Arquivo para abril, 2013
O menino Kevin Espada
Vai longe esse caso dos torcedores corintianos presos na Bolívia, envolvidos com a morte do menino Kevin Espada. Como se sabe o triste acontecimento aconteceu durante o jogo do Corinthians como San Jose que terminou empatado em um gol para cada lado. Do meio da torcida corintiana foi lançado um sinalizador que atingiu a cabeça de Kevin Espada, resultando em perda de massa encefálica. Kevin não resistiu ao ferimento e sua morte provocou grande indignação pública. Ao final do jogo a polícia boliviana prendeu torcedores do Corinthians que portavam sinalizadores iguais ao que matou Kevin ou que tinham sinais de pólvora nas mãos. São esses doze corintianos que estão presos na Bolívia enquanto esperam decisão da justiça daquele país sobre o seu destino.
Nos dias imediatos à morte de Kevin um rapaz, menor de idade, apresentou-se à polícia, em São Paulo, confessando ser o autor do disparo do sinalizador que matou Kevin. A ser verdade a polícia boliviana estaria retendo inocentes e justamente por isso a manutenção dos torcedores em prisão tem suscitado tanta indignação. Fala-se em erro das autoridades da Bolívia no trato do caso e os brasileiros presos reclamam ação do governo de seu país junto ao governo boliviano para que sejam libertados. Mas, a situação continua indefinida.
A verdade é que fica difícil entender a prisão de doze pessoas suspeitas, inexistindo prova concreta de que uma delas seja culpada. Questões judiciais têm sido levantadas por especialistas em Direito no sentido de esclarecer se não estaria a Justiça boliviana agindo de forma incorreta nesse caso.
No último domingo o programa “Pânico”, exibido na TV brasileira, exibiu reportagem gravada na Bolívia na qual foram ouvidos os torcedores corintianos, obviamente revoltados pela prisão que afirmam sem qualquer razão. Ver aqueles brasileiros algemados, transportados de caminhão do fórum à prisão, nos desperta alguma comoção, ainda mais por saber que caso ali haja culpado trata-se efetivamente de apenas um culpado.
Na mesma reportagem pela primeira vez pudemos ouvir os pais de Kevin, possuídos por uma dor para a qual não há remédio. Trata-se de pais extremamente cuidadosos que com muita relutância cederam aos pedidos do filho para deixá-lo ir ao jogo. A descrição dos momentos de convivência com Kevin no dia em que viria a falecer, a exaltação das qualidades de um filho adorado, o absurdo da morte inaceitável, tudo isso desmancha qualquer dúvida que possamos ter sobre a necessidade de punição do irresponsável que atirou o sinalizador contra a torcida adversária.
A lógica do pai de Kevin é a de que, perdido o filho, resta a Justiça. Para ele o rapaz que se apresentou à polícia no Brasil não passa de laranja, dado que a fraca legislação brasileira praticamente o perdoa por ser menor de idade. Quanto aos torcedores presos na Bolívia o pai de Kevin esclarece que, se libertados, retornarão ao Brasil e nunca mais e ouvirá falar deles na Bolívia dado o fato do Brasil não extraditar seus cidadãos.
Ouvir aos pais de Kevin Espada emociona a todos os que têm filhos e receiam perdê-los para a violência. Não há como não se irmanar à dor de um casal que não consegue entender e aceitar a tragédia que se abateu sobre a sua família. Não se pode fugir à emoção de um pai cujo filho sai de casa para ir a um jogo e que o encontra, horas depois, estendido numa maca, morto e com um buraco na cabeça atingida por um projétil.
Não se sabe como isso vai terminar. É pena que uma história dessas não seja suficiente para sensibilizar as pessoas, levando-as a pensar sobre as consequências de seus atos.
Fome
O rapaz teria pouco mais de 20 anos de idade. Entrou no restaurante, escolheu uma mesa pequena e logo foi atendido pelo garçom. Recebeu o cardápio e desapareceu atrás dele, estudando-o minuciosamente. Pouco depois acenou para o garçom e fez o pedido.
Depois de 10 minutos o garçom voltou à mesa do rapaz, agora portando uma bandeja com a refeição pedida momentos antes. Sobre a mesa estava um pequeno vidro de azeite, além de guardanapos de papel que foram afastados para que a travessa com a comida fosse servida.
