2012 junho at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para junho, 2012

Noite de sábado

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Ella Fitzgerald canta “Desafinado” e ressuscita outras tantas noites de sábado como aquela em que o Nê, bêbado de cair, batia à janela do quarto e implorava por um disco de Ataulfo Alves. Mas, era preciso que Ella terminasse para que, então, viesse o Ataulfo com o seu samba, invadindo as almas com a dor de amores perdidos.

O Nê, a Ella e o Ataulfo desapareceram há muito tempo. O Nê foi levado por um câncer. Ele que era tão forte e apaixonado pela vida morreu antes dos 50 de idade, deixando um vazio enorme na memória dos que o conheceram.

Mas, nesta noite de sábado me ocorre que também quase todas aquelas pessoas das noites de sábado desapareceram. Uns últimos retardatários erram por aí, nesse louco mundo, resistindo bravamente aos apelos da morte. Hoje mesmo veio a notícia de que o Carlos está mal, internado em hospital. A doença terminal do Carlos confirma como essa vida é estranha, absurda, principalmente passageira, sonho breve de algumas noites de sábado que terminam sem deixar resquícios.

Imagino o Carlos nesses seus últimos dias. Mas, não era ele o camisa 8, magrinho e correndo, do time de futebol? E não foi ele que vagou pelas estradas de Minas, viagens de negócios, até parar porque já era tempo que outro Carlos tomasse o lugar dele?

Mas, é noite de sábado e o Carlos está lá deitado, esperando. Talvez se lembre de tanta coisa, daquelas madrugadas em que éramos todos jovens e a vida nos parecia infinita. Talvez.

Escrito por Ayrton Marcondes

30 junho, 2012 às 11:56 pm

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Onda de crimes

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Assustadoras as notícias sobre o avanço da criminalidade em São Paulo. Ônibus queimados, arrastões em prédios, bares e restaurantes, ataques a bases da polícia, assassinatos de policiais em momentos de folga. A Segurança Pública mostra-se confusa no combate ao avanço da criminalidade a começar pela identificação da origem e comando das ações. As ordens partiriam de entro dos presídios? Trata-se de movimento liderado pelo PCC como aquele que, em 2006, parou a capital? Ou, na verdade, tudo não passa de uma reação de traficantes ao combate da polícia ao tráfico de drogas?

O governador vem a público para garantir à população o máximo rigor no combate ao crime organizado. Policiais se queixam da falta de recursos da polícia que necessita de melhora nos setores de inteligência, armamentos, treinamento etc. Fala-se inclusive, na falta de equipamentos básicos como coletes salva-vidas cujo número é insuficiente para a proteção do contingente policial.

À população resta o medo. O motorista de um ônibus pediu aos passageiros que descessem porque teve medo de seguir em frente e ser atacado por bandidos. O episódio se deu à noite, na Avenida do Cursino, zona sul de São Paulo. A fotografia publicada sobre o incidente mostra pessoas andando em grupo, na avenida, retornando às casas após um dia de trabalho e à mercê de criminosos.

Ninguém se sente seguro num ambiente assim. Pessoas têm evitado sair à noite e frequentar bares e restaurantes pelo medo de arrastões. Dos criminosos pode-se dizer que parecem agir automaticamente. Não se observa receio deles em participar de ações temerárias e o crime tornou-se profissão rentável para a qual basta coragem e pendor para a violência. Mata-se sem remorso, sem pudor, o assassinato faz parte do ofício.

Não será aqui o lugar para se ponderar sobre as raízes da criminalidade que vai se tornando um Estado dentro do Estado. Hoje em dia não se para o carro na rua sem temor, não se entra no carro em estacionamentos sem antes observar os arredores, tem-se receio durante o tempo de espera para abertura do portão que dá acesso a prédios e casas, evita-se andar a pé à noite etc. A liberdade individual está sendo tolhida pela criminalidade e tem-se receio de que algo aconteça com alguém próximo ou com nós mesmos.

Até quando?

