2013 fevereiro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para fevereiro, 2013

O caso de ser “ex”

escreva o seu comentário

Nunca gostei dessa história de ser “ex” de alguém.  Conheci mulheres que se vangloriavam falando sobre os “ex” delas. Era meu “ex” para cá, meu “ex” pra lá e assim por diante. Ao que um amigo alertou que uma mulher só se separa mesmo quando, finalmente, dá um tempo e deixa o tal do “ex” pra lá.

Sempre fui fiel aos barbeiros - para quem não sabe trata-se das pessoas que hoje se apresentam como cabeleireiros masculinos. A minha fidelidade se baseia na má vontade de sentar-me diante de um novo barbeiro e ter que explicar o tipo de corte que imagino vá bem com a minha cabeça. Daí   que durante anos cortei os cachos com um barbeiro italiano do qual guardo ótimas recordações. Um amigo, promotor público, certa vez me disse que barbeiros são os melhores confidentes que temos. Contou-me o promotor que o barbeiro sabia de coisas que nem a própria mulher dele desconfiaria.

O barbeiro italiano era o cara. Mulherengo ao limite, despertava a curiosidade das mulheres e a cada dia se embrenhava em lençóis com alguma diferente. Mas, era casado, bem casado, muito responsável com os filhos, enfim bom pai. Mulherengo fora de casa, mas bom chefe de família. Entretanto, aconteceu de certo dia ele me contar, enquanto cortava o meu cabelo, que batera muito na mulher dele. Foi a partir daí que passou a referir-se a ela como “a minha ex”. Enquanto cortava o cabelo não parava de falar sobre a “ex” dele sem omitir os detalhes da surra que aplicara nela.

O barbeiro italiano morreu dois meses depois disso. A violência contra a mulher fora motivada por uma alteração brutal do humor dele gerada por um tumor cerebral de rápido crescimento. A operação no Hospital das Clínicas para a retirada do tumor não teve o resultado esperado e o italiano foi-se desta para a melhor. Quanto à mulher dele -  a que apanhou – foi ela sua amiga e companheira até o último minuto. Aliás ela me ligou no dia da morte do italiano avisando-me sobre o horário do enterro.

Mas, o “ex” de hoje por incrível que pareça é o papa. Bento 16 disse adeus ao trono da Igreja. Pronunciou um longo discurso de despedida alertando os fiéis sobre o fato de que é a Deus que devemos servir. Sai do Vaticano deixando atrás de si acusações de lutas intestinas pelo poder dentro da Igreja. Acusa-se ao Carmelengo de muita coisa – teria até grampeado o Vaticano - e não se sabe o que acontecerá a partir de agora quando se inicia o Conclave para a eleição do novo papa.

O fato é que vivi num mundo onde até um papa renunciou. Tempos mais que pós-modernos, avançados, até bem pouco totalmente insuspeitos.

Ex-papa e vivo, difícil acreditar.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 fevereiro, 2013 às 6:25 pm

escreva o seu comentário

Fotografia

escreva o seu comentário

Acabo de receber uma foto de meu irmão, enviada por um sobrinho. Ele está lá, na placidez da vida litorânea da qual não abriu mão em seus últimos anos de vida. Curvado e sem camisa, bem disposto, tronco e braços fortes, continua ele vivo na foto, deixando saudades a nós que o amávamos tanto.

Meu irmão foi registrado com o nome de nosso avô Teófilo. Nós o chamávamos pelo apelido – Téo – pelo qual também era conhecido pela multidão de amigos que tinha por aí afora. Téo era uma força da natureza, dotado de grande energia que muitas vezes o levava à impulsividade. Ótimo coração, espírito aventureiro, era amigo dos seus amigos, jamais faltando a eles quando necessário. Desde pequeno tinha a visão comprometida e usava óculos com lentes grossas, sendo que sempre enxergou o suficiente para levar em frente uma vida pontuada por muitas aventuras.

Téo amava a solidão das matas, tinha o faro da caça e o amor pelos animais. Adorava o mar, a pesca em águas salgadas e doces. Às vezes desaparecia por poucos dias intrometendo-se em matas fechadas ou deixando-se perder em aventuras de pesca. Não temia o mar, mas o respeitava daí sobreviver a muitas situações de perigo que por vezes nos contava.