O rapaz tinha pedido um macarrão que viera em meio ao molho vermelho. Acompanhava o macarrão uma travessa com pão cortado em pedaços e uma jarra contendo um suco branco.
Foi a partir daí que o rapaz se transformou. Imediatamente despejou o macarrão no prato abaixou a cabeça e começou a comer com volúpia. Era de se ver a agilidade das garfadas com as quais rapidamente o rapaz deu conta do macarrão. Estaria a refeição terminada nesse ponto, mas não para o rapaz de pouco mais de 20 anos. Em seguida ele despejou o restante do molho no prato e passou a comer o pão após untá-lo com o molho.
Quando o pão acabou estaria terminada a refeição, mas não para o rapaz de pouco mais de 20 anos. Então, fazendo uso de uma colher, ele levantou o prato, colocando-o numa posição obliqua, e passou a ingerir o restante do molho. Poucas colheradas depois, o prato estava limpo, sem traços de que fora usado. Foi quando o rapaz deixou o prato de lado e despejou no copo o suco branco que tomou de um só gole. A cena do suco branco se repetiu por três vezes até que nenhuma gota restou no copo ou na jarra onde fora servido.
Só então o rapaz aquietou-se, agora ensimesmado, olhando fixamente para o meio da mesa, parecendo nem mesmo respirar. Passados alguns minutos chamou o garçom, pediu o cardápio e passou a estudá-lo minuciosamente. Até que desistiu e, imóvel, volveu os olhos para o meio da mesa.
Permaneceu assim durante algum tempo até que chamou o garçom e pediu a conta. Quando o garçom a trouxe o rapaz tirou do bolso uma pequena calculadora e gastou alguns minutos fazendo as contas. Por fim, procurou dinheiro nos bolsos, ajuntou moedas e pagou a conta.
O rapaz de pouco mais de 20 anos tinha muita fome. Parecia estar em jejum a mais de um dia e só não pediu mais ao garçom porque não tinha dinheiro.
Mas, levantou-se da mesa ágil e aparentemente feliz. Era alto, magro e terrivelmente estranho. Saindo do restaurante, atravessou a rua e, na última vez que o vi, andava depressa na calçada, até que desapareceu.
A Coreia do Norte
Tantas são as ficções a que estamos expostos diariamente que não há como não considerar as ameaças da Coreia do Norte como uma formidável peça ficcional. Tanto é verdade que mesmo em Seul a população parece não se abalar apesar do governo norte-coreano avisar que a cidade será afundada no mar depois de receber um ataque de mísseis nucleares.
Eis aí uma crise que cresce diariamente, mas sobre a qual não se acredita que venha a ter desfecho ruim. De nada valeram as recomendações do governo norte-coreano para que estrangeiros que moram no país saiam de lá. A recomendação não foi seguida pelas embaixadas de países estrangeiros que mantiveram o seu pessoal trabalhando normalmente.
Mas, por que se duvida de que a Coréia do Norte entre em guerra com a Coreia do Sul e os EUA? Na verdade se aposta na vitória do bom-senso. A guerra prometida é absurda demais e injustificável. Quebrar a paz, promover a guerra com suas terríveis consequências não faz parte do catálogo de ações esperadas por pessoas responsáveis.
O que há de errado nessa história toda é a figura do ditador norte-coreano, o jovem Kim Jong Un. Ele aparece nas fotos como alguém empenhado em manobras militares, detendo em suas mãos um poder para o qual certamente não está preparado. Nesse fato mora o grande perigo de que o ditador leve adiante suas ambiciosas ações guerreiras. Ele surge como um daqueles sujeitos que não tem noção do tamanho da encrenca a que pode levar o seu povo e país.
Kim Jong Un faz lembrar os terríveis inimigos da humanidade dos primeiros filmes de 007. Parece ser necessária a ação de um espião com licença para matar que possa interferir nos rumos da Coreia do Norte, impedindo o governo de iniciar uma guerra inaceitável.
Entretanto, dada a inexistência de um 007 no mundo real e sendo, infelizmente, Kim Jong Un um ser muito real o que há a fazer é cercar-se de todo tipo de precauções para responder a um ataque da Coreia do Norte caso venha a ocorrer. É bom lembrar que nos dias atuais a ideia de guerra abarca o uso de armas atômicas, daí o grande perigo de que esse rapaz ditador cumpra as promessas e avisos que vem dando ao mundo.