Dia de herói

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Já se disse que cada dia tem o seu herói, embora muitos deles passem despercebidos. É de se supor que isso seja verdade, afinal pelo menos um entre os sete bilhões de seres humanos deve praticar algum tipo de heroísmo durante o período de 24 horas.

Mas, especulações a parte, certos heróis se fazem de um momento para outro, publicamente, até encantadoramente. Pois até o início da noite de ontem um jovem certamente nem desconfiava que, poucas horas depois, todo mundo passaria a falar dele, enfim se tornaria herói para uma massa de malucos apaixonados por futebol.

O jovem se chama Romarinho e seu nome está bimbando pelo gol que fez contra o Boca Juniors em pleno estádio de La Bombonera. Rapaz de sorte, esse Romarinho, porque entrou em campo, substituindo o jogador Danilo, e no seu primeiro contato com a bola endereçou-a às redes do time adversário. Isso para delírio da massa corintiana que explodiu em alegria e foguetório por esse Brasil afora.

O que não se sabe é durante quanto tempo Romarinho reinará em seu trono de herói. Não se pode esquecer de que o futebol é esporte cruel com aqueles que o praticam. Descontadas honrosas exceções a quem tudo se perdoa para a maioria dos jogadores a glória é efêmera. Daí que Romarinho deve aproveitar e muito bem os momentos de herói de uma torcida porque, na próxima quarta-feira, na partida contra o mesmo Boca a ser realizado no Pacaembu, a glória dele também estará em jogo.

Mas, convenhamos que uma semana é muito tempo e, no momento, o que vale, o que empolga a multidão e está preso às retinas é a imagem do herói Romarinho no momento em que usa a cavadinha para  marcar o tão comemorado gol corintiano.

Longa vida e muitos feitos a Romarinho, novo ídolo da massa corintiana.

Na fila

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Tinha um sujeito engraçadinho na fila do supermercado. Início de noite, pessoas com cara de cansadas, compras grandes e demoradas para passar, certa intolerância diante da necessidade de estar ali quando se poderia em outro lugar, melhor, talvez em casa, de pijama, curtindo o fim do dia. Mas, o engraçadinho parecia não se dar conta de nada disso: alegre, falava com pessoas que passavam, sempre arranjando jeito de adaptar tom jocoso ao que dizia. Dir-se-ia que o cidadão era desses que a todo custo querem dividir sua alegria com os outros, doa a quem doer.

Foi aí que uma mulher baixinha que estava na minha frente na fila, voltou-se, olhou-me direto nos olhos e explodiu:

- Sujeitinho histriônico.

Histriônico? A palavra soou estranha, fora de lugar e circunstância, há tanto tempo eu não a ouvia. Nem tive tempo de dizer nada porque a baixinha já tinha retornado à postura original, olhando para frente, talvez arrependida de ter-se comunicado comigo, dividindo a agonia que a insatisfação da presença do engraçadinho provocava a ela.

Agora chegara a vez do engraçadinho passar compras e aproveitava o momento para encher a moça do caixa de conversa mole, fazendo perguntas inoportunas, rindo sempre, quando não voltando-se para a turma da fila com aquele jeito de quem procura concordância com o besteirol que proferia ou, talvez, algum aplauso.  Interessante o mal estar que o sujeito causava pela presença impertinente, cara chato, inconveniente, que nos aborrecia por exibir descaradamente, em público, esse lado da personalidade de que não gostamos, simplesmente não toleramos.

Por fim, o engraçadinho comprou, pagou e lá se foi ele, saltitante, levando as compras, com aquela alegria absurda e fora de lugar, nascida não se sabe a título de quê.

Chegou a minha vez. Passei pelo caixa e quando cheguei ao estacionamento deparei-me com a baixinha da fila que fechava o porta-malas do carro dela. Ia passando por ela quando percebi que me olhava. Quando retribui o olhar e me dispunha a cumprimentá-la ela encerrou qualquer investida afirmando:

- Sujeito histriônico.

E parece ter corrido para a direção do carro dela porque não a vi mais, nem ao engraçadinho. Voltei à minha casa pensando em caracterizações definitivas, julgamentos sumários e, principalmente, no poder que os chatos têm de nos incomodar.

