2012 janeiro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para janeiro, 2012

O BBB12

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Confesso que já tentei acompanhar o BBB em anos anteriores, mas não consegui. O fato é que não achei a menor graça em seguir a trajetória dos participantes do programa, com direito a análises de comportamentos, eliminações, mudanças de liderança e tudo o que faz parte das regras estabelecidas. No fundo acho que me faltou aquela curiosidade básica pelo que se passa na casa do vizinho.

Há quem critique muito o BBB afirmando não ver razões para que seja exibido. Critica-se a falta de teor educativo e de qualquer valor cultural no programa. Muita gente se pergunta para que, afinal, serve o BBB no qual pessoas são expostas ao limite, sempre sob o olhar impassível de câmeras que flagram todos os seus atos.

De que o BBB é ruim enquanto programa não há dúvidas. Por outro lado é inegável que desperta a atenção de um grande público, atraindo, inclusive, o interesse de grandes patrocinadores. Para quem duvida disso, basta olhar as páginas de abertura de portais da internet nas quais as notícias do BBB têm destaque e são continuamente atualizadas. Isso sem falar em comentários a artigos publicados e aqueles no twitter, facebook etc.

Mas, de dois dias para cá o BBB12, atualmente em andamento, tornou-se explosivo diante da acusação de que um dos participantes teria estuprado outra participante, estando essa sem condições de perceber a injúria. O fato ganhou imediatamente grande notoriedade. Para que se tenha ideia a própria polícia decidiu-se pela investigação do possível crime cometido e um delegado já esteve no PROJAC para ouvir a mulher que teria sido estuprada.

Em relação ao acusado de estupro as opiniões têm mudado depressa. Inicialmente o diretor do BBB12 afirmou que o acusado estaria sendo vítima de racismo. Um dia depois o acusado foi expulso do BBB12 e o diretor afirmou que ele havia passado dos limites.

Obviamente, tudo isso gera grande celeuma e atrai a atenção do público. O que não se diz é que por mais explicações que se deem sobre o BBB, não se chega a consenso. O fato é que programa incomoda, despertando comoção entre os que gostam e a ira dos que o detestam. Esse último fato, a acusação de um estupro, servirá a muito falatório nos próximos dias e sempre será lembrado como algo pelo qual os BBBs deveriam ser banidos da televisão. A ver, nos dias subsequentes, o que dirão os críticos de plantão sobre mais esse triste episódio envolvendo a turma do BBB12.

Cruzeiros marítimos

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O ano começa cheio de novidades. Imagine que um enorme navio de cruzeiros simplesmente está afundando nas águas do Mediterrâneo. Estavam a bordo, entre tripulantes e turistas, mais de 4 mil pessoas. Até agora tem-se como culpado o comandante porque só ele poderia ter mudado a rota. O fato é que a embarcação estava muito perto da costa italiana e o casco foi rasgado por pedras que fizeram nele um rombo de cerca de 50 metros. Três pessoas morreram, mas há mais de sessenta desaparecidas.

Como não poderia deixar de ser o acidente que envolveu o luxuoso navio - em cuja construção foram gastos 1 bi de dólares -  foi imediatamente comparado ao do Titanic. A tragédia do Titanic, considerado indestrutível em sua época, está para fazer 100 anos e nela morreram mais de 1600 pessoas. De tal modo o naufrágio do Titanic impressionou o mundo que jamais foi esquecido, sendo sempre citado. De dois dias para cá o velho Titanic retornou aos noticiários, servindo como pano de fundo ao recente acidente. Uma senhora brasileira que estava no navio de cruzeiros desembarcou ontem no país e, abordada por repórteres, declarou que presenciou cenas iguais às ocorridas no Titanic. Naturalmente referia-se ela ao filme “Titanic” que, apesar dos muitos prêmios recebidos, deve ter desencorajado muita gente a embarcar em navios. De fato, as cenas cinematográficas do naufrágio do Titanic, mostrando o desespero e morte de pessoas nas águas geladas do mar, não são nada animadoras para quem tem algum receio em relação a cruzeiros marítimos.