Se fosse possível fazer apostas com as opções de sim ou não para o acontecimento da guerra, em que você apostaria?
Mentiras e desculpas
Divulga-se que uma pessoa normal mente pelo menos três vezes por dia. Desde que li a notícia tenho me policiado para verificar a minha média diária de mentiras.
Mentira é o que não é verdade, não corresponde a ela. Há pequenas e grandes mentiras, algumas graves e com consequências. O marido que trai em geral não mente, mas omite. Se a mulher desconfia, se ela coloca o marido contra a parede, então surge a mentira que consiste na negação absoluta da traição, Às vezes o marido se entrega ao desempenho de verdadeira peça teatral no sentido de inocentar-se de uma acusação tão grave cuja confirmação pode até levar ao fim o casamento.
Conheci um mulherengo inveterado que sabia mentir como poucos. Era verdadeiramente um artista na arte de convencer a mulher de sua retidão. E ela acreditava. Até que compraram uma casa na praia para onde ele ia vez ou outra, dizendo participar de pescaria com amigos.
Aconteceu de uma noite estar ele com uma mulher em pleno ato quando a porta do quarto foi aberta pela esposa. A mulher que estava com o homem na cama fugiu, nua, levando consigo as roupas que vestiu no caminho. Ele? Veterano na safadeza, artista sem palco, sentou-se na beira da cama, nu, pondo-se a socar a própria cabeça, chorando e exclamando:
- Eu tenho a cabeça fraca, eu tenho a cabeça fraca…
Boa desculpa. A esposa parece ter-se convencido e perdoou o marido, mas não por muito tempo porque, passados alguns meses, pediu a separação. Depois de separados ele continuou seguindo a velha rotina, mulher aqui, mulher ali, agora sem precisar da invenção de álibis salvadores.
Confesso que não minto, apenas omito coisas que acho bobagem dizer. Chega-se a uma fase da vida na qual se descobre que as pessoas não querem saber a verdade porque a realidade pode doer. Nesta situação o que resta fazer é alegar ignorância sobre coisas que afinal pertencem à vida alheia.
Uma senhora me liga com alguma frequência perguntando-me sobre doença grave de pessoa a quem ela ama muito. Está ela na fase da vida em que as coisas pesam demais e o sofrimento pode tornar-se insuportável. Não minto para ela, apenas omito os detalhes da doença. Assim, segue ela os seus dias, acreditando nas descrições que faço a ela e que a consolam. Entretanto, às vezes tenho a impressão de que ela conhece muito bem a verdade, mas optou por viver melhor acreditando no que digo a ela. Mentimos um ao outro? Parece que sim.
Um homem, duas mulheres
Numa capital de estado do nordeste fui recebido no aeroporto por um rapaz, boa gente, que me levaria ao local onde eu proferiria uma palestra. Depois de deixar a mala no hotel ele me convidou a uma volta para conhecer a cidade. Durante o trajeto empenhou-se ele em me deixar a vontade, tanto que me levou até um prédio onde deveria buscar uma moça para levá-la ao centro. Aliás, pediu-me muitas desculpas por isso dado que não se apercebera da hora e justamente aproximava-se o momento de pegá-la.
Quando chegamos ao local a moça já estava na porta do prédio e abriu um enorme sorriso ao ver-nos. Moça bonita, ainda jovem, estava grávida de uns sete meses conforme indicava o volume de seu abdômen.
A moça entrou no carro e me foi apresentada pelo rapaz como a mulher dele. Esperava um filho dele que nasceria em pouco menos que três meses. Conversamos sobre a cidade e chegamos ao centro onde a moça ficou em lugar que deveria ser onde ela trabalhava.
Depois de deixar a moça seguimos com o nosso passeio até que entramos numa rua estreita onde o rapaz parou o carro defronte uma casa. Eis que de repente veio ao portão um menino que chamou de pai ao rapaz. Atrás do menino surgiu uma moça sorridente, grávida de uns seis meses conforme eu soube depois. O rapaz convidou-me a descer do carro, dizendo que aquela era a casa dele. Em seguida apresentou-me a moça grávida que, segundo disse, era a mulher dele.
