale a pena nos lembramos de que talvez possamos, também, fazer algo por alguém que certamente necessita de nosso carinho e atenção. O problema é que estamos sempre envolvidos em situações que nos roubam tempo e paciência daí nos darmos o desfrute de alguma desculpa que nos desobriga a fazer alguma coisa pelo próximo. Entretanto, existem os que fazem, aqueles que, por exemplo, levam presentes a crianças carentes para que também elas possam experimentar a alegria do natal.

Refiro-me a esse fato por ter conhecido, recentemente, pessoas que se empenham muito em ajudar pessoas carentes. Terão elas, certamente, um natal feliz, dado que espelhado no sorriso que recebem das crianças carentes ao proporcionar a elas raros momentos de alegria.

O ser real e a personagem

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Aconteceu durante conversa há muitos anos. Um escritor cujo nome me escapa escrevia livro que publicaria sob pseudônimo. Papo vai, papo vem, ele disse:

- Vejam bem: de segunda a quarta sou eu mesmo; de quinta a sábado sou fulano de tal, meu pseudônimo. Incorporei isso para poder escrever. Caso queiram falar comigo procurem-me no início as semana, até a quarta, porque, depois, sou o outro.

Lembro-me de que ao ouvir isso as pessoas se entreolharam e se calaram. O autor da declaração parece ter tomado o silêncio dos ouvintes como acordo tácito e fechado. Para ele, criador, a situação em que vivia naquele momento seria absolutamente natural.

A questão do “outro” é sempre interessante.  Leio com muita atenção declarações de atores que dizem viver intensamente suas personagens, sendo, depois, difícil separar-se delas. Alguns deles atuam em séries de televisão que, por vezes, duram muitos anos daí passarem a ser confundidos com as personagens que interpretam. No Brasil creio que o ator Marco Nanini tornou-se mais conhecido como Lineu, a personagem que interpreta no programa “A Grande Família”. Ele declara que pinta o cabelo para interpretar a personagem para “não ver o Lineu no espelho” quando acorda de manhã.

Entretanto, existem pessoas sobre as quais circulam tantas histórias que talvez nunca cheguemos a saber quem realmente são ou foram. Uma delas acaba de falecer: o ditador Kim Jong-Il da Coréia do Norte. Segundo fontes oficiais coreanas o ditador faleceu vitimado por um infarto e seu corpo está sendo velado dentro de um caixão de vidro. A TV norte-coreana divulgou vídeo mostrando pessoas chorando nas ruas a morte do ditador.

Sobre Kim Jong-II circula verdadeiro mar de histórias, a principal delas seu governo com mão-de-ferro e sua oposição aos regimes democráticos do mundo. Baixinho, Kim aparecia em público usando sapatos com plataforma e cabelos arrepiados para parecer mais alto. No mais, passava por um tipo misterioso: mulherengo, amante da boa mesa e do álcool, excêntrico, intempestivo, louco por cinema etc.

Kim Jong-II foi um ditador comunista que glorificou a si e seu pai. Deixa em seu lugar o filho mais novo sobre quem existem especulações mundiais. É provável que não cheguemos a saber quem realmente foi Kim Jong-II homem misterioso sobre quem restaram mais dúvidas que certezas. Temos notícias sobre o ditador comunista que se apresentava como personagem de cabelos arrepiados e usando sapatos com plataforma para compensar os seus 1,57 m de altura e quase nada mais. Para os ocidentais a imagem de Kim veiculada pela mídia foi a de um homem perigoso, governando um país proprietário de ramas nucleares, portanto ameaça para o mundo.

O futebol brasileiro

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Não se fala noutra coisa que não a derrota do Santos diante do Barcelona no jogo que decidia o campeonato mundial entre clubes. No jogo, realizado ontem no Japão, o Barcelona proporcionou aula de como jogar e impôs derrota humilhante ao Santos. Basta dizer que o Barcelona teve 75% de posse de bola durante o jogo e que o time do Santos assistiu ao baile proporcionado pela equipe espanhola.

Terminada a partida toda sorte doe comentários, alguns muito apressados, pipocam em toda a mídia. Há quem veja na derrota santista sinal de decadência do futebol brasileiro que já há alguns anos deixou de ser o que sempre foi. Criticam-se técnicos, a falta de esquema de jogo, o futebol desarticulado que se resolve na base de chutões para frente e assim por diante. A derrota santista parece colocar a nu a atual condição do Brasil futebolístico no qual existem craques, mas não esquema de jogo.

A situação é preocupante porque a Copa de 14 vem aí e será realizada no Brasil. Nem pensar em vexame brasileiro, perdendo a Copa em casa. Infelizmente, porém, a seleção brasileira não tem se apresentado bem, tendo perdido os jogos mais importantes que realizou ao longo deste ano. De fato, diante de adversários de prestígio a seleção se deu mal, fato que coloca enorme interrogação na cabeça desse povo apaixonado por futebol.

Bem, nem lá, nem cá. O jogo de ontem me trouxe outro, aquela derrota da seleção brasileira diante da Holanda em 1974. O carrossel holandês passou pelo Brasil, embora a resistência da equipe brasileira na qual figuravam craques como Rivelino e Jairzinho. Naquela ocasião o Brasil perdeu para um futebol solidário que não determinava posições fixas e era brilhante. Nem de longe se pode comparar o comportamento da seleção brasileira de 74 como a apatia do time do Santos no jogo de ontem. Mas, entre os dois jogos é possível se estabelecer a comparação dos times vencedores nos quais craques da bola jogavam solidariamente e com esquema de jogo pré-estabelecido.

De todo modo a palavra que mais se ouve no dia de hoje em relação ao futebol brasileiro é “repensar”. Afirma-se que é preciso repensar o que acontece atualmente no futebol brasileiro que, a continuar como está, corre sério risco de derrota na próxima Copa do Mundo.

Deixando tristezas e dores de cotovelo de lado o fato é que, para quem gosta de futebol, foi uma beleza ver o Barcelona jogar. O time de Messi glorifica a grande arte do futebol e, de fato, arrebentou com o Santos. Se o jogo de ontem vier a servir para uma análise mais profunda sobre o futuro a seguir nesse esporte das multidões no Brasil, o Barcelona terá prestado grande serviço ao país com o brilhante futebol nos brindou ontem, no Japão.