Em todo caso vale dizer que os cruzeiros são de fato uma grande delícia. Entre os meses de dezembro e março os portos brasileiros recebem navios altamente luxuosos que levam milhares de pessoas em cruzeiros que se dirigem para o norte e o sul nas águas do Atlântico. Esses navios são verdadeiras cidades flutuantes dispondo de piscinas, cinema, teatro, academia de ginástica, bares, restaurantes, lojas, enfim um mundo que propicia aos passageiros boa temporada de lazer e entretenimento. Só quem já esteve num desses navios pode avaliar a extensão das perdas com o acidente que acaba de ocorrer nas costas da Itália. Sendo claro que o mais importante é a segurança dos passageiros, o fato é que a perda de uma embarcação desse calibre é um prejuízo de enormes proporções. Certamente nos dias que virão muita coisa será acrescentada a essa história por enquanto muito simples, mas que causa estranheza. O navio acidentado dispõe de controles automáticos, computadores, radares e tudo o que há de mais moderno na arte da navegação daí se afirmar que só um erro humano pode ter sido a causa da tragédia.

Bem, não é todo dia que ocorre acidente em navios de grande porte, transportando turistas. O fato é que esse assunto está bombando nos meios de comunicação e desperta enorme curiosidade. Eu, que já estive em alguns cruzeiros e adorei, acompanho as notícias com muita atenção. As imagens daquela portentosa embarcação curvada sobre o mar impressionam e muito.

Conheço pessoas que não entram em navios de jeito nenhum. Outras preferem qualquer coisa a enfrentar viagens por via área. De nada adianta ponderar que viagens por mar ou por via área são muito seguras porque, para essas pessoas, quando acidentes acontecem os passageiros ficam a mercê da situação sem nada poder fazer.

O Haiti não é aqui

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Em pauta a imigração de haitianos ao Brasil, fugindo das enormes desgraças que se abateram sobre aquele país. As imagens do terremoto ocorrido há dois anos no Haiti ainda estão vívidas em nossas memórias e o país, apesar da ajuda internacional, está longe de chegar, pelo menos, ao que era antes. Morreram mais de 300 mil pessoas, cerca de 1,5 milhão foram desalojadas e a própria capital, Porto Príncipe, foi destruída.

Nos últimos tempos cerca de 4 mil haitianos entraram ilegalmente no Brasil e a boa notícia é que o governo cederá a eles o visto de permanência. Entretanto, o Brasil vai impor, daqui pra frente, limite à emissão de vistos para estrangeiros. Em relação aos haitianos o Conselho Nacional de Imigração emitirá no máximo 1200 vistos, anualmente, para os que queiram trabalhar em nosso país.

Os haitianos que chegam ao Brasil estão entrando pelo Acre, trazidos por atravessadores que cobram até US$ 300 pelo serviço.

A adoção de política de restrição imigratória já provoca críticas, sendo considerada violação de direitos humanos, fato negado pelas autoridades brasileiras. Na prática o que acontece é torturante. Embora se noticie que muitos haitianos já estão trabalhando em empresas brasileiras, a situação dos que estão no Acre é terrível. Imagens gravadas no local mostram pessoas vivendo em condições precárias enquanto aguardam permissão para viver no país. As pessoas amontoam-se em quartos pequenos e, durante o dia, permanecem sentadas nas calçadas e bancos de praça.

Mas, o que chama a atenção nesses rostos sofridos que se arriscaram a sair de seu país em busca de vida melhor é a esperança. Lê-se neles algo que sugere a impressão de que pior do que estava no Haiti não pode vir a ficar no Brasil. Por isso vieram, por isso estão aqui, para iniciar nova vida. Talvez por isso, pela desgraça permanente no Haiti, o governo brasileiro devesse repensar a política migratória agora estabelecida. O Brasil começa a viver o período em que se encaminha, cada vez mais, para a condição de grande potência mundial e outras tentativas de imigração ocorrerão. Além disso, note-se que até hoje os governos não haviam estabelecido restrições numéricas a imigrantes de um país como agora se impõe aos haitianos.

