Arquivo para setembro, 2012
Renúncias de presidentes
Os brasileiros foram atingidos por duas renúncias de presidentes da República o que, pensando bem, não é pouco num período de cinquenta anos. A primeira delas foi a de Jânio Quadros, em 1961, cujas causas ainda hoje seguem controversas. De todo modo o país foi surpreendido com a renúncia de um presidente que chegara ao governo levando a esperança de milhões de brasileiros por dias melhores. Tentativa de retorno com mais poderes, simples pileque e até mesmo a solidão do governo em Brasília estão entre as muitas explicações para o intempestivo abandono de Jânio do cargo de primeiro mandatário do país.
O segundo renunciante foi Fernando Collor de Mello que se apeou do poder após o impeachment ser votado pelo Congresso. Eleito, Collor trazia para o governo central juventude e ousadia que já nos primeiros dias manifestou-se por medidas econômicas radicais como o congelamento de 80% dos depósitos bancários. Cada brasileiro passava a ter em conta corrente NCz$ 50 mil fato que desgostou e causou enormes embaraços à população. Congelamento de preços e salários, criação do IOF, aumento de preços de serviços públicos e outras medidas que logo se mostraram confusas e ineficazes tornaram-se verdadeiro tormento. Por trás desse aparato crescia a corrupção, comandada por PC Farias, fato que quando veio à luz provocou a renúncia do então presidente. As acusações ao presidente foram feitas pelo próprio irmão dele, desencadeando enorme revolta popular.
O Brasil teve, portanto, nos últimos 50 anos, história bastante conturbada na qual se inclui o longo período de ditadura militar instaurado no país, em 1964, com a deposição do então presidente João Goulart.
São fatos sobejamente conhecidos, mas que devem sempre ser lembrados para que nem por sonho o país torne a experimentar período de tanta turbulência. É justamente por isso que os brasileiros acompanham com atenção o julgamento do mensalão do qual se espera o veredito final de culpa ou inocência dos acusados de corrupção. Eis aí um fato que pode ser incluído na categoria do “nunca antes neste país” porque, sinceramente, pessoas que já viram de tudo no passado, sempre sob o acobertamento da impunidade, jamais esperariam que um dia a mais alta corte do país se empenhasse num julgamento como o atual.
Há quem diga que o que se espera não é Justiça, mas punição. Políticos aliados aos acusados do mensalão tentam desfigurar o julgamento taxando-o de manobra para depor presidentes etc. Além disso, estranhamente continuam a bater na mesma tecla, qual seja a de negar a existência do mensalão sobre o qual já se acumulam provas incontestáveis.
As punições dos corruptos talvez não seja o que mais interessa nessa história toda. O mais importante é que o julgamento que ora acontece no STF funciona como divisor de águas, estabelecendo-se no país um novo código de conduta e modo de ser daqui por diante. Rasga-se o véu da impunidade e os homens públicos são alertados sobre a honestidade necessária no desempenho de suas funções.
Um novo Brasil deverá emergir após o término do julgamento do mensalão.
Caso extraconjugal
- Homem só se arrepende de caso extraconjugal quando descobre que ama a esposa.
A máxima acima ouvi de um camarada que traiu a mulher pela qual sempre foi apaixonado. Casamento cansa, sabe como é. Rotina, filhos, marasmo do dia-a-dia e o inevitável correr do tempo são fatores que contribuem para a corrosão de juras eternas de amor. Até que um dia ele ou ela se deixam levar por alguma tentação/atração e dá no que dá.
O problema são as consequências, sofrimento da família isso sem falar na radicalização cujo resultado é a separação. Há situações nas quais o vaso quebrado é colado e o casal permanece unido, mas vaso quebrado é vaso quebrado e as coisas nunca mais voltam ao que um dia foram.
Por vezes o caso extraconjugal acontece por leviandade, quase distração, empolgação de momento, bebedeira, sabe-se lá o que mais. Certa ocasião um conhecido viajou a serviço para o interior, conheceu uma moça e terminaram na cama. Aí, feliz da vida, o cara voltou para casa e a felicidade dele durou até o primeiro telefonema da tal, dizendo estar grávida e exigindo atitude dele. Não é difícil imaginar o que se passou a partir daí, o medo de novos telefonemas que poderiam ser atendidos pela mulher até o desenlace no qual ela se descobriu traída. E dizer que era mentira, a moça nunca estivera grávida, tudo empulhação, maldade pura como ele mesmo diagnosticou. Mas, a crise passou, ele e a mulher estão juntos, vaso quebrado, mas colado.
