Arquivo para agosto, 2012
Tratamento fútil
A verdade é que ao chegar perto dos 70 anos de idade a gente pensa, de vez em quando, na morte. Como será morrer? Morrerei do quê? Será que existe alguma coisa depois da morte ou ela é mesmo o ponto final de tudo?
Há um poema de Drummond que sempre me vem à lembrança. Trata-se do homem que acorda de manhã no dia em que vai morrer. Entretido com a banalidade do cotidiano ele se prepara para sair de casa em seu último dia de vida:
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
É meu último dia: um dia
cortado de nenhum pressentimento.
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer.
E se hoje for o dia em que acordo de manhã sem suspeitar de que este será o meu último? Mas, deixa prá lá. O que mais importa é pensar que, seja como for, venha a morte como vier, o que todo mundo quer é passar desta para a melhor sem sofrer. Sem dor, por favor. Sem gente rondando o quarto de casa ou do hospital sem saber o que fazer, esperando que o homem do alfanje venha finalmente recolher sua vítima. Sem pressentimentos ruins, sem aviso prévio, assim como simplesmente dormir para não acordar mais.
Meu pai contava que o avô dele era fazendeiro no interior de Minas Gerais e, certo dia, sentou-se com a família à mesa para jantar. Comeu, bebeu, contou histórias e feliz da vida, gargalhou jogando o corpo para trás. O velho não voltou da gargalhada, o corpo largado na cadeira mais parecia um ato teatral da morte que passara por ali afobada e o levara, sem tempo para maiores explicações.
Muita gente morre no leito, após muito tempo de sofrimento. Doenças terríveis de progressão lenta castigam corpos que teimam em resistir inutilmente, causando dores insuportáveis para as quais não há remédio. E ficam ali os doentes terminais assistidos por remédios que prologam o período de sofrimento e dor, submetendo um ser para quem já não há esperança às agruras de um triste fim de vida.
Então e finalmente chega a notícia que tardou tanto, a boa notícia de que afinal se dá aos doentes terminais o direito de recusar tratamentos que só servem para atrasar o momento da morte. A partir de agora a vontade do doente terá que ser respeitada mesmo que sua família não concorde e queira segurá-lo, só mais um pouquinho, no mundo dos vivos. Trata-se da vitória da morte natural, sem a intervenção de processos paliativos inúteis que certamente são dispensados por todos os que sabem que suas aventuras humanas estão encerradas.
O momento de grandeza
Todo mundo pode ter o seu momento de grandeza na vida. Não é preciso ser “alguém” para se chegar a ele. A grandeza está ao alcance de todos não dependendo de sexo, cor, situação econômica etc. Isso observei durante enterro de pessoa próxima da família, homem já idoso e de poucas posses. O corpo foi velado na salinha da casa do morto o qual, infelizmente, pertencia a um tipo de religião na qual os fiéis se reúnem para o funeral de um dos seus. Infelizmente porque não só se reuniram na ocasião, como cantaram e cantaram, atordoando os miolos dos presentes. Pois foi em meio àquela balbúrdia de gente urrando por todo lado que se deu um momento de rara grandeza: chegada a hora de fechar o caixão, o filho do morto aproximou-se e envolveu-o com um grande abraço de despedida. Com tal carinho abraçou o pai que levantou o corpo dele do caixão. Diante de tal cena os presentes não puderam esconder a emoção. Fez-se na sala profundo silêncio. Depois o filho acomodou o corpo do pai no interior do caixão e o ritual que acompanha a morte prosseguiu.
Hoje se comenta sobre a despedida do ministro Cezar Peluso do Supremo Tribunal Federal. Completa ele 70 anos de idade e a aposentadoria compulsória afasta-o do julgamento do mensalão ao qual preside. Nos últimos dias esperava-se o voto do ministro. Discutia-se se o voto dele seria em relação ao julgamento de todos os réus ou ficaria restrito aos casos abordados até agora.
Peluso votou pela condenação dos cinco réus listados em crimes de corrupção e peculato no mensalão. Não deu voto geral em relação a todos os réus o que foi de muito bom senso. Além disso, demonstrou serenidade em suas palavras. Entre outras considerações afirmou que “nenhum juiz verdadeiramente digno de sua vocação condena ninguém por ódio. Nada me constrange mais do que condenar um réu em matéria penal”.
