2014 março at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para março, 2014

Desconforto

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Leio que uma senhora doou seu corpo para pesquisa científica. Fez isso há alguns anos. Morreu nesta semana e os que a conheciam estranharam que não houvesse enterro. Ocorrido o óbito a filha encarregou-se de avisar a entidade de pesquisa para a entrega do corpo.

Perguntei a um amigo se ele doaria seu corpo para pesquisas. A estranheza da pergunta deixou-o sem resposta. Ele pensou um pouco e me devolveu a mesma pergunta.

Eu? Rapaz… Esse corpinho aqui do qual cuido tanto… Ora, mas se estarei morto, que diferença faria ser comido por vermes ou retalhado a bisturis?

Não sabendo bem o que responder ponderei que talvez sejamos incapazes de dissociar o corpo do vivo daquele depois de morto. Separar a identidade pela inevitabilidade da morte é coisa complexa e difícil. Enquanto estou vivo imagino que continue a ser eu mesmo depois de morto, embora saiba que as coisas não se passam desse modo. Mas é o vivo quem pensa em seu corpo nu e exposto sobre uma mesa num laboratório de anatomia. Imaginar-me nessa situação, indefeso, ausente, submetido aos caprichos de um pesquisador ou algum estudante realmente causa-me desconforto.

O corpo de quem está vivo é uma propriedade particular da qual ninguém está à vontade para disponibilizar. Talvez pela posse inalienável de meu corpo eu jamais me disporia a doá-lo, mesmo depois de morto. Afinal, esse corpo sou eu a ideia de doá-lo me surge constrangedora.

Ademais, não imagino como ficam os familiares de alguém que doou seu corpo. Como é saber-se que os corpos de seu pai, sua mãe ou seu filho estão naquela rua, naquele prédio, insepultos? E se você tiver alguma inclinação a revê-los?

Felizmente, nem todo mundo pensa assim. Os cadáveres prestam inestimáveis serviços à formação de profissionais que se tornam aptos a auxiliar seus semelhantes. Daí que nesse caso pode parecer egoísmo negar-se a tão nobre ato de contribuição com os nossos semelhantes.

Lidar com a morte é difícil. Na medida em que envelhecemos somos gradativamente cercados por ela. Trata-se de uma cela na qual as paredes se movem lentamente, mas sempre no sentido de reduzir o espaço que de que dispomos.

Há quem tenha muito medo da morte. Uma das minhas tias recusou-se a emprestar seu vestido à irmã que falecera num acidente. Na ocasião ela me disse que não dormiria mais se soubesse que a irmã fora enterrada com um vestido de seu guarda-roupas.

Enfim…

Acontecimento inesquecível

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No dia 13 de março de 1964 eu era um rapaz de 17 anos que tentava entender o Brasil. Getúlio Vargas suicidara-se em 1954, Juscelino construíra Brasília e Jânio renunciara, inexplicavelmente, em 1961. João Goulart - Jango - o vice de Jânio assumira o poder e o país enfrentava grave crise com endividamento externo, inflação alta e necessidade de reformas urgentes. Era a época do mundo bipolarizado com os enfrentamentos entre os EUA e a União Soviética traduzidos na chamada Guerra Fria.

Os países sul-americanos alinhavam-se ao bloco dos EUA que de modo algum permitiam qualquer desvio de orientação que não seguisse suas diretrizes. A dependência econômica fazia do país refém da política da grande potência do norte que tinha sempre os olhos abertos para qualquer movimento comunista ou socialista dentro do seu bloco.

Foi dentro dessas perspectivas que Jango realizou o célebre comício do dia 13 que tantas repercussões teria sobre a história do país. Ao comício, realizado no Rio, compareceram cerca de 200 mil pessoas boa parte delas portando faixas com variados dizeres. Naquela noite, no Comício da Central do Brasil, Jango defenderia as reformas de base de seu governo.

Lembro-me da figura de Jango no momento em que começou a falar. Antes dele discursara o jovem José Serra, então presidente da UNE, Miguel Arraes, governador de Pernambuco, e o deputado Leonel Brizola. Jango tinha ao seu lado direito a esposa e primeira-dama Maria Thereza Goulart e nas suas pausas ouvia o que lhe dizia Darcy Ribeiro.

Horas antes do comício Jango assinara dois decretos, um deles autorizando a desapropriação de áreas ao longo das ferrovias, das rodovias, das zonas de irrigação e dos açudes – e outro encampando as refinarias particulares de petróleo. A essas medidas, que explicou em seu discurso, Jango anunciou o pacote de reformas que enviaria ao Congresso tais como a reformas agrária, eleitoral e a reforma universitária.