Agora, quem diria, Arnold Schwarzenegger vem a público confessar arrependimento por ter traído a mulher com a governanta. Do caso resultou um filho que cresceu sem saber que o ator/governador era o pai. Schwarzenegger confessa dizendo que foi a coisa mais estúpida que fez na vida, causando sofrimento à mulher e aos filhos.
Como se vê pode acontecer com qualquer um até mesmo com um herói de filmes e governador da Califórnia.
Acautelai-vos caras-pálidas.
Fotografia digital
Num ensaio sobre a fotografia Roland Barthes fala sobre sua impressão diante d uma foto de Jerônimo, o irmão mais novo de Napoleão. Diz ele ter pensado: estou vendo os olhos que viram o imperador.
Barthes enfatiza que a fotografia retrata a morte. Trata-se da fixação de um momento que nunca mais se repetirá cujo significado depende do motivo fotografado. Mas, ao tempo em que escreveu Barthes não conhecia a fotografia digital. Era a época em que os filmes permitiam no máximo 36 fotos e o fotógrafo via-se obrigado a pensar se valia ou não a pena clicar.
A fotografia digital tem a vantagem de tornar praticamente ilimitado o número de fotos a serem tiradas. Memórias eletrônicas de muitos mega permitem o armazenamento de quantidades fantásticas de fotos. Barthes dizia que não tirava fotos porque gostava de ver imediatamente o resultado do que fazia e as fotos demoravam a ser reveladas. Para quem não está habituado ao processo antigo, você fotografava, esperava chegar ao fim do filme, procurava um ambiente escuro para retirar o filme da máquina e, depois, o levava a um laboratório para a revelação. Em geral o processo de revelação demorava pelo menos dois dias, só tendo sido abreviado quando surgiram máquinas de revelação automática. Ao tempo de Barthes a única opção para ter fotos na hora eram as máquinas polaroides cujo resultado fotográfico em geral deixava a desejar.
Por todas as razões citadas as máquinas digitais surgem como ferramentas muito úteis para os fotógrafos amadores que têm nelas meio simples de uso e diversão certa. Entretanto, as novas máquinas fizeram com que o mundo fosse inundado por montanhas de fotografias que podem ser vistas nas telas de computadores sem que haja necessidade de revelá-las. O problema é que com tantas fotos torna-se inevitável a banalização da fotografia. Veja-se, por exemplo, o quanto somos induzidos a observar, praticamente em tempo real, os milhares de fotos publicadas diariamente na internet. Um protesto no Egito, a nudez de mulheres protestando nas ruas, um fim de tarde no Alasca, um combate na Síria, o pronunciamento de um político na ONU, tudo isso é retratado e distribuído ao mundo em poucos segundos de modo que, queiramos ou não, há sempre um olho vigiando as pessoas e devassando a intimidade delas. E que dizer dos pobres recém-nascidos que são fotografados à exaustão? Um simples banho de uma criança de poucos meses torna-se motivo para 20, 30 ou mais fotos. Que impressão terão, quando adultas, essas crianças que hoje estão sendo fotografadas a cada instante?
Meu avô paterno nasceu no final do século XIX e morreu antes que eu nascesse. Só tenho ideia da aparência dele através de uma única foto tirada já no tempo em que estava em progresso a doença que o mataria. Da minha infância tenho não mais que umas cinco fotos, tiradas com intervalos de anos. Fotografia era coisa difícil, cara, pouca gente dispunha de máquinas fotográficas. A tecnologia mudou esse quadro e hoje em dia em cada casa existe alguém com uma máquina ou telefone capaz de fotografar e filmar.
Não aprecio o número exagerado de fotografias hoje disponível, mas sinto falta de fotos de pessoas a quem conheci e já desapareceram. Vez por outra me lembro de alguém e nem sempre consigo formar na memória imagem exata do aspecto dessa pessoa. Fico, portanto, no meio termo em relação ao número de fotos, embora considere exagero o que acontece hoje em dia com tanta gente tirando fotos de tudo o que encontra pela frente.