Nos últimos anos quase não nos víamos isso por minha culpa ou porque a vida é como é e só nos apercebemos que deixamos nos levar pelos compromissos inadiáveis quando uma grande perda nos faz refletir. Mas, nos falávamos por telefone, sempre renovando promessas de encontros para uma boa prosa.

O Téo morreu devido a um acidente elétrico no quintal da casa dele. Hoje, 25 de fevereiro, seria o dia do 75º aniversário dele. Como sempre, o Téo aprontou uma das suas, aparecendo aqui em casa numa fotografia e deixando imensa saudade.

Escrito por Ayrton Marcondes

25 fevereiro, 2013 às 8:37 pm

escreva o seu comentário

Investigação do cérebro

escreva o seu comentário

Gosto muito de boxe, esporte que liga técnica, força e habilidade à violência. Mas, naquelas lutas entre Mohamed ali e Joe Frazier eu sempre me perguntava sobre os possíveis danos aos cérebros dos dois lutadores.  Ambos tomavam socos violentíssimos na cabeça. Para se ter ideia um simples “jab” de Ali equivalia à colisão da cabeça com algo de peso de 80 Kg. Por essa razão com muita frequência ex-lutadores de boxe apresentam sequelas neurológicas que carregam durante toda a vida.

Lembro-me muito bem de que durante uma das mais sensacionais lutas realizadas entre Ali e Frazier (essa vencida por Frazier) eu perguntei a um amigo se Ali não estaria levando socos demais na cabeça e que consequências aquilo teria. De todo modo Ali apresentou sintomas da doença de Parkinson contra a qual luta até hoje. Já Frazier morreu há poucos meses e não sei se sua morte teve algo a ver com a carreira de lutador.

Tenho uma amiga cujo marido vem piorando de quadro neurológico que o impede até mesmo de fazer coisas mínimas. A situação desse homem piora dia-a-dia e os tratamentos realizados por neurologistas não têm dado resultado. Trata-se de mais um caso provavelmente insolúvel cujo final parece ser muito previsível.

Diante de tantas doenças decorrentes de problemas envolvendo as atividades cerebrais chega em boa hora a notícia de que o presidente Barack Obama vai investir muito dinheiro em pesquisas sobre o cérebro. Isso representa esperança para muita gente em todo o mundo que sofre com problemas até hoje incuráveis. É preciso ter em perspectiva que o envelhecimento da população mundial tem aberto espaço para que pessoas atinjam idades nas quais é maior a probabilidade do aparecimento de males neurológicos.

Por outro lado há que se lembrar de que o cérebro continua a ser um grande desconhecido sendo que não se pode imaginar o que de fato pode acontecer naquele mundo de neurônios ligados por sinapses. A complexidade das tramas neuronais é um desfaio que deverá ser enfrentado, sendo justo imaginar que tão cedo os mistérios do cérebro não venham a ser desvendados.

Hoje em dia o número de pessoas que sofreram acidentes vasculares cerebrais (AVC) é muito grande. Em geral os AVC deixam sequelas obrigando os doentes a submeter-se a tratamentos fisioterápicos prolongados que nem sempre devolvem aos doentes recuperações plenas. Em minha família, por exemplo, tivemos casos de AVC, um deles resultando na morte da pessoa que o sofreu antes mesmo de que se iniciasse qualquer tratamento.

O que nos resta, portanto, é desejar boa sorte ao governo norte-americano que investirá US$ 3 bilhões num projeto que visa desvendar os 100 trilhões de conexões entre neurônios que compõem a mente humana.

A paz dos mortos

escreva o seu comentário

A paz depois da morte é uma certeza? Talvez nem sempre seja assim. Há pouco tempo fui ao enterro de um amigo realizado num cemitério vertical. Subimos pelos elevadores até o décimo andar e lá deixamos o amigo numa gaveta (lóculo) de onde ele nunca mais poderá sair. Tudo muito limpo, sem terra sobre o caixão que é colocado na gaveta e isolado do mundo pelos coveiros. Na portinhola externa o nome dos mortos, as datas de nascimento e morte, vez ou outra uma mensagem de saudades da família.

De outra feita fui ao mesmo cemitério por ocasião das exéquias da mãe de um amigo. Ela não foi enterrada porque os filhos optaram pela cremação. Ficamos num pequeno auditório de onde se via o caixão sobre um palco. Feitas as despedidas, o caixão foi abaixando até sumir. Dias depois o meu amigo recebeu as cinzas da mãe que atirou no mar.

