Arquivo para março, 2013
A conduta do cardeal
Um cardeal critica a imprensa por divulgar notícias segundo ele tendenciosas e que prejudicam a igreja. Diz o cardeal que o modo com que se noticiam as atividades sexuais de membros do clero induz as pessoas a acreditarem que todos os padres são devassos, corruptos etc. Ora, a igreja tem seus maus representantes que constituem minoria e isso não é levado em conta - afirma o cardeal.
Conheci muitos padres vida afora e não custa lembrar de que todos eles eram e são homens como os demais. Considero que a maior parte do clero deve sublimar seus impulsos sexuais em nome da verdadeira fé. A renúncia depende de um compromisso consigo mesmo no sentido de visualizar outro modo de viver, consagrado a votos entre os quais se destaca o de castidade. Entretanto - e como seria de se esperar - nem todo mundo consegue levar até o fim os votos feitos ao ordenar-se. Resultam desse fato as várias quebras das regras do jogo as quais, infelizmente, ganham notoriedade pública. Aliás, não é de se estranhar a repercussão diante da revelação de deslizes de altos membros do clero dos quais sempre se espera terem subido na hierarquia devido às suas qualidades enquanto condutores de homens e seguidores da doutrina de Jesus Cristo.
Embora se possa concordar com o cardeal que reclama da projeção negativa sobre a igreja devida a notícias sobre deslizes de padres deve-se considerar a dificuldade de serem evitados os efeitos bombásticos das mesmas notícias. Que dizer, por exemplo, quando se recebe a informação de que o cardeal Keith O´Brien, arcebispo de St. Andrews e Edimburgo, renunciou ao seu cargo após ser acusado por padres de assédios sexuais no passado? O fato acontece justamente no momento em que a igreja passa pela crise da renúncia do papa Bento 16. Caso nada tivesse sido revelado O´Brien estaria agora apto a participar do conclave que escolherá o novo papa.
Keith O’ Brien foi acusado de “comportamento inadequado” nos anos 80 e admitiu que sua “conduta sexual” não foi sempre a que dele se esperava. A conduta ficou, portanto, abaixo do que se esperava dele enquanto sacerdote, arcebispo e cardeal - afirmou. A partir de agora o ex-chefe máximo da Igreja Católica do Reino Unido, aos de 75 anos de idade, pretende terminar os seus dias em retiro espiritual.
Tempos atrás ouvi de senhora católica que não mais acredita nos padres. Justificou-se comentando os casos de pedofilia entre membros do clero. Entre a opinião do cardeal que reclama da imprensa e dos tenebrosos casos envolvendo assédio sexual e pedofilia entre membros do clero ficam os fiéis para quem o que realmente importa é a fé.
Sobre as nossas falas
De que há muito os brasileiros estão se distanciando da linguagem culta não existem dúvidas. Também, convenhamos: a gramática da língua é um porre, detentora de um arsenal de regras que torturam a estudantada. Dai que se vê, na prática, a turma se enfileirar na galeria dos famosos “jeitinhos”, burlando regras com as inevitáveis consequências de falar mal e escrever pior ainda.
Não posso afirmar com certeza, mas acho que hoje existem mais analfabetos funcionais que no passado. Fale-se mal da escola pública de hoje, mas nem sempre foi assim. Saíamos do que hoje é chamado Ensino Médio pelo menos falando e escrevendo mais ou menos bem. Hoje em dia é preciso sair à rua com a Lanterna de Diógenes procurando por gente que seja capaz de engatilhar mais ou menos bem uns três ou quatro parágrafos numa folha de papel. Isso sem tocar nos novos jeitos de abreviar palavras e locuções adotadas pelos internautas que se comunicam entre si na velocidade do vento.