O Comício da Central do Brasil funcionou como estopim para a reação militar que resultaria no golpe realizado no dia 31 do mesmo mês. Decorridos 50 anos desses episódios marcantes divulga-se a participação ativa do governo dos EUA no golpe em conluio com altas patentes do Exército brasileiro.

No dia seguinte ao comício não se falava em outra coisa. Lembro-me de ter ouvido em casa, dos parentes mais velhos, que Jango estava no caminho certo porque as reformas que propunha eram necessárias. Mas, o presidente não chegou a realizá-las apeado que foi do poder poucos dias depois do famoso e inesquecível comício.

A opinião do português

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Encontrei no elevador o português que mora no meu prédio. É um sujeito engraçado, entrado em anos, que reclama da irmã com quem mora. Segundo diz a irmã não dá folga para ele. Chega a dizer que ela judia dele. Esse “judiar” da irmã se traduz em mandá-lo fazer serviços como comprar alguma coisa em supermercados. Outro dia o português estava fulo com a irmã que o mandara à padaria justamente na hora do jogo transmitido pela TV. Era um jogo do Real Madri e o português é fã de carteirinha do Cristiano Ronaldo. Para ele Messi nem chega aos pés do Ronaldo. Neymar, então, fica mais abaixo ainda.

Dessa vez o português me perguntou sobre o que eu achava do desaparecimento do avião que partiu de Kuala Lumpur e desapareceu. Respondi que o caso é muito estranho. Quatro dias depois ninguém sabe dizer nada sobre o que teria acontecido à aeronave. O avião com 239 pessoas a bordo simplesmente despareceu sem deixar nenhum sinal do que poderia ter ocorrido a ele. Até agora buscas intensivas não têm dado nenhum resultado. Familiares dos passageiros mantêm a esperança de que talvez estejam vivos. Mas, isso a cada hora que passa se torna mais improvável.

O português ouviu o que eu disse e se aproximou do meu ouvido para perguntar em voz baixa: você já pensou na possibilidade de que os passageiros tenham sido abduzidos?

A singularidade da ideia e a seriedade do português me impediram de rir. Não sou dos que acreditam em abduções de seres humanos por extraterrestres. Aliás, até hoje não consegui me convencer de que existam os tais extraterrestres que vez ou outra dão um pulinho aqui na nossa Terra. Respeito muito os ufólogos embora não ache os argumentos deles convincentes. De modo que respondi ao português, afirmando que essa seria a última das possibilidades para o desparecimento do avião.

Ao que ele também disse não acreditar muito nessa hipótese. Entretanto, lembrou-me de que não é esta a primeira vez que aviões desparecem. Citou como exemplo o caso do Boeing 707 que partiu de Tóquio, em 1979, em direção ao Brasil e desapareceu misteriosamente. Até hoje ninguém sabe o que aconteceu ao avião de carga que entre outras coisas trazia os quadros do pintor Manabu Mabe que tinham sido exibidos no Japão. Disse, ainda, que nunca se esclareceu o que teria acontecido ao avião no qual viajava o maestro Glenn Miller que partiu de Paris em direção a Londres e desapareceu. Para ele a explicação de que o avião com Glenn Miller teria sido abatido pelos alemães - o fato aconteceu em plena Segunda Guerra Mundial - nunca foi convincente.

Estávamos já na calçada e não tive como rechaçar a opinião do português. Casos estranhos dão margem a interpretações não menos estranhas. Há um momento em que a lógica não conta a nosso favor porque se mostra insuficiente para nos ajudar a rebater afirmações mesmo que nos pareçam absurdas.

Depois que me despedi do português fiquei pensando no quanto ainda desconhecemos sobre o universo no qual se situa o nosso planeta. Esse vazio enorme que nos cerca, o espaço infinito que nos surge sob a forma de estrelas e constelações é um mistério que talvez nunca cheguemos a desvendar.

O desaparecimento do avião da empresa Malayasa é um mistério que estimula a nossa imaginação. Continuamos torcendo para que os passageiros estejam vivos.

O sentido da morte

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O poeta Ferreira Gullar escreve sobre gatos. Ele diz ter um felino siamês com o qual convive em seu apartamento. Entre outras afirmações lembra-nos o poeta de que só nós, humanos, temos consciência de que vamos morrer. Os gatos vivem cada dia sem a noção de que a morte os espera, talvez nisso resida a felicidade deles.

