2012 abril at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para abril, 2012

A paixão das tardes de domingo

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Não adianta, domingo é dia fora do catálogo, o mais imprevisível da semana porque nele tudo pode acontecer. Dia de folga, sem horários fixos, sem obrigações a cumprir, momento de ficar com a família, sair com os filhos, enfim. Começa que domingo não tem despertador e você pode ficar mais tempo na cama, sem aquela urgência de vestir-se depressa, engolir o café da manhã do jeito que dá e sair à rua com os olhos presos no relógio, xingando o trânsito que não anda porque vai ter bronca se chegar atrasado. Domingo não tem nada disso, não tem mesmo. Você pode se levantar sem pressa, tomar o café sossegado, ainda de pijama e tem até tempo para bolar uma desculpa para dar à sua mulher e escapar do almoço na casa da sua sogra, afinal tudo, tudo mesmo, menos aturar os seus cunhados.

Tirando a necessidade de dar umas enganadas e até inventar alguma dor para fugir a certas chatices, pode-se dizer que o domingo é o melhor dia da semana. Você até dá um jeito de esquecer os problemas, o negativo do cheque especial, as contas a pagar, as exigências do seu chefe e os tais compromissos inadiáveis aos quais terá que comparecer a partir de segunda-feira. Do que se conclui que o domingo é um bom dia mesmo, aquele do descanso com o qual você sonha durante a semana porque, afinal, os seus nervos precisam de descanso, isso sem falar nos músculos que necessitam tanto de relaxamento.

O diabo é que nesse mundo nada é perfeito, nem mesmo os domingos. Acontece que as coisas vão bem até o meio da tarde, a sua mulher concordou foi almoçar com os filhos na mãe dela, você ficou sozinho em casa e pode curtir o silêncio nesse espaço que agora se tornou inteirinho seu.

Mas, o que pode atrapalhar esses momentos de sossego absoluto? Bem, é que exatamente às quatro horas da tarde o seu time entra em campo para um jogo importante. Pronto, vai-se embora a calma, a paciência, agora é guerra porque lá estão os dois times perfilados enquanto toca o hino. Na verdade o dia de folga termina justamente quando o juiz apita e o jogo começa. Agora você está tenso, olhos pregados na tela da televisão e de repente vai ao desespero porque o zagueiro do time do seu coração, com dois minutos de jogo, comete um pênalti. Você reza para que o cobrador erre, para que o goleiro do seu time defenda, mas não adianta, é gol, pronto, a desgraça começou. E tem os gritos de um maldito vizinho que comemora, se você pudesse iria lá pra dar uma porrada bem no meio da cara desse desgraçado.

O resto você já sabe de cor e salteado. Serão mias 85 minutos de sofrimento até o fim do jogo com a vitória do time adversário. Pouco antes de acabar a sua mulher chega e, quando passa na sala, pergunta quanto está o jogo. Você não responde, a sua vontade é mandar todo mundo para o inferno, a noite de domingo vai ser toda de emburramento e poucas palavras, você jura que não vai mais assistir aos jogos do seu time, nada de torcer e sofrer tanto por uma bobagem de caras correndo atrás de uma bola. A sua bronca é tanta que não vê a hora de chegar a segunda-feira, este sim o melhor dia da semana.

A tristeza com o seu time vai durar uns dois dias, depois você acaba lendo no noticiário que o técnico vai mudar as coisas e daqui para frente serão vitórias. Na quinta-feira você está recuperado, confiando na sua grande paixão que é o seu time, esperando o descanso do domingo, dia de botar os nervos em ordem, relaxar os músculos, dar um tempo nessa correria toda que é a vida tão repetitiva.

Ladrão de calcinhas

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Você já deve ter notado, mas o mal está vencendo a batalha contra o bem, pelo menos nos noticiários. O meio mais simples de aferir a veracidade dessa afirmação é comparar o número de notícias boas com o número de notícias ruins. Se fizer isso você chegará, facilmente, à conclusão de que mais coisas ruins acontecem que coisas boas.