É só um negócio
Pelo menos nos países ocidentais o tabu da virgindade anda abalado há bom tempo. Hoje em dia homens deixaram de exigir o selo de castidade e se casam na maior com mulheres que não são virgens. Existem os resistentes que radicalizam: mulher que se deitou com outro homem não serve para ser esposa. Mas, o que corre é que as moças que sobem ao altar deixaram a virgindade para trás e os homens que se casam com elas parecem não se importar com isso.
Sei que há quem não concorde com nada do que foi dito no parágrafo anterior. Imagino que existam por aí homens que não admitem mulher que não tenha sido “só deles”, cabendo-lhes a glória de desvirginá-las. Também é de se citar o observado em culturas como a muçulmana com os requisitos de excisão do clitóris e infibulacão da vagina. Trata-se da misoginia expressa em seu mais alto grau.
Conheci no passado homens que se casaram e largaram as mulheres porque constataram que não eram virgens. Um deles, já falecido, casou-se com moça de grande beleza e não suportou descobrir que ela já não era virgem. Apaixonado que era largou-a e sofreu muito a ponto de nunca mais ter-se casado. Viveu sozinho até o fim enquanto a sua bela amada teve filhos e netos como acontece com todo mundo.
De todo modo virgindade é tema para entendidos que se balizam em aspectos sociais, religiosos e psicológicos para formular explicações sobre o assunto em cada cultura. Afora isso sobram as generalizações e a surpresa quando a virgindade volta a ser lembrada por algum tipo de ocorrência inusitada. Esse é bem o caso dessa moça de uma cidade de Santa Catarina que decidiu leiloar a sua virgindade pela internet. Ela tem 20 anos de idade e o leilão está sendo realizado por uma produtora australiana. Entrevistada a moça diz que não considera isso prostituição e avisa que usará o dinheiro para construir casas populares.
A moça perderá a virgindade durante uma viagem de avião na qual o vencedor do leilão poderá possuí-la, mas seguindo regras como não fazer uso de brinquedos eróticos, não beijar, etc. O cara terá pagado para romper o hímen e a isso terá direito. Simples assim.
Obviamente, o caso da catarinense chama a atenção pela singularidade. Mostra que no mundo existe gente para tudo, inclusive para pagar pelo ato de romper um hímen. Quanto à moça, bem, é o que ela quer fazer, não? E daí?
Minha avó diria que o mundo está cada vez mais louco. Minha mãe concordaria com ela. Não me atrevo a suspeitar a respeito da opinião das mulheres de hoje em dia sobre uma coisa assim. Mas, no fim das contas talvez a razão esteja mesmo com a moça que está prestes a perder a virgindade com um estranho dentro de um avião. Ela disse:
- É só um negócio.
Coisas da cidade
Na medida em que se encurta o tempo que nos separa das eleições os candidatos tornam-se mais aguerridos, muitos até demonstrando desespero. O caso da disputa pelo cargo de prefeito na cidade de São Paulo serve como exemplo do que se passa no país. Em São Paulo os partidos mais representativos, PSDB e PT, não escondem a surpresa de se verem preteridos por um candidato que logra atingir as classes menos favorecidas e acumula pontos em sua escalada nas pesquisas de intenção de voto.
Mas, por que isso acontece? Se prestarmos atenção nos últimos dias analistas políticos tem-se debruçado sobre o assunto, buscando explicações para a quase certa vitória de Russomano. Em geral o tom das análises insinua que ao eleitor interessam o novo e propostas que o seduza. No PSDB o candidato Serra nem de longe sugere novidade; no PT o candidato surfa sobre uma onda de dúvidas a respeito da idoneidade do partido e de seu próprio líder envolvidos que estão com as denúncias em andamento no julgamento do mensalão.
Agora que a eleição está próxima crescem as acusações entre candidatos e até uma disputa entre religiões é trazida, absurdamente, ao cenário das discussões. Entretanto, em meio a toda essa balbúrdia constata-se que ao eleitor não ficam claras as intenções dos candidatos caso venham a ser eleitos. A tônica dos pronunciamentos não foge aos clichês de melhora nas áreas de saúde, educação, transportes e segurança embora não seja possível distinguir, com clareza, as estratégias a serem adotadas para que isso venha a acontecer.
