2012 dezembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para dezembro, 2012

Fim de ano

escreva o seu comentário

Domingo, antevéspera de um novo ano. 2013 vêm aí. Hora de deixar para trás o que não foi bom no ano que finda e propor-se a uma vida melhor no que começa. Li nos jornais pedidos de muita gente para o ano novo. Há quem rogue por mais segurança, um pedreiro sonha com salário melhor. Uma mulher que mora de aluguel diz que seria feliz se conseguisse uma casa dela. Não são pedidos de presentes de natal: são sonhos de vidas melhores.

Com tanta gente pedindo achei de bom tom também pedir alguma coisa. Foi aí que me deparei com a questão: afinal, o que eu gostaria de pedir numa hora dessas, ainda que não houvesse chance do meu pedido vir a ser atendido?

Pensando bem, pedidos são feitos em relação a acontecimentos futuros. Quero que isso e aquilo me aconteça e ponto final, depois resta esperar que a conjunção dos astros venha a favorecer a realização dos sonhos.  Pois descobri que não quero pedir nada para o ano vindouro. O que eu queria mesmo é poder mudar o passado. Se não mudar pelo menos retornar a ele, quem sabe consertando alguns mal feitos - toda gente tem lá os seus errinhos de que se arrepende, não? Mas, não vou aqui começar a falar sobre os meus erros porque são tantos e o espaço é curto. Entretanto, como dizia o poeta, se eu pudesse e o meu dinheiro desse, gostaria muito de pedir perdão àquela moça que quase levei ao altar, mas fiquei no quase. Ela sofreu tanto… Mas que fazer se me faltou naquela hora não a força, mas a convicção, a certeza de que aquela seria a união a fazer para toda a vida, senão parte dela? Tive um amigo - já falecido em circunstância pra lá de trágica - que me dizia muitas vezes acordar de madrugada e cobrir o rosto de vergonha pela mulher que abandonara na porta da igreja. Não chego a tanto, mas…

O que eu gostaria mesmo de pedir eram alguns minutos, uns minutinhos, para me reencontrar com pessoas de quem gostava tanto e já se foram dessa vida. Que me dessem de presente alguns instantes com a minha mãe, não ela já doente e velha, mas a minha mãe dos meus tempos de rapaz. Só mais tarde percebemos o quanto tínhamos a dizer a pessoas a quem amamos e, no entanto, não dissemos. É na falta absoluta, morte sedimentada e passada, que percebemos os diálogos interrompidos, aqueles que não tivemos e que daríamos a vida para que se tornassem possíveis.

Pediria, ainda, que eu fosse mais uma vez menino e viajasse no bonde da Estrada de Ferro Campos do Jordão, vestindo o velho uniforme cáqui e sem ter a menor noção do que me aconteceria mais tarde.

Vou parar por aqui, não sem antes pedir por uma festa de santo padroeiro na qual se comia e bebia a vontade na casa do festeiro e isso por três dias seguidos. Mas, o mundo não é mais assim, o passado não retorna, os mortos estão bem mortos, e pedidos são, como já disse, feitos em relação a acontecimentos futuros.

Sendo assim , que venha um bom ano de 2013.

Escrito por Ayrton Marcondes

30 dezembro, 2012 às 8:18 pm

escreva o seu comentário

Linha de cerol

escreva o seu comentário

Crianças adoram soltar pipas. Pipa no ar dá sensação de liberdade, de transposição de  limites intransponíveis. No meu tempo e lá pelos meus lados não chamávamos “pipa” de pipa: o nome era “papagaio”. Soltávamos papagaios. A delícia era fazê-los, prepará-los para o “nosso” voo. A busca dos filetes de bambu para armá-los, o papel e a cola, o rabo de tamanho exato para conseguir equilíbrio durante o voo. E a carretilha na qual se enrolava a linha de cozer, linha fina, mas capaz de resistir aos enfrentamentos do papagaio com inesperados golpes de vento. De repente lá estava ele, frequentando as imensidões, nosso representante num céu límpido com o qual sonhávamos. Assim voávamos.