As coisas foram muito bem, tomei um café e logo depois partimos em direção ao hotel onde eu estava hospedado. No caminho não pude me conter e perguntei ao rapaz que raios de história era aquela. Ele se riu muito de minha pergunta e explicou-me que as duas eram mulheres dele, ambas grávidas de fetos que nasceriam mais ou menos na mesma época. Disse-me isso com muita naturalidade, afinal para ele a situação era absolutamente natural. Contou-me que as duas mulheres se conheciam, sabiam-se grávidas do mesmo homem e até compravam roupas de bebê juntas.
Hoje a Justiça do Amazonas reconheceu a união estável de um homem com duas mulheres. Verdade que no caso amazônico o homem já tinha falecido e o reconhecimento se deu para que as duas mulheres possam receber direitos previdenciários e resolver problemas patrimoniais.
Ainda hoje acho estranha a história daquele rapaz a quem conheci e suas duas mulheres, ambas felizes da vida ao dividir o leito com o mesmo homem. Quem sabe a decisão da Justiça do Amazonas venha a ser aplicada a muitos e muitos casos semelhantes que existem nesse Brasil afora.
2001, uma odisseia no espaço
Pois é, o tempo passa. Devo ter assistido ao filme “2001,
uma odisseia no espaço” em 1968, ano em que foi lançado. Não custa lembrar de
que só um ano depois, em 1969, Neil Armstrong pisaria na Lua, dando aquele que
ele chamou de grande passo para a humanidade. Os norte-americanos fincavam na
Lua a sua bandeira e venciam a corrida espacial contra a União Soviética ao
tempo da Guerra Fria.
Confesso que não cheguei a entender todas as referências de
“2001” na primeira vez que vi o filme. De fato o diretor Stanley Kubrick
inovava muito e saia do esperado território dos marcianos verdinhos até então
mostrados nos filmes de ficção científica.
Ao enviar astronautas para um passado de quatro milhões de anos atrás
sem escalas intermediárias - tudo isso sob um fantástico arranjo de fatores
como a inteligência artificial, evolução humana, avanços tecnológicos e vida
extraterrestre - Kubrick criou uma obra incrível, sem precedentes na história
das narrativas cinematográficas de ficção científica. Inesquecível o computador Hal que enlouquece
e assume o comando da nave onde viajam os astronautas. Exibia-se ali a
possibilidade de domínio futuro das máquinas, tema até hoje trabalhado em
vários roteiros cinematográficos.
O filme é belíssimo pelas imagens inovadoras que apresenta
sendo escassos os diálogos. Em particular são instigantes as cenas iniciais na
quais macacos descobrem o uso de armas e a parte final no qual o astronauta
chega a Júpiter e entra num monólito no qual é puxado para dentro de um túnel
onde brilham luzes de várias cores. A seguir o astronauta passa a viajar em
grande velocidade por várias aéreas do espaço e começa a se ver em várias
idades até se transformar num velho deitado numa cama. Então se aproxima um
monólito e o velho se transforma num feto que passa a flutuar ao redor da
Terra.
A trilha sonora impecável inclui a valsa “Danúbio Azul” para
acompanhar a dança dos satélites e “Also Sprach Zaratustra” para mostra a
evolução filosófica humana. Como se vê nada acontece por acaso num filme que
foi indicado para quatro prêmios Oscar e deu o que falar ao tempo em que foi
lançado, conquistando admiradores e também recebendo muitas críticas. Hoje em
dia “2001” é considerado um dos filmes mais perfeitos já feitos, tendo sido, em
1991, considerado “culturalmente, historicamente ou esteticamente
significante” pela Biblioteca do Congresso dos Estados
Unidos.
Biografias
Foi aprovado na Câmara o projeto que permite a publicação de biografias sem o consentimento do biografado ou de seus familiares. Passa a ser permitida a divulgação de filmes e imagens além da publicação de livros sem que para isso seja necessária autorização do biografado. Para quem não se lembra, há algum tempo foi proibida a comercialização de uma biografia do cantor Roberto Carlos porque não fora autorizada por ele.