Alguém poderá discordar, dizendo que existe preferência em noticiar coisas ligadas ao mal. As coisas boas em geral são tênues, agradáveis demais para atrair a atenção. Não se noticia, por exemplo, que uma criança nasceu perfeita na manhã de hoje, na maternidade tal. Mas, noticia-se com ênfase o nascimento de crianças com problemas, abortos provocados etc. Se assim for temos que o bem funciona como coisa natural, daí não impressionar; o mal é exceção à regra daí virar notícia.

Mas, o que acontece quando o mal vira rotina? Nesse caso passamos a duvidar de que o bem, puro e simples, realmente exista ou, no máximo, tenha se tornado raridade. Veja-se oque acontece nos dias que correm, nos quais você sai de casa torcendo para que nada de mal lhe aconteça. Ontem mesmo um amigo me contava sobre acidente que provocou desvio na estrada por onde ele transitava. A situação foi resolvida com o desvio que levava os carros a passarem por uma vila de segurança não confiável. Pois não é que, de repente, surgiram dois caras armados que passaram a assaltar os carros que por ali passavam? Relatou-me o amigo que escapou por pouco, embora tenha corrido perigo de morte ao acelerar o seu carro quando um bandido o tinha sob a mira do revólver. Fato corriqueiro, não? Dirão até que normal e esperado nos dias de hoje.

Como se sabe, esse mal que nos assusta tem lá as suas gradações. Existem crimes terríveis, hediondos e outros menores. Nesse sentido não sei bem em que escala situar o crime cometido pelo ladrão de calcinhas e sutiãs que foi denunciado por quatro mulheres as quais, segundo consta, encheram-se de coragem e o entregaram à polícia.

O caso aconteceu em Alagoas, na cidade de Campo Alegre. Um tal “Zé da Macuca” especializou-se em furtar calcinhas e sutiãs de varais de casas. Denunciado acabou sendo pego quando voltava para sua casa com uma sacola cheia de calcinhas e sutiãs.  Além disso, a polícia encontrou na casa do Zé mais de 2000 peças de vestuário íntimo de mulheres, todas furtadas por ele.

Mais: ao ser preso o Zé usava calcinha e sutiã debaixo de suas roupas de homem fato que ele justificou, dizendo não ter tempo para comprar cuecas. Quanto às peças íntimas encontradas em sua casa alegou tê-las conseguido num lixão, fato desmentido por estarem limpas.

Eis aí o caso de um frequentador de quintais alheios nos quais subtraia peças íntimas de mulheres postas a secar nos varais. Fato inusitado, mal que vira notícia e que nos leva a pensar sobre o psiquismo desse tal “Zé da Macuca”.

Bem, o Zé vai responder em liberdade porque, após o seu depoimento na polícia, foi liberado e voltou para casa.

Viagens espaciais

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Tenho tendência a considerar tudo o que se relaciona ao espaço sideral como parte de histórias de ficção. Talvez isso tenha a ver com a minha infância, tempo no qual a Lua era nada mais, nada menos, que a Lua mesmo com o São Jorge dela e tudo. Viagens espaciais só as do Flash Gordon, seriado que passava nos cinemas após os filmes principais. Toda semana esperávamos o fim do filme para assistir as aventuras do Flash no planeta Mongo onde reinava o terrível imperador Ming. Flash e a namorada dele, a Dale Arden, auxiliados pelo Dr. Zarkov, se metiam nas maiores encrencas fora da Terra. Os episódios da série sempre terminavam com o Flash numa situação perigosa que nos parecia insolúvel. Mas, tínhamos que esperar uma semana para assistir, no domingo seguinte, o próximo episódio da série no qual, de um modo ou de outro, o Flash se safaria da situação escabrosa em que havia se metido.

Creio que a descida dos astronautas norte-americanos na Lua, o tal grande passo da humanidade, abriu uma brecha entre a ficção e a realidade. Afinal, aquilo que só parecia possível na ficção tornava-se realidade, embora o satélite nada tivesse de atrativo. Ao contrário dos planetas frequentados pelo Flash Gordon, a Lua mostrou-se um lugar ermo, sem água, sem nada que pudesse atrair a nossa atenção. Sempre repito que, assim como todo mundo, assisti pela televisão ao momento em que Neil Armstrong pisou na Lua e, na sala onde eu estava naquela ocasião, ouvi de pessoas presentes que aquilo não passava de invenção dos americanos, reis que eram eles nessa coisa de fazer filmes.