Cezar Peluso viveu um momento de grandeza ao despedir-se do STF com seu voto de condenação à corrupção e ao descalabro da impunidade no Brasil.
Ingrid Bergman
Na cidadezinha onde morávamos havia um cinema que funcionava aos sábados e domingos. Bancos de madeira, tela pequena e uma só máquina de projeção de modo que após o fim do primeiro rolo de filme a luz era acesa para que se preparasse a projeção do segundo. Quando o filme terminava outro intervalo para que se colocasse na máquina o seriado. Eu adorava o seriado do Flash Gordon com suas naves espaciais, sempre em luta no planeta Mongo cujo imperador era o perverso e barbudo Ming.
Pode-se dizer que a pequena sala de cinema era a única diversão pública da cidade - então um distrito – de vez que a televisão em branco e preto não pegava bem. Esse “não pegava bem” se explica pela distância de São Paulo onde os sinais de TV eram gerados. Para captá-los instalavam-se antenas no alto dos morros, distantes das casas, ligando-se a antena à TV através de longos cabos. Perdas e sinal, imagens fantasmas e forte espírito de devoção às telinhas mantinham viva a promessa de que um dia a televisão chegaria a ser o que hoje conhecemos.
Mas, foi naquela pequena sala de cinema que assistimos às grandes produções do cinema norte-americano. Ali pude ver em ação gente como John Wayne, Gregory Peck, Elizabeth Taylor, Judy Garland isso só para citar nomes ao acaso que surgem na memória. Mas, também foi ali que eu vi, pela primeira vez, Ingrid Bergman, atriz sueca de grande beleza, capaz de paralisar os espectadores com a magia de suas atuações.
E por falar em atuações foi ainda lá que assisti ao filme que depois tantas vezes revi, esse grande momento do cinema que é “Casablanca”. Ingrid Bergman atua ao lado de Humphrey Bogart e a trama romântica se passa na cidade marroquina de Casablanca onde Rick Blaine (Bogart) se reencontra com seu antigo amor Ilsa Lund (Bergman). Rick é um americano expatriado, dono de uma casa noturna e a ação se desenvolve durante a Segunda Guerra Mundial quando Casablanca está sob o domínio dos franceses.
Hoje se completam 30 anos da morte de Ingrid Bergman cuja beleza estonteante permanece viva nos filmes em que atuou. Em sua carreira Ingrid foi dirigida por grandes diretores de cinema e três vezes recebeu o Oscar pelas suas atuações. Morreu no dia 29 de agosto de 1982, aos 67 anos de idade e após lutar durante seis anos contra um câncer no seio.
Ingrid Bergman pertence a um restrito e seleto grupo de pessoas inesquecíveis.
O sacríficio de pintinhos
Quando menino meu pai me contava uma história sobre a minha origem. Mostrava-me um viveiro onde estavam alguns pintinhos e dizia que eu fora um deles. Surgira certa vez de um ovo e ele – o meu pai – gostara tanto do pintinho que o levara para criar em casa. Foi assim que apareci no mundo, segundo a versão do meu pai.
Tínhamos no quintal de nossa casa uma criação de aves, galos e galinhas de raça. Meu pai gostava de briga de galos e ficou louco da vida quando o presidente Jânio Quadros as proibiu no Brasil. Na verdade ele raramente compareceu às rinhas, do que gostava mesmo era de cruzar raças e treinar galos, deixá-los fortes e preparados.
Por essas e outras posso afirmar que a minha relação com galináceos e afins é muito estreita e carinhosa. É sempre interessante observar um bando de pintinhos correndo para todo lado na afobação de comer a ração. Pena que ao se tornarem frangos sejam sacrificados em massa para servir à indústria de alimentos.
Recentemente li notícia sobre matança de pintinhos porque o preço das rações se tornou exorbitante e os criadores estão em crise. Os números de pintinhos sacrificados diariamente eram enormes segundo a notícia. Hoje leio que há falta de ração e criadores não sabem o que fazer com os animaizinhos que estão passando fome, daí não haver outra saída que não a de sacrificá-los.
Notícias como essas me aterrorizam. Imagino se as aves não têm alguma inteligência e noção do terrível destino que as aguarda. Hoje em dia compramos carne de aves ensacada vinda de frigoríficos, mas no passado as aves eram trazidas do quintal e destroncadas. Morte lenta e terrível contra a qual o animal resistia se debatendo, tudo justificado pelos excelentes pratos com carne de galinhas servido nas refeições.
