Arquivo para julho, 2014
Explosões solares
Dias atrás aconteceu grande explosão solar. Cientistas disseram que tivemos sorte. As radiações emitidas pelo Sol atingiram região pela qual a Terra já havia passado em sua rotina de translação. Caso a Terra tivesse sido atingida teríamos voltado ao século 19 tamanhos os estragos cujos reparos demandariam bilhões de dólares.
Nossa! Estamos mesmo expostos. A sorte, o acaso, impediu que fôssemos atingidos. Então me permito dizer uma bobagem: os cientistas deveriam ser proibidos de continuar suas pesquisas sobre o Cosmos. De que adianta sabermos que poderíamos sofrer muito por conta de uma grande erupção solar se nada, absolutamente nada, poderíamos fazer a respeito disso?
Que dizer dessas notícias que correm, afirmando que há um enorme déficit de luz ultravioleta no universo favorecendo a hipótese de “luz escura”? A expansão do universo seria impulsionada pela luz escura. Está faltando, portanto, luz no universo. E daí?
Em junho deste ano a NASA detectou três gigantescas explosões solares em dois dias. Essas explosões provocam tempestades com a emissão de partículas no espaço que podem chegar à atmosfera terrestre. Consequências? Muitas, a começar pela interferência em sistemas de comunicação e aparelhos eletrônicos, linhas de transmissão em alta tensão, transformadores, GPS, satélites e até mesmo os seres humanos podem ser atingidos pelas partículas com riscos de desenvolvimento de câncer de pele.
Não há como não pensar sobre a insegurança do mundo em que vivemos. E também pensar que entre nós proliferam as disputas, aviões são abatidos, eclodem guerras… Alheios ao que nos cerca continuamos em nossas querelas insolúveis.
Dias atrás li artigo de uma jornalista na qual ela se perguntava como as pessoas procedem para conviver com tanta notícia ruim. Na verdade é preciso se criar um escudo que sirva como anteparo aos acontecimentos negativos que teimam em não parar de acontecer.
Outro dia um rapaz me disse que a solução seria uma mudança geral de mentalidade, com valorização de coisas que realmente importem ao bem comum. Era um jovem que me dizia essas palavras em cujo conteúdo infelizmente é impossível acreditar venha a acontecer.
Anão diplomático
Não sei se você que já rompeu a barreira dos 50 anos de idade e ainda sonha com um mundo mais justo. Igualdade de direitos, corrupção banida, acesso a bens como moradia, serviços de saúde, redução da violência, redes de esgoto, ambiente saudável, meios de transporte público eficientes, etc. Confesso que já não creio que até o fim dos meus dias terei a oportunidade de viver num país assim.
Aliás, bem ao contrário. Ao que parece a capacidade de entendimento não é mesmo atributo da humanidade. Sobre todas as tentativas de entendimento entre pessoas interpõe-se os interesses. É em função dos interesses que eclodem disputas terríveis, ódios irremediáveis, fanatismos, divergências de toda ordem e mesmo guerras.
No momento está em curso a questão entre Israel e a Faixa de Gaza cujo resultado, até agora, é a morte de mais de 1 mil pessoas. A Faixa de Gaza não passa no mapa de uma espécie de linguiça com cerca de 360 Km². Trata-se de área inferior, por exemplo, à do município de São Paulo. Eis que ali são descarregados mísseis de Israel que, em troca, recebe mísseis enviados pelo Hamas. Ocorre que as baixas do lado de Gaza são muito maiores que as verificadas no território de Israel.
E nós com isso? Não é que a zona de beligerância fica muito longe daqui e em nada nos afeta? Sim e não, principalmente não. De repente a modorrenta chancelaria brasileira tem um surto de intervenção internacional e condena Israel pela desproporcionalidade dos ataques e número de vítimas. Ao que Israel reage classificando o Brasil como anão diplomático. Obviamente, o insulto vindo de Israel reclama os brios do governo brasileiro o qual, em todo caso, dá um jeito de contornar a situação, embora chamando o embaixador brasileiro em Israel.
O Brasil anda navegando nas águas insalubres do Mercosul e inexplicavelmente fica fora de blocos econômicos importantes como a União Europeia. O gigante econômico brasileiro parece estático diante da estagnação econômica, PIB baixo e inflação crescente. Critica-se a política externa do país pela ineficiência. Mas, de repente o gigante acorda e pronuncia-se contra a desproporção no embate entre Israel e a faixa de Gaza. E toma na orelha a pecha de “anão diplomático”.