Umas boas varadas…

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Certamente casos de violência crescente contra crianças têm levado ao desuso das tais “boas palmadas” e as surras com varas de marmelo. Hoje em dia falar em surra com vara tornou-se razão de protestos e condenações. A educação prescinde de violência ainda mais num mundo em que os atos violentos ocorrem a todo instante e nos assustam. Ontem mesmo um amigo me relatou incidente acontecido com ele no trânsito no qual sua vida esteve por um triz. Ia ele numa travessa de rua mais movimentada quando foi fechado por uma moto. Para não atropelar o motociclista, viu-se o amigo obrigado a jogar, repentinamente, o carro na avenida principal, inadvertidamente fechando um carro que vinha por ela. Por sorte não houve colisão, mas o motorista do carro desceu com uma arma em punho, jurando que ia matar o meu amigo. O fato só não veio a ocorrer porque a mulher do motorista armado pôs-se a chorar, implorando ao marido para que não atirasse. Violência absurda, desnecessária, que poderia ter culminado em assassinato.

Este texto tema finalidade de dizer que, entretanto, até a alguns anos, apanhar durante a infância fazia parte do “método” de educação adotado por pais e instituições escolares. Eu mesmo, quando menino, tomei pancadas a valer. No meio primeiro dia de escola - tinha sete anos de idade - fui recebido com uma palmatória: estendia-se a mão e o professor mandava uma grossa régua com toda força nela, deixando um vergão cuja dor demorava a desaparecer. Isso sem falar nos cascudos, tapinhas e tapas, beliscões e até umas boas varadas. Isso em casa e na escola.

O que me pergunto é se eu teria sido alguém diferente, pior ou melhor, caso não tivesse passado por aquelas sessões educativas tão comuns no passado. De todo modo não creio que o uso da violência contribua para aprimorar o caráter ou a educação de crianças mesmo as consideradas mais difíceis.

Escrevo sobre isso porque vez ou outra o assunto é noticiado com muita visibilidade, despertando opiniões diversas.  Hoje, por exemplo, noticia-se que uma criança de 12 anos levou para casa um bilhete de sua professora no qual aconselhava aos pais umas cintas e varadas para educá-la. A família reagiu dizendo que a criança sofreu bullying.  A ver no como essa história vai terminar.

Nudez e protesto

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Confesso que fico meio confuso quando vejo fotos de mulheres com seios de fora, protestando em relação ao que quer que seja. São comuns as exibições de fotos de mulheres ucranianas que, debaixo de um frio terrível, apresentam-se seminuas, em geral acabando por serem presas pela polícia. E o recolhimento das mulheres se faz com grande estardalhaço, dado que resistem aos musculosos policiais que se encarregam de tirá-las das ruas.

O fato é que a moda está pegando. Mesmo no Brasil ocorreram passeatas durante a Rio+20 com mulheres de tórax desnudo, isso para protestar em favor da preservação do ambiente. Aconteceu também na Marcha das Vadias e em outras manifestações públicas. Houve até caso em que algumas mulheres e um homem ficaram inteiramente nus, deixando-se ver e fotografar assim.

A pergunta que não quer calar é: a nudez, parcial ou total, reforça os protestos? Difícil de responder, mas arrisco dizer que, no fundo, não. Pelo amor de Deus nada de moralismo, ofensa moral ou o que seja, mas o fato é que se retém mais na memória as imagens de nudez e menos as razões do protesto. Quem discorda que atente para o fato de que as fotos de fato chamam mais a atenção que a razão que as motivou.

Entretanto, não sendo comum que pessoas se exibam nuas o fato tem servido a toda sorte de interpretações. Há quem veja nisso abuso, libertinagem desnecessária, senão prática de puro exibicionismo. Para outros a nudez em público figura como oportunidade para retirar do ostracismo pessoas que de outra forma não seriam notadas. E por aí vai.

Pois acho que vivemos numa época em que de tudo se permite um pouco, daí que os incomodados que se mudem. Se pessoas têm a convicção de que a nudez de seus corpos possa interferir, de algum modo, nas causas que defendem bom para elas, bom para quem concorda com isso.