Sempre vejo com apreensão as tais pesquisas que visam aumentar a duração da vida. Na minha concepção vivemos o tempo necessário, em acordo com os nossos limites de aptidão física. Mas, pergunto: caso fosse possível manter o vigor físico aos 100 anos de idade ou mais interessaria continuar vivendo?

Ninguém em sã consciência quer morrer, excetuando-se os suicidas, homens-bomba e afins. A vida é difícil para muita gente, mas, ainda assim, agarramo-nos a ela sonhando com uma eternidade impossível. Mas, não morrer?

As histórias de vampiros nos dão ideia do sofrimento em que pode se transformar a vida eterna. Uma das grandes maldições que pairam sobre vampiros é aquela de serem imortais. Não existe para eles a perspectiva de um fim e isso torna as suas existências mais trágicas ainda.

Mas, não somos vampiros. Darwin nos ensinou que resultamos de um processo de evolução o qual, sabe-se, está em andamento. O biólogo francês Jean-François Bouvet acaba de publicar livro no qual afirma que o principal fator evolutivo que atua sobre o homem atual é a modificação ambiental provocada por ele mesmo. Não se trata de uma evolução no sentido de Darwin, mas de uma retro evolução. Sinais desse fato são a puberdade precoce observada em meninas, o aumento de cerca de 5 cm na estatura dos franceses e o alarmante aumento da população de obesos. No caso da precocidade sexual é estranha a diminuição da fertilidade: nos últimos 50 anos houve redução de 40% da concentração de espermatozoides no sêmen, isso em escala planetária.

Segundo o biólogo a causa dessas mudanças ultrapassa os condicionamentos genéticos. sendo importantes as substâncias químicas como pesticidas e antibióticos. Para ele os avanços da medicina oferecem aos seres humanos a possibilidade de vida mais longa embora possibilidade de vida mais saudável esteja estagnada. O biólogo conclui afirmando que somos a única espécie que sabe que vai morrer, o que não representa que ter consciência sobre isso seja necessariamente melhor.

Não invejo os gatos, nem a totalidade de espécies para quem a morte não passa de um desconhecido acidente de percurso. Em suas últimas palavras Machado de Assis disse que a vida é boa. Boa, sim, mas pode até cansar.

Sumiço de avião

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Um Boeing 777 desapareceu duas horas depois de sair de Kuala Lumpur, capital da Malásia. A bordo 239 pessoas sobre as quais não existem notícias. Supõe-se que o avião caiu no mar, em águas do litoral do Vietnam. Equipes de socorristas trabalham o tempo todo buscando sinais do avião desaparecido.

Um grande acidente aéreo num país distante teria impacto menor não fossem as terríveis fotos de parentes dos passageiros, chorando desesperadamente. As fotos trazem até nós a dor de quem perdeu entes queridos e nos irmana ao sofrimento. Hoje se publica a fotografia de uma mulher em prantos, sendo amparada por seus familiares. Trata-se da mãe de um dos passageiros, inconsolável com a possível morte do filho.

Você tem medo de avião? Conheço pessoas que não entram numa aeronave de jeito nenhum. Um homem de boas posses e bastante curioso em relação a lugares do mundo jamais saiu do Brasil por medo de viagens aéreas. Para ele viajar só por terra.

Para quem tem medo de avião o argumento de que a possibilidade de acidente fatal é muito maior no trânsito de nossas cidades e estradas parece não fazer sentido. O fato é que uma vez embarcado e no ar perde-se o controle sobre o próprio destino. Dali não se pode sair. Caso algo aconteça à aeronave o que resta aos passageiros é contar com a sorte. Na impossibilidade de qualquer ato pessoal que possa evitar uma tragédia em curso talvez resida o medo que muita gente tem de avião.

Quando do acidente no Aeroporto de Congonhas no qual todos os passageiros morreram pela colisão do avião com um prédio ficamos aterrorizados com as imagens transmitidas ao vivo pela televisão. Seguiu-se à colisão um incêndio de grandes proporções de modo que praticamente nada restou da aeronave.

Passados dois anos do acidente em Congonhas li a entrevista de uma mãe que perdera dois filhos naquela ocasião. Ela os esperava no aeroporto e presenciou in loco toda a extensão da tragédia. Nas palavras dela embora passados dois anos ainda era insuportável a sensação de saber que seus dois filhos estavam sendo queimados em meio às labaredas que se espalhavam pelo prédio.