No final das contas o que consola é pensar que talvez no futuro as coisas não fiquem piores do estão hoje em dia. Mas, o que realmente dói é saber que com planejamento, boa vontade e muita idoneidade a cidade pode melhorar e com ela a vida de milhares de pessoas que nela vivem.
A pior coisa do mundo
No livro “1984”, de George Orwell, há uma passagem na qual o protagonista fica sabendo que em determinada sala existe a pior coisa do mundo. Trata-se de uma sala de tortura na qual o torturado é submetido a algo terrível. Mas, o que pode vir a ser a pior coisa do mundo? Acontece que para cada pessoa existe uma pior coisa do mundo relacionada aos seus temores. O meu horror é provocado por fatores diferentes do seu daí que o que é pior para mim pode não significar muito para você. Enfim, para cada pessoa existe algo que a ela é absolutamente insuportável, daí figurar como a pior coisa para a qual pode ser exposta.
Lembrei-me dessa passagem do livro cujo conteúdo é mais ou menos o apresentado no parágrafo anterior - li “1984” há muito tempo e emprestei o livro a um amigo que o surrupiou, agregando-o à sua biblioteca particular. Aliás, vale a ressalva de que livros não devem ser emprestados porque a mão que leva raramente se dá ao trabalho de trazer de volta. Dias atrás procurei o livro que Sartre escreveu sobre o poeta Charles Baudelaire e só depois me lembrei de que alguém o levou por empréstimo com a promessa de devolvê-lo em uma semana. São já passados uns três anos e creio que esse livro pode ser incluído na lista dos definitivamente perdidos.
Mas, ao horror. Dizia que me lembrei do texto de Orwell. A razão foi a ocorrência de um crime que nos últimos dias tem-se muito divulgado, atraindo a atenção pública. Uma jovem universitária foi encontrada morta dentro de seu carro constatando-se que apanhou muito e foi finalmente degolada. Esse crime terrível provocou resposta da polícia que se empenhou nas investigações em busca dos assassinos. Finalmente dois homens foram presos e confessaram que cometeram o crime a mando de um ex-marido da universitária. A razão foi a negativa da jovem de dividir ou pagar uma dívida de R$ 1600,00 feita juntamente com o ex-marido.
É de se imaginar como terão sido os últimos momentos de vida dessa universitária exposta ao ataque de bandidos contratados para matá-la, chegando ao inominável ato de degola dentro de seu próprio carro. Momento de horror sem fim nos quais ela pode ver de perto algo que pode ser interpretado como a pior coisa do mundo.
Agora o ex-marido nega que tenha ordenado a morte da universitária, alegando que contratou os dois bandidos apenas para pregar um susto nela. A família da moça degolada sofre com tamanha barbaridade, ainda mais sendo cometida por pessoa de boa família a quem tinham como verdadeiro filho.
História terrível, assustadora. Provoca calafrios e nos faz pensar sobre os limites da maldade humana.
Passagem do tempo
Contabilizamos a duração da vida em acordo com o calendário gregoriano. Promulgado pelo Papa Gregório XIII, em 1582, o calendário determina a duração do ano civil, sendo utilizado no mundo inteiro. Dias, semanas e meses fazem parte do calendário e norteiam a passagem do tempo de nossas vidas.
Bem, nenhuma novidade no que está escrito no parágrafo anterior. Todo mundo sabe disso e nada há a fazer em relação ao tempo que devora a existência. O problema é que nem sempre nos damos conta de que o tempo realmente passa e existe um fim para a vida. De repente, não mais que de repente, o jovem saudável do passado descobre-se envelhecido. Progressivamente suas aptidões físicas e mesmo mentais se reduzem. O organismo começa a pagar pesados tributos aos desgastes provocados pela longevidade. Doenças acossam, males podem vir acompanhados de muito sofrimento. A página que fecha o livro da vida em geral não contém relatos de fatos agradáveis.
