Arquivo para maio, 2013
As chacretes
- Meu caro, as chacretes são uma instituição nacional. Não fazem parte só da história da televisão, não, elas são parte integrante da História do Brasil. Aquelas loucas participaram ativamente do imaginário de pelo menos duas gerações de homens que de deliciavam ao vê-las no “Cassino do Chacrinha”.
Quem me disse isso foi o meu vizinho revoltado que está com a nova novela da Rede Globo na qual uma personagem, ex-chacrete, confessa que aos tempos de chacrete foi garota de programa.
Bem. As antigas chacretes estão se reunindo para protestar porque entendem que a imagem delas está sendo denegrida. De todo modo eis ai um assunto complexo porque envolve a memória de um dos maiores e mais inexplicáveis fenômenos de comunicação do país, o velho guerreiro Chacrinha.
Até quem não curtia o “Cassino” via-se obrigado a reconhecer a incrível criatividade do Chacrinha. Durante anos ele inventou e desinventou, divertindo os espectadores sempre ligados ao seu programa. Chacrinha era desses caras dotados da capacidade do repente, desses capazes de nos surpreender a cada minuto porque nele tudo parecia inesperado.
As chacretes eram as gostosonas do Chacrinha, continuadoras de um tempo em que o brilho das “Certinhas do Lalau” apaixonavam multidões. O Lalau - Sergio Porto, o Stanislau Ponte Preta - entendia as certinhas como as mais bem despidas. Eram mulheres que para o gosto e moda de hoje calcado nas manias de regime talvez parecessem só um pouquinho avantajadas. Mas eram o topo da lista entre as mais belas do país.
Não assisti a nenhum capítulo da novela e não sei dizer se as chacretes estão ou não sendo agredidas. Em todo caso tratei de acalmar o meu vizinho. Ele me contou que mantém em sua casa revistas antigas com fotos da mulherada que fez o Brasil tremer – assim ele se referiu a elas.
Discussões a parte, o fato é que esse assunto me devolveu uma época não tão distante na qual chegava a casa de meus pais e lá estava a turma com os olhos grudados nas loucuras do Chacrinha – e nas beldades, claro, nas chacretes.
Cachorro sob suspeita
No Brasil a criminalidade está tão em alta que até mesmo os cães não escapam da suspeita de prática de crimes. Vez ou outra se noticia a morte de alguém vitimado por ataque de cães. Confesso que não mantenho boa amizade com esses animais. Quando criança fui mordido por um cachorro grande - ele foi gentil mordendo de leve – mas, desde então, tenho um pé atrás com esses animais. Coisa de criança que permanece vida afora.
Mas, tive cachorros em casa e gostava muito deles. Ao tempo em que morei numa casa isolada tive um policial capa preta que tomava conta do imóvel. Afora gente da família ninguém entrava lá sem que eu ordenasse respeito ao cão. Certo dia aconteceu um assalto na vizinhança e, ao chegar a casa, fui surpreendido pela presença de vários carros da polícia. Era noite, não havia luz na rua e um policial encostou uma arma no meu peito quando me aproximei do portão. Foi difícil controlar o cão que imediatamente pressentiu o perigo e partiu em minha defesa. Esse cachorro fantástico morreu de cinomose canina para a qual teria sido vacinado anteriormente. “Teria” porque paguei pela vacina aplicada nele, vacina certamente falsificada – ou água.
Leio que no Rio Grande do Sul um cão estava para ser sacrificado por ter matado sua dona. O filho da mulher morta viu o cão no quintal sobre o corpo da mãe e entendeu que ele a atacara e matara. Razão por demais suficiente para que o cão fosse sacrificado.
Assim, condenado à morte, o cão escapou por pouco. Exames comprovaram que a senhora tinha sofrido um AVC (acidente vascular cerebral) e o cão na verdade estava tentando ajudá-la.
Ainda bem. Descobriu-se em tempo a razão da morte, evitando-se o sacrifício de um animal que, segundo relatos, era muito ligado à dona com quem brincava bastante.
Bebês em perigo
Na China um bebê recém-nascido foi retirado de um cano de esgoto após passar duas horas dentro dele. O bebê ainda estava ligado à placenta no momento em que foi retirado. Foi o choro que atraiu a atenção de pessoas que chamaram os bombeiros.