Da Coréia do Norte

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A morte do ditador Kim Jong-il e a substituição dele pelo filho, Kim Jong-Un, abriu ainda mais ao mundo o cenário do que se passa na Coréia do Norte. De repente, aparecem depoimentos de pessoas que fugiram daquele país, narrando atrocidades. Uma delas, a existência de “Gulags” onde vivem mais de 200 mil pessoas vistas como contrárias ao regime comunista.

Nas escala de horrores narrados sobre a Coréia do Norte, destaque-se a existência da fome. Nos “Gulags”, por exemplo, as pessoas passam muitos em muitos anos de sua vida recebendo ração diária e assistindo a execuções de “traidores”. Mas, não é só nos “Gulags” que a fome impera: a população da Coréia do Norte convive com dificuldades imensas e é submetida, diariamente, à lavagem cerebral. Na verdade os coreanos são obrigados repetir “orações” que contêm elogios aos governantes, esses impondo serem adorados como deuses que põem e dispõem sobre a vida das pessoas e o destino do país. No último domingo O ditador Kim Jong-un fez aniversário e foi saudado num documentário exibido na televisão como “gênio dos gênios” em estratégia militar. O documentário faz parte da propaganda exibida pela televisão estatal, única no país, para fomentar o culto ao novo ditador, como aconteceu em relação ao seu avô e seu pai.

Para quem vive no polo oposto, o democrático ocidente - pleno de incertezas, mas no qual o cidadão tem o direito de dizer o que pensa - tudo isso pode soar incompreensível. Mas, nem tanto, talvez difícil de compreender apenas para as gerações mais jovens. É que o mundo dá muitas voltas, não? Pois, não foi aqui mesmo, neste Brasil, que vigorou, depois de 1964, uma ditadura militar durante a qual o silêncio era o melhor partido a ser tomado? Quem não se lembra daquele Brasil fechado à opinião e gerido de forma a calar qualquer tipo de dissidências? Vá lá, não era uma Coréia, mas quem viveu sabe muito bem o que foram os anos de chumbo de triste memória.

É sempre difícil comparar regimes diferentes e as desgraças de que são capazes. O comunismo da Coréia do Norte e a opressão do regime sobre o povo coreano podem não ser novidades, mas impressionam e muito. Os relatos de norte-coreanos que conseguiram fugir de seu país coincidem no fato de serem terríveis e impressionantes. Essa a sensação que se experimenta ao travar contato com o que eles dizem, despertando-nos inconformismo pela situação limítrofe na qual, ainda hoje, vivem muitos seres humanos.

A Coréia do Norte é um desafio para o mundo. O novo ditador, Kim Jung-Un ainda é uma incógnita, mas nada sugere que ele vá mudar as coisas para melhor. A Coréia do Norte, fechada sobre si mesma, chama a atenção mundial nesse momento. Mas, em breve o novo ditador deixará de ser novidade. O que se teme é que ele decida mudar a rotina, atacando países vizinhos ou fazendo uso de armas nucleares.  Caso nada disso venha a acontecer a Coréia do Norte seguirá na mesma enquanto o mundo, sem ação, fará de conta que nada de anormal acontece por lá.

Fim da cracolândia?

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Nossa! Coisa terrível, talvez incompreensível, essa da existência da cracolândia.  No centro de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo, está sendo desbaratado um centro de venda e consumo de drogas que existe há muito tempo. Trata-se de uma área onde as regras de convívio são outras, diferentes das que regem a sociedade. No lugar vive um contingente de pessoas, viciadas em crack, as quais, pode-se dizer, tornaram-se verdadeiros arremedos de seres humanos. São pessoas doentes que necessitam de cuidados urgentes, ajuda que permita a elas afastar-se do vício.

A ação das autoridades nos últimos dias teve como finalidade colocar ponto final na existência da cracolândia. O que se viu e constatou a partir da ação de policiais foi a imersão em um mundo que está ao nosso lado, mas sobre o qual  não fazemos a menor ideia de como realmente seja. Cenas terríveis. Os locais de onde foram retirados os consumidores de crack têm o aspecto dos lugares destruídos em ações de guerra que vemos com frequência na televisão após atentados à bomba. Para que se tenha ideia foram retirados do lugar, até agora, 15 toneladas de lixo. As filmagens do interior dos prédios antes utilizados pelos viciados mostram imagens desoladoras. Entrevistas com ex-drogados que viveram no lugar nos dão conta da existência de toda sorte de contravenções, inclusive a prática de assassinatos.