Entretanto, uma boa vida pode muito bem ser coroada com período final caracterizado por muita compreensão e felicidade. Cada fase da existência tem seus prós e contras, com a velhice não é diferente. Não se trata de fazer coro à tal “melhor idade” que de melhor não tem é nada. Não custa, porém, recordar que na velhice as pessoas têm a seu favor a experiência acumulada e certo olhar mais compreensivo em relação ao fenômeno vida. Daí que não se justificam tantos inconformismos observados por aí afora. Quem não conhece pessoas que ficaram velhas e simplesmente não aceitam ou se revoltam contra as limitações trazidas pela idade?
Escrevo isso por ter contato com pessoa extremamente ativa em seu passado, dotada de muita inteligência e realizada economicamente através de seu próprio esforço. Bela história de superação pessoal a dela que vinda de baixo hoje em dia goza de conforto e tornou-se dona de seu nariz como se diz por aí. Pois nada disso serve a ela como estímulo. Vez por outra me fala ao telefone e repete o mote que adotou de tempos para cá: a velhice é triste.
De nada adianta lembrar a essa pessoa sua imensa capacidade de superação, o sucesso de sua carreira, os filhos bem criados, os muitos netos, a família que a reverencia. Tudo isso parece sucumbir diante do fantasma do envelhecimento cuja marcha progride a cada minuto e dia do calendário.
A pessoa de quem falo queixa-se do envelhecimento, mas não quer morrer. O apego à vida a mantém ereta frente à batalha que tem pela frente a cada manhã. Sabe que o tempo não tem volta, nisso a razão de seu inconformismo.
Babel
De que o mundo é lugar muito complicado parece não haver dúvidas. Entretanto, bota complexidade nisso. A cada dia somam-se novos ingredientes que só fazem crescer a grande balbúrdia mundial. Ninguém se entende e parece que fatores como fé, etnias e econômicos só fazem os homens distanciaram-se, uns dos outros, cada vez mais. Trata-se da Babel com contornos nítidos e fáceis de identificar cujo destino final ninguém sabe, mas que é mais que preocupante.
De repente os países islâmicos se levantam em protestos contra um filme produzido nos EUA. Apesar do momento de transe, na França uma revista decide publicar charges envolvendo Maomé e obriga o país a fechar temporariamente embaixadas e elevar o nível de atenção em relação à segurança em suas cidades. Na China é marcado dia de protesto contra o Japão pelo massacre perpetrado pelos japoneses nos anos 30 do século passado. A Europa continua submersa na crise do euro e não existe acordo sobre o modo de salvar a moeda. Países como a Grécia, a Espanha, Portugal e Itália enfrentam crises sem solução à vista.
O parágrafo anterior resume os assuntos internacionais do dia. Diante de tanta confusão é de se perguntar se realmente existem soluções ou se o planeta caminha em direção a uma grande guerra ou acontecimento de grandeza semelhante. É como se estivéssemos observando um caldo em ebulição, cada vez mais quente, já ultrapassando os níveis aceitáveis de aquecimento.
O que mais chama a atenção é a ausência no horizonte de balizas que possam ser aceitas por todos, confluindo opiniões diferentes em torno de acordos e soluções possíveis. A humanidade parece ter-se afastado perigosamente de sua linha de prumo e o retorno ao equilíbrio, embora possível, demora-se perigosamente. E o cidadão, o homem comum, esse “eu no meio de tudo isso” não sabe para que lado correr, nem como se proteger.
Mas, há esperança. Embora existam aqueles que neguem o valor da História como ensinamento para o presente e o futuro o fato é que o mundo já passou por crises enormes como durante a realização da Segunda Guerra Mundial. Verdade que dos acordos firmados ao final do conflito derivou a polarização do mundo em dois blocos que constituíram o longo período da Guerra Fria. Mas, a humanidade sobreviveu, a seu modo o conflito foi superado. Hoje em dia pergunta-se sobre os limites de tamanho desacordo entre os seres humanos. Até onde a Babel crescerá e resistirá sem que um fato maior e terrível se abata sobre os povos do mundo?
Ouvi as considerações anteriores hoje pela manhã de meu vizinho que mora no quarto andar. Madrugador, ele lê muito cedo os jornais e assiste aos primeiros noticiários da televisão. Depois vai à missa, católico praticante que sempre foi. Não é a primeira veza que ele me fala sobre a Torre de Babel que estaria na origem das línguas faladas no mundo e do desentendimento entre os homens.