Ainda não se conhecem as razões do sumiço do avião desaparecido na sexta-feira. Não se afasta a hipótese de ato terrorista dada a presença de passageiros com documentos falsos. De concreto apenas o fato de que duas horas depois da decolagem o avião desapareceu misteriosamente.

Não há como evitar a sensação de mal-estar diante de uma tragédia de tal magnitude que tanto nos impressiona.

Execuções

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No Brasil não há pena de morte. Vez ou outra se ouve falar sobre um crime violento, absurdo, e se diz que o assassino deveria ser executado. Lembra-se daquele casal de jovens que foi violentado e assassinado pelo tal Champinha? Pois, na época, reconheceu-se que o assassino, então menor de idade, era um caso de solução impossível. Perguntou-se, a boca pequena, por que não se dava um fim ao monstro. Ele continua preso graças ao diagnóstico de que, uma vez solto, representa perigo iminente à sociedade. Tirar a vida de alguém é algo que ofende a natureza humana, embora os assassinos não deem a menor importância a isso.

Nos EUA a pena de morte vigora em vários Estados. Nos meus tempos de adolescente fiquei muito impressionado com o caso de Caryl Chessman. Ele era acusado de vários assassinatos, mas, depois de preso, dispensou advogados, estudou e escreveu alguns livros. O fato de ter sido condenado à morte teve repercussão mundial, despertando movimentos contrários à execução. Chessman morreu na câmara de gás em 1960. Ainda me lembro da face de constrangimento e da voz grave do diretor do ginásio quando interrompeu uma aula da tarde para anunciar que Chessman acabara de ser executado. A nós, jovens, escapava a dimensão dos crimes e a violência da execução.

Talvez por isso execuções sempre me causem horror desmedido. Semana passada uma médica atirou e matou o filho, a namorada dele e depois se suicidou. O crime vem despertando não só a curiosidade pública quanto a inquietação dos especialistas. O que teria levado uma mulher de até então vida absolutamente sem reparos a esse ato extremo?

Leio que quatro jovens - a maior delas com 19 anos - foram executadas ontem. Não se sabe por que nem por quem. De repente quatro jovens são eliminadas sumariamente sem que se faça ideia da motivação dos crimes.  Simples assim. Terrível assim.

A cada dia a vida humana vale menos. Até a algum tempo as vidas eram roubadas por bandidos perigosos. Hoje em dia qualquer um se acha no direito de matar. Bandidos que agem sobre motocicletas no trânsito não têm a menor dificuldade em atirar, executando inocentes escolhidos ao acaso. Dias atrás prenderam um rapaz que confessou ter matado quatro pessoas a facadas. Nada de remorso, talvez nem premeditação. Matou por matar.

No mercado das relações humanas a morte passa a ser cormercializada a preços de ocasião. Execuções sumárias passaram a ser moeda de troca de bandidos contra pessoas que simplesmente se confundem ou demoram a dar a eles o que exigem. Acontece a toda hora. A próxima vítima pode ser você - ou eu.

A preferência do público

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Eram três homens sobre um palco mal ajambrado. Cada um trazia sobre o corpo vestígios de fantasias nunca acabadas. Dos três destacava-se um sujeito alto, bonachão, cara de gente boa e capaz de curiosos movimentos muito engraçados. Mas, mexiam-se os três ao som da banda que tocava o axé que se tornou a música do carnaval.

Cabia ao público da rua decidir quem, entre os que se apresentavam, seria o vencedor como melhor folião. O cara com a máscara de Batman fazia o possível. O outro era um baixinho que pulava o tempo todo, meio desconectado da música, mas dando suor e sangue no que fazia.

E veio o som do Leco Leco. O sujeito alto esmerou-se, deixando para trás os outros concorrentes. Até que que a banda parou e chegou o momento do apresentador perguntar ao público, isso após apontar cada um dos concorrentes: ‘É esse?”, ‘É esse?”, ‘É esse?”.

E o “esse” escolhido foi o baixinho que macaqueara o tempo todo, pulando como se disso dependesse salvar a vida dele.

Pois não é que gostaram do baixinho? De nada valeu a melhor performance do sujeito alto que saiu do palco com um sorriso forçado estampado no rosto. Valeu ali a preferência do público gerada talvez por códigos complexos, difíceis de serem assimilados.

