Arquivo para agosto, 2015
Armas de fogo
Meu pai tinha um revólver Smith-Wesson que herdou de meu avô. Vez ou outra se referia a essa arma que nunca chegou a usar. Ela tinha o significado de segurança de nossa família. Guardada numa gaveta repousava sempre pronta a entrar em ação caso fosse necessário. Mas, naquela época o mundo era mais tranquilo, a vida mais suave. Crimes aconteciam, mas não muitos. Se você lesse a Última Hora, jornal do Samuel Wainer, poderia ficar horrorizado com o noticiário sobre as violências de véspera. Diziam que se o jornal do Wainer fosse espremido sairia sangue…
Mas essas notícias soavam distantes. Na prática os assassinatos em cidades menores eram mais raros. Tanto que, quando aconteciam, geravam comentários generalizados. Usavam-se armas de fogo com parcimônia. Assim se passavam as coisas.
De modo que para quem carrega mais anos de vida em seu currículo as atuais mensagens divulgadas soam estranhas, senão incompreensíveis. Dias atrás 19 pessoas foram assassinadas em Osasco e Barueri. Outras 9 foram feridas. Banalizou-se o uso de armas de fogo e olhe que são proibidas. Novos tempos!
Já vão longe os dias em que armas de fogo permaneciam entre os guardados dos chefes de família à espera de um improvável momento de ação. Hoje moleques de 12 anos ou mais andam por aí armados e tiram vidas sem a menor cerimônia.
Há quem atribua mortes violentas a fatalidades. O sujeito estaria em lugar errado na hora errada. Creio que meu pai acreditava em destino e fatalidade. Acidentes não aconteceriam por acaso, estariam escritos na trajetória do acidentado. Aquele rapaz que passara pela nossa casa em direção a uma festa e que voltara morto após a cair da carroceira de um caminhão cumprira o que estaria previsto para ele. Nada mais.
Meu pai contava sobre conhecido dele que integrara as tropas brasileiras que lutaram na Itália no fim dafimbradounga Guerra. Terminado o conflito o soldado retornara à terra natal, trazendo consigo o trauma de vir a ser atingido por projétil de arma de fogo. Ora, isso seria impossível naquele final da década de 40 do século passado: cidade pacata na qual ninguém andava armado.
Aconteceu num domingo. O soldado que participara da guerra voltava da missa com a mulher. Ao passar defronte a casa de seu vizinho foi atingido por um tiro e morreu ainda na calçada. Naquele momento o vizinho limpava o revólver que dispara acidentalmente. A bala da qual o rapaz escapara na Itália viera encontrá-lo na cidadezinha onde vivia.
Fatalidade. Estava escrito.
Gente
Um amigo separa-se da mulher após quarenta anos de casamento. Ele me diz que simplesmente se tornara impossível continuar. Reconhece erros, mas que fazer se a vida a dois já não passava de um ritual de encenações?
Pergunto a ele sobre os filhos. Ora já são adultos, casados e com filhos. A turma entende a situação. Não é o que queriam, preocupam-se com a mãe. Aliás, a mãe segue irredutível, morando sozinha e longe. Por que a mãe não passa uns tempos na casa da filha até tudo se acomodar? Ora, ela sempre foi temperamental. Sangue quente o da mãe dizem os filhos ao pai. E u não sei? - pergunta o pai. Passei junto dela quase que toda a vida, eu a conheço muito bem, melhor que vocês.
No domingo o pai se reúne com os filhos e os netos. Almoçam juntos, depois levam as crianças a um parque. Falam sobre a mãe, sozinha lá, distante. Não seria possível o pai voltar atrás e retomar a vida a dois? Afinal, vocês já estão com quase 70 de idade… Um faz companhia ao outro…
O problema é que o pai - o meu amigo - tem a sede da novidade, de viver intensamente. Envelhecido, não está morto. Agradam-lhe as mulheres mais jovens. O sexo já não é o de antes, mas segue imperativo. Talvez tenha alguma namorada.
Pergunto ao meu amigo se realmente tem outra mulher. Ele sorri. Responde que essas coisas acontecem. Não diz claramente sim ou não, deixa vago o sim. Talvez a confissão o envergonhe. É um sujeito bem apessoado, embora um pouco pesado pela falta de exercícios.
O caso me faz lembrar de um parente que deixou a mulher e se meteu em muitas encrencas. Certa vez esse parente me disse admirar o meu pai que se manteve junto de minha mãe até o fim da vida, enquanto ele… Vá lá que o meu pai tinha os casos dele, mas família é família.