Há quem prepare pipas e as faça voar com linhas de cerol preparadas com cola e vidro. Esticadas essas linhas tornam-se armas mortíferas. Não raramente recebemos notícia de que alguém foi ferido gravemente por uma linha de cerol. Tempo atrás um rapaz que ia de moto pela avenida da praia teve o seu pescoço cortado por uma linha de cerol e morreu na hora. Ontem, no interior, um homem morreu pela mesma causa. Ele chegava à casa de bicicleta e tentou desviar-se da linha de cerol. Foi atingido por ela na perna daí surgindo grande perda de sangue. Caiu da bicicleta, bateu a cabeça na guia e não resistiu aos ferimentos. A família, inconsolável, pede medidas. Uma autoridade concede entrevista e diz ser impossível encontrar o responsável pela linha de cerol. Outra diz que nas cidades deveriam existir áreas próprias pra soltar pipas. Como se vê ficará por isso mesmo.

O caso do homem que perdeu a vida por conta da linha de cerol me fez voltar situação ocorrida ao tempo de minha infância. Meu pai tinha um comércio na principal e única rua da cidade em que morávamos. Rua estreita, poeirenta como são as ruas de cidadezinhas desse imenso Brasil. Pois por esta rua passava, diariamente, um ônibus que fazia o trajeto entre o sul de Minas Gerais e cidades do Vale do Paraíba. Pois certo dia aconteceu que um rapaz tivesse se alegrado ao chegar à nossa cidade. Tão alegre estava que abriu a janela do ônibus e colocou a cabeça e parte do tronco para fora. Foi quando aconteceu algo inevitável numa rua estreita como aquela: a cabeça do rapaz colidiu com um poste de modo que ficou ele com o corpo separado dela dentro do ônibus.

Como não poderia deixar de ser em lugar pequeno corremos ao local para constatar acontecimento tão inusitado. Ainda hoje me lembro de pedaços de cérebro do rapaz espalhados sobre a calçada e do sangue que escorrera por toda parte. Não fui ver o ônibus, nem tive coragem de observar o corpo do rapaz sem cabeça. Mas, jamais me esqueci do acidente tão trágico que roubou a vida de rapaz tão jovem.

Minha mãe dizia que certas coisas estão escritas daí serem inevitáveis. Ainda penso na chegada daquele rapaz, da possibilidade de ele não ter-se projetado pela janela, de não ter morrido. Seria como se a cena no ônibus fosse regravada dela retirando-se o momento da colisão da cabeça com o poste. Mas, infelizmente, a vida não costuma voltar atrás, assim como é impossível fazer com que o homem que vinha na bicicleta percorresse outro caminho e não se encontrasse com a linha de cerol.

Locutores Esportivos

escreva o seu comentário

Quando as transmissões de jogos de futebol pela TV apenas engatinhavam o jeito era acompanhar pelo rádio. As Copas de 58 e 62, por exemplo, foram ouvidas pelo rádio. O mesmo com as Copas de 50 e 54 as quais não ouvi por ainda estar no limbo da idade. Mas meu irmão e tios sempre se referiam às atuações do fantástico Bauer no “escrete nacional”. Não tenho certeza, mas tenho a impressão de que ninguém mais usa a expressão “escrete nacional” para se referir à seleção brasileira de futebol.

Bem, cada um tinha a sua rádio favorita e, obviamente, os locutores e comentaristas de sua preferência. Em menino cheguei a ouvir a poucas transmissões do grande compositor Ari Barroso que, entre outras façanhas, dava-se ao luxo de ser locutor esportivo. Em geral os torcedores paulistas não gostavam das irradiações de locutores esportivos cariocas que tinham estilo bem diferente da moçada da Paulicéia. Por aqui os favoritos eram Pedro Luís, Edson leite, Fiori Giglioti, isso para ficar nos nomes de uns poucos. Comentaristas eram o Mário de Moraes, o Mauro Pinheiro isso para também ficar em nomes que a memória me trás de imediato. As locuções pela TV ficavam por conta do Walter Abraão que tinha jeito muito próprio de narrar pela TV Tupi.