Depois da viagem à Lua outras explorações do espaço aconteceram nos últimos anos de modo que acredito não ser possível que alguém ainda duvide da existência de viagens espaciais. Agora estão anunciando viagens ao espaço para quem quiser pagar por elas e parece que, até o final desse ano, será realizada a primeira incursão turística na área espacial. Imagino que olhar o nosso planeta de fora dele realmente seja muito interessante e desafiador à compreensão que temos das nossas vidas e modos de ser. Recentemente, durante viagem de avião, sobrevoamos a região onde moro. Ver lá de cima os prédios em tamanho reduzido pela distância e pensar que aquele era o lugar onde a minha vida se passava deu-me a impressão de uma pequenez insolúvel e traumática. Afinal que era eu não só neste mundo, mas em relação à vastidão do espaço? Pois se uma simples olhada através da janelinha de um avião proporcionou tal impressão, imagino o que venha a ser estar fora da Terra, no espaço, contemplando o planeta em que vivemos.

Hoje se noticia que um grupo empresarial pretende explorar asteroides para retirar minérios raros na Terra, como é o caso do paládio e da platina. Entre os membros do grupo figura, na qualidade de consultor, o cineasta James Cameron, diretor de filmes como “Titanic” e “Avatar”. Segundo se informa um asteroide de 500 metros tem mais platina do que toda a quantidade desse minério já obtida na Terra. Os membros do grupo são bilionários de modo que dinheiro não será problema para a execução das fases do projeto que culminarão em viagens espaciais não tripuladas com a finalidade de extrair minérios.

Existem cerca de 9000 asteroides próximos da Terra e informa-se que 1500 deles são tão fáceis de visitar quanto a Lua.

Eis aí uma dessas notícias que nos dão a impressão de que, na verdade, Cameron vai mesmo é fazer um novo filme. Não tem jeito: a coisa toda cheira roteiro ficcional. Mas, vai-se lá saber no que tudo isso vai dar, sendo muito provável que os envolvidos no projeto acabem conseguindo realizar aquilo a que se propõem. Enquanto isso não acontece o melhor é fingir que, afinal, vivemos aqui neste planeta o qual devemos conservar a todo custo, sem sonhar com as possibilidades de importar do espaço soluções para as nossas necessidades.

E o Barcelona?

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Torcedores do Santos não disfarçavam a alegria pela desclassificação do Barcelona diante do Chelsea. A vibração tinha duas razões: o gosto de vingança contra um time perfeito que humilhara o Santos na final do Campeonato Mundial Interclubes do ano passado; e a certeza de que o Santos vencerá a Taça Libertadores e não terá o Barcelona pela frente em nova disputa pelo título mundial.

Mas, o que mais me impressionou foi perceber que muita gente torcia contra o Barcelona. A razão talvez fosse o desejo de ver-se quebrada a fama de imbatível, afinal o perfeito sempre incomoda. E, em matéria de futebol, há que se concordar que, nos últimos anos, nenhuma equipe de futebol, seleção nacional ou não, nem de longe se aproximou da condição de que hoje desfruta o time do Barcelona.

Messi perdeu um pênalti no jogo, logo Messi não é mais o mesmo. Ouvi de algumas pessoas que repetiam isso com indisfarçável alegria. Mas, futebol não é assim mesmo? Não é aquele esporte em que tudo pode acontecer? Muitas vezes até contrariando toda a lógica e expectativas?

Na empresa onde trabalho havia, há alguns anos, um porteiro, corintiano roxo, além disso, um grande entendido de cinema. Consta que em seu passado chegara a ocupar cargos de mais relevância, inclusive de alguma liderança no sindicato do setor em que trabalhava. Também diziam as más línguas que o porteiro era do tipo que “viveu a vida” torrando cada centavo que ganhou em muita diversão. Eu sempre conversava com ele, fã de cineastas, atores e grandes jogadores de futebol sobre quem falava com conhecimento. Pois aconteceu, certa ocasião, o Corinthians estar para jogar com um time mais fraco, mal classificado no campeonato, daí ser a equipe corintiana francamente favorita. No dia da partida cruzei com o porteiro no corredor e comentei que o Corinthians ganharia facilmente. Ao que ele me respondeu, apreensivo:

- É jogo, amigo. Jogo é jogo daí que tudo pode acontecer.