Já fomos melhores. O Brasil é país de dimensões continentais no qual vive gente que trabalha. Há mais de cem anos o Barão de Rio Branco geria o Itamaraty mantendo diplomacia impecável. Sonhava ele com um país melhor. Morreu no local de trabalho e seu enterro parou a cidade do Rio de Janeiro. Recebeu homenagens e respeito de seu povo.
Hoje em dia, por quem choraríamos acaso desaparecesse?
Talvez por isso eu tenha começado dizendo que até o fim dos meus dias não verei um mundo melhor. Os sonhos de um país forte e mais justo que animaram a minha juventude ficaram lá no passado. Não é possível resgatá-los. Nem confiar que as coisas melhorarão, milagrosamente.
O problema não está na condenação brasileira aos ataques de Israel, ato acertado. Nesse caso o buraco fica mais embaixo porque ligado à ineficiente política externa que o país desenvolveu nos últimos anos.
Na câmara da morte
Qual a melhor maneira de matar? Sobre isso parece não haver consenso. Quando alguém é condenado a morte espera-se que a execução se realize sem sofrimento. Morte rápida e indolor, portanto.
Ao longo do tempo Hollywood produziu vários filmes sobre condenados presos no chamado corredor da morte, cada um esperando pela sua vez. As execuções são realizadas em câmeras de gás, cadeiras elétricas ou por aplicação de drogas na veia. Nos filmes bons atores representam os últimos momentos das vidas dos condenados cujas execuções se fazem diante de uma pequena plateia. Em geral não se percebem sinais de grande sofrimento: as mortes são rápidas.
Na prática nem sempre é assim. Quem viu pela TV o enforcamento de Saddam Hussein pode constatar que as coisas não se passam sem sofrimento. Mesmo nas execuções em câmaras fechadas ainda hoje se discute sobre a melhor maneira de abreviar o sofrimento.
Noticiou-se nesses dias o caso de um homem condenado à morte por ter matado a mulher e o pai dela. Tentou-se com ele uma combinação de drogas que, supunha-se, provocariam a morte rapidamente. Tal não se verificou. Foram duas horas de sofrimento até o desenlace final.
No Brasil não existe a pena de morte e há quem seja a favor dela. Crimes terríveis praticados por pessoas que atuam com refinada crueldade e frieza em geral nos fazem perguntar se não seria melhor condená-las à morte por não se acreditar que tais personalidades possam ser recuperadas. Diariamente acontecem casos de assassinatos tantas vezes gratuitos que privam famílias da presença de seus entes queridos. Trata-se de mortes inexplicáveis, cometidas por criminosos irrecuperáveis porque já se perderam na senda do crime. Ainda assim, pesa sobre o julgamento geral o fato de serem humanos daí a dificuldade em aceitar a condenação fatal.
Nos países onde existe pena de morte há que fazer uso de métodos que não provoquem sofrimento no momento das execuções. Quanto a mim nunca fui favorável à pena de morte talvez porque tenha acompanhado de perto aos fatos que terminaram com a execução de Caryl Chessman. Chessman morreu em 1960 e sua execução foi noticiada em todo o mundo. Na época eu terminara a primeira parte do ensino fundamental e tínhamos um professor que diariamente nos falava sobre o caso. De tal forma nós, meninos, fomos envolvidos no caso que torcíamos para que Chessman fosse poupado. A partir de então sempre me pareceu que penas perpétuas seriam melhor opção para a paga de crimes.
O nosso mundo está acabando
Ouvi a frase acima de um homem na sala de espera do dentista. Acabara ele de ler sobre a morte do escritor Ariano Suassuna e concluíra sobre o fim do mundo. Concordei com ele para não entrar em discussão. Mas, depois me perguntei sobre o significado do “nosso” e a que “mundo” o homem se referia.