Nos dois casos o “Requiescat in pace” parece ter sido para valer. Entretanto, há casos em que mesmo depois de muito tempo após a morte os restos mortais são exumados para estudo ou por razões de natureza legal. Quando moço, assisti a uma exumação feita cerca de um mês após a morte e até hoje continuo impressionado com a cena terrível presenciada no momento de abertura do caixão: um número incontável de baratas e outros insetos saíram às pressas, correndo para todo lado. Cobriam o corpo da moça  ainda sob suspeita de erro médico na condução de seu malogrado tratamento.

Agora mesmo pretende-se exumar o corpo do poeta e Prêmio Nobel chileno Pablo Neruda. Consta que ele teria sido envenenado pela ditadura de Pinochet de vez que era contrário ao terrível regime que se instalara no Chile após a morte do presidente Salvador Allende. Neruda era amigo de Allende cujo suicídio até hoje é discutido. Pessoas próximas de Neruda afirmam que ele estava bem e teria morrido após receber medicação em uma unidade de saúde.

Mas, o grande assunto do momento é a exumação feita dias atrás dos restos mortais de D. Pedro I, Imperador do Brasil, de sua primeira esposa, a Imperatriz Leopoldina e de sua segunda esposa D. Amália. As costelas quebradas de D. Pedro e as joias falsas da imperatriz estão dando o que falar. Agora se divulga que o coração de D. Pedro está conservado em Portugal e pretende-se autorização para retirar dele material para estudo que poderá revelar, entre outras coisas, se o primeiro imperador do Brasil era sifilítico ou não.

Pois é, Pedro I morreu em 1834 e quase dois séculos depois está na boca do povo. Interrompe-se o seu eterno descanso, quer-se saber se era sifilítico e torna-se a afirmar que a Imperatriz Leopoldina teria sido agredida a chutes por ele, mesmo estando grávida. Entretanto, estranha-se que ela não apresente sinais de fratura em seus ossos dada a afirmação de que ela teria quebrado o fêmur ao cair.

Cá entre nós, deu uma tristeza danada ver os caixões das figuras históricas brasileiras serem devassados depois de tanto tempo que morreram. O que significa que o “Requiescat in pace” pode não ser para sempre.

Morte na torcida

escreva o seu comentário

Já não vou a campos de futebol. Vez ou outra meu filho, são-paulino roxo, me convida para o Morumbi por ocasião de jogos importantes do São Paulo. Se bem me lembro há dois anos assisti a um jogo lá, isso depois de muito tempo sem ir a estádios.

Quero dizer que uma das delícias desta vida é torcer pelo time do coração durante jogos dele em seu próprio estádio. Há todo um ritual a seguir que culmina no momento em que, finalmente, o torcedor senta-se e se prepara para as emoções que seguirão. Por que futebol é improviso, emoção, sedução pelo belo, atração mágica pelas peripécias da bola comandada por jogadores hábeis. Há nesse embate em torno da bola o mistério do não acontecido, do não resolvido, do que pode resultar num gol e provocar a explosão da massa ululante. Paixão das paixões o futebol mexe com o de dentro da alma, despertando fúria, alegrias, tristezas, quando não prazeres genuínos que brotam de sensações antes intocadas. Ninguém sabe o que se seguirá nos próximos segundos de um jogo daí seguirmos atônitos o encantamento a que somos submetidos pelas ações dos jogadores e movimentos da bola. Por isso tudo e muito mais a grande ópera do futebol nos seduz e anima, ainda quando vergastados pelas derrotas inaceitáveis diante de nossos maiores rivais.

Entretanto, o mundo mudou, as pessoas mudaram e parte delas vai aos estádios não para viver a paixão pelo time para o qual torcem, mas para externar o que há de pior em seus instintos mais baixos, nisso o berço da violência que extravasa e supera a tensão do jogo, tantas vezes provocando vítimas.

Não vou dizer que no passado não existia violência nos estádios. Presenciei grandes atritos entre torcidas rivais geradas pelo descontrole emocional de torcedores muitas vezes embalados pelo álcool. Mas, era diferente dessa loucura animalesca que hoje leva grupos de torcedores rivais a marcarem encontros para brigar, gerando-se verdadeiras batalhas nas quais não raramente chega-se à perda de vidas. Tudo acertado através da internet em dias de jogos, em locais próximos a estádios, durante as partidas ou até mesmo após o final dos jogos.