Hoje em dia estão nas rádios vários locutores, alguns muito bons. Competem com eles as transmissões de jogos pela TV que roubam a atenção de torcedores que ouviriam os jogos pelo rádio. Quanto a mim ainda prefiro o rádio, por incrível que pareça. Na verdade assisto parte dos jogos pela TV e mudo para o rádio quando as coisas não estão favoráveis ao time de meu interesse. Conheço muita gente que desliga o som da TV e ouve o jogo pelo rádio, acompanhando as imagens da TV. Acontece entre os locutores da TV com frequência falarem sobre muita coisa, deixando o jogo de lado. Isso enerva a os torcedores mais fanáticos a quem interessa exclusivamente oque se passa em campo.

Dos grandes locutores do rádio para mim o melhor sempre foi o Pedro Luís. Ele conseguia transferir para o dial do rádio as linhas do campo de futebol, situando o torcedor, com exatidão, nos lugares onde se desenvolviam os lances. Tinha um jeito especial de narrar os lances, situando o jogador que estava com a bola, quem estava perto dele e as possibilidades de andamento da jogada. Era perfeito. Ainda hoje, muita gente se mostra influenciada pelo jeito dele narrar.

Escrevo sobre isso porque hoje faleceu o Luís Noriega que narrava jogos pela TV Cultura. Tinha ele um modo diferente de narrar: mais equilibrado, contido, primando pela imparcialidade que a TV Cultura exigia como norma em suas transmissões de jogos. Era, porém, muito agradável assistir a jogos pela TV Cultura, justamente pelas narrações do Noriega.

Quando surgiu a TV especulava-se sobre o destino do rádio. Gente aficionada - como eu - jamais temeu pela sorte do rádio. O fato é que o rádio continua firme e forte, conquistando cada vez mais simpatizantes. Aliás, tão firme e forte quanto essa gente toda que narra esportes, mantendo aceso o fogo e a fé das grandes torcidas.

Velhos natais

escreva o seu comentário

Natal sempre igual? Quase. Com pequenas variações na noite de natal reproduzem-se cenas habituais que passam pela troca de presentes e a reunião da família para a ceia. Come-se e bebe-se além do habitual - os gordos entregam-se à comilança prometendo-se entrar num regime na manhã do dia 25 -promessa quebrada quando o grande e irresistível almoço do dia seguinte é servido para alegria dos apetites vorazes.

Promessas de natal são feitas para serem quebradas. Não duram até a passagem de ano quando em geral dedicamos olhar complacente ao ano que finda e juramos nova vida no que começa. Um parente, já falecido, tinha o hábito e abrir uma garrafa de espumante quando faltava exatamente um minuto para a passagem de ano. Falante como era, tornava-se reflexivo. Deitava o líquido no copo e ficava observando as bolhas que se formavam.  Quando o líquido serenava jogava-o na pia e só então se servia do segundo que ingeria de um só gole. Explicava-se: o primeiro copo pertencia ao ano que findava; o segundo representava o novo ciclo que se abria. Ao novo! – dizia. Cada um tem direito a fins e começos segundo suas convicções.