Dias atrás ouvi de uma senhora ponderações sobre o tipo de atração que o Facebook e o Instagram exercem sobre as pessoas. Na opinião dela as ferramentas sociais da internet proporcionam uma exposição pessoal perigosa, inclusive devido à possibilidade de acesso de marginais. Dizia-se ela se impressionada com a necessidade das pessoas em simplesmente aparecer. Senão - perguntava ela - por que publicar fotos pessoais, da família, de você mesmo fazendo coisas absolutamente sem importância, de você em viagens etc? Terminou dizendo que se as pessoas que se expõem nas redes sócias tivessem pendores literários, certamente se aventurariam em escrever autobiografias.
Nesta semana capa da Revista Veja - São Paulo traz uma foto do ex-jogador de futebol e atual comentarista da Rede Globo, o Casagrande. Ele acaba de publicar uma autobiografia onde revela detalhes sobre a sua imersão no vício de drogas e conta como sobreviveu a quatro overdoses. Embora se louve a possível intenção de transmitir a terrível experiência por que passou aos jovens, alertando-os sobre o perigo das drogas, é de se perguntar como e por que uma pessoa se submete a tal exposição pública. Coragem? Necessidade de exorcizar publicamente os fantasmas da alma? Sensação de dever explicações de vez que se trata de personalidade pública? Ou simples exibicionismo?
Obviamente, as perguntas anteriores só poderiam ser respondidas pelo ex-craque, sendo-nos impossível saber o tipo de motivação que o levou a publicar aquilo que está sendo chamado de sua “saída do inferno”.
Há muitos anos li a “Autobiografia Precoce” do poeta russo Eugene Evtuchenko. Naquela ocasião fiquei incomodado com o título. Afinal, por que precoce? Se o poeta tinha ainda muita vida pela frente por que explicar-se tão cedo? Obviamente, Evtuchenko tinha as suas razões, a entre elas os seus ataques contra o período stalinista. Entendeu o poeta a necessidade de explicar a natureza de sua poesia. Tinha ele na época apenas 30 anos de idade daí sua autobiografia ser realmente precoce.
A literatura de alguns países conta com notáveis escritores de biografias. No Brasil não são muitos os biógrafos e a ver como as coisas se passarão daqui por diante, agora que se torna possível escrever sobre qualquer pessoa que se entenda deva ser biografada sem necessidade de autorizações.
Matéria Escura
Os cientistas estão muito perto de identificar os componentes da matéria escura. Confesso que até recentemente eu nunca tinha ouvido falar sobre a matéria escura. Na verdade ela é o componente mais abundante do universo, estima-se que se constitua em 25% dele. Entretanto não pode ser vista porque não emite luz, aliás, daí o nome “matéria escura”. Isso quer dizer que todas as constelações que podem ser vistas e identificadas no espaço nada mais são que uma parte do universo.
Até agora supunha-se que a matéria escura fosse constituída por partículas subatômicas menores que prótons elétrons e nêutrons. O problema maior dos pesquisadores é justamente localizar a matéria escura e identificar os seus componentes. Hoje se noticia que cientistas acabam de encontrar vestígios de matéria escura no espaço. A descoberta foi feita através do detector de partículas cósmicas que fica na Estação Espacial Internacional. O que se descobriu foi um excesso de partículas subatômicas de carga positiva, denominadas pósitrons. Supõe-se que os pósitrons resultam da colisão de partículas que formam a matéria escura. Ou seja, os pósitrons funcionam como indicadores da existência e localização da matéria escura.
As notícias sobre o universo sempre despertam a nossa curiosidade. Elas nos fazem refletir sobre a precariedade do planeta em que vivemos no qual circunstancialmente existe vida. A Terra é um quase nada em meio à imensidão do universo desconhecido. É nesse mesmo universo que galáxias desparecem em buracos negros mostrando uma fome de destruição que teme-se chegue até nós.
Enquanto isso não acontece tudo prossegue com a indiferença de sempre em relação ao planeta em que vivemos. Hoje a Coreia do Norte divulgou estar na iminência de atacar o território dos EUA, possivelmente com o uso de armas nucleares. O jovem ditador Kim Jong-un parece empenhar-se na realização de um conflito cujos resultados serão dramáticos. Até agora as declarações do governo norte-coreano estavam sendo entendidas como tentativas de pressionar a vizinha Coreia do Sul. A declaração de hoje põe mais lenha na fornalha e sabe-se lá o que virá pela frente.