Mas, em meio a toda essa desgraça, destacam-se os pobres desgraçados consumidos pelo uso da droga. De repente, da cracolândia emergiu um exército de verdadeiros zumbis que, desalojados, simplesmente não têm para onde ir. Eles estão se espalhando pelos bairros vizinhos em busca de lugares onde possam ficar. São seres humanos que podem ser recuperados, afastados da droga, trabalho hercúleo que cabe à sociedade.

No mais, discute-se largamente esse assunto que é manchete nos veículos de comunicação. O fato é que a primeira operação na cracolândia parece não ter sido suficiente para afugentar traficantes e consumidores que ainda operam no local. Sobre os resultados futuros da operação não há consenso. Há quem diga que espalhar a população da cracolândia em outros bairros é pior. Muita gente chama a atenção para a necessidade de atendimento ás pessoas que se drogam, ajudando-as a abandonar o vício, ação essa humanitária e de grande alcance, mas que depende de muitos fatores entre os quais o desejo de abandonar o consumo de drogas. Por outro lado, realça-se ser intolerável a existência de uma região onde o tráfico e consumo de drogas acontece para quem quiser ver, isso em pleno centro da cidade.

Fim da cracolândia? Fim das possíveis novas cracolândias? É o que se quer, mas qualquer previsão não passa de tiro no escuro.

A decadência do cérebro

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Idosos, terceira-idade, Alzheimer, melhor idade, termos que identificam o se relacionam com o envelhecimento e assustam. Todo mundo chega lá, é inevitável, mas como se adaptar?

Em geral para as pessoas saudáveis a preocupação maior com o assunto só acontece depois dos 40 anos de vida quando começam a distinguir a juventude como coisa definitivamente do passado. Até então - e isso não é regra – vai-se levando a , dando-se algum desconto à chegada dos sinais de envelhecimento. Em nossa cultura são as mulheres as que mais se preocupam precocemente com sinais de envelhecimento daí a contínua busca de métodos para retardar os efeitos da passagem do tempo sobre a pele, enfim sobre o aspecto geral.

Mas, deixando-se de lado essa coisa toda de aspecto físico, de parecer bem e jovial, creio que na medida em que os anos passam a grande preocupação deva ser com o funcionamento do organismo, em particular do cérebro. Manter o discernimento e a capacidade de raciocínio é o que se quer. Todo mundo conhece ou ouviu falar de alguém que com a idade passou a se comportar de modo diferente ou mesmo evoluiu para a perda de contato com seus semelhantes. As alterações de memória, esquecimentos que não costumávamos ter, o desempenho inferior em algumas atividades antes executadas com excelência e as dificuldades gerais que acompanham o envelhecimento passam a preocupar pessoas muitas vezes surpreendidas consigo mesmas ao detectar falhas que antes não apresentariam.

Por trás disso tudo estão as funções cerebrais que a todo custo devem ser preservadas. Mas, a partir de que idade o cérebro começa a apresentar redução de suas atividades cognitivas, afetando a vida da pessoa? Até hoje tem-se que, em média, a redução das atividades cerebrais acontece por volta dos 60 anos de idade. Entretanto, acaba de ser divulgado um estudo realizado na Grã-Bretanha no qual se concluiu que uma pessoa começa a ter suas funções cognitivas diminuídas a partir dos 45 anos de idade. Evidentemente, as coisas não se passam de modo igual para todo mundo, fato que muito nos consola e enche de esperanças.

No estudo realizado na Grã-Bretanha verificou-se uma redução de 3,6% das funções cerebrais em homens e mulheres entre 45 e 49 anos de idade. Já entre pessoas entre 65 e 70 anos de idade verificaram-se 9,6% de redução em homens e 7,4 % em mulheres. Obviamente, alertam os pesquisadores, isso não representa que essas pessoas devam chegar à demência. Além disso, esclarecem a importância de dietas saudáveis e atividades físicas como fatores preventivos contra o envelhecimento cerebral.