Evidentemente a morte de um renomado escritor nada tem a ver com a possibilidade de fim do mundo. Mas, o problema está no “nosso mundo”. O “nosso mundo” é aquele ao qual estamos ligados pela percepção dos acontecimentos. Nesse “nosso mundo” algumas pessoas e tornam icônicas, referências às quais nos apegamos. De fato, Ariano Suassuna era para nós uma referência importante. Um grande cronópio como diria o escritor argentino Julio Cortázar. No momento em que uma referência da importância de Suassuna morre não há como não dizer que o “nosso mundo” está acabando. Entenda-se esse “nosso mundo” como o “meu mundo”, a minha circunstância, conjunto de significados que compõem o meu imaginário.
O fato é que as pessoas a quem nos ligamos de diferentes modos simplesmente desaparecem, deixando atrás de si um vazio que hoje em dia não se recompõe. Não há substituição ativa de peças valiosas no interessante jogo da vida. Escasseiam ainda mais as já tão raras personalidades que emprestam fôlego ao dia-a-dia do mundo. Basta dizer que houve tempo nesse mesmo Brasil em que eram vivos e atuantes Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Rubem Braga, isso para citar apenas três nomes da literatura que bailam na memória. Eles e muitos outros eram ícones de uma época. Podíamos abril o jornal numa manhã de domingo e ler um poema de Drummond escrito de véspera.
Tenho que concordar com o que disse o homem na antessala do dentista. O “nosso/meu mundo” está acabando. O que me leva a pensar sobre a ausência de ícones em nosso dia-a-dia. Afinal, quem é hoje referência no Brasil? Quem poderíamos citar, por exemplo, como grande estadista no campo da política? Na arquitetura depois da morte de Niemayer? Na poesia?
A recente Copa do Mundo serviu para que constatássemos não existirem mais ícones em nosso futebol. Hoje, de norte a sul do país concorda-se que não temos mais craques. A todo momento cronistas esportivos referem-se à safra medíocre de jogadores atualmente jogando no país ou em clubes fora dele. Os mais otimistas preferem falar numa entressafra que logo será substituída por nova safra de ídolos iguais aos nossos grandes jogadores do passado. Será?
Um mundo sem referências torna-se pobre e convida à mediocridade. A crise de boas referências no ambiente público torna o cotidiano carente de exemplos. Ao homem comum deixa de existir o modelo em que se mirar. Talvez por isso os dias atuais sejam tão pálidos, com gente andando por aí sem saber bem que caminho seguir.
Ficção e realidade
A ficção é rica em situações que bons escritores descrevem com minúcias. Um bom escritor é capaz de nos fazer viver com intensidade todos os momentos de um acidente aéreo. Obviamente existem muitas maneiras de descrever uma situação como essa. Uma delas é partir de personagens que ainda estão no aeroporto, esperando pelo momento de embarque. Depois a rotina dentro do avião até o momento em que as coisas se complicam. Flashbacks de algumas pessoas mostrando detalhes da vida delas ajudam a criar o clima de horror quando o acidente finalmente acontece. A morte colhe pessoas em trânsito sem avisá-las, interrompendo vidas precocemente. O desespero de familiares em busca de notícias, a incerteza sobre a possibilidade existirem sobreviventes, tudo isso concorre para dar à ficção um cunho de veracidade que a aproxima da realidade.
Há filmes assim nos quais as imagens nos permitem participar quase que ativamente da trama. Entretanto, nenhum romance, nenhum filme jamais logrará aproximar-se do impacto causado por um acidente real, que se sabe irreversível, provocando mortes e perdas irreparáveis. Por mais que seja apregoada a segurança do transporte aéreo acidentes envolvendo aviões nos impressionam muito. Não há como se medir a extensão de uma na tragédia na qual centenas de pessoas perdem suas vidas, deixando atrás de si um vazio que seus familiares jamais conseguirão preencher.
O recente caso do avião da Malasya Airlines derrubado por um míssil que o atingiu no espaço aéreo situado na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia pertence à categoria dos acidentes inaceitáveis. Tal o horror das imagens que temos visto tiradas no lugar onde a aeronave caiu e a chuva de corpos relatada por pessoas que presenciaram o momento do acidente que se torna impossível evitar o mal-estar provocado pela triste ocorrência. Uma senhora relata, por exemplo, a queda do corpo de uma mulher nua que rompeu o telhado caindo dentro de sua casa. Fotos mostram corpos ou pedaços deles que se espalharam numa área de 15 km em torno do local do acidente.