Não me lembro do resultado da partida do Corinthians naquele dia, mas guardei a noção pura de jogo como algo que abre um leque de possibilidades, daí tudo ser possível, inclusive os resultados inesperados.

Bem, o Barcelona nada mais foi que vítima do jogo. Jogo esse, aliás, jogado por seus atletas contra um dos mais perfeitos esquemas de ferrolho de que se tem notícia. O Chelsea obviamente tem um time de estrelas, muito bom, mas está aquém do Barcelona. Aliás, o Barça comandou as ações durante quase todo tempo da partida. Mas, esbarrou na grande aplicação tática dos jogadores do Chelsea que desempenharam com perfeição as suas funções.

Vale, ainda, lembrar que futebol é esporte caprichoso no qual pesam fatores como acaso, sorte e até estar no dia certo. Por isso, aos que da noite para o dia decretaram o fim do Barcelona e de Messi recomenda-se cautela. O time apenas empatou com o Chelsea e não se classificou. Mas, quem assistiu ao jogo sabe que nem por isso o Barcelona deixou de ser aquela equipe mágica, melhor que o próprio Chelsea, embora aparentemente tenha-se encontrado, no momento, antídoto contra as graças que seu time mostra-se continuamente capaz de realizar. E o Chelsea soube utilizar maravilhosamente esse antídoto baseado no ferrolho e nas jogadas de contra-ataque.

Por fim, seja lá porque os jogos da Europa passaram a ser transmitidos, seja porque o futebol brasileiro esteja em baixa, o fato é que começamos a conhecer talvez melhor as equipes europeias que as nossas. Isso não deixa de ser curioso e preocupante.

A malária mata

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Há quem confunda a malária com a febre amarela e com o amarelão. Trata-se de três doenças diferentes. A febre amarela é doença causada por vírus, adquirida por picada do mosquito Aedes aegypi, o mesmo que transmite a dengue. O amarelão é uma verminose cujo verme causador é o Ancylostoma duodenale . As larvas desse verme são capazes de penetrar na pele humana daí ser comum adquirir a doença pelo hábito de andar descalço.

A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium. Adquire-se a doença através da picada de inseto do gênero Anopheles, conhecido popularmente como mosquito-prego. Só a fêmea do inseto é capaz de transmitir a doença porque o macho não se alimenta de sangue.

A malária é também conhecida como maleita, sezão, febre terçã e febre quartã. A doença se caracteriza por ciclos de acesso febris nos quais as hemácias do sangue são destruídas. Nesses ciclos os acessos de febre em geral acontecem a cada três ou quatro dias daí os nomes febre terça e febre quartã que são dados à doença.

Hoje é o Dia Mundial da Malária, data importante devido aos grandes males provocados por essa doença no mundo. Para que se tenha ideia a malária é responsável pela morte de 1,4 mil crianças por dia em todo o mundo. Morrem, portanto, duas crianças a cada minuto vitimadas pela malária.  Segundo a ONU houve melhora nesse quadro em relação ao ano passado quando se verificaram 1,9 mil de mortes por dia no mundo decorrentes da malária. A ONU também destaca que a redução do número de mortes deveu-se ao fato de crianças passarem a dormir em quartos protegidos contra a entrada dos insetos transmissores.

A malária também pode ser evitada através da aplicação de repelentes  na pele e uso de camisas com mangas compridas em locais onde houver possibilidade de contrair a doença. Não existe vacina contra a doença.

No Brasil a malária está restrita á região da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). Em 2011, foram notificados no país 263 mil casos de malária (dados da SVS – Secretaria de Vigilância da Saúde).  A expectativa mundial em relação à malária é a de 300 milhões de novos casos e 1 milhão de mortes por ano.

Os cabelos da Babi

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Meus caros, a Babi está careca. Os cabelos dela foram raspados, ao vivo, durante o programa Pânico no último domingo. Se você não sabe quem é a Babi, ela é uma Panicat que os espectadores do programa Pânico adoram.