Bem, o título desse texto deveria ser “liberdade de expressão”. As pessoas devem ser livres para se expressar do modo que acharem melhor. Se forem mulheres e bonitas melhor ainda. Agora se a nudez realmente acrescenta alguma força aos protestos isso é coisa que talvez só uma ampla pesquisa possa vir a fornecer a resposta.

Em todo caso, aquelas ucranianas são mesmo de amargar. Não perdem a oportunidade de tirar as roupas e louve-se a coragem delas ao exibir-se em dias em que os termômetros indicam muitos graus negativos.

Por fim, veio-me à memória um filme antigo, em preto-e-branco, no qual o personagem principal é um inventor que consegue produzir óculos cujas lentes permitem que as pessoas, embora vestidas, sejam observadas nuas. Há uma cena em que o personagem vai a uma reunião social na qual os presentes portam roupas elegantes. Então ele coloca os óculos, as roupas desaparecem e ficam as pessoas expostas, nuas, transferindo ao expectador a sensação de código rompido, de invasão de privacidade, quem sabe até de pecado. Mas eram outros os tempos desse filme antigo e neles as mulheres não só não se despiam em passeatas e ideia de nudez em público talvez não passasse de pura ficção.

Fernando Lugo

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Fernando Lugo, o presidente do Paraguai ontem deposto pelo Congresso através do que está sendo chamado de “golpe constitucional”, fez a alegria dos comentaristas em razão de fatos ligados a seu passado. Já exercia o governo quando apareceram filhos até então não reconhecidos por ele, gerados ao tempo em que era bispo da Igreja Católica. De fato, sob o ponto de vista de convicção, fé e princípios Lugo deixava a desejar porque pregar a castidade quando não se a pratica é, no mínimo, estranho.

Ontem Lugo foi deposto de seu cargo e muita gente está falando em execução sumária porque, julgado em menos de 24 horas, foi condenado. Antes mesmo de um novo dia já o vice era empossado, embora protestos nas ruas de Assunção dos simpatizantes de Lugo. E ele saiu do governo em nome da democracia, sem opor resistência, sem ao menos ter tido tempo para defender-se adequadamente das acusações que a lhe eram imputadas. Na verdade, o processo que culminou na morte de pessoas em combate entre policiais e sem-terra paraguaios não chegou a ser apurado totalmente daí não se entender a velocidade da deposição do presidente.

O que está no ar é o julgamento da América Latina sobre si mesma, continente no qual se afirma que coisas como a que aconteceram ontem no Paraguai pertencem ao passado não democrático da história dos países sulamericanos. Mas, a verdade é que a nova América Latina ainda não se libertou dos antigos grilhões que a ligam a um passado de ditaduras violentas, hoje substituídas por formas de governo que em alguns países mantêm, com mãos de ferro, o controle de tudo o que acontece. O governo de Chaves ilustra bem a afirmação anterior.

E o Brasil? Até agora o gigante da América do Sul está devendo posicionamento claro sobre os últimos acontecimentos no Paraguai. Não havia nos meios diplomáticos nacionais a menor suspeita de que um “golpe constitucional” pudesse ocorrer no país fronteiriço de modo que o governo foi tomado de surpresa e, tardiamente, enviou diplomatas para tentar algum tipo de mediação sobre a crise. Por outro lado os países vizinhos da América do Sul já se posicionaram contra e condenaram a deposição de Lugo. A ver, nas próximas horas, como afinal agirá o governo brasileiro no primeiro teste do atual governo em relação à diplomacia externa num continente em que o país figura como líder.

Saudações ao planeta

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A Rio+20 está acabando e o que se diz é que tudo vai continuar na mesma. Ativistas protestam, governos passam a bola para o futuro e ninguém diz como se alimentarão 9 bilhões de pessoas em 2050. O documento final a ser aprovado desencanta pela timidez de propostas e acordos, mas há sempre quem se ufane do “jeitinho brasileiro” com o qual se logrou que pelo menos existisse um documento. O secretário geral da ONU que inicialmente criticou o documento agora passou a elogiá-lo e há quem veja nisso uma adesão dele ao tal “jeitinho” tão comum em nossas plagas.