A notícia de que essa tragédia de enormes proporções aconteceu porque o avião foi abatido pelo lançamento de um míssil é intolerável. Civis a bordo de uma aeronave perderam suas vidas porque rebeldes ucranianos decidiram abater o avião no qual viajavam, lançando contra ele um míssil. As pessoas que morreram não estava em guerra, nem participando de qualquer conflito. Cerca de quase 100 dos 300 mortos iam a Auckland para participar de um congresso sobre a AIDS.
Ontem foram divulgadas fotografias de algumas pessoas que morreram no acidente aéreo. Olhar para faces de pessoas que já não existem causa forte impressão. Não se pode evitar o estranhamento em relação a seres humanos que fogem à responsabilidade pela tragédia e aqueles que a executaram.
Agora estão em curso as trocas de acusações. Infelizmente, não se deve confiar que alguém venha a ser punido por tamanha catástrofe. Aliás, mesmo que existam punições elas nem de longe serão proporcionais ao crime cometido.
Vicente Feola
Para quem não sabe Vicente Ítalo Feola foi técnico da memorável seleção brasileira que conquistou a Copa do Mundo de 1958. Aquele primeiro título mundial, de todo modo surpreendente, empolgou um país subdesenvolvido e atrasado. Dava-se um grito profundo. ecoando em todo o mundo a força daquele desconhecido Brasil e sua gente. Colocava em pratos limpos a tragédia de 1950 no Maracanã, afirmando que o brasileiro mostrara no estrangeiro o futebol como ele é.
O grande mérito de Feola foi montar um time que jogava no esquema 4-2-4 que se convertia num 4-3-3 quando o ponta esquerda Zagalo voltava para auxiliar o meio do campo. Depois de 58 o Brasil foi bicampeão em 1962 com o técnico Aimoré Moreira. Em 1966 Feola foi novamente o técnico e o Brasil teve participação melancólica, eliminado nas oitavas, perdendo para Portugal que tinha o grande Eusébio em seu time. E olhe que na seleção de 66 havia Pelé no escrete brasileiro.
Ontem falei sobre a seletividade da memórias que tendem a preservar mais erros que acertos. Sobre Feola sempre recaem fatos lendários como o de que dormiria durante os jogos das equipes que treinava. O fato é que Feola era homem extremante calmo, embora exigente. Passava a imagem de um sujeito bonachão, gordo como era. Não teria pulso e deixaria os jogadores decidirem sobre a forma de jogar. Na Copa de 58 a entrada de Garrincha e Pelé no time teria se dado por interferência dos jogadores. Assim, de um técnico com tais características só poderia resultar a derrota de 1966.
Pois toda vez que se fala sobre Vicente Feola tem-se que passar por essas histórias que comprovadamente são inverídicas. Relatos de jogadores ao tempo em que Feola era técnico da seleção desmentem categoricamente as histórias que correm sobre ele.
Vi Vicente Feola de perto. Eu era um rapazote em 1966 quando a seleção brasileira foi se preparar em Campos do Jordão para a Copa do Mundo. Vale lembrar de que naquela época o mundo era outro e não existia o assédio que hoje se verifica sobre celebridades. Os treinos dos jogadores aconteciam num campo de futebol aberto com entrada livre a quem quisesse assisti-los. Naquele campo vi treinarem grandes craques que fizeram história no futebol brasileiro: Garrincha, Gilmar, Belline, Djalma Santos, Zito e Pelé isso só para citar alguns.
Vicente Feola morreu em 1975 e foi enterrado no cemitério do Araçá em São Paulo. No dia do enterro eu trabalhava num prédio defronte o cemitério. Quando o pequeno cortejo chegou subi ao último andar do prédio para observar o enterro. Guardei a imagem de homens carregando um caixão. Dentro dele Vicente Feola, um campeão do mundo.
A força do erro
Ouvi hoje no rádio do carro um jornalista esportivo comentando que Felipão será mais lembrado pelo fracasso de 2014 que pela conquista de 2002. Para o jornalista a vitória no Mundial de 2002 será no máximo lembrada por 20% da população quando se falar no nome de Felipão; os restantes 80% se lembrarão imediatamente da tragédia de 2014.
Não sei de onde o jornalista esportivo tirou essas porcentagens, provavelmente de sua cabeça. Mas, independentemente delas não há como não concordar com o fato de que existe maior probabilidade de Felipão ser lembrado pela derrota que pela vitória.