Dessa vez eu não disse nada ao meu vizinho. Ouvi o que ele disse e preferi me calar. Há dias em que o mundo parece nublado demais para que arrisquemos palpite sobre a probabilidade de chover.
A religião na política
Estamos bem longe dos radicalismos observados nos países islâmicos, nem por isso livres dos entrelaçamentos das religiões com a política. Por aqui não se cometem atentados, não se matam embaixadores e não se cometem outros crimes em nome da defesa da fé ultrajada. Entretanto, não deixa de causar espécie o embate entre igrejas provocado pela realização das próximas eleições municipais na cidade de são Paulo.
A quem atribua a culpa ao Russomano até ontem um azarão em quem ninguém apostaria para vencer e tornar-se prefeito da capital. Ligado às igrejas evangélicas Russomano tem recebido delas apoio fato que levou a igreja católica a pregar contra ele. De repente a eleição para o cargo de prefeito da capital transforma-se em motivo para que as igrejas passem a medir forças, recomendado a seus fiéis em quem votar - ou contra quem - no dia 7 de outubro.
Do que muita gente se esquece é de que a culpa por esse imbróglio na verdade é dos partidos PSDB e PT cujas faces já não convencem ninguém, o primeiro repetitivo, sem novidades, o segundo acusado de corrupção conforme vai se vendo com a evolução do julgamento do mensalão. Diante disso Russomano surge como alguém fora do esquema que cai no gosto popular e ameaça ser mesmo eleito exceto se algo muito grande vier a interromper a ascensão dele nas pesquisas.
Ainda bem que não voto na capital. Imagino o que deve se passar na cabeça do eleitor consciente diante de escolhas tão contraditórias. Mas, o pior, pior mesmo, é que enquanto os candidatos se engalfinham em acusações recíprocas, a cidade e seus problemas vão sendo esquecidos. Chavões, promessas, discursos de efeito são proferidos sem que tenham força para sensibilizar os eleitores mais interessados na solução de problemas que tornam a vida na capital senão inferno, pelo mesmo purgatório. Que o digam as ruas escuras, o trânsito infernal, a insegurança, os problemas da periferia etc.
Mas, afinal, a eleição para prefeito da capital se enquadra na escolha do melhor administrador ou se trata apenas de questão de fé?
Eleições norte-americanas
Aproximam-se as eleições norte-americanas das quais sairá o homem que responderá pela presidência da República do EUA nos próximos quatro anos. No momento verifica-se discreta vantagem na corrida presidencial para o atual presidente, Barack Obama, contra o seu adversário Mitt Romney.
Não vivendo nos EUA a opinião que temos sobre o que será melhor para os EUA e para o mundo fica na dependência do que se publica a respeito dos dois candidatos. Não há como esconder que a imprensa brasileira tem se mostrado favorável a Obama tantos são os artigos aqui reproduzidos, escritos por personalidades e jornalistas norte-americanos que veem na continuidade de Obama o melhor para o seu país.
Na verdade a tendência pró Obama é mais que esperada. O mundo atravessa crise que não se sabe no que vai dar e Obama pelo menos parece ser um sujeito sensato e incapaz de loucuras. Quanto a Romney não se sabe bem quem é ele e do que é capaz, temendo-se seu lado mórmon e o fato de sua riqueza pessoal não ser bem explicada. Além do mais Romney aparenta não conhecer bem as particularidades do mundo além das fronteiras dos EUA, isso sim fator muito preocupante.
Não é demais lembrar que o presidente dos EUA é o homem mais importante do mundo porque exerce poder sobre o maior contingente militar e econômico do planeta. Harry Truman, presidente dos EUA durante a Segunda Guerra, autorizou o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki; George W. Bush, também presidente dos EUA, decretou a invasão do Iraque; e por aí vai, podendo-se citar a enorme influência e mesmo ações diretas do governo dos EUA em vários países. A história da América Latina, por exemplo, é rica em episódios nos quais até governos de países foram mudados, tudo isso sob a gerência dos EUA embora isso seja sempre negado.
Por todas essas razões parece ser mais seguro e certo que os EUA não tendam a mudar o atual modo de agir em relação ao mundo, daí a preferência pela continuidade de Obama ser mais generalizada.