Como se vê, não existe segurança nos estádios e torna-se aventura ir a jogos de futebol. Impossível imaginar que um cidadão de bem cuja intenção é a de assistir a um bom jogo sinta-se seguro ao sair de casa para dirigir-se ao estádio. Talvez seja isso que se passa agora pela cabeça do pai que perdeu o filho ontem ao ser atingido por um sinalizador durante uma partida de futebol. Aconteceu durante o jogo do Corinthians contra o San Jose, na Bolívia. Um torcedor do Corinthians fez uso de um sinalizador que atingiu um boliviano que veio a falecer ainda no estádio. Era uma menino de 14 anos de idade e a morte dele vem provocando comoção e muita indignação.

Agora buscam-se culpados, mas nada devolverá aos pais o filho que perderam - bestamente, é bom que se diga. Em todo caso talvez mais essa morte sirva de alerta para que atitudes mais efetivas sejam tomadas no sentido de coibir a violência hoje tão comum em partidas de futebol.

Comidas e paladar

escreva o seu comentário

Olhe, confesso que nunca fui um bom gourmet. Talvez a coisa esteja ligada ao paladar que não figura como o melhor dos meus sentidos. Ou, ainda, a essa obsessão incurável de comer depressa, como se algo terrível estivesse para acontecer justamente quando estou à mesa.

Sei lá. Todo mundo sabe que em geral detestamos algumas pequenas características que observamos em nossos familiares. O diabo é que com o passar do tempo descobrimos que se não somos iguais a eles pelo menos herdamos coisas que criticávamos. Bem, meu pai era um afoito à mesa, comia depressa, dir-se-ia um trator amassando e triturando o que via pela frente. Não chego a tanto, mas negar alguma semelhança seria bobagem.

Bem, não é tão dramático admitir certa incapacidade para saborear certas comidas. A primeira vez que me dei conta de que não seria um bom gourmet aconteceu quando um amigo me garantiu que, definitivamente, eu não tinha o “tesão” por pratos requintados. Isso ele afirmou porque adorava cozinhar e tinha feito um prato especial para que almoçássemos. Comi aquilo, achei gostoso, mas fui incapaz de notar detalhes, sabores especiais dados por temperos que ele usara. No fim da refeição disse a ele que gostara muito, mas ele não se furtou a fazer comentários não muito elogiosos sobre o meu paladar.

O que não quer dizer que eu não sinta o gosto das coisas. Pois tenho um muito bom - não chega a excelente - paladar para doces. A essa altura preciso dizer que pertenço a uma família na qual as mulheres primavam por terem especialidades. Tal tia era famosa porque sabia preparar tal prato como ninguém. A minha avó paterna tinha entre suas especialidades a de fazer um doce de banana inimitável, de cujo sabor até hoje tenho saudades. Minha mãe fazia seus doces de abóbora ou pêssego cozinhando-os num tacho em fogão de lenha. Delícias das delícias pelas quais eu daria tudo para provar mais uma vez. Isso sem falar na atmosfera da cozinha de outro tempo, lugar onde se preparavam comidas saborosas e simples.

A essa altura creio ser obrigado a me desmentir, afinal o meu paladar não é tão ruim. O problema - o grande problema - talvez tenha sido a familiaridade com os alimentos comuns da cozinha caipira na qual não podem faltar o arroz, o feijão, o macarrão, as fritas e a “mistura” seja lá ela o carne, peixe ou coisas próximas. Talvez por ter sido criado dentro de uma cozinha assim, nunca pude me dar bem com a comida japonesa na qual alimentos crus são verdadeiras iguarias.  Aliás, por falar em iguarias, tenho uma passagem realmente terrível em relação a elas. Certa ocasião fui ao casamento de um amigo que eu não sabia ser tão endinheirado e chique. Depois da cerimônia na igreja seguiu-se a festa num bufê. Logo na entrada os convidados eram recebidos ao som de trombetas e caviar. Ora, de há muito eu queria saber que gosto tinham os caviares dos quais tanto se falava. Então, eis que, afoitamente, enchi a boca de caviar e não houve meio de engolir aquilo. O problema era que não sabia como me livrar do conteúdo que levava na boca, até que me aproximei de uma grande vaso de flores e ali dei um jeito de safar-me do incômodo.