A mãe tem 22 anos de idade e escondeu a gravidez dos vizinhos, temendo ser criticada por ser solteira. O fato provocou comoção na China e as pessoas estão enviando roupas e fraldas para cuidados com o bebê. Televisões de todo o mundo divulgam imagens da ação dos bombeiros, retirando o bebê do cano. Não se sabe se ele foi parar ali por acidente ou se a mãe - ou o pai – quiseram se livrar dele.
A China tem quase 2 bilhões de habitantes. Lá os casais são proibidos de ter mais de um filho. Tem chinês demais na China dai a limitação do número de filhos.
A repórter que narrou o caso do bebê chinês preso no cano de esgoto salientou que na China é comum que casais se desfaçam de bebês dada a impossibilidade de se ter mais de um filho. Outro jornalista acrescentou que isso acaba acontecendo em regimes totalitários nos quais leis são impostas e o povo se vê na contingência de ter que obedecê-las.
A questão do controle da natalidade é controversa havendo pessoas favoráveis e desaforáveis a ela. Existe a participação da igreja que entende a relação sexual como meio de reprodução daí ser contrária a uso de camisinhas e mesmo da prática de abortos. Entretanto, como gerir uma situação como a observada em nosso país no qual casais paupérrimos possuem muitos filhos e não possuem a menor condição não só de cria-los como educá-los?
Quem visita lugares onde vivem populações de baixa renda ou mesmo ausência dela espanta-se com a precariedade das condições em que vivem adultos e crianças. Não existe acesso a praticamente nada e a fome faz parte da vida cotidiana.
Não dá para julgar a proibição chinesa que obriga os casais a seguirem a limitação de filhos. Num país com a população hoje existente na China o que fazer para conter a explosão demográfica?
Mas, aos bebês. Ah, pobres bebês que chegam ao mundo e merecem todos os cuidados e atenções. Pobre bebê milagrosamente salvo pelo acaso de terem ouvido o seu choro a tempo de retirá-lo de um cano de esgoto. Pobre mãe vitimada pelo desespero. Louco mundo esse no qual vivemos e que a cada dia mais nos surpreende com acontecimentos verdadeiramente bizarros.
Brigas de vizinhos
Na primeira vez que morei em apartamento tinha 25 anos de idade. Até então morara em casas, durante tempos diferentes em cada cidade. Casa oferece mais liberdade. Sem paredes conjuminadas pode-se fazer toda sorte de barulho sem incomodar ninguém. E pode ter o quintal onde se ajuntam toda sorte de tralhas. Um meu parente mudou-se para uma casa e desde o primeiro dia desentendeu-se com uma árvore que ficava bem defronte a porta de acesso ao quintal. Foi ódio à primeira vista. O diabo é ele que descobriu que não poderia cortar a árvore. Daí que passou anos injetando venenos no caule com intuito de matar a planta que o incomodava. Foi vencido pela natureza: quando ele morreu a árvore continuava lá, firme e forte. Talvez esteja ainda hoje, passados mais de vinte anos de desaparecimento do meu parente.
Na primeira madrugada em meu apartamento, achei de ligar o aspirador de pó no meio da madrugada. Acostumado à ausência de vizinhos fui surpreendido pelo som de golpes de cabos de vassoura no teto do apartamento de baixo. Ao que se seguiram toques na campainha que me levaram a abrir a porta. Foi assim que conheci um dos caras mais interessantes com quem topei vida afora. Entendemo-nos ao primeiro olhar. Como eu o havia acordado e ele perdera o sono, perguntou-me se eu tinha algo para beber. Esgotamos até o fim da madrugada duas garrafas de vinho e nos tornamos amigos.
Certa ocasião, em outro prédio, quase fui agredido por um rapaz que praticamente invadiu o meu apartamento. Dizia que eu roubara um pneu velho que ele usava para não deixar o carro bater na parede quando estacionava no subsolo. Aliás, não era essa a primeira vez que eu roubara pneus velhos dele, gritava isso em tom de ameaça. Deu um trabalhão acalmar o incauto, fazendo-o ver que caso eu tivesse vocação para roubar alguma coisa não perderia tempo com pneus velhos.
Não vou aqui contar os muitos casos de pequenas rusgas com vizinhos. Há pessoas que se incomodam com coisas mínimas e reclamam de tudo. Lembro-me de uma senhora que media com régua o espaço que eu deixava entre o meu carro e o dela no estacionamento do prédio. As garagens eram de fato apertadas, o meu carro um pouco maior que o dela, mas quem se importa?