Da noite de natal fica o momento em que os presentes são trocados, particularmente a distribuição de brinquedos. Hoje em dia a facilidade de acesso a toda sorte de brinquedos faz com que crianças recebam muitos presentes e se percam na escolha daquele que será o seu favorito. A indústria de brinquedos, nacional e importada, já não sabe mais o que inventar daí que bebês de seis meses acabam ganhando engenhocas eletrônicas que desfiam as suas ainda incipientes capacidades para aproveitá-los. Mas, nem sempre foi assim. Há cerca de 60 anos os bons brinquedos estavam ao alcance de famílias melhor situadas economicamente e, se bem me lembro, não existiam em tão grande variedade. Pois eu teria uns sete anos de idade e morávamos numa cidadezinha na qual a principal atração de natal para as crianças era a distribuição de presentes na casa paroquial. O padre da cidade conseguia brinquedos junto a empresas e, no dia 25, as crianças formavam fila para recebê-los. Chegada a sua vez a criança entrava na casa e escolhia o brinquedo que lhe aprouvesse.

Aconteceu-me o milagre de ser o primeiro da fila daí a possibilidade de escolher o melhor brinquedo. Quando entrei vi um carro grande, desses com pedais que permitiam à criança sentar-se e dirigir. Era o melhor brinquedo e, obviamente, eu deveria escolhê-lo. Entretanto, cismei com um carrinho pequeno, do tamanho da palma da mão. Ao que me acudiu o padre mostrando o carro de pedais, dizendo-me que faria melhor em ficar com ele. Mas, criança é criança e fiquei com o pequeno que enfiei no bolso da calça e fui embora. O segundo da fila era um meu amigo que não pensou duas vezes para apoderar-se do carro de pedais.

Ainda hoje guardo a imagem daquele carro vermelho que eu não quis sabe-se lá por que. Era o melhor entre os melhores, mas desdenhei dele trocando-o por um minúsculo carrinho do qual logo me esqueci. Creio que foi a partir daí que passei a desconfiar das escolhas que fiz na vida. Algumas foram boas, deram certo, outras não e com consequências sobre as quais o melhor é calar.

Outro dia sonhei que era menino e estava em primeiro lugar na fila de escolha de brinquedos. Quando entrei vi o carro vermelho e tive a chance de corrigir o erro da primeira vez. Não sei dizer o fim do sonho, mas creio que na hora “H” é possível que eu tenha visto o carrinho que cabia na palma da minha mão e, por motivos insondáveis, tenha ficado com ele. Afinal, não é nenhuma novidade o fato de que somos como somos, tantas vezes incorrigíveis.

No dia do fim do mundo

escreva o seu comentário

Finalmente chegamos ao dia previsto para o fim do mundo, segundo a leitura que alguns fazem do calendário maia. É passada uma hora do meio-dia e até agora não se verificaram sinais manifestos de que algo terrível esteja para ocorrer.

Confesso que já me peguei olhando para o céu para verificar a presença de algo estranho. O que encontrei foi um céu azul, sem nuvens e de muito sol. Dia lindo, lindo demais como deveria ser aquele em que o mundo deverá acabar.

Também pensei nas pessoas de quem tanto gosto, as muito próximas. Não teria sido o caso de tê-las reunido para que estivéssemos juntos no caso de alguma catástrofe? Não posso imaginar ondas monumentais se erguendo do mar e avançando contra a terra sem que estivéssemos juntos nesse último momento. Desapareceríamos com o mundo e entraríamos abraçados na eternidade.

Sei que ainda restam cerca de 10 horas para que este dia termine e se possa afirmar com certeza que o mundo não acabou. Há quem espere que hoje seja o último dia. De manhã encontrei no elevador do prédio onde moro uma senhora que me disse que iria à igreja para rezar porque queria estar preparada para a entrada no reino dos céus quando a última hora chegasse. Um rapaz ouviu e brincou, dizendo que a catástrofe final acontecerá exatamente quando falar apenas um minuto pra a meia-noite. O fim virá justamente quando todas as pessoas estiverem comemorando a continuidade da vida e preparando-se para as festas de fim de ano. Perguntei a ele se as coisas se passarão como está previsto no livro do apocalipse. Ele sorriu e respondeu que na verdade não se sabe por que Deus põe e dispõe segundo a Sua vontade. Chegávamos ao térreo e a ao ouvir as palavras do rapaz a senhora se benzeu, fazendo o sinal da cruz.