Em ano de eleições no qual será decidido o futuro governo do país dá certo medo pensar na preferência do público. Que fatores serão levados em conta pelo eleitor no momento em que se recolher à solidão da urna?

Pois é dessa estranha conjunção de tendências, simpatias e interesses que será eleito aquele(a) que governará o Brasil nos próximos anos. Pena que em grande parte dos casos a escolha não será feita visando-se objetivamente o que o país e os cidadãos precisam para garantir uma vida melhor.

Mas, falar sobre isso talvez realmente não importe. Afinal, no fim das contas quem manda no jogo é a preferência do público.

Carnaval proibido

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Numa de suas crônicas para “A Semana” Machado de Assis lamenta a proibição de realização do carnaval:

“É crença minha que, no dia em que Deus Momo for de todo exilado deste mundo, o mundo acaba… Não veremos Vulcano estes dias, cambaio ou não, não ouviremos chocalhos, nem guisos, nem vozes tortas ou finas. Não sairão as sociedades, com seus carros cobertos de flores e mulheres, e as ricas roupas de veludo e cetim.”

A crônica é de 4 de fevereiro de 1894. Os festejos carnavalescos tinham sido proibidos devido à situação política anormal no Rio de Janeiro, então capital da República. 1894 foi o ano da eclosão da Revolta da Armada comandada pelo Almirante Custódio de Melo que se opunha ao governo do presidente Floriano Peixoto.

Não sei dizer sobre alguma outra proibição do carnaval de rua ao longo de nossa história. Desde que me conheço por gente os carnavais acontecem ano após ano para a alegria geral da nacionalidade.

Entretanto, existe por aí muita gente que não gosta de carnaval. Todo ano os canais de TV apresentam reportagens sobre pessoas que aproveitam esses dias para descançar, afastando-se da folia carnavalesca. Há quem prefira visitar museus, passear ou simplesmente recolher-se à meditação. São minoria. O carnaval arrasta multidões. São dias de loucura nos quais os blocos, trios elétricos e escolas de samba se tornam os mais importantes pólos de atração do país.

Cada brasileiro trás Em sua herança o gene do carnaval. Há algo maior que o simples interesse ou gosto nessa inclinação natural do brasileiro em cair na folia. Por isso, Machado de Assis parece nos falar sobre o carnaval de hoje. Mudaram os enfeites e os aparatos, mas o folião é o mesmo em todas as épocas.

No escuro

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Anuncia-se para breve nova crise energética. Como sempre o governo desconversa: tudo vai bem e seguirá bem, não há com o que o povo se preocupar. A economia do país patina, mas tudo vai bem e seguirá bem. O Brasil é grande e forte, proprietário de recursos formidáveis. No mais por que se preocupar se tudo está nos trinques? O que confunde o povo é essa imprensa derrotista sempre pronta a divulgar a parte do copo vazia. Da parte cheia, dos avanços, do progresso, não se fala porque notícia boa não vende. É o que se diz, o que se ouve. Quem não concorda é derrotista, de repente até terrorista.

O mundo fala sobre esse Brasil que está mal das pernas, mas muito longe de ser paciente terminal. São necessários ajustes, mudanças, algumas delas radicais. Por que não se fazem mudanças? Bem, é que aí, aí…

A história do Brasil é feita de improvisos. Improvisou-se um Imperador, improvisou-se uma República, improvisou-se uma Revolução em 1964, improvisou- se uma democracia em 1985. É como um terno cortado pelas mãos de um bando de alfaiates que nunca se entenderam. Deu no que deu. Pior: avança com rumo incerto.

Muita gente mama nas tetas da viuva, a corrupção é parte integrante da cultura política do país. Mas, pergunta-se: afinal, o Brasil tem jeito?

Ah, tem jeito sim. Eis aí um país irreverente, capaz de sobreviver em acordo com a música tocada. Como dança bem esse Brasil. De que passos maravilhosos é capaz. País mestre em safar-se de situações absurdas para as quais parece não existir solução.

Discordo da letra da música que diz quero Brasil não conhece o Brasil. Olhe, o Brasil se conhece muito bem. Sabe a fundo o tipo de gente em que nos transformamos. Bom jogador que é o Brasil guarda suas cartas na manga e volta e meia nos surpreende.

São oito horas da noite e a luz ainda não voltou. No país onde não existe ameaça de crise energética continuamos no escuro. Não ria isso é o Brasil.

Escrito por Ayrton Marcondes

2 março, 2014 às 9:20 pm

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