O 1º de abril
Num 1º de abril o Coelho espalhou que o “seo” Olímpio morrera porque engolira a dentadura e se engasgara. Contou com detalhes os últimos momentos do velho, a dificuldade em respirar e o sufoco que terminara em roubar-lhe a vida.
Como as outras pessoas corri até a casa do “seo” Olímpio. Estava ele na calçada, defronte a casa, explicando às pessoas que estava vivo e bem vivo. Referia-se ao Coelho dedicando ao rapazote um punhado de palavrões. Mas, no fim acabava rindo, desculpando-se por não estar morto e ter fraudado a expectativa das pessoas que acorreram a casa dele para ver o cadáver.
Houve um jogo do São Paulo realizado na Europa no qual o tricolor foi impiedosamente goleado para desespero de sua fiel torcida. Os noventa minutos da partida foram transmitidos pelo rádio e só quando o juiz apitou ao fim do segundo tempo o locutor explicou que tratava-se de um trote, uma celebração do Dia da Mentira que é o 1º de abril. Imagine a revolta da torcida por ter ouvido a transmissão de um jogo que na verdade não aconteceu.
Ontem foi 1º de abril e que eu saiba não se contaram mentiras. O mundo está muito mudado e as pessoas talvez já não se permitam o desfrute de mentir por brincadeira. Culpa dessa louca e violenta vida que vai perdendo a graça com o acúmulo de obrigações e responsabilidades.
Em 31 de março de 1964 o presidente João Goulart foi deposto e os militares tomaram o poder no Brasil. Ouvimos a notícia pelo rádio no dia seguinte e houve quem dissesse que se tratava de uma mentira de 1º de abril. A mentira durou 21 anos, muita coisa aconteceu e até hoje o país não conseguiu fechar o arquivo do período de ditadura militar tantas são as coisas pendentes.
Onda de estupros
Aqueles seis indianos que estupraram e mataram uma moça dentro de um ônibus estão fazendo escola. As notícias sobre caso de estupro na Índia já eram alarmantes antes do caso que ganhou atenção internacional. Além do que a ação dos indianos despertou grande onda de protestos na própria Índia. Agora os estupradores estão presos e sobre eles recairão as punições previstas pela lei indiana.
No dia em que Mubarak foi destituído de seu governo no Egito uma jornalista norte-americana foi estuprada em plena Praça Tahrir. Semana passada o New York Times noticiou que a Praça Tahrir tornou-se perigosa demais para as mulheres, sendo crescente o número de estupros no país. O interessante, nesses casos, é que se discute de quem é a culpa pelos estupros. No dia 25 de janeiro, quando se comemorou o segundo aniversário da revolução egípcia, houve uma extraordinária onda de ataques às mulheres, tendo sido confirmados pelo menos 19 casos de estupros.
Hoje se noticia o estupro de uma jovem de 20 anos de idade, turista em viagem ao Brasil. O caso aconteceu no Rio onde ela e o namorado entraram numa van de transporte na madrugada de ontem. Além de serem roubados o rapaz foi atingido por golpes desferidos com barra de ferro e a moça estuprada dentro da van. Felizmente sobreviveram e a polícia conseguiu prender dois dos estupradores. Após a divulgação de fotos dos dois uma mulher compareceu à polícia para declarar que também fora estuprada e roubada por eles.
O que se pergunta é sobre o que acontecerá daqui por diante com os dois estupradores presos. Diariamente ouvimos notícias sobre bandidos que cometem crimes e voltam às ruas por gozarem das facilidades da lei. Crimes horrendos são cometidos a toda hora por pessoas que estão nas ruas por conta da tal progressão parcial das penas. Basta ter bom comportamento para que se tenha direito aos benefícios, isso depois de cumprir pena em regime fechado durante algum tempo.
No Brasil o que resta aos cidadãos é rezar para não ter o azar de cruzar com membros da bandidagem. Nunca se prendeu tanta gente no país, presídios e cadeias estão superlotados, mas é muito grande o número de meliantes à solta. O fato é que a violência crescente parece não ter fim, as leis são fracas, daí não ser absurdo imaginar que os estupradores da van em data não muito distante estarão livres para voltar a praticar outros estupros.