Faço parte da multidão que não leva a sério possibilidades de fim imediato do mundo. Nos dias que correm as pessoas estão se preparando para as festas de fim de ano. A alegria não faz parte da vida de toda gente, mas, apesar dos problemas, nos esforçamos para viver pelo menos razoavelmente. Prova disso é o resultado da pesquisa sobre a felicidade dos brasileiros realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) . Os brasileiros deram nota média de 7,1 para as suas vidas o que torna o nosso povo um dos mais felizes do mundo.

A pesquisa do Ipea me fez lembrar do que dizia um motorista de táxi de Buenos Aires para quem brasileiro é um cara sempre alegre e pronto a festejar. Segundo o argentino, basta um batuque, uma cervejinha e está armada a situação para que a alegria se manifeste. Ele completou dizendo que não dá para imaginar um brasileiro triste.

Então somos assim, felizes e alegres. Pelo que se o mundo acabar hoje será uma pena interromper a vida de tanta gente feliz que anda por aí nas ruas desse imenso Brasil. Mas, não temam: amanhã será como hoje, a vida continuará e se você não estiver feliz há sempre a possibilidade de se lembrar de que é brasileiro e a sua média de felicidade gira em torno de 7,1. Aceite-se como parte integrante da média  e viva feliz.

Energia elétrica

escreva o seu comentário

Afinal quem tem razão nessa briga pela redução de tarifas de energia elétrica? Se me perguntarem é claro que sou a favor de pagar menos pela luz que consumo em minha casa. Mas, a que custo? Pagando menos haverá melhora dos serviços?

O fato é que os apagões se sucedem e as companhias que fornecem a energia elétrica dizem que com o corte nas tarifas a situação se tornará pior, senão insustentável. O governo federal acusa os governos estaduais de Minas e São Paulo de se oporem a um benefício que seria muito benvindo à população, especialmente nas camadas de baixa renda.

Com tantos apagões acontecendo não há como não se concluir que há falta de investimentos no setor elétrico. A presidente da República irrita-se: não aceita apagões, cobra eficiência e quer a redução de tarifas.

De que as tarifas são de fato altas e precisariam baixar não restam dúvidas. Entretanto, o que não se diz, nesse caso, é que o governo tem errado na política adotada em relação à energia elétrica. Para nós que desconhecemos detalhadamente o problema mais parece que o que se tenta é extrair o dente sem anestesia. O nervo está exposto, mas a turma fica na cobrança e troca de acusações. Enquanto isso a consumo de energia tende a aumentar e não se sabe bem no que tudo isso vai dar.

A presidente da República continua a merecer a aprovação popular em níveis realmente invejáveis. Mas, tapa-se o sol com a peneira. Dia após dia aparecem na mídia escândalos envolvendo membros do partido do governo. Os réus do mensalão, gente graúda, aguardam o momento de serem recolhidos para trás das grades. E estão por aí alguns acusados de corrupção que topam dar com a língua nos dentes, isso no caso de conseguirem negociar a redução de penas através da deleção premiada.

O caso da energia elétrica preocupa. Gente como eu cuja infância transcorreu num período em que um dia faltava luz, no seguinte também, nem pode ouvir falar em ter que subir ao nono andar pelas escadas, tomar banho frio e andar pela casa à luz de velas. Isso sem falar na TV a cabo desligada e outros apetrechos eletrônicos sem função porque há falta de energia.

Quem sabe a época de natal desacelere um pouco as divergências entre os responsáveis pela coisa pública e passe a haver consenso sobre o melhor caminho a seguir no tocante à energia elétrica. Afinal, o Papai Noel existe justamente para que acreditemos que coisas assim sejam possíveis.