Imagino pessoas que adoram caviar ao saberem que alguém detestou a tão afamada especiaria. De modo que ainda hoje me pergunto se o problema não teria sido “aquele” caviar. Quem sabe o chefe de cozinha que o preparara não teria utilizado algum componente responsável pelo gosto desagradável que vim a sentir. Graças a essa dúvida ainda não desisti do caviar: caso algum dia tenha oportunidade, pretendo experimentá-lo novamente.

Minha mulher diz que o meu problema em relação à comida é que não gosto a priori daí a minha recusa em experimentar novos pratos. Talvez ela tenha razão porque muitas vezes ela me engana servindo-me coisas sem que eu saiba o que seja. Depois que como - e gosto - ela se diverte, dizendo que comi tal e tal coisa de que vivo a dizer não gostar.

Bicicletas no trânsito

escreva o seu comentário

Pedalar é bom para a saúde e esporte muito agradável. Há anos não uso bicicletas que foram o meu principal meio de locomoção até os dezoito anos de idade. A última vez que pedalei foi numa época em que comecei a vir ao trabalho com uma bike nova e muito bonita. Numa das viagens uma Kombi me seguiu até que um sujeito gritou dizendo que a minha bicicleta era uma beleza. Ladrões. Desesperado e com medo de perder não só a bicicleta, mas a minha bolsa com dinheiro e documentos, fiz uma conversão forçada que a Kombi não poderia fazer. No meio da curva ouvi a buzina de um carro que felizmente conseguiu se desviar de mim. Então voltei para casa, guardei a bicicleta e fui trabalhar com o carro, como faço até hoje.

Que me perdoem autoridades e aficionados, mas acho uma loucura essa história de trafegar com bicicletas em São Paulo. Já não chegam as motos que se intrometem em espaços absurdos, muitas vezes cortando carros pela direita e provocando acidentes. Agora estimulam ciclistas com a promessa de ciclovias que afinal só funcionam nos fins de semana. Acontece que muita gente é ousada e se arrisca no trânsito louco da cidade, isso em dias normais e de grande movimento. Sempre que vejo ciclistas no trânsito, alguns irresponsavelmente sem capacetes, penso no perigo e terríveis consequências que podem advir de um acidente no qual a proteção é mínima. Se isso acontece com motos que afinal, são mais fortes e têm mais presença, que dizer das bicicletas?

De vez em quando noticiam-se acidentes com bicicletas que resultam na morte dos ciclistas. Há pouco tempo um motorista de ônibus foi acusado de ter colidido intencionalmente com uma ciclista, na Avenida Paulista, provocando a morte dela. Cena reconstituída pela polícia, ao local vieram muitos ciclistas que participaram de uma passeata de protesto.

Adoro bicicletas, mas não creio que sejam, hoje em dia, veículos seguros para se rodar no trânsito caótico e selvagem das nossas cidades. Hoje noticia-se a morte de um casal de ciclistas que fazia uma volta ao mundo pedalando. Estavam numa estrada a 80 km de Bancoc, Tailândia, quando colidiram com um veículo. Morreram os dois, aos 34 anos de idade. Tinham já pedalado em 23 países antes do infausto acontecimento que roubou suas vidas.

Não sou muito fã de corridas, mas acho fascinante a superação de atletas que se dedicam a esportes que exigem muito treinamento e sacrifícios. As competições esportivas com bicicletas estão entre as que me chamam a atenção. Entretanto, confesso que me senti fraudado quando o Lance Armstrong confessou que todas aquelas suas magníficas façanhas no ciclismo foram obtidas com a ajuda de estimulantes. O grande atleta norte-americano revelou-se uma fraude fazendo-nos desconfiar do que possa estar por trás de tantos recordes mundiais ao longo do tempo.

O esporte é belo quando a vitória realmente representa superação e conquista pessoal ou de um grupo. Falcatruas de modo algum podem ser aceitas porque enganam a boa-fé do público aficionado. Lance Armstrong entra para a história do esporte como falso ídolo, na verdade um enorme, muito grande, cara-de-pau.

Asas da liberdade

escreva o seu comentário

Ontem li sobre uma jovem síria que imigrou para o Brasil para fugir à guerra que devasta o seu país. Uma foto dela participando de um protesto contra o ditador Bashir al Assad e a possibilidade de vir a ser presa e torturada foi o estopim para que saísse da Síria. Na foto do jornal a moça aparece com o rosto protegido por um lenço dado o medo de ser reconhecida e, em consequência, sua família vir a ser perseguida na Síria.