Leio que um senhor, cansado de reclamar do barulho vindo do apartamento de cima, tomou a decisão de resolver a seu modo o assunto. Ele foi ao apartamento do vizinho, matou o casal que morava lá a tiros e depois se suicidou dentro do elevador.
Esse crime é muito comentado, sendo citado como consequente ao estado de predisposição à violência hoje reinante. Ouvi pelo rádio autoridades recomendando às pessoas paciência e boa vontade para resolver suas diferenças de modo pacífico.
Sei não. O mundo atual vai se tornando uma fábrica de inimigos. Aquele a quem não conhecemos pode bem ser um agressor. Talvez tenham razão ao dizer que o estado permanente de violência que nos cerca nos induza a atos impensados cujas consequências podem ser graves.
Será?
Imagem inesquecível
6 de julho de 1982. Dia de grandes silêncios e tristeza geral. Não me recordo a que ia, mas acabava de atravessar o Viaduto do Chá em direção à Rua Barão de Itapetinga. Foi naquele lugar que vi, estampada na primeira página do “Jornal da Tarde”, a inesquecível fotografia do menino chorando. O menino chorava por todos nós brasileiros, impossível conter a emoção de um choro que me dizia respeito e espelhava a tristeza do dia.
O Brasil inacreditavelmente perdera para a Itália num jogo da segunda fase da Copa do Mundo daquele ano. A fantástica seleção nacional que entre outros contava com Falcão, Zico, Cerezo e Sócrates, dirigida por Telê Santana, perdera por 3 a 2 um jogo em que o empate bastaria para a classificação. Era uma formidável seleção aquela cujos jogadores exibiam um futebol encantador, verdadeiro show. E perdêramos, para desolação da imensa torcida brasileira.
O “Jornal da Tarde” conseguira atingir o coração dos brasileiros ao publicar a foto do menino em sua página de rosto. Dava rosto ao sofrimento geral, àquela sensação de algo perdido para sempre, irrevogável. Estampava a dor que nos ia pela alma. Dor sem remédio que só o tempo faria diminuir. Ainda hoje, ao rever a foto, ainda hoje dói. Aquela fotografia deixou marcado em quem viveu ao tempo da chamada “Tragédia de Sarriá” um momento inesquecível de união nacional.
Eu era estudante em São Paulo e desde logo passei a ler o “Jornal da Tarde”. O diário se distinguia dos outros jornais pela leveza e dinamismo de um jornalismo jovem e aguerrido. De leitura mais rápida e fácil, preenchia muito bem as necessidades de quem não dispunha, durante a semana, de tempo para a demorada leitura de outros jornais.
Hoje foi enterrado o Dr. Rui Mesquita que sempre esteve à frente do “Jornal da Tarde”. Tinha ele 88 anos de idade e recebeu justíssimas homenagens de pessoas que privaram de seu convívio. Muitos foram os que o homenagearam comentando o perfil de luta e seriedade que o caracterizaram.
Fica aqui a homenagem de um leitor desconhecido que acompanhou de longe a trajetória do Dr. Rui e lhe é grato pelo excelente jornalismo que tantas lacunas preencheu no dia-a-dia dos brasileiros. Jornalismo de excelência como aquele praticado no dia seguinte à derrota do Brasil no jogo com a Itália em 1982.
Gente estranha
No fim das contas todos são humanos. A frase anterior é sempre utilizada em socorro de certos contatos estranhos que vez ou outra acontecem a toda gente. Há quem diga que o estranhamento entre seres humanos em todos os casos pode ser atribuído a idiossincrasias individuais. Mas, não será verdade que há gente que reune traços individuais que são identificados como estranhos por mais de uma pessoa?
Aconteceu-me de certa ocasião entrar num dos vagões do metrô de Londres em hora avançada da noite. No vagão estavam sentados apenas dois sujeitos que terão sido os seres humanos mais estranhos que vi em toda a minha vida. Sinceramente, passou-me pela cabeça estar diante de um contato imediato de terceiro grau, enfim na presença de alienígenas.
O fato é que os dois caras eram realmente estranhos, mas, leia-se bem, para a época. Sim, porque todos os apetrechos que então usavam, os cabelos de várias cores, as roupas de modo algum convencionais, os variados piercings, os enormes brincos, o desenho em torno dos olhos e lábios, tudo aquilo se espalharia como modismo no mundo nas décadas seguintes.