O suicidio da enfermeira

escreva o seu comentário

Muita gente gosta, mas dá pena das pessoas surpreendidas por trotes passados na rua. Alguns programas de televisão usam e abusam da boa fé e vontade de gente de repente envolvida em situações que fogem às suas rotinas. As câmeras flagram imagens de momentos em que pessoas ficam expostas ao ridículo. A intenção é provocar gargalhadas do público, isso sem que se pague nenhum cachê a quem não vive da atividade de ator.

Trotes podem ter resultados negativos sobre a personalidade de quem é submetido a eles. Está em andamento o caso da enfermeira inglesa que foi enganada por dois radialistas australianos. Eles ligaram para o hospital onde estava internada Kate - a mulher do príncipe William da Inglaterra - e se fizeram passar por membros da família real. Desse modo obtiveram informações sobre o estado da doente que repassaram aos ouvintes. A coisa ficaria por isso mesmo se, dias depois, a enfermeira vítima que sofreu o trote não tivesse sido encontrada morta no hospital. Agora o suicídio da enfermeira está provocando várias reações de indignação. O s radialistas australianos foram afastados do trabalho e pediram desculpas pelo mal feito. Embora se condene o que fizeram o fato é que seria a eles impossível prever a terrível consequência da ação que praticaram.

A enfermeira deixou bilhetes cujo conteúdo até agora não foi divulgado. Pode até ser que tenha se matado por alguma outra razão, mas parece não haver dúvidas de que o suicídio se deu em razão do trote.

O que teria se passado na mente dessa mulher a ponto de levá-la à prática de ato tão extremo? Em primeiro lugar é preciso lembrar de que a sensibilidade não é a mesma para todas as pessoas e há coisas que podem magoar demais aos mais sensíveis. Além do que transparece, nesse caso, a noção de ter cometido um erro e, talvez mais que isso, a vergonha. O fato é que estava a se tratar da família real, símbolo que até hoje mantém as coisas nos devidos lugares no país, compondo a ideia de ordem no imaginário dos ingleses.

Mas, o caso continua em aberto. A mídia faz a parte dela, divulgando a cada passo os acontecimentos que envolvem o suicídio da enfermeira. Hoje estão na internet as fotos do enterro ao qual compareceram familiares e amigos. Jacintha Saldanha, a enfermeira, foi enterrada na Índia e deixa o marido e dois filhos.

Asteróide incômodo

escreva o seu comentário

Você já ouviu falar do Toutatis? Trata-se de um asteroide cuja órbita é quase igual à da Terra. Ele não é pequeno: tem diâmetro de 4,3 km. Na última quarta-feira o Toutatis esteve à distância dezoito vezes maior do que a que nos separa da Lua.

O Toutatis passa perto da Terra de quatro em quatro anos. Na penúltima vez esteve a uma distância igual a quatro vezes a que existe entre a Terra e a Lua. Entretanto, os astrônomos dizem não haver motivos para preocupações nas próximas centenas de anos porque nesse período não existe a possibilidade do asteroide se chocar com o nosso planeta.

Essa notícia sobre o Toutatis acende no espirito a interrogação de sempre sobre as forças que comandam o universo e esses corpos gigantescos que voam por aí sem que neles exista o menor sinal de vida. A ciência explica a vida em nosso planeta como resultado de um conjunto de circunstâncias que permitiram que moléculas se organizassem nos mares primitivos e dessem origem ao primeiro ser vivo. A partir daí a evolução fez o resto e eis que hoje se ergue a civilização humana resultante de um imenso jogo de probabilidades que acabou dando certo. Obviamente existem restrições a esse modo de ver as coisas, bastando-nos lembrar das muitas vertentes religiosas que se opõem à explicação evolucionista.