Nem estou falando sobre o fato de animais serem sacrificados para servirem como alimento ao homem, coisa repudiada por muita gente. Entretanto, não há como ignorar a situação desses pintinhos passando fome ou sendo sacrificados em razão do alto custo da ração ou falta dela. A notícia de que num estado brasileiro cerca de 144 mil aves foram atiradas numa vala por não se ter como alimentá-las é dolorosa.
Palestras e palestrantes
A primeira palestra a que assisti e me impressionou - e dela não me esqueci - aconteceu quando eu era aluno da 1ª série do Curso Científico, hoje Ensino Médio. Os mais novos talvez não saibam, mas no passado o atual Ensino Médio era dividido no Clássico e no Científico. Para o Clássico iam os futuros professores, advogados, gente de letras etc.; no Científico matriculavam-se os futuros engenheiros, médicos e pessoas destinadas a profissões afins com essas. De modo que muito cedo os jovens viam-se na contingência de escolher o caminho que seguiriam. Ainda é assim, mas, hoje em dia, a decisão foi adiada para o final do Ensino Médio.
Infelizmente não consigo me lembrar do nome do palestrante que suponho tenha sido o Prof. Silveira Bueno que foi um cronista, poeta, jornalista, lexicógrafo, filólogo, ensaísta e tradutor brasileiro, conforme se informa na Wikipédia. Na ocasião fomos avisados de que visitava a cidade pessoa emérita que nos brindaria com uma palestra. Lembro-me bem de que o palestrante acabara de chegar de uma longa viagem a vários países e o assunto sobre o qual falou girou em torno dos acontecimentos que ele presenciou. Marcou-me o fato de ele afirmar que a partir de certa idade as pessoas viajam para verificar coisas sobre as quais já possuem conhecimento anterior. Daí que pouco antes do palestrante viajar um amigo teria perguntado a ele: o que é que você vai verificar?
Mas, de lá para cá acabei assistindo a várias palestras e pude perceber que a tônica das falas dos palestrantes tem mudado bastante. Nas últimas a que compareci tive a impressão de ouvir pessoas muito treinadas para o contato com o público, espirituosas e capazes de arrancar risos da plateia. Fazendo uso de assuntos pessoais nos quais se fica em posição de quem foi surpreendido por algo ou ação inesperada o palestrante arranca a solidariedade dos presentes e prepara o terreno para o convencimento sobre o s assuntos de que trata. No fundo ao que se assiste é à palestra de uma espécie de showman com piadas prontas e de sucesso garantido. Isso, aliás, pude confirmar ao assistir por acaso, em lugares e ocasiões diferentes, palestras do mesmo palestrante.
Obviamente, nem tudo é assim e existem níveis e níveis de palestras. Entretanto, o assunto me chama a atenção porque de vez em quando se divulgam os valores pagos por palestras que muitas vezes somam muitos reais, quando não pagas em dólares. Basta lembrar de que no Brasil palestras de 50 minutos de ex-presidentes da República têm sido cotadas a R$ 200 mil. Pessoas do ramo de eventos afirmam que valores entre R$ 100 e R$ 200 mil estão na média, dependendo da importância do palestrante. Além disso, esclarecem que valores bem mais altos são pagos a palestrantes nos EUA. Consta que o ex-presidente Bill Clinton cobra US$ 189 mil por palestra e teria, nos 11 anos decorridos após sair do governo, ganho US$ 89 milhões com palestras.
Mas, nem todo mundo é ex-presidente daí os valores recebidos pelo papo em público serem mais baixos. No Brasil ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central cobram de R$ 10 mil a R$ 30 mil por palestra, sendo que a média gira em torno de R$ 20 mil. Entretanto, profissionais que fazem palestras e não são muito conhecidos recebem valores bem inferiores aos citados para proferi-las.
Neil Armstrong
Eu estava em Tremembé-SP naqueles 20 de julho de 1969. Não me lembro da hora exata, mas pessoas reuniam-se na sala com os olhos pregados na televisão, aguardando a transmissão da chegada do homem à Lua.
De certo modo aquilo que veríamos tinha tudo para parecer inacreditável. A Lua de queijo, morada de São Jorge, bom e comportado satélite da Terra o qual víamos todas as noites no céu enfim receberia um representante da humanidade. E foi assim que pudemos presenciar na televisão as imagens em branco e preto que mostraram, em tempo real, o momento em que Neil Armstrong entrou para a História ao ser o primeiro homem a pisar na Lua.
