Arquivo para dezembro, 2014
Ameaça comunista?
Há quem fale com nostalgia sobre o regime militar iniciado em 1962. De fato o país atravessava fase convulsa. A inesperada renúncia de Jânio elevado ao poder e galvanizando as esperanças de milhões de brasileiros naufragara. O governo Jango mantinha-se, a duras penas, num país em frangalhos. No comício do dia 13, na Central do Brasil, Jango lançava bases para mudanças necessárias, mas entendidas pela oposição como de inspiração comunista. Daí para a revolta de 31 de março de 64 não foi mais que um passo. Militares tomaram o poder sem encontrar resistência, apoiados pelo governo de Lyndon Johnson. A ideia, a princípio, era, não muito tempo depois, convocar eleições e devolver o país ao sistema democrático. Não foi o que se viu. Passaram-se 20 anos de ditadura militar com abusos que até hoje nos espantam. Se do ponto de vista de desenvolvimento devem-se aos militares realizações o mesmo não se pode dizer em relação às liberdades individuais, tolhidas ao máximo após o AI-5.
Todo mundo sabe disso, mas não custa repetir. Também não custa lembra-se de que nas décadas de 60 e 70 o mundo vivia sob o impacto da Guerra Fria. A bipolarização fazia-nos reféns do alinhamento com os EUA. A dissidência de Cuba quanto ao alinhamento resultara em consequências que chegaram ao bloqueio continental determinado pelos EUA. Como se vê o comunismo era, na época, considerado como ameaça palpável daí ser temido pelas classes dominantes do país.
Agora um salto de pouco mais de 50 anos em direção à realidade atual. O fato é que, após a vitória de Dilma no segundo turno das eleições, tem recrudescido uma onda de protestos nos quais se pede o impeachment da presidente e revela-se que uma nova ameaça comunista está a rondar o país. Se compararmos o momento atual àquele em que Jango foi deposto veremos ser exagerada a hipótese de um avanço comunista. O bolivarianismo do Brasil é uma peça distante, tão distante que seria irrealizável. Entretanto, há quem se movimente para protestar o que não deixa de ser bom. Noticia-se que o presidente Obama recebeu petição assinada por mais de 140 mil pessoas no qual se apontam os perigos que rondam o Brasil. Afirma-se que as eleições não foram limpas dado que não se pode confiar em urnas eletrônicas; que os pobres votaram no governo por receio de virem a perder benefícios como o Bolsa Família; e há menções de que a solução seria a volta do regime militar. O perigo é de que o Brasil se torne uma nova Venezuela.
Assim, um povo descrente e temeroso da ameaça comunista começa a se mobilizar dado o governo estar a 11 anos nas mãos de um partido que se perdeu na corrupção, essa a conclusão final dos que rechaçam o governo da presidente reeleita.
O fato é que o mundo mudou. Vez ou outra algum intelectual avisa sobre a possibilidade de ressurgimento da bipolarização no mundo. Mas, a ameaça comunista surge como algo impossível de acontecer no Brasil de hoje. Verdade que temos de manter os olhos sempre bem abertos. Mas, não custa separar o trigo do joio como, por exemplo, podar certos exageros tal qual pretender o retorno da ditadura militar ao país. Como dizia Churchill “A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.
Pacto com o demônio
Dizia-se que o Chico tinha pacto com o demônio. Lembro-me bem desse homem forte, tronco e braços musculosos, roupas quase sempre rasgadas. Durante o dia era carregador de caminhões sobre os quais lançava sacos de 60 kg. Ao anoitecer começava a tortura dele. Errava pela longa rua de terra, a cada instante voltando-se para escorraçar alguém que o acompanhava. Alguém invisível, diga-se. A essa sombra que parecia jamais deixá-lo em paz o Chico dirigia toda sorte de impropérios. Inutilmente, aliás. Mas, se era a sina dele, que fazer?
O fato é que a assombração do Chico despertava toda sorte de suposições. Contava-se que ele fora casado e matara a mulher que agora o punia, seguindo-o. Entretanto, a versão mais corrente era a de que o Chico tinha às costas o próprio diabo. Não se sabia quando, onde, nem por que, mas era certo que o Chico fizera pacto com o demônio que, mais tarde, viera para cobrá-lo. Havia quem jurasse ter ouvido da boca do Chico o nome “diabo” durante suas imprecações. O certo é que o “diabo” do Chico passou a fazer parte da pequena comunidade do lugarejo onde ele vivia. O Chico não era um só, “era dois”, ele e o seu demônio.