No final das contas fica-se com o fato de que o envelhecimento é irreversível e o melhor a fazer é viver bem, tomando-se muito cuidado com a saúde. Para quem já passou dos 60 anos de idade haverá sempre uma dúvida quanto à manutenção da plenitude do funcionamento cerebral. O que se recomenda é manter o cérebro em atividade, estimulando-o de várias maneiras, uma delas a leitura. A manutenção do diálogo com o mundo que nos cerca é meio de nos mantermos atualizados e operantes, deixando de lado os receios ligados ao envelhecimento cerebral.

Os dois brasis

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“Os dois brasis” é o título de um livro publicado em 1957 pelo sociólogo francês Jacques Lambert. Na década de 1950 o Brasil vivia um período de otimismo, após a volta de Getúlio Vargas ao poder e, mais tarde, em pleno governo do presidente Juscelino Kubitschek. Lambert vivera no Brasil, para onde viera em 1939, participando da formação da Faculdade Nacional de Filosofia.

Em seu livro Jacques Lambert destaca a desigualdade, em termos de desenvolvimento, entre as regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste. Na época o escritor comparava São Paulo ao Ceará, destacando a disparidade existente entre as regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste. Além disso, Lambert previa um crescimento vertiginoso da população brasileira, sendo que confiava no fato de que o país poderia vir a ser uma grande potência. Entretanto, chamava a atenção para a necessidade de educação do povo e, como seria inevitável a migração da população rural para as cidades, para a criação de infraestrutura em várias áreas para atender às necessidades das populações futuras.

É sempre bom lembrar que no trabalho de Lambert nada havia de preconceituoso. A comparação entre regiões do país visava destacar as diferenças e possibilidades de desenvolvimento das mesmas tais como se apresentavam na década de 1950. Hoje, passados pouco mais de 50 anos desde o lançamento do livro de Lambert pode-se dizer que a desigualdade existe dentro das próprias regiões. Assim, tanto em São Paulo como no Ceará são notórias as situações de desigualdade social, embora ambos os estados tenham se desenvolvido bastante nos últimos 50 anos. Enfim, o livro de Lambert é tentativa de entender o país segundo suas clássicas dicotomias envolvendo riqueza e pobreza, regiões urbanas e não povoadas, modernismo e arcaísmo etc.

Na verdade lembrei-me Lambert mais pelo título “Os  dois brasis” que tem sido utilizado em muitos trabalhos, nem sempre relacionados com o próprio livro. De todo modo estão em curso, nesse momento, visões diferentes sobre o Brasil, conflitantes e nem sempre tão fáceis de acietar. O assunto tem sido destaque em vários artigos publicados por diferentes autores: existe um país visto de fora, grandioso, exuberante, 6ª economia do mundo e apontado como exemplo; e outro real, visto de dentro, com as mazelas que todos conhecemos destacndo-se crises nos setores de saúde, educação, segurança etc. Dois brasis, portanto, imagens que não se sobrepõem porque a realidade mostra-se diversa da encantadora visão passada ao exterior. De repente é o Brasil a ter condições de fornecer dinheiro ao FMI, o governo que se mostra competente pela capacidade e presteza em afastar ministros corruptos e por aí vai. Mas, para ficar num só exemplo, não se diz que os ministros foram afastados só depois que denúncias surgiram na mídia contra eles. Houvesse silêncio e o governo jamais afastaria os ministros de seus altos cargos no comando da República.

O interessante nessa história toda é que, mesmo internamente e atendendo a interesses políticos e partidários, o otimismo externo em relação ao país vem sendo usado como demonstração de que tudo está muito bem nessas plagas. Estamos, pois, de vento em popa a seguir a ideologia do Dr. Pangloss para quem “tudo é para melhor, para o melhor dos mundos possíveis”.

“Os dois brasis” de que hoje se tanto fala são diferentes daqueles abordados por Jacques Lambert. Entretanto, os brasis destacados pelo sociólogo francês continuam a existir, modificados, mas sempre presentes na história do país.

Atirador de elite

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Se há coisa que nunca consegui entender é a frieza com que certas pessoas atiram e matam outras. Vemos as cenas em filmes todo dia e nos acostumamos a elas porque sabemos tratar-se de ficção. Entretanto, a morte não ficcional, aquela em que alguém tira a vida de outra pessoa seja lá qual for o motivo, essa é horrível, insuportável.