Quero dizer que estranhas mesmo são pessoas cujo interior, cuja alma, se revela - e desafiadoramente - em seu aspecto externo. Pouco ou nada a ver com roupas, adornos e apetrechos de todo tipo. Estranho mesmo é esse cara que manteve presas em sua casa três mulheres por dez anos, infinitos dez anos nos quais abusou delas sexualmente e as torturou.
Estranha é aquela mulher que matou o marido japonês e esquartejou o corpo dele para jogá-lo fora dentro de malas.
Há pessoas diferentes no mundo, personalidades que nos causam desconforto. São diferentes e não necessariamente estranhas. E dentre as verdadeiramente estranhas destacam-se as perigosas as quais, infelizmente, tem proliferado nos últimos tempos.
As mulheres do rei
Para os hábitos ocidentais pode soar estranho, mas neste vasto mundo existem reis polígamos que escolhem esposas ao seu bel prazer. Mswati terceiro reina na Suazilândia, pequeno país africano que fica perto de Moçambique. Para ser franco eu não me dera conta da existência da Suazilândia daí procurar no Google informações sobre o país. Fico sabendo que se trata de um país montanhoso cuja economia se baseia na agropecuária. O país possui importantes reservas de carvão e digladía-se com a AIDS que atinge um terço de sua população.
Acontece que o rei tem o direito de a cada ano escolher uma virgem para fazer parte do seu harém. Muitas moças se candidatam e as fotos as mostram de peitos de fora, esperando que a sorte as favoreça. No fim das contas as escolhidas vivem trancadas em palácio de onde saem um vez ao ano quando o rei as leva aos EUA para comprarem roupas.
No momento uma jovem escolhia está na Inglaterra, fugindo da honra de vir a ser a décima quarta esposa do rei. Ela está tendo dificuldades em obter asilo e teme ser obrigada a retornar ao seu país.
Estranho mundo este, não? É de se ver a foto do rei, o tal que se aproxima de possuir catorze mulheres às suas ordens.
Assunção
Eu disse que ia a Assunção e ouvi sobre o que iria comprar lá. É isso: o Paraguai é o lugar que só funciona para os brasileiros comprarem coisas importadas a preços pra lá de razoáveis. É a pátria dos sacoleiros que vivem às turras com a Polícia Federal quando voltam carregados de muambas.
Pretendo dizer que Assunção não é bem isso. A. capital é um ótimo lugar para se dar umas voltas, colocar em dia o sempre atrasado descanso. Bons hotéis, comida excelente servida e muito bons restaurantes. O melhor da festa:preços acessíveis, partindo-se do fato de que 1 real vale 2000 guaranis.
Os paraguaios dizem que é preciso tomar cuidado com a segurança pessoal. Recomendam que não se ande pelas ruas com jóias, máquinas etc. Mas Assunção vai ter que treinar muito par se aproximar dos níveis de violência existente nas cidades brasileiras. Perto de São Paulo Assunção é o paraíso.
O motorista de táxi me disse que os bandidos não matam no Paraguai porque eles não têm armas. Verdade ou não o fato é que pode-se andar nas ruas da cidade sem medo. Há sim aquela turma do mal como em todo lugar. Mas, é só ficar de olhos abertos.
Visita a pontos turísticos, passeio pelo centro da cidade, conhecer os bons shopings, ver o comércio da Calle Palma, tomar bons vinhos e jantar em bons restaurantes fazem de Assunção um ótimo lugar para se visitar.
O Paraguai acaba de eleger um novo presidente. Os jornais falam sobre o crescimento do contrabando e do narcotráfico. Um país como os outros, mas com um jeitão interiorano, com muita coisa a se fazer.
Voltarei ao assunto.
Testes de DNA
Se há uma coisa que homem teme de verdade é o câncer de próstata. Não se passa mais que um ano para a necessária visita ao urologista que recomenda exames laboratoriais e submete o paciente ao toque retal.
Confesso que não sou o mais aplicado nos cuidados em relação à verificação prostática. De repente me dou conta de que já se passaram mais que doze meses, às vezes quase dois anos: hora de marcar consulta, ir ao urologista etc.
N a minha família, em gerações anteriores á minha, surgiram alguns casos de câncer. Minha tia tremia de medo de que o câncer de mama que matara a mãe dela fosse hereditário. Tanto medo que quando se referia ao câncer não pronunciava a palavra, referia-se “àquela doença”. No fim não teve tempo para descobrir se teria “àquela doença” ou não, vitimada que foi por um fatal acidente automobilístico.