Se você não assistiu ao programa, o vídeo mostrando a raspagem do cabelo da moça está na internet. Trata-se de uma coleção de cenas de cortar o coração. A moça tinha um cabelo bonito e bem cuidado e sabe-se lá porque topou deixá-lo ser raspado. Mas, o curioso foi o comportamento dos apresentadores do programa no momento em que a Babi, cabelos sendo tosados por uma máquina elétrica, dava-se conta da tragédia em que se havia metido. A moça chorava, lamentando a perda dos cabelos; o pessoal do programa dizia coisas do tipo “como ela está ficando linda” talvez para reduzir um pouco o impacto da ação sobre ela.

Nos últimos tempos alguns programas da televisão têm investido no escracho, muitas vezes desmesuradamente. Raspar a cabeça de uma bela mulher ao vivo, ainda que com o consentimento dela, é fato que beira a sandice. Por traz da aparente alegria da cena, da “zona” provocada para ganhar pontos no IBOPE a qualquer custo, fica a impressão de algo que ofende o bom senso e humilha um ser humano. Porque é uma mulher ressentida aquela Babi careca que se levanta da cadeira onde seu cabelo foi raspado. Por mais que ela disfarce, por mais que o apresentador repita que aquilo só foi possível porque a Babi encarna o espírito do Pânico, ainda assim é impossível ao espectador não se penalizar diante da agressividade das cenas exibidas.

Dias atrás um repórter do programa CQC dirigiu-se, aos gritos, à norte-americana Hillary Clinton, então em viagem ao Brasil, oferecendo a ela uma máscara. A ação do repórter despertou a ira do pessoal da imprensa ali presente para cobrir a visita de Hillary. As coisas só não foram às vias de fato pela interferência de pessoas presentes que agiram no sentido de acalmar os ânimos.

Não há que se proibir nada num mundo que se quer livre. Entretanto, é de se perguntar se vale mesmo a pena submeter uma pessoa, como a Panicat Babi, a raspagem radical de seus cabelos. Mas, afinal, isso dá mesmo mais IBOPE ao programa?

O diplomata iraniano

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Diplomatas em missão no exterior gozam de regalias, entre elas a impunidade por crimes que possam praticar. De modo que se um diplomata transgredir a lei a coisa tende a ficar por isso mesmo.

Pois não é que está havendo um imbróglio entre o Brasil e o Irã por conta de um diplomata iraniano? Esse diplomata foi acusado por duas meninas, de 9 e 15 anos de idade, de tê-las molestado dentro de uma piscina. Segundo afirmação das meninas o diplomata fazia brincadeiras durante as quais tocava nos genitais delas.

Na ocasião o diplomata escapou de apanhar de familiares das meninas. Conduzido a uma delegacia livrou-se devido à impunidade diplomática. É nesse ponto que começa a discussão envolvendo os países. O Irã alega que se trata de um mal entendido devido a diferenças culturais. O Brasil exige que o Irã oficialize a retirada do diplomata de sua missão no Brasil. Caso isso não aconteça as autoridades brasileiras estão prontas para declarar o diplomata “persona non grata” ao país.

Enquanto se discute o assunto o diplomata se manda, com a família, para o Irã onde agora se encontra.  Quanto às “diferenças culturais” o que se diz por aqui é que no Irã nem mesmo é permitido que homens e mulheres frequentem a mesma piscina.

Tara é tara e o mundo está cheios de tarados. Crianças são vítimas inocentes de agressões sexuais e os que as praticam nem sempre são punidos. O caso do diplomata iraniano tem tudo para não dar em nada. Protestos de um lado, desmentidos esfarrapados do outro, e tudo acaba ficando como está.

Exceto a memória das meninas. As duas levarão consigo, pelo resto da vida, as imagens de um malandro que, a título de brincadeira, covardemente tocou as partes genitais de ambas.