Talvez por isso os programas policiais de televisão tenham tanta audiência. Afinal, o que atrai o público naquela sequência de notícias escabrosas que expõem o lado tenebroso da natureza humana? Por que acompanhar a história de um sujeito que, por ciúme da mulher com quem vive, leva o filho dela de poucos anos de idade ao matagal e o mata sem qualquer piedade? Histórias como essa se repetem diariamente na televisão e fascinam multidões ansiosas por ver o “outro lado” do homem, o limite que maldade de cada um pode atingir.

Se algo guardei de um filme da série “Rambo” foram as palavras daquele coronel que treinou o terrível soldado norte-americano capaz de sozinho destruir o que se apresentasse à sua frente. A certa altura e para explicar o fenômeno Rambo o coronel diz que há pessoas que nascem para viver em tempos de paz enquanto outras são talhadas para a guerra. Esses espíritos frios e violentos tornam-se úteis aos seus países em momentos de crise quando imperam as exceções e a regra do jogo torna-se matar ou morrer. Nesse sentido o Rambo do cinema é o cara que faz o serviço sujo necessário, mas que, depois, em tempos de paz, não encontra lugar na sociedade porque as habilidades dele são outras, sua função é matar. Palavras do coronel.

O Rambo do cinema e a explicação do coronel me vêm à memória ao ler sobre um soldado americano que lutou no Iraque e escreveu um livro sobre a participação dele no conflito. Esse soldado tornou-se um atirador de elite e conta que matou 255 pessoas, acrescentando que não se arrepende de seu feito. Chris Kyle, o soldado, tornou-se conhecido entre seus companheiros pelas alcunhas de “o exterminador”, “o diabo de Ramadi” e “a lenda” entre outras. Kyle conta, por exemplo, que só na batalha de Fallujah, em 2004, matou 40 inimigos.

Chris Kyle odeia o Iraque e diz adorar o que fez. Relata como gradualmente deixou de hesitar para atirar em suas vítimas e se aperfeiçoou ao longo de combates. Ele se orgulha de ter conseguido matar um homem à distância de 2100 metros e diz que se morresse agora se apresentaria diante de Deus com a consciência tranquila. Para ele os iraquianos não passam de selvagens aos quais odeia, daí não se arrepender das 255 mortes de sua autoria.

Chris Kyle, chamado de “diabo” pelos iraquianos vive atualmente no Texas e trabalha numa empresa como instrutor de atiradores de elite. Não se trata de ficção, Kyle é real.

Parar de trabalhar?

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Se bem me recordo foi na década de 1970 que um amigo me disse: o trabalho fez o homem. Não sei se a sentença era de autoria dele ou se fora retirada de algum livro. O fato é que nunca me esqueci dela.

A referência ao trabalho vem bem a calhar neste início de ano. Acontece à maioria das pessoas o sufoco do fechamento de fim de ano, a correria, o trânsito para sair da capital etc. Depois disso segue-se a súbita calmaria, período ao qual é preciso se adaptar porque sempre fica aquela sensação de situação não terminada, de algo esquecido e por aí vão os cérebros que custam tanto a se desligar, a compreender o significado da pausa, enfim, a própria pausa.

Na verdade sente-se um vazio consequente ao vício que nos condiciona a estarmos ocupados, a sensação de obrigação de quem tem coisas a fazer.

É nessas ocasiões que, mais hora, menos hora, topamos com a interrogação: e se não tivéssemos mais que trabalhar, se nos aposentássemos como seria a vida a partir daí?

Não são perguntas simples para responder. Todo mundo conhece as implicações do envelhecimento ligadas à redução de atividades. De tal modo somos impregnados pela noção de que é preciso ser útil e realizar coisas que o inverso disso torna-se complicado. Quantas pessoas simplesmente se apagam quando pela idade ou outra razão desligam-se do mundo do trabalho. Estão aí, também, os grupos de pessoas idosas que se reúnem ou participam de eventos para manterem-se ativos, porque não dizer, vivas.