O que a moça síria mais estranha no Brasil é a liberdade de poder falar o que lhe der na telha. Há democracia e liberdade, direitos garantidos por lei, enfim essas coisas que fazem parte do nosso cotidiano para as quais não damos importância porque parecem tão naturais. Verdade que quem conviveu com os anos da ditadura militar iniciada com o golpe de 64 no país tenha clara noção do que representa a obrigatoriedade da boca fechada. Não sai da minha memória o silêncio predominante dentro dos ônibus que eu tomava diariamente em São Paulo. De todo modo um assunto era perigoso daí ser evitado: política.

Mas, é de se imaginar que impressão fará o Brasil com sua diversidade e espírito livre das pessoas a alguém saído de uma guerra na qual, a cada dia, muitos inocentes perdem a vida. Isso sem falar nas constantes baixas verificadas tanto nas forças leais a Bashar e nos revoltosos. As imagens de destruição que mostram bem o que se passa atualmente na Síria informam a que ponto tem chegado a violência naquele país.

Foto deveras interessante - e feliz - é essa que está nos jornais de hoje. A blogueira cubana Yoani Sánches foi fotografada justamente no momento em que passava pela imigração, pouco antes de embarcar em Havana. Trata-se de momento de rara felicidade na vida de quem durante anos foi - como aliás a maioria dos cubanos – impedida de deixar o país. O largo sorriso e o braço erguido no gesto de adeus da blogueira transfere-nos de imediato simpatia não só por ela mas pelo significado do momento. Está ali, documentada por foto, a própria liberdade num raro instante que se permitiu mostrar-se abertamente aos nossos olhos.

Pena que em relação à visita de Yoani ao Brasil tenha se noticiado sobre a existência de um movimento para difamá-la. Corre que com a participação do corpo diplomático, de dirigentes partidários e de funcionários do governo haverá a distribuição de um dossiê contra a blogueira. Fato lamentável caso se confirme. Se verdadeiro certamente se trata da velha admiração por Fidel Castro e a ditadura cubana, hoje em dia claudicante em seu próprio pais.

Independentemente de paixões ideológicas e partidárias o que se deve comemorar é a instalação da liberdade de ir e vir aos cubanos. Nada atinge mais o ser humano, nada o deixa mais perplexo, que a perda da liberdade individual por imposição de governos. Saúde-se, pois, o momento em que Yoani Sánches ganha a liberdade de sair do seu país, isso após anos de tentativas e mais de 20 pedidos recusados.

Gatos

escreva o seu comentário

Ativista recomenda que gatos sem dono sejam sacrificados. Ele descreve os gatos como assassinos seriais dado que matam por prazer. Devido a isso os gatos colocam em risco a sobrevivência de várias espécies que podem desaparecer. Como exemplo o ativista cita a situação dos kiwis, aves da Nova Zelândia que não voam e são presas fáceis para os gatos. Mais: gatos só atacam roedores à noite porque durante o dia suas vítimas são aves.

Obviamente as declarações do ativista têm despertado reações desfavoráveis das pessoas que amam gatos. Aliás, quando se fala em preferências há quem prefira cães enquanto outros adoram gatos. Confesso a minha preferência por gatos dado que nunca me dei bem com cachorros. Tive um cachorro, pastor belga, ao qual me afeiçoei porque o trouxe para casa poucos dias após ter nascido. Esse pastor tornou-se guardião da casa e não permitia que estranhos se aproximassem de mim. Entretanto, tinha ele nascido com uma alteração anatômica no sistema digestivo que veio a se agravar com o tempo. Infelizmente de nada valeram os esforços de veterinários de modo que o pastor belga veio a falecer, deixando saudades.

Mas, os animais que vida afora me acompanharam foram os gatos. Tive alguns deles, em geral surgidos em casa por acaso. Gato vem atrás de comida, acaba ficando e se afeiçoa à família. Interessa lembrar que cada gato sua identidade, modo de ser. Se há características gerais a todos o fato é que cada animal tem suas particularidades e talvez por isso nos afeiçoemos tanto a eles.

Dos gatos que tive um deixou muitas saudades. Ele recebeu o nome de “Gatolino” e era um sujeito fora das regras. Como na época morávamos numa casa isolada e cercada por mata, no interior do estado, era frequente que o Gatolino desaparecesse por alguns dias. De um desses sumiços voltou ele trazendo mulher e filhos, todos eles gatos selvagens. O certo é que o meu gato fizera família na mata vizinha e, talvez por necessidade de comida, trouxera-os para casa. O problema era a impossibilidade de convívio com animais muito arredios,  algo ferozes. A situação se resolveu depois de algum tempo quando a gata e os gatinhos simplesmente desapareceram.