Caramba, não era pouco. Havia naquelas imagens uma mensagem de transcendência, de atravessar fronteira e romper barreira considerada impossível. Pura magia. Naquele momento Armstrong representava a espécie e cada ser humano da Terra que, com ele, devassava o espaço sideral. Feito grandioso, monumental, raro num mundo em que a tecnologia nem de longe era o que é hoje, mas, ainda assim, lograva-se tão notável conquista. Vitória da ciência que caia como uma luva para os interesses da propaganda norte-americana.
Talvez aos jovens de hoje, habituados com os espetaculares avanços tecnológicos, o feito da missão Apollo 11 pareça menor e não tenha lá tanto significado. Não têm eles - nem poderiam ter - a visão do tempo passado e a experiência vivida naqueles idos de 1969, época em que o mundo andava às voltas com a Guerra Fria e o Brasil imerso em situação de subdesenvolvimento. Pois foi no contexto de um momento histórico difícil e complexo que Neil Armstrong pisou na Lua e ascendeu à condição de herói do povo norte-americano.
Neil Armstrong morreu ontem aos 82 anos de idade e está sendo reverenciado como herói pelo seu povo. Jornais e a mídia eletrônica publicam detalhes sobre a vida do astronauta que comandou a missão Apollo 11.
A imagem que guardamos de Armstrong é a dos momentos em que esteve na Lua. Então eu era um rapaz e assistia à transmissão, pela televisão, ao lado de um senhor idoso de quem ouvia relatos sobre o tempo em que fora o encarregado numa das grandes fazendas do industrial Francisco Matarazzo. Homem de outra época e já no fim da vida parecia a ele que a chegada do homem à Lua não passava de ficção, coisa de americanos.
O senhor de quem falo e as pessoas que comigo assistiram à chegada do homem à Lua estão mortas. Hoje Neil Armstrong morreu e em alguns anos ninguém que tenha visto aquela transmissão terá sobrevivido. Mas o feito persistirá, desfiando o tempo que passa, talvez ofuscado por conquistas de novos desafios, quem sabe a tão sonhada ida de homens a planetas distantes.
Famílias numerosas
No Brasil o casamento só é permitido para quem está desembaraçado. Casar-se duas vezes ao mesmo tempo não é permitido pelo que, ao menos oficialmente, o divórcio, agora facilitado, serve como meio de acesso a novas uniões.
Por aqui as coisas funcionam de modo diferente daquelas situações das Arábias nas quais um homem mantém um harém com várias esposas. Entretanto, pode-se afirmar, sem medo de errar, que o que é oficial nem sempre corresponde à realidade observada aqui no território nacional.
Há alguns anos, em viagem de trabalho ao nordeste fui recebido por um excelente rapaz, boa prosa, que se animou em me levar para conhecer a cidade onde estávamos. Volta vai, volta vem, parou ele diante de uma casa onde conheci uma bonita moça, grávida de uns seis meses, que o rapaz me apresentou como sua mulher.
A visita foi rápida, conversamos um pouquinho e logo saímos. Depois, mais voltas pela cidade e o rapaz parou em outra casa de onde saíram para receber-nos uma mulher, grávida já próxima do período de termo, e um menino. Também ficamos ali durante alguns minutos, tempo suficiente para que eu soubesse que aquela era a mulher do rapaz e o menino o filho dele.
Quando saímos, já no carro, não pude conter a minha curiosidade e pedi ao meu guia explicação sobre o fato. Então tinha ele duas mulheres?
Quando perguntei isso o rapaz sorriu, aparentando a maior naturalidade do mundo. Eram, sim, as duas mulheres dele. Na verdade, a última que visitáramos era a com quem ele se casara oficialmente e em cuja casa passava a maior parte do tempo. A outra viera depois e agora estava também grávida de um filho dele.
Ora, diante de tal situação não me contive e quis saber se as mulheres se conheciam. Ele riu do meu espanto e disse que não só se conheciam como se sabiam grávidas do mesmo homem e saiam juntas para preparar o enxoval das crianças.
Ora, ora, ora, mundo, vasto mundo, como dizia o poeta.