Escrevo sobre isso num momento em que a todo transe adoraria deixar de lado as minhas funções e vagabundear por aí. Mas, será que depois de tantos anos de trabalho conseguirei viver sem ele? Note-se que em nenhum momento se está aqui a raciocinar sobre questões econômicas ligadas à redução de rendimentos etc. É preciso lembrar que estamos no Brasil onde o sistema previdenciário deixa muitíssimo a desejar. Mas, ainda que a questão financeira não venha a se mostrar importante, como se dá a adaptação ao novo ritmo de vida?

Preocupação de velhos, dirão. É, mas todo mundo chega lá. Daí que a breve parada de fim de ano, o afastamento temporário do trabalho, transforma-se em momento de muita reflexão. Não terá sido assim nos fins de anos anteriores, mas o tempo passa, a vida passa e certo dia se descobre que se aproxima a hora de deixar o lugar no mundo do trabalho para espíritos mais jovens e aguerridos.

Mas, é preciso cuidado, muito cuidado.

O ano que começa

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E choveu quando as doze badaladas do sino da igreja anunciaram a entrada de 2012. Aliás, choveu antes e depois da meia-noite, estragando em parte a festança preparada. Assim, não foram tantos os fogos queimados ontem. Na orla da praia a multidão, chuva nas cabeças, assistiu ao espetáculo pirotécnico especialmente programado para a ocasião.

Não sei, mas se depender do ânimo da turma no momento da passagem 2012 não virá a ser nem mais, nem menos, que 2011. E olhe que na história dos anos 2011 não foi dessas coisas.

De fato, se daqui a alguns anos me perguntarem sobre 2011, será que me lembrarei de alguma coisa, específica, marcante, diferente e inesquecível? As mortes de Bin Laden e Gadafi? O tsunami no Japão ao qual assistimos ao vivo e a cores? O estranho caso de Strauss-Kahn? Steve Jobs? A morte do ditador norte-coreano no apagar das luzes do ano? A primavera dos muçulmanos? Acho que não. O problema é que o mundo – a história do mundo – se repete. É como se os fatos, mesmo os grandes acontecimentos, não passassem de cartas marcadas. Não se fala tanto agora sobre as chuvas? Minas Gerais não tem, nesse momento, várias cidades em estado de calamidade porque a chuva não para? E não tem sido assim em outros anos? Ou será que, em 2012, não acontecerão as tradicionais enchentes em São Paulo, os deslizamentos que levam casas e vidas num mesmo embrulho em cidades do país?

Terremotos, tsunamis, furacões, vulcões em erupção, crises financeiras, violência crescente, guerras, ameaças, crimes, corrupção… a rotina é repetitiva. Pessoas nascem e outras morrem, mas nas novas notícias existe sempre algo de velho, de conhecido, de ultrapassado, como se o mais estranho fosse que as mesmas coisas não voltassem a acontecer. Talvez as coisas sejam assim porque, afinal, o mundo gira sempre em rotação sobre o seu eixo, repetitivamente, ia dizer eternamente, mas sabe-se lá até quando.

Mas, em meio a tudo isso está a nossa vida e aí tudo muda de cor, tudo se torna interessante. Quando se deixa do lado o aspecto macro do cotidiano e se pluga a atenção na vida particular do cidadão, então os fatos que se repetem, os tais acontecimentos, ganham relevância, tornam-se importantes.  Afinal, a minha vida é só minha e sou o ator dela diante de fatos, novos ou não, que me afetam. A partir daí os seres que somos observam tudo o que acontece, cada um com o seu olhar diferente e aquilo que antes parecia insosso, repetitivo, traduz-se para cada um de modos diferentes.

É a posse da minha visão pessoal das coisas, o meu discernimento, que confere sentido a minha vida e me faz recrutar em meu espírito a esperança que o ano de 2012, repetitivo ou não, seja melhor, bem melhor que os que o antecederam.

Seja benvindo este novo ano que se inicia. Não importa que chovesse tanto e a queima de fogos em nossa cidade tenha sido menos impactante que em anos anteriores. O que importa é que continuamos vivos, acreditando, iniciando o ano com a força que nos mantém em pé e nos leva adiante.