Em todo caso essa história de um grande fantasma sob a forma de asteroide rondando a Terra é sempre preocupante. As órbitas percorridas pelos corpos celestes fazem-nos imaginar um universo no qual os elementos sólidos mais parecem presos por fios muitos fortes que os obrigam a se manterem em determinadas posições. Esse fato sugere que pode vir a acontecer a essas galáxias algum tipo de desencontro no qual os cabos que seguram as partes sólidas formem um grande emaranhado e tudo se desarranje numa imensa explosão. Claro que isso fica mais por conta de um filme de ficção que de uma possibilidade real e palpável. Mas, quem sabe no que tudo isso vai dar?

Recentemente assisti, pela TV, a um programa em que cientistas falavam sobre a possibilidade de asteroides virem a se chocar com a Terra. Citavam o grande asteroide que caiu na região do Golfo do México, levantando a poeira que impediu a chegada dos raios solares e levou à extinção os grandes répteis que haviam dominado a Terra por milhares de anos. Em conclusão os cientistas chamavam a atenção dos governos para a necessidade de adoção de medidas protetoras, ou seja, estudos visando a possibilidade de no futuro estarmos à mercê de alguma colisão.

A vida é breve, mas as gerações se sucedem. Os filhos de nossos filhos também têm filhos e a continuidade da vida representa que a civilização terá um futuro com o qual há que se preocupar. Não se sabe como as coisas se passarão em algumas centenas de anos, nem mesmo se a população humana vencerá os desafios que hoje a ela se impõem, grande parte deles relacionados com a ecologia do planeta. Por isso, informes sobre asteroides rondando o lar em que vivemos são sempre preocupantes. O tempo passa muito depressa para que nos demos ao aluxo de ignorar possibilidades de ameaças ao planeta, ainda que distantes.

Futebol e confusão

escreva o seu comentário

Essa encrenca ocorrida no jogo entre os times do São Paulo e do Tigre, da Argentina, serviu para que nos lembrássemos das tristes histórias de rivalidade e brigas entre os clubes sul-americanos.  Terminado o jogo do são Paulo - e a festa da conquista - fui dormir. Cabeça no travesseiro e quarto escuro voltou-me o terrível jogo entre as seleções do Uruguai e do Brasil no Campeonato Sul-americano de 1959. O Brasil, campeão mundial em 58, precisava da vitória que o levaria à final contra a Argentina. Obviamente, a rivalidade entre as duas seleções ainda era enorme por conta da conquista da Copa de 50 pelo Uruguai em pleno Maracanã. E o jogo foi mesmo de amargar.

É bom lembrar que, em 1959, o único meio de acompanhar o jogo era através da transmissão radiofônica. Sofríamos com o ouvido colado no rádio, torcendo como loucos pela seleção nacional. O diabo foi que a partida se transformou em verdadeira batalha campal já aos 30 minutos do primeiro tempo com troca de socos, pontapés e outros golpes entre os jogadores dos dois times. Ocorreram, então, duas expulsões, uma de cada lado. Quando os ânimos melhoraram - vejam que não escrevi serenaram - o jogo recomeçou e o Uruguai fez 1 X 0. No segundo tempo o técnico do Brasil, Vicente Feola, fez substituições e colocou em campo o jogador Paulo Valentim que acabou por marcar três gols, terminando o jogo com a vitória brasileira por 3×1.

Com o apito final do juiz recomeçou o quebra-pau. Cenas de violência se sucederam e, ao final, jogadores brasileiros apresentavam deslocamento de costelas, dentes quebrados etc. O mesmo aconteceu com os jogadores uruguaios.

O Brasil não venceu o Sul-Americano de 59 porque apenas empatou com a Argentina no jogo final, mas a partida contra o Uruguai passou à história como momento de selvageria dentro das quatro linhas.

Agora o assunto é a briga ocorrida no jogo do São Paulo contra o Tigre. Fale-se lá o que se quiser, mas o Tigre não teria mesmo condições de enfrentar o tricolor. Todo mundo viu  queos jogadores do Tigre já se comportavam mal durante a execução do nosso “Ouviram do Ipiranga…”. Começado o jogo os argentinos esmeraram-se em bater, atuando com violência inaceitável. Tomaram dois gols, quiseram brigar no final do primeiro tempo e não voltaram para disputar o segundo.