Quando o Chico morreu o corpo dele não passou pela igreja. Levaram-no direto ao cemitério e conta-se que nos últimos instantes chamaram o padre para a extrema unção que ele recusou urrando. Pessoas presentes aos últimos momentos do Chico dizim-se que os urros não eram do Chico, mas do demônio que finalmente entrara no seu corpo. Aliás, fora o demônio que afugentara o padre, impedindo-o de ministrar os derradeiros sacramentos.
Hoje foi preso em Mogi das Cruzes um homem que matou quatro pessoas. Atacou-as com um facão e as decapitou. Depois de preso confessou mais dois assassinatos e disse que razões dos crimes foram o pacto que fizera com o demônio e fazer parte de uma seita satânica. Segundo o criminoso sua intenção era matar 31 moradores de rua, consoante o pacto que fizera. Os moradores foram escolhidos porque não faziam parte do sistema, não pagavam impostos.
Como se vê pactos com o demônio não dão bons resultados. Na literatura existem inúmeras narrativas sobre pactos com o diabo em troca de vantagens terrenas. Mas, no final, o diabo sempre aparece para cobrar a sua parte, levando a alma de quem deve a ele para as profundezas infernais.
Você pode não acreditar na possibilidade de realização de pactos com o demônio. Em todo caso é aconselhável que deixe pra lá esse assunto. Se der na sua cabeça uma loucura dessas fuja da possibilidade. Vai que o diabo aparece e sela o pacto…
Se você tivesse conhecido o Chico nem um texto como esse arriscaria escrever.
O mistério do espaço
Assisti pela TV à entrevista de um professor especializado em cosmologia. Quatro entrevistadores perguntaram a ele sobre mistérios do Cosmos, particularmente sobre a possibilidade de vida fora da Terra.
Obviamente, tudo o que se disse durante a entrevista pertence ao território das hipóteses. Entretanto, parece haver consenso sobre o fato de que o homem não ficará preso ao planeta no qual se originou a espécie. Considera-se que a exploração do espaço que nos cerca é uma questão de tempo. É bom que se diga que esse “tempo” está atrelado à evolução da tecnologia. Não se sabe quando, mas chegará época na qual o homem disporá de meios capazes de se deslocar com velocidades incríveis. Ainda assim resta a questão das enormes distâncias avaliadas em trilhões de km quando se trata de estrelas mais próximas.
Segundo o professor não se trata de ficção a hipótese de meios de transporte mais rápidos. Lembra ele de que há pouco mais de 100 anos D. Pedro I utilizava cavalos, pouco mais tarde D. Pedro II viajou de trem e hoje temos o que temos. No tempo do Primeiro Império quem imaginaria que em futuro não muito distante existiriam aviões?
Outro assunto discutido foi sobre a possibilidade de vida fora da Terra. Citou o professor uma das luas de Saturno cuja superfície é coberta por gelo, mas sob essa camada existe água e mesmo águas quentes nas quais podem surgir microrganismos. E que dizer de Marte planeta que provavelmente será dos primeiros a serem explorados pelo homem?
O fato é que cada vez mais nosso olhar se alonga para fora do planeta. Enorme curiosidade e a necessidade de respostas a muitas indagações acerca do misterioso universo que nos cerca torna esse assunto cada vez mais frequente nas conversas. Há quem acredite na existência de civilizações avançadas, vivendo em outras partes do universo com as quais mais cedo ou mais tarde faremos contato. A existência de mundos semelhantes ao nosso e a descoberta deles é assunto apaixonante.
Está nos cinemas o filme “Interestelar” cuja trama tem alavancado muitas considerações sobre a possibilidade de um dia deixarmos o nosso planeta. Ainda não assisti ao filme, mas pretendo vê-lo dado que faço parte da massa de pessoas que querem saber um pouco mais sobre a origem da vida na Terra e as possíveis ligações entre os corpos celestes.