2012 março at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para março, 2012

Mais violência

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Acordei na manhã de sexta-feira com o toque do telefone. Atendi ainda meio tonto de sono, mas logo despertei. Era a minha irmã participando-me da morte do filho de um casal, nossos amigos de longa data.

O caso envolvendo essa morte nada tem de novo. O homem parou o carro em posto de gasolina, numa rodovia, e foi ao banheiro. Lá cruzou com dois rapazes e foi alvejado por um deles, provavelmente na tentativa de surrupiar alguns pertences.  O tiro o atingiu na virilha, seguindo-se a grande hemorragia que provocou a morte. Simples assim, terrível assim.

De repente um homem de menos de 50 anos de idade, forte, produtivo, pai de família, é assassinado num banheiro de posto de gasolina. Os autores do crime desaparecem e nada se sabe sobre eles. A razão pela qual atiraram, se houve ou não resistência da vítima, nada disso realmente interessa diante da dor da família do morto pela inesperada tragédia e a provável impunidade dos criminosos.

Ao desligar o telefone minha irmã me disse que é assustador o fato da violência aproximar-se tanto de nós.  Na verdade, mais que isso, estarrece o fato de estarmos, todos, expostos, torcendo para que a sorte nos seja favorável e não sejamos os próximos a ser escolhidos por algum criminoso.

Eles matam uma pessoa como se pisassem numa formiga. Não há sentimento, nem remorso. Matar alguém é um osso do ofício que talvez até traga alguma satisfação. Afinal, há muito de poder conquistado nessa possibilidade de tirar a vida de outrem e sair andando como a carregar um troféu pelo grande feito.

Passei o dia impressionado, pensando na dor dos pais e familiares que perderam um ente querido de forma tão absurda.  Mas, no fim das contas, trata-se de apenas mais um caso na estatística de homicídios que acontecem em nosso dia-a-dia, grande parte deles jamais solucionados.

Mas, afinal, em que direção, para onde vai esse mundo?

Cartas de amor

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Quando rapaz escrevi algumas cartas de amor. Para o bem ou para o mal a maioria delas não eram endereçadas por mim a alguém por quem estava interessado. Acontece que meu pai tinha um pequeno negócio em cidadezinha do interior. Negócio pequeno, mesmo, que era tocado por ele, meu pai, e um único funcionário. Esse funcionário nem sempre era o mesmo: o sujeito trabalhava durante algum tempo, parava e logo outro o substituía na mesma função.

Pois houve época em que o funcionário de meu pai foi certo João, sujeito boníssimo e ainda rapaz, oriundo de cidade do sul de Minas Gerais. Certo dia esse João me confessou sua paixão por uma moça de sua terra natal com a qual queria se corresponder por carta. Acontece que o João não sabia escrever, daí a conversa ter evoluído para o pedido dele de que eu escrevesse uma carta para a moça a quem ele amava. Com o que imediatamente - e inconsequentemente - concordei. Escrevi uma carta melosa que o João postou no correio local em envelope endereçado com a minha letra.

A essa altura é preciso dizer que fiz isso sem pensar no assunto. Entretanto ocorreu que, pouco tempo depois, chegava a resposta à carta do João. Ao que houve a necessidade de respondê-la. Para encurtar a história a partir daí estabeleceu-se um ritmo de idas e vindas de cartas com intervalos de cerca de quinze dias. O problema é que o conteúdo das cartas foi se tornando cada vez mais comprometedor. O João se ria disso na matutice dele, achando a coisa toda muito engraçada.

Pois tudo seguiu bem até que, certo dia, recebemos uma carta que tinha no envelope letra diferente da qual estávamos habituados. Curiosos eu e o João rasgamos o envelope e qual não foi a nossa surpresa ao constatar que se tratava de carta enviada pelo pai da moça. Em resumo dizia-se ele de acordo com o casamento de sua filha com um rapaz que por ela tanto amor manifestava através de insistentes declarações feitas por meio de cartas. Enfim, tratava-se do consentimento paterno ao noivado e posterior matrimônio.

A carta do pai deixou o João muito preocupado. Durante algum tempo ele esteve macambúzio até que, certo dia, pediu demissão do emprego e retornou à sua terra. Não sei contar o fim da história, dizer se o João se casou com a amada, embora me pareça que esse teria sido o encaminhamento natural dos fatos.

Não sei se você já escreveu alguma carta de amor. Caso tenha escrito - e ainda a tenha - experimente ler porque terá em mãos parte daquilo que você fez no passado.  Pode até ser que você estranhe muito o texto e, dependendo de para quem tenha sido endereçada a carta, não se sinta lá muito bem com o sujeito que você era na época em que escreveu. De todo modo, não se envergonhe: o poeta Carlos Drummond de Andrade é autor de um texto no qual afirma que cartas de amor são ridículas, mas conclui que ridículo mesmo é quem nunca escreveu cartas de amor.

Mas, cartas de amor continuam a ser escritas, às vezes com consequências desagradáveis. Imagine você que na Paraíba uma mulher escreveu carta de amor a um homem na qual revelou até algumas intimidades da relação havida entre eles. A intenção da moça era colocar fim nos encontros entre ambos dado que ela não se mostrava disposta a aceitar que o homem mantivesse relações com outra mulher - pessoa muito próxima da autora da carta.

E dai? - perguntará você. Daí que a mulher que escreveu a carta é funcionária pública e o texto dela acabou sendo publicado, por engano, no Diário Oficial da Justiça do Trabalho do Estado da Paraíba. Imagine-se o tamanho escândalo que obrigou a servidora, escriba da carta, a pedir exoneração do cargo de confiança que até então ocupava.

Que cartas de amor sejam ridículas vá lá. Agora, um engano desse porte…  No momento a coisa está no seguinte pé: o presidente do TRT da Paraíba determinou a abertura de um processo administrativo para apurar como o texto foi parar na página da internet da Justiça.

É meu amigo, coisas do amor.