Ainda não se sabe bem o que aconteceu no vestiário dos argentinos onde se estabeleceu a pancadaria entre os jogadores do Tigre e seguranças do São Paulo.

No final das contas há que se lamentar o acontecido. Mas, paixão é paixão e futebol enquadra-se nessa premissa. Enquanto se espera que os fatos sejam esclarecidos prefiro me lembrar da briga de 59. Quebrou-se o pau, mas os dois times foram até o fim. E há aquela foto do Didi, meia brasileiro, atirando-se com os dois pés sobre os uruguaios. Bateram e apanharam, mas de ambos os lados existiam craques da bola. Eles sabiam disso, havia um nome por zelar, por isso jogaram até o fim.

Fortunas

escreva o seu comentário

Cada um tem sua relação com o dinheiro. Há quem o despreze e o considere nada mais que mal necessário à sobrevivência. Um parente fazia questão de amassar todas as notas antes de enfiá-las nos bolsos. Tratava o dinheiro com raiva. Proprietário de pequeno comércio praticamente atirava o troco em direção aos fregueses. Desnecessário dizer que morreu pobre, entre ele e a moeda corrente no país inexistia qualquer tipo de empatia.

Outro sujeito valorizava demais o dinheiro. Pão duro declarado nunca levava nem mesmo centavos no bolso. Desconfiava da moeda nacional e trocava tudo que recebia pelas “verdinhas”. Era aficionado do dólar único bem que para ele tinha algum significado. Nunca usou o dinheiro para adquirir propriedades, tinha sempre carro velho no qual nem mesmo estepe havia. Fumava cigarros da marca “Se Me Dão” e jamais pagava o café que tomava com um amigo. E tinha muito dólar escondido sob o colchão.

Conheço pessoas que gastam muito mais do que ganham porque para elas o que importa são as aparências. Perdem muito dinheiro, trocando carros de alto valor, mas o que vale para eles é estar à frente dos outros. Loucos pelo novo modelo ainda que esse só apresente uma lanterna diferente da do modelo anterior.

Disso tudo se pode falar porque essas pessoas fazem parte do universo no qual vivemos. São como nós, pertencem à tal classe média cujas delimitações mostram-se cada vez mais fluidas. Mas, que dizer dos caras que realmente são proprietários de grandes  fortunas?

Hoje se publica que o bilionário brasileiro Eike Batista, um dos homens mais ricos do mundo, ficou mais pobre de um dia para outro. Ele “perdeu” US$ 7 bilhões daí ter passado, da noite para o dia, de primeiro a terceiro homem mais rico do país. Repito: isso aconteceu de um dia para outro e mais: de 36º homem mais rico do mundo Eike passou a ser o 73º.

Bem, isso soa meio incompreensível para os mortais comuns. Falando sério, afinal o que é US$ 1 bilhão? Trazendo para mais perto, que representa a posse de US$ 1 milhão disponível? Então simplesmente não dá para imaginar o que se passa pela cabeça de um homem que perde US$ 7 bilhões.

Nunca tive amor ao dinheiro embora sempre o ache benvindo. Um amigo herdeiro de fortuna certa vez me disse que não achava graça na possibilidade de ter tudo o que quisesse. Era o tempo no qual computadores custavam caro e vivíamos querendo trocar os nossos por melhores. Ele não vivia essa ansiedade, tinha à mão os últimos modelos bastando querer. Achava isso um porre.

Daí que imagino ser para mim impossível entender a vida dos bilionários. Eles talvez vivam num mundo paralelo, quem sabe em outro planeta. O problema é que recebemos notícias sobre eles que - não tem jeito - aguçam a nossa curiosidade. Então repito a pergunta que não quer calar: como é que se passa mesmo essa história de perder  US$ 7 bilhões de um dia para outro?