De madrugada o Gatolino assumia a guarda da propriedade que era cercada por muros altos. Muitas vezes fui acordado por miados fortes dele, avisando que algo diferente estava lá fora. Numa dessas encontrei um animal semelhante aos dingos, animal do mato que fora baleado por algum caçador. Esse dingo me deu bastante trabalho porque o socorri, levando-o várias vezes ao veterinário. No fim das contas o pobre animal veio a morrer em consequência de tétano.

Depois de alguns anos tive que me mudar não só de casa como de cidade. Dizem que gatos percebem quando as coisas não estão bem e somem por uns tempos. O fato é que o Gatolino despareceu, inviabilizando que eu o levasse comigo na mudança. Creio que terão se passado uns dois meses quando recebi um telefonema de pessoa que morava próximo à minha antiga casa dizendo que o meu gato aparecia nas noites e ficava miando do lado de fora. Segundo ele o gato sofria com a ausência da minha família. Diante disso, dias depois retornei à cidade onde morara e esperei junto da casa pelo Gatolino. Ele não apareceu e, depois disso, nunca mais soube dele.

Por essas e outras não posso ser favorável às recomendações do ativista. Não sei se no Brasil existem estudos sobre o efeito da predação de gatos provocando desequilíbrios nas populações de aves. Lembro que de todo modo a interferência humana nos ecossistemas eliminando predadores, resultam no crescimento indesejável da população de presas. Vai-se lá saber o que acontecerá com a população de Kiwis se os gatos da Nova Zelândia começarem a ser sacrificados.

Passagem de asteroide

escreva o seu comentário

Acho lindas, mas não gosto muito de ver fotos da Terra tiradas do espaço. O mundo visto de fora informa-nos não só sobre a nossa pequenez pessoal, mas também a do planeta em que vivemos quando temos por perspectiva o universo.

Um astronauta que está na Estação Espacial Internacional tem publicado fotos impressionantes da Terra. Oceanos, continentes, cidades, cordilheiras e outras regiões do planeta surgem aos nossos olhos como se olhássemos para nós mesmos sem que não nos conhecêssemos. A grandeza do mundo em que vivemos parece sucumbir diante da aparente fragilidade da Terra, planeta em órbita como tantos outros corpos celestes nos quais imaginamos possa existir vida.

A sensação de fragilidade aumenta quando descobrimos estar a Terra exposta a acidentes provocados por colisões com meteoros, asteroides, cometas etc. Hoje mesmo um asteroide cujo diâmetro é de 45 metros passará perto da Terra. Ontem um meteoro caiu em território russo provocando grande explosão que causou danos a uma cidade situada a 80 Km do lugar onde se deu a colisão. Estilhaços de vidraças e outras ocorrências feriram quase mil pessoas, estando algumas em estado grave.

Há pouco tempo noticiou-se que meteoros passam com alguma frequência perto da Terra daí a necessidade de aprimoramento de aparelhos que permitam identificá-los. A ideia é a de desenvolvimento de meios que permitam a destruição de corpos celestes que possam atingir a Terra, evitando-se catástrofes de grande monta.

Falar sobre o espaço e seus perigos leva-nos a pensar no quanto estamos aqui “dentro”, voltados ao nosso próprio umbigo. Ontem a Coréia do Norte explodiu bomba de material nuclear, alarmando o mundo porque talvez em breve o país possa dispor de armas atômicas capazes de atingir os odiados Estados Unidos e a Coréia do Sul. Considerando-se as crises econômicas, as guerras e as rusgas existentes entre governos e povos irreconciliáveis é de se perguntar como ficariam as coisas se de repente descobríssemos uma ameaça frontal ao nosso planeta vinda do espaço. Será que pelo menos por um momento os seres humanos se uniriam diante da ameaça de destruição total?

Mas, o melhor é não pensar muito e deixar pra lá. O asteroide vai passar perto ainda hoje e os cientistas garantem que não nos ameaça. Daqui a alguns dias o meteoro que caiu na Rússia terá sido esquecido e tudo continuará como dantes no quartel de Abranches. Tudo em conformidade com o modo de ser dos seres humanos.