Canibalismo

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A primeira vez que ouvi falar sobre canibalismo foi nos bancos escolares quando a professora relatou o suplício do bispo português Dom Pero Fernandes Sardinha. Consta que o bispo foi devorado pelos índios Caetés após o naufrágio do barco em que viajava no litoral de Alagoas. Mas, existem discordâncias: há quem atribua a culpa aos índios Tupinambás; outra versão é a de que três sobreviventes do episódio que lograram escapar tenham culpado aos caetés pela morte do bispo com a finalidade de motivar perseguição aos índios para que as terras deles pudessem ser tomadas. De todo modo Sardinha passou à história como vítima de atividade antropofágica e não custa lembrar que o escritor Oswald de Andrade usou o episódio do suplício do bispo para o seu famoso Manifesto Antropofágico, publicado em 1928.

Vez ou outra surgem notícias de casos de canibalismo que, entre os seres humanos, é caracterizado como antropofagia. Anos atrás houve em cidade praiana de São Paulo caso que despertou a ira dos moradores: um proprietário de barraca de praia mantinha em seu congelador restos humanos dos quais retirava carne para preparar os quitutes que vendia. Consta que muita gente comeu carne humana sem saber fato que, afinal, não caracteriza canibalismo.

Uma rápida consulta na internet nos traz o nome de alguns canibais, entre eles o russo Andrei Chikatilo que ficou conhecido como o “Açougueiro de Rostov”.  Esse Andrei assassinou mais de 50 pessoas entre mulheres, adolescentes e crianças, sendo condenado e executado por matar, mutilar e comer restos de suas vítimas. Os indianos Mohinder Singh e Surender Koli foram acusados de matar e tentar comer 19 crianças.  O mexicano José Luis Calva Zepeda, escritor de histórias de terror, foi acusado de comer restos do corpo de uma mulher. A polícia encontrou pedaços da mulher sendo cozinhados em uma panela no apartamento de Zepeda. São alguns casos de canibalismo, mas a lista é grande.

No momento fala-se bastante sobre um homem e duas mulheres que estão sendo chamados de “Canibais de Garanhuns”. O trio é acusado de matar, esquartejar e comer mulheres. Eles foram presos em Garanhuns, Pernambuco, e estão cooperando com a polícia.  No momento está sendo feita a busca, em locais indicados, de restos mortais de pessoas mortas pelo trio durante rituais macabros. Nas confissões os canibais relataram que, além de comer restos de suas vítimas, utilizavam a carne humana para rechear salgados, empadas e coxinhas que eram vendidos no centro da cidade.

A polícia encontrou um diário escrito por certa “Pretinha” que se acredita ser uma das duas mulheres acusadas de canibalismo. Nesse caderno a autora detalha relações sexuais entre ela e seu amante.

Como se vê tudo muito sórdido, repugnante. Sobre os membros do trio recairão acusações de homicídio, tortura, profanação de cadáveres etc. Pode também surgir a hipótese de que eles sejam mentalmente incapazes tal a magnitude dos crimes que praticaram. Mas, ainda não se chegou ao fim dessa torpe história sobre a qual surgem novas revelações.

Julgadores e julgados

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Você acha que alguém que tem pendências com a Justiça pode - ou deve - julgar ou apurar ações de alguém acusado de algum tipo de delito? É provável que a sua opinião coincida com a da maioria das pessoas que acham que não. É de bom senso supor que aquele que julga ou apura contravenções nada deva à Justiça, ou seja, trata-se de pessoa de reputação ilibada pelo menos até que surja alguma prova contrária a isso.

Mas, infelizmente, as coisas não seguem conforme a opinião geral e o bom senso. No momento o país vive mais um dos momentos de inflexão em relação à classe política. Em pauta as misteriosas ações de Carlinhos Cachoeira que, assim parece, comanda vasta rede de negócios relacionados à lavagem de dinheiro. Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam a participação de muita gente de colarinho branco nos negócios de Cachoeira. É daqueles fatos que só não nos estarrecem porque nós, brasileiros, já estamos acostumados a notícias sobre a corrupção que neste país há muito deixou de ser endêmica e passou  à condição de epidêmica.

Tal é o estardalhaço que as revelações sobre os negócios de Cachoeira têm causado que não foi possível abafar o caso, instalando-se uma CPI cujos resultados são temidos até pelo governo federal. Se Carlinhos Cachoeira resolver abrir a boca, coisa improvável, aí então o país pode tremer.