Agora a atriz Angelina Jolie, mundialmente conhecida e famosa, vem a público para dizer que retirou suas duas mamas cirurgicamente para evitar o câncer de mama. Baseou-se para tomar essa medida no exame de DNA e no fato de sua mãe ter falecido com diagnóstico de câncer de mama. O teste de DNA da atriz revelou a existência de genes que davam a ela a possibilidade de mais de 80% de vir a ter câncer de mama e 50% de ser atingida pelo câncer de ovário.
Eu que já caminho pelos sessenta temo não só o câncer de próstata como o mal de Alzheimer. A possibilidade de vir a sofrer de um mal no qual progressivamente a memória se apaga coloca em xeque a nossa identidade pessoal diante da despersonalização advinda da doença.
É aí que surge a possibilidade de se fazer um teste de DNA para saber o que me espera à frente. Hoje em dia relata-se que esse teste pode revelar a possibilidade de até duas mil doenças, entre elas as neurológicas, tipos de câncer, doenças cardiovasculares e outras.
Mas, e quanto à coragem para me submeter a uma análise dessa natureza? E se no resultado vier impresso o nome de uma doença para a qual hoje não existe tratamento?
No passado preocupava-me o fato de que o desenvolvimento das técnicas de análise do DNA fossem utilizadas para fins comerciais como exames de admissão em empregos e companhias de seguro interessadas em verificar as possibilidades futuras de seus segurados. Hoje reparo que o círculo dessas técnicas está cada vez mais se fechando, levando-nos a ponderar se devemos ou não submeter-nos a elas.
Evidentemente, os testes de DNA são um importante passo no caminho da prevenção de doenças. Ainda assim…
Desentendimento geral
Não é que todas essas mudanças atuais têm contribuído, progressivamente, para o esgarçamento das relações humanas? Tanta tecnologia, tantas novidades, tantas descobertas científicas! Drones, automação, máquinas incríveis, progresso incessante: e o homem?
Não passa dia sem que alguém evoque o passado, outro se refira “àqueles bons tempos que se foram”. Eram mesmo bons tempos? Ah, sim havia mais respeito, nem tanta violência, menor número de pessoas. Mas, essa coisa toda que havia no passado, o conjunto delas, será que poderiam ser mesmo condicionantes de uma vida melhor?
Sei não. Há quem diga que não há como se comparar momentos históricos diferentes, nem mesmo as sociedades humanas em épocas diferentes. Conheço um sujeito que coloca a culpa da inquietação hoje reinante justamente no progresso. Ele cita, por exemplo, os problemas ecológicos que sempre existiram, mas que no passado eram deixados de lado. A ecologia não fazia parte de discursos diários e avisos de perspectivas tenebrosas. Diga-se que, então seria tema para estudiosos. Verdade que hoje as questões ecológicas se agravaram daí as pessoas saberem e se preocuparem com o aquecimento global, as emissões de gases estufa, a destruição de florestas, as chuvas ácidas etc. No mundo globalizado a redução de um pedaço de mata se transforma em foto de satélite e notícia publicada quase na hora. A ciência abriu as portas da comunicação e já estamos na situação de quem não sabe mais o que fazer com tanta notícia divulgada. Nasce daí a dificuldade de elaborar juízos de valor, da distinção entre o certo e o errado, entre o que é aceitável e o que deixa de sê-lo. O mundo hodierno apequena as personalidades, faz-nos nada mais que números integrantes de uma grande massa, números que conhecem bem as regras do jogo da sobrevivência e do salve-se quem puder.
Isso tudo explica pelo menos em parte as dificuldades de contatos entre pessoas, o isolamento humano, a perda da fé e o constrangimento de nos vermos, a toda hora, diante de situações nas quais está explícita a disputa por algo de interesse comum.
Assim, problemas simples se tornam complexos. Situações em que a utilização do bom-senso seria mais que suficiente para resolver uma questão acabam por se constituir em verdadeiras batalhas entre as partes envolvidas.
Talvez seja exagero se afirmar, mas parece cada dia as pessoas menos se entendem e a boa vontade - sempre aliada das convenções entre os homens - é atirada na lata de lixo.
Tempos novos e complexos esses em que vivemos. Tempo em que se torna difícil prever no que se transformará a vida das populações humanas no futuro imediato, dado o ritmo frenético das mudanças que nos assolam.