Hoje morreu o árbitro de futebol Armando Marques que fez história nos gramados, apitando jogos importantes. Para que se tenha ideia de sua importância entre 1962 e 1974 só não apitou uma final de Campeonato Brasileiro. Era disparado o melhor árbitro do país. Conhecido por seu temperamento forte e rigor nas arbitragens terá feito muitos inimigos ao longo de sua carreira. Era duro, mas honesto. Não se tem notícia de que tenha propositalmente favorecido a alguma equipe ou recebido dinheiro ou favores de algum clube.
Depois que deixou de apitar Marques esteve à frente da Comissão Nacional de Arbitragem por oito anos, até 2005. Recentemente pudemos vê-lo num talk show da televisão, como sempre dizendo sem medo aquilo que pensava.
Hoje li em jornais do país alguns obituários de Armando Marques. Em todos eles destacaram-se seus mais conhecidos erros como o de ter anulado um gol legítimo do Cruzeiro que resultou na conquista do título brasileiro pelo Vasco. Mesmo na hora em que se despediu do mundo não deixaram de pesar sobre a imagem marques os erros que cometeu.
Mesmo a longa carreira de acertos de Armando Marques não serviu para que seus erros não fossem lembrados no dia de sua morte. Os erros pesam sempre mais que os acertos, pode-se generalizar essa conclusão? Caso seja assim talvez Felipão nunca se livre da responsabilidade a ele atribuída pela humilhação sofrida pela seleção brasileira diante da seleção alemã. Ressalte-se que ele tem insistido na hipótese do “apagão” que teria obnubilado os jogadores nacionais, permitindo uma enxurrada de gols alemães em poucos minutos. Mas, será que nos lembraremos do “apagão” se é que existiu? Ou da derrota de Felipão?
Nas profundezas
Você pisa o chão e sente-se seguro. Exceto quando de terremotos a Terra é estável e pode-se confiar nela. Quase nunca se pensa no que existe abaixo de onde pisamos. Lembra-se daquela historinha de crianças na qual se dizia que se um buraco fosse cavado chegar-se-ia do outro lado do mundo, no Japão, por exemplo?
Vez ou outra a Terra dá ares de sua graça movendo placas tectônicas. Quando isso acontece nas profundezas marinhas geram-se terríveis tsunamis com consequências devastadoras para lugares próximos banhados pelos mar.
Sinceramente, o melhor é não pensar muito no que existe debaixo do solo onde pisamos. Que nos interessa pensar no núcleo metálico quente que existe no centro da esfera da Terra?
Agora uma análise de ondas sísmicas permitiu concluir que a 640 km da superfície, na região conhecida como manto, existe um oceano. Não se trata de água no estado líquido, mas dentro de minerais. Acredita-se que os oceanos se formaram por desgaseificação na região do manto, chegando a água à superfície. Talvez essa região do manto funcione como uma esponja, regulando o volume dos oceanos.
Essas descobertas e conclusões de cientistas mais se parecem com a abertura de caixas-pretas para ver o que têm dentro. Transferem a ideia de segurança temporária, algo que de uma hora para outra pode se desestabilizar, virando o mundo que conhecemos de ponta cabeça.
Isso é mais ou menos como a tal história da possível existência de alienígenas. E se numa bela manhã acordarmos com naves estranhas voando nos nossos céus? E se os invasores forem belicosos? E se a realidade imitar a ficção e formos visitados por seres em busca de alimento para o que será necessário o extermínio da espécie humana?
Conversei com um amigo sobre a insegurança do mundo em que vivemos e a precariedade de nossa existência tão dependente de forças que na verdade desconhecemos. Ele me disse que em minha infância devo ter lido gibis demais. Minha mente seria povoada por imagens catastróficas como a desses filmes dos americanos nos quais Nova York é sempre destruída.
Pode até ser. Mas, será mesmo que estamos seguros?
Questão de dinheiros
Ainda não nos livramos do assunto Copa. Alemanha campeã, Argentina derrotada, jornal Olé de Buenos Aires dizendo que os brasileiros não conhecem o significado da palavra dignidade. A ofensa se deve ao fato dos brasileiros terem torcido pela Alemanha. Mas, que fazer quando está em jogo uma rivalidade intestina entre o nosso futebol e o do país vizinho?