Mas, o que chama a atenção na CPI do caso Cachoeira é a composição da equipe escolhida para executá-la. Dos 32 integrantes da comissão escolhida pelo menos 17 têm pendências com a Justiça. Processos criminais, crimes eleitorais, acusações de corrupção e outros deslizes fazem parte da história de muitos dos indicados para a comissão.

Eis ai mais um caso que não nos estarrece porque estamos acostumados a todo tipo de exercício permitido pelas confabulações entre os membros da classe política. Do que se depreende que esteve muitíssimo enganada a norte-americana Hilary Clinton ao declarar, dias atrás, que o atual governo federal estabeleceu um marco no combate à corrupção. Aqui entre nós, o problema é que no Brasil torna-se cada vez mais difícil separar o trigo do joio, o bom do mau político, o corrupto e o que não age corruptamente. No fim das contas prevalecem os tais interesses maiores das agremiações políticas e só os casos realmente indefensáveis apontados pela imprensa acabam recebendo algum tipo de punição.

Mas, como foi dito, estamos acostumados a tudo isso.

Fotos de guerra

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Guerras são guerras daí delas tudo se poder esperar. O que vale nas guerras é o uso da força e a morte dos adversários torna-se banalidade desejada. O que importa é vencer, isso à custa de toda brutalidade necessária.

As guerras afetam dramaticamente os homens que delas participam. Lançados num contexto onde deixam de valer as regras de civilidade
são comuns os traumas e resquícios decorrentes da ação. Viver perigosamente, correr riscos e matar exigem de muitas pessoas mais do que na verdade são capazes. Decorrem daí atos que, em situações de paz, nos surgem como inexplicáveis e desafiam a nossa compreensão.

É sabido que a rotina de violência pode afetar a sensibilidade de homens que continuamente se envolvem em situações de perigo nas quais suas vidas são colocadas em jogo. Há situações em que a bestialidade encobre o verniz civilizatório de muitos soldados que passam a agir de modo inesperado. ´Trata-se da perda de noção sobre o que é certo ou errado que se traduz em ações tantas vezes desprezíveis observadas nas guerras. Em tais condições deixam de importar ao soldado a natureza do inimigo, seja ele militar ou apenas civil, o fato de ser homem, mulher ou, ainda, apenas uma criança. A história
de todas as guerras é, infelizmente, farta em ocorrências terríveis contra inocentes.

As considerações anteriores são feitas em função da divulgação de novas fotos sobre ações de soldados norte-americanos no Afeganistão. A tropa de ocupação norte-americana está no país há alguns anos e o governo do presidente Obama tem se pronunciado no sentido de retorno dos rapazes para casa. Deixando-se de lado as razões da ocupação do Afeganistão e mesmo as terríveis consequências da guerra ali travada importa-nos o horror
explicitado pelas fotos publicadas ontem num jornal dos EUA. Numa delas soldados foram fotografados segurando as pernas - desmembradas do restante do corpo - de um soldado afegão. A metade do corpo surge como troféu conquistado pelas forças de ocupação. Noutra um soldado norte-americano tem, sobre o seu ombro, a mão de um afegão morto.

Segundo o jornal essas as duas fotos fazem parte de um conjunto de outras dezesseis não publicadas por serem horríveis demais. Essas fotos somam-se a ocorrências recentes que têm despertado a ira dos afegãos tais como a morte recente de vários civis chacinados por um soldado do exército norte-americanos.

O governo dos EUA vem a público lamentar as atitudes de seus soldados, desculpa-se com o Afeganistão e pede ao jornal que não publique as demais fotos porque isso colocaria em perigo a vida de seus homens naquele país. Mas, nada disso logra reduzir a sensação de horror provocada pelas fotografias. Está nelas, impresso, o avanço de homens que se arriscam a romper as barreiras de tudo o que acreditamos e no mundo em que confiamos. Trata-se da barbárie calcada no desgoverno de mentes para as quais vigora o sentimento de que tudo pode ser feito e sem culpa. Mentes forjadas pela  guerra.

A nós resta apenas o registro do fato e a tentativa de olvidar o horror proporcionado pela visão das fotos. Trata-se da necessidade de fingir que afinal tudo não passa de ficção, talvez a própria vida nada mais seja que uma grande ficção.