Agora leio no jornal sobre o caso de duas mulheres e um homem que oficializaram, em cartório, uma união estável que já dura três anos. Trata-se de uma escritura declaratória de união poliafetiva que estabelece o regime de comunhão parcial de bens, registrando que um deles será o administrador dos bens. Com o documento os três poderão recorrer à Justiça para conseguir os benefícios típicos de um casal.
Agora só me resta concluir que o rapaz do nordeste deve mesmo ter se contido para não rir muito da minha estranheza diante da situação dele. O mundo gira, a Lusitana roda e a realidade nem de perto se parece com aquela que supomos ser a vigente nos nossos dias.
O príncipe nu
Meu caro, digo que vida de príncipe não é fácil. Você talvez ache que é mole ser príncipe, dadas as regalias: fama, dinheiro, mulheres e só de vez em quando representar a realeza ou comparecer a algum compromisso formal. No mais a vida cercada por seguranças, as noitadas em boates, o assédio de toda gente e as delícias da boa mesa, das festas e recepções. O príncipe é o príncipe e ponto final. Para ele todas as portas estão abertas e nada pode interromper, na vida dele, a dádiva de ter nascido em berço de ouro, melhor dizendo, berço real.
Não sei se você acompanha a trajetória do príncipe Charles, agora um velhusco e eterno aspirante ao trono da Inglaterra. Charles nunca foi um cara feito para agradar as multidões. O jeito meio esquisito dele, o casamento com a princesa Diana que rendeu e até hoje rende assunto para os tabloides, enfim e cá entre nós, Charles nunca foi aquele príncipe dourado, capaz de empolgar as fantasias da plebe à qual pertencemos.
Entretanto, o segundo filho do Charles, o príncipe Harry, esse aí é uma cara da pesada. Volta e meia ele aparece nos noticiários, sempre metido nalguma coisa que constrange a família real. Tantas têm armado que nos últimos tempos tem se esforçado para melhorar sua imagem e não aborrecer a avó que é, simplesmente, a rainha da Inglaterra. Afinal, Harry é o terceiro na linha do trono e vai que um dia tenha que receber a coroa. Não é dos ingleses a expressão “o rei está morto, viva o rei”?
A vida do Harry ia bem, suas últimas ações estavam sendo elogiadas, a bem dizer as ações públicas dele porque nunca se sabe o que se passa na intimidade da vida de um príncipe. Até que ele resolveu participar de uma festinha em Las Vegas, nos EUA, e foi fotografado nu, nuzinho da silva. E você sabe como é: príncipe é príncipe daí que as fotos maldosamente tiradas com aparelhos celulares caíram na internet e eis de novo Harry metido num escândalo que faz a sua imagem pública despencar.
Agora estão falando o diabo do pobre Harry cujo irmão mais velho casou-se outro dia e mostrou ao mundo que ser príncipe da Inglaterra não é fraco não. Harry vai ter que enfrentar o pai e a avó Elizabeth e recomeçar a construção da sua principesca imagem.
Quanto a nós, a gente da plebe, resta-nos acompanhar de longe as estripulias dessa turma de sangue azul. Por outro lado, não dá para não pensar que quando o príncipe aparece nu ele se mostra sem os adornos da realeza e fica igualzinho a todos nós, os plebeus deste vasto mundo.
Meu caro olhe para as fotos do príncipe nu e verá que a única diferença dele com os demais mortais é a de ter nascido em berço pra lá de especial. É isso e só isso, acredite.
Será que há no mundo sobrenatural o momento em que se oferece, a alguns privilegiados, o direito de escolher o berço que terão ao nascer?
Superstições
Você é supersticioso? Acredita em forças estranhas que podem mudar o rumo da sua vida? Já visitou alguma cartomante para saber sobre o que acontecerá a você no futuro? O que dizem os búzios, as cartas e orixás sobre você? Já tentou a numerologia? Qual é o seu número da sorte?
Está aí uma moça contando que o seu ex-sogro é bilionário porque coloca sempre um X no fim da assinatura dele. E eu que não sabia que bastaria apenas um X para me safar dessa confusão toda, das malditas contas a pagar, dos compromissos etc.
O que sei é que o grande jogo da sorte está sempre em expansão. Mas, será mesmo que existe alguma coisa mística por trás do sucesso de uns e o fracasso de outros? Será que o sujeito trás impresso no DNA dele algum código secreto que o fará ser beneficiado com o sucesso?