Mas, o que realmente chama a atenção é a divergência de opiniões sobre a questão do aquecimento da Terra. Nos últimos anos temos sido bombardeados por avisos de que é preciso frear a emissão de gases estufa dado que eles formam um cinturão em torno da Terra, impedindo a difusão de ondas de calor daí derivando o aquecimento global. Imagens de geleiras se desfazendo são constantemente exibidas e os agravos climáticos que têm-se tornado frequentes no mundo são apontados como consequência do descaso em relação ao ambiente. Filmes mostrando a destruição de cidades pela invasão de gigantescas ondas de água causam-nos calafrios assim como notícias de que o nível dos mares está subindo e cidades situadas em regiões costeiras desaparecerão. Contra tudo isso se exige ação imediata dos governos e participação coletiva das populações, afinal cabe a cada ser humano dar a sua parcela de contribuição para salvar o mundo e deixá-lo inteiro e em ordem para as gerações que hão de vir. Aliás, o desenvolvimento sustentável é exigência cada vez mais urgente, para isso chamando-se à responsabilidade aqueles que têm em mãos poder para tomar decisões nesse sentido.

Entretanto, causa espécie o número de cientistas que vêm a público para externar a absoluta discordância em relação à verdadeira febre de condenação do mundo sob os efeitos do aquecimento global. Para eles os fenômenos atmosféricos ora observados fazem parte de um ciclo da Terra nada tendo a ver com a emissão dos gases estufa. Afirmam que a Terra passa por períodos regulares de esfriamento e aquecimento e isso faz parte da rotina do planeta sendo-nos impossível interferir nesse processo. Obviamente, esses cientistas não descartam a importância do desenvolvimento sustentável, estão atentos à necessidade de reduzir a poluição em todos os ambientes, enfim valorizam a ecologia como um todo apenas discordando em relação ao aquecimento global.

Para alcançar resultados satisfatórios Rio+20 que agora termina teria que superar diferenças muitas vezes irreconciliáveis de interesses, a começar pelas concessões necessárias dos países ricos em relação aos emergentes e pobres. Consertar o mundo custa muito dinheiro e justamente o dinheiro é o que está faltando, por exemplo, para a solução da atual crise europeia que já contamina todo o planeta. Entretanto, isso não significa que todos os esforços não tenham que ser empregados para a obtenção de um acordo comum em prol da saúde do planeta em que vivemos.

É hora de se perder pelo mesmo um pouco no sentido de preservar o planeta. E isso só acontecerá se a Terra for entendida como moradia na qual a geração atual é apenas transitória. Apesar da visão de eternidade que permeia os nossos dias não passamos de inquilinos no planeta, cabendo-nos a obrigação de cuidar bem dele para que continue habitável no futuro.

E a ideologia?

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Fica difícil falar-se em ideologia tão grande tem-se tornado a confusão de conceitos.  Direita e esquerda, por exemplo, tornaram-se palavras ambíguas tantas as concessões a que se dão direito os que falam em nome delas. E que dizer dos radicalismos? Veja-se o caso do norueguês que matou 77 pessoas em nome da salvação da Europa, cujo discurso ofende todos os princípios. Os tempos atuais parecem desafiar os sociólogos de plantão exigindo deles a criação de novas terminologias que deem conta da multidão de oportunistas que confundem credos ou os utilizam ao sabor de suas prioridades e necessidades. Na faina de que o que importa é vencer danem-se as convicções, embaralhem-se as ideologias, afinal tudo parece valer nesse mundo onde o faz de conta vem sendo praticado e aceito com tanta naturalidade.

No fundo o que falta talvez seja mesmo convicção. Ajuda muito o desconhecimento teórico, a adoção de linhas de pensamento apreendidas de orelhada. Lemas marxistas servem a movimentos que neles se apoiam. Termos como elite e burguesia adaptam-se a variados discursos. Pura fachada, mas que fazer?  E por aí vai.