Bem, não sou do ramo e posso estar a dizer bobagens. Entretanto, esclareço que o meu interesse nesse assunto diz respeito à simples curiosidade sobre a língua que hoje se fala no Brasil. Que português é esse que rola nas conversas, cheio de expressões novas, maneirismos e quando não responsos ininteligíveis? Outro dia vi um vizinho do prédio defronte sair à janela e, alta voz, pronunciar vasto xingatório que brotava de suas entranhas contra um rapazote que chutava uma bola contra a parede e, a cada vez, gritava: gol. Tantos gols fez o distinto que despertou a ira do homem da janela não sendo certo se o ofendido ofendeu-se tão herméticas eram as agressões proferidas. Seria o da janela um russo, eslovaco, imigrante africano que nunca teria falado uma só palavra de nossa língua mãe? Não, o tal da janela era brasileiríssimo e nada mais fazia que o uso de impropérios muito comuns nas bocas de seus pares, talvez da gangue da qual seria integrante. Pois que existe isso da inclusão de dialetos tribais entre pessoas de grupos distintos que falam o português a seu modo.
Hoje de manhã fui à padaria. Na volta vinha pela calçada quando reparei em dois homens que iam bem à minha frente. Estariam, os dois, aí pela faixa dos quarenta de idade e falavam sobre um terceiro, conhecido ou amigo a quem criticavam por algum motivo. Porém, o interessante era mesmo a língua com a qual se comunicavam. Chamando um ao outro de “cara” falavam sobre o “cara” - o terceiro - e nenhuma de suas frases muito curtas deixavam de ter várias repetições da palavra “cara”. Era “cara” pra cá, “cara” pra lá, porra do “cara”, valete do “cara”, etc. Não consegui entender muito do que diziam e assim cheguei ao meu portão. Confesso que antes de entrar fiquei observando aqueles dois, vestidos esportivamente numa manhã de sábado, preguiçosamente seguindo o caminho deles, trocando muitos dedos de prosa expressa, talvez, em código no qual a palavra “cara” teria muitos significados. Seriam reais? Seres imaginários, inventados apenas para colocar um final num texto? Ou ETs visitando o nosso planeta e tentando passar por alguns de nós embora sem falar corretamente o português?
Violência no futebol
Está dando o que falar a violência no futebol. A morte de um menino de 14 anos, atingido por sinalizador durante jogo na Bolívia ainda impressiona. Torcedores corintianos estão presos naquele país, acusados de provocar ou participar do infausto acontecimento. Um rapaz de 17 anos, menor de idade, apresentou-se à polícia brasileira declarando-se culpado. Entretando, supeita-se que ele esteja mentindo para salvar a pele da turma presa na Bolivia. Como se vê as coisas estão mal paradas e indefinidas.
Era de se esperar que a morte do menino contribuisse para a reflexão dos torcedores acerca da prática de atos violentos que nada tem a ver como o futebol. Entretanto, o que se tem visto é a continuidade da violência: brigas entre torcidas em jogo pela Libertadores na Argentina, novos lançamentos de sinalizadores etc.
A Comebol puniu o Corinthians com a proibição da presença de torcedores em jogos de mando do time. Na quarta-feira o Corinthians jogou no Pacaembu sem torcedores. Entretanto, quatro torcedores assistiram ao jogo dado terem conseguido uma liminar na Justiça. Pelo que não estão sendo perdoados por parte dos comentaristas que não os tem poupado. E o Corinthians se apressa a explicar para a Comebol dizendo não ter desrespeitado a punição dado que nada pode fazer em relação aos quatro torcedores por tratar-se de liminar.
Tudo o que está escrito acima é de conhecimento geral. Nenhuma novidade, portanto. Mas, não há como não ver nesse arrazoado algo que sugere que os tempos são outros e o modo de agir das pessoas difere substancialmente do passado. O amor pelo time pelo qual se torce na verdade simula uma paixao doentia, inexplicavel.
Desse assunto restam perguntas inquietantes. Uma dela é sobre o porquê de pessoas se comportarem tão mal após fazerem uma longa viagem internacional com a única finalidade de ver jogar o time do coração. O que as move? Afinal, o que se passa nas cabecas dessa turma