Sinto dizer, nada disso pode ser confirmado, não é possível saber. Muita gente de sucesso afirma que o segredo é estar no lugar certo e na hora certa. Perguntado se se considerava sortudo Picasso respondeu: toda vez que a sorte me procurou me encontrou trabalhando.
Conheci sortudos e azarados por essa vida afora. Também conheci pessoas que simplesmente metem na cabeça que terão sorte, que ganharão prêmios e assim por diante. A maioria jamais conseguiu ver realizado o seu sonho. Uns raros se realizaram. Um parente da minha família jogou em tudo anos a fio. Perdia, endividava-se, mas confiava que um dia a sorte sorriria para ele. Tipo de delírio muito louco, impossível, que a mulher e os filhos dele já não suportavam. Impossível? Mesmo? Pois num fim de ano o cara ganhou as três séries da loteria federal com bilhetes inteiros, rifas e todo tipo de jogo em que apostou. Vingou-se da má sorte a qual, aliás, jamais admitiu ter.
Há quem perca o voo e se livre de desastre aéreo. Outro dia mostraram na TV um mendigo, morador de rua dos EUA, que recebeu como herança grande fortuna. Acaso? Há pontos comerciais nos quais nenhum tipo de negócio dá certo, nada segue em frente. Como explicar?
Se me perguntarem sobre a existência de sorte não sei o que responder. Acredito em talento, trabalho e coisas do gênero. Mas, cá entre nós, não custa colocar um X no final da assinatura. Quem sabe, não? Vai que…
No banco
Eu me esforço, mas não consigo entender a lógica dos juros bancários. Se você aplica o seu dinheiro na poupança ou coisa do gênero não chega a receber nem 1% ao mês como rendimento. Caso use o cartão de crédito e não pague na data o juro é de mais de 10% ao mês. Um amigo fez um seguro num banco de depois se apertou. No primeiro mês os R$ 200 que ficou devendo passaram a 220; no segundo mês passou a dever mais R$200,00 e o juro sobre os R$ 220,00 que já devia; começou o terceiro devendo 420 aos quais se somaram mais R$ 200,00 do mês. E assim por diante, sempre crescente, tanto que, quando se deu conta, estava endividado.
Vou ao banco levando o meu talão de cheques para desbloquear. A moça amável que me atende pergunta por que não faço isso pela internet. Respondo que não tenho a senha. Explico que o banco em que ela trabalha, do qual sou cliente há quase 30 anos, foi incorporado por outro, mudou de nome etc. Mudaram também o número da agência e o da minha conta, de modo que as minhas senhas já não servem. A partir daí seguem-se explicações dela de como devo proceder, números de telefones do banco pra ligar solicitando isso e aquilo. Ao fim do que pergunto se ela mesma não pode quebrar o meu galho e me dar uma senha, só uma, o que vai custar a ela?
Ela não pode. Explica que o problema é o sistema. Ela é obrigada a utilizar o sistema do banco, não há como pular etapas.
Saio do banco pensando sobre o fato de que os bancos são muito vivos. Agora o cliente não precisa mais ir ao banco para fazer as suas operações de modo que os caixas ficam mais vazios. As pessoas fazem uso dos caixas eletrônicos ou operam via internet. Negócio dos negócios, não? Se a isso somarmos o custo do dinheiro para os clientes…
Não sei por que me voltam imagens da época em que o Collor sequestrou o dinheiro do povo. Ele assumiu a presidência e colocou uma equipe econômica na televisão para explicar o plano que salvaria o Brasil. À frente da equipe a ministra Zélia que ainda hoje a gente acha que não sabia bem a extensão do que estava fazendo. Nos bancos filas enormes, longas, longuíssimas. Da noite par o dia gerentes de bancos e tornavam pessoas importantes, de difícil acesso. Você podia tirar do banco o total de 50 (cruzeiros, cruzados, ou reais, não me lembro) que não davam para quase nada. No dia do pagamento dos aposentados grande alvoroço, filas de velhinhos desesperados, aguardando durante horas para serem atendidos.
Lembro-me disso e tenho vontade de voltar ao banco para dizer à moça que ela tem que me dar uma senha, afinal sou cliente há 30 anos e isso aqui ainda é o Brasil. Mas, desisto porque ela vai me dizer que a culpa é do sistema, do maldito sistema que agora controla as nossas vidas e do qual nos tornamos reféns.