Não assisti à final do mundial porque não me interessava a vitória de nenhum dos times. Confesso que me incomodava mais a possível vitória da Argentina, nosso tradicional rival. Propenso a aceitar melhor a conquista alemã creio que fiquei mais ou menos satisfeito com o resultado. Mas, não deixei de me incomodar com a tristeza dos torcedores argentinos que invadiram o nosso território trazendo tantas esperanças. Imagino o que esteja sendo o retorno dos milhares de veículos à Argentina depois da derrota.
O que me incomoda na verdade são as notícias sobre os dinheiros da Copa. Em primeiro lugar a questão da máfia dos ingressos. Um amigo tentou nas madrugadas comprar ingresso para qualquer jogo no site da FIFA. Tentativas frustradas acabou indo ao Itaquerão na hora de um dos jogos, esperançoso de que alguém quisesse vender um ingresso. Encontrou cambistas que em cima da hora ofereciam ingressos a R$ 2.500,00. Voltou para casa sem assistir ao jogo, perguntando-se como aquelas pessoas que estavam dentro do estádio tinham conseguido seus ingressos.
A polícia prendeu o chefe da máfia dos ingressos que insiste em se declarar inocente. Publica-se que a quadrilha esperava lucrar 200 milhões com o negócio de ingressos durante a Copa. A ver no que essa história vai dar.
Hoje de manhã atendi a um homem que em meio à conversa se disse indignado/inconformado com a premiação dos jogadores brasileiros. Cada jogador da seleção recebeu R$ 800 mil pela sua atuação na Copa, defendendo as cores da seleção. Todo esse dinheiro como recompensa pela mais vergonhosa atuação de uma seleção nacional em toda a sua história - gritou o homem.
De fato. Tomaram dez gols em duas partidas, sete só no jogo com a Alemanha. Agora estão pegando as malas e se mandando para o exterior. Dentro das malas a módica quantia de 800 mil. O homem repetia isso, enfurecido.
A revolta do homem me fez pensar por que, afinal, não nasci bom de bola. Tá bom, não precisava nem receber os R 8 milhões que Neymar percebe por mês. Tá bom, 1 milhão já estava mais que bom. Ou os tais 800 mil. Pensado melhor deixava por 500, quem sabe até por 200.
Disse ao homem que o nosso problema é não sabermos jogar bola. Ele não gostou. Fechou a carranca, mudamos de assunto e logo ele se foi, indignado.
Passeio de um homem de 110 anos
Um homem de 110 anos faz um passeio pelas ruas de Santiago do Chile. Circunspecto, caminha com seu passo lento e não cumprimenta ninguém. A quem tenta detê-lo para uma conversa ou abraço ignora. Em seu trajeto percorre ruas conhecidas das quais provavelmente sinta saudades. O passeio dura quatro horas. Pessoas se reúnem para ver o homem que passa. Até que ele para defronte uma porta que se abre e entra, desaparecendo.
Pablo Neruda passeou em Santiago na comemoração dos 110 anos passados de seu nascimento. Morto há 40 anos a presença do poeta só foi possível graças a um holograma. Pudemos vê-lo novamente, filmá-lo e divulgar as imagens pela internet. Encontrei-me com Neruda hoje pela manhã ao ligar o computador e vê-lo como holograma. Voltaram-me as palavras de suas memórias no livro “Confesso que vivi” publicado depois da sua morte.
Pablo Neruda, grande poeta, foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. Orgulho do povo chileno ele faleceu 12 dias depois do golpe militar em que Augusto Pinochet tomou o poder de Salvador Allende. Ainda hoje perduram suspeitas de que teria sido assassinado. Marxista, Neruda poderia representar um foco de resistência à terrível ditadura estabelecida com a chegada de Pinochet ao poder.
Há poucos anos os restos mortais de Neruda foram exumados e concluiu-se que de fato morrera em consequência de um câncer na próstata. Mas, seu motorista na época em que morreu insiste em afirmar que seu patrão foi assassinado.
Aquela América Latina sob o domínio de ditaduras militares que conversavam entre si e perseguiam opositores pertence ao passado. Allende matou-se dentro do Palácio de La Moneda, em Santiago, resistindo ao golpe militar. Neruda morreu no leito de um hospital. Ambos fizeram história. O legado de Pablo Neruda são coleções de poemas, belíssimos, encontrados em seus livros. Como esse:
Quero apenas cinco coisas.
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser… sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.