No Brasil a crise de identidade política assusta porque os lemes do país passam por mãos de pessoas que não sustentam em pé o que falam sentadas. Trata-se dos discursos de ocasião dirigidos a quem na verdade não perde tempo em ouvi-los porque, no fundo, cada qual está mesmo preocupado é com a solução de seus próprios problemas.

Quem leu os jornais de ontem viu escancaradas nas primeiras páginas a foto do ex-presidente Lula ao lado de Paulo Maluf. Duas imagens de homens com significados próprios pelos quais se tornaram conhecidos, extremos distantes, representantes de ideias e métodos de ação diferentes. Não custa lembrar de que Lula aplicou no passado os piores adjetivos em relação à pessoa de Maluf que, afinal, sobrevive politicamente graças à sua invejável ousadia e, porque não dizê-lo, habilidade e inteligência. Lula, por outro lado, tem sido o paradigma de um novo tempo no país, encantando as massas que nele depositam toda a sua confiança. E eis que acontece o impossível, uma aliança de ocasião entre esses dois homens.

O acordo entre Lula e Maluf assusta-nos porque expõe o inaceitável jogo no qual os fins justificam os meios. Além disso, demonstra-nos que convicções não passam de fachada e que ideologias políticas caem por terra no momento em que o interesse maior de vitória nas urnas passa a ser prioritário.

Luiza Erundina desistiu de ser candidata à vice-prefeita na chapa do PT por não aceitar o acordo com Maluf. Ontem ela declarou que a essa altura Lula já teria o percebido “o fora que deu” ao se associar àquele a quem sempre classificou com os piores adjetivos.

Afinal, em quem acreditar?

Inverno

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Começa o inverno com chuva e, ainda, pouco frio na região Sudeste. Não se comemora o início do inverno como acontece em relação ao começo da primavera. Inverno são nuvens, neblina, frio, pouco sol, enfim tudo o que não agrada muito num país tropical. O Brasil é o país da pouca roupa, dos suores que se misturam, dos corpos que se abandonam nas águas de rios e mares.

O que não muda com as estações do ano são as notícias que nos deixam perplexos. Veja-se a peça burlesca que se encena, no momento, no teatro político de são Paulo. Luiza Erundina decide renunciar à candidatura de vice-prefeita junto ao candidato Haddad do PT. Faz isso por considerar inaceitável o acordo do PT com Paulo Maluf. Ontem as primeiras páginas dos jornais mostravam fotos do ex-presidente Lula, Haddad e Maluf juntos. Tudo para que o candidato a prefeito Haddad consiga mais uns minutinhos em sua propaganda eleitoral pela TV.

Enquanto isso, no Rio, começa a fase de discussão entre os chefes de governo na Rio+20. Eles têm a missão de aprovar o documento a que chegaram os diplomatas brasileiros nas negociações precedentes. O governo brasileiro se mostra confiante em relação aos resultados finais da Rio+20. O mesmo não acontece no exterior. Jornais franceses, entre eles o “Figaro”, dizem que o Brasil foi um negociador fraco daí não ter conseguido avanços em relação à preservação ambiental.

E continuam as avassaladoras revelações sobre toda sorte de crimes. O juiz que decretou a prisão de Carlinhos cachoeira retira-se do país com a família em razão de ameaças de morte. Ao caso do esquartejamento do japonês da Yoki vem sendo acrescentadas novas conclusões que confrontam a confissão da esposa assassina. Segundo conclusões de especialistas o crime foi premeditado e praticado por dinheiro.

No mais os protestos de parlamentares que participam da CPI do Cachoeira pelo prazo de  mais três dias, concedido pelo STF, ao senador Demóstenes Torres no processo de seu julgamento. Trata-se de um assunto que se arrasta e não fosse a cobertura da mídia e a atenção do público sabe-se lá no que isso tudo daria.

Quanto ao inverno mesmo poucas notícias. Aproveito para saudar a nova estação, torcendo para que tenhamos dias melhores pela frente. Quem sabe o frio convide à reclusão e exames de consciência que se traduzam em boas ações.

Será?