A regra muda com o passar do tempo. No passado o homem se arrogava o direito de ter casos fora do casamento, a mulher nem pensar. A união era mantida a qualquer preço sob juramentos falsos e muitas mentiras porque a todo custo havia que se manter a unidade da família.
Não sei o que dizer sobre o meu amigo. Se ele voltará atrás? Não creio. Está inseguro, perguntando-se se não fez besteira, mas voltar… Acho que talvez as coisas se ajeitassem melhor no tempo de meu pai.
Mona Lisa
Um parente dizia que o maior inimigo dos fantasmas é a luz elétrica. De fato no mundo iluminado de hoje parece que os fantasmas ficaram tímidos e não dão as caras.
Na minha infância o mundo era mais escuro. Morando em cidadezinha do interior tínhamos fornecimento deficiente de energia elétrica. Eram comuns as tais quedas de fase que por vezes persistiam por longos períodos. Acresça-se a isso as lâmpadas fracas que conferiam aos ambientes aquele clima de velórios.
Nas casas de antes os fantasmas aproveitavam-se do escuro, ficando à espreita de incautos e, principalmente, de crianças temerosas. Histórias de medo eram contadas e repetidas numa época em que as pessoas reuniam-se para longas conversas após o jantar - tudo muito diferente de hoje quando a TV e outros eletrônicos tornaram os papos furados quase desnecessários.
Em menino eu tinha medo de almas do outro mundo. Para mim se alguém morria imediatamente passava a fazer parte do exército dos fantasmas, dedicando-se a assombrar os pobres vivos que ficaram no mundo. Claro que também temia vampiros, lobisomens e outros seres fantásticos sobre os quais corriam narrativas de terem sido vistos por alguém nas redondezas. O fato é que seu sempre colocava alguns dentes de alho na janela do meu quarto de vez que, como se sabe, o alho afugenta vampiros. Crucifixos também.
Certas imagens me provocavam muito medo. Certa vez vi, pela primeira vez, uma fotografia da Mona Lisa do Leonardo da Vinci. Pois passei a ter medo daquele rosto com o sorriso enigmático que me parecia coisa do outro mundo. Quantas vezes, na cama e no escuro do meu quarto, eu pensava naquele rosto e temia que, de repente, ele surgisse em carne e osso pertinho de mim.
Agora leio que os cientistas acabam de descobrir o mistério do sorriso da Mona Lisa: a boca pode mudar de acordo com o ângulo em que é vista. A impressão de que a Mona esteja sorrindo muda quando olhamos diretamente para a boca: o sorriso parece inclinar-se para baixo, mudando o formato da boca.
Essa descoberta de cientistas britânicos surge para esclarecer a razão do meu medo em relação à Mona Lisa. Era do estranho sorriso e da boca que parecia mudar de forma que eu tinha medo. Para mim Mona Lisa estava viva no quadro, tanto que sua expressão mudava dependendo do ângulo em que a olhava. Talvez ela fosse uma dessas mulheres condenadas a viver prisioneiras na tela de um quadro, vítima de algum feitiço grande. Claro que eu não tinha noção de que Leonardo tivesse usado técnica especial para chegar a esse incrível efeito, aliás, nem mesmo que o efeito existisse.
A Mona Lisa que eu via quando criança tinha um sorriso estranho, coisa do outro mundo. A imagem dela se encaixava às maravilhas ao ambiente tão propício a histórias de medo que corriam ao tempo da minha infância.
Retratos
Imagens de pessoas a quem perdemos. Estão dentro de caixas amarelecidas. Os mortos vivem no escuro. Levanta-se a tampa de uma caixa e a luz interrompe o eterno descanso. Do papel saltam pessoas ansiosas como se prontas a revelar segredos tão bem guardados. Aquele homem, não foi ele que no carnaval de 98… O rapaz de olhos claros que foi levado num acidente, dizem que corria muito na estrada para Curitiba. A parenta que se suicidou sem deixar nenhuma explicação. Dizem que se apaixonara por malandro que a enganara. Ela está bonita na foto em seu corte de cabelo fora de moda, mas esvoaçante.
Murmúrios. Velhas histórias retornam com toda força. Família se reúne à volta da mesa de almoço. Conversam nem sempre placidamente. O pai que olha para o fotógrafo nunca se deu bem com o filho sentado do outro lado da mesa. Presos à circunstância de momento essas pessoas estão subitamente redivivas. Nada os impede de reviverem na memória do observador que as conheceu e acompanhou nos dias derradeiros de suas existências. Todos mortos, entretanto tão presentes, tão fortes, preservados numa fotografia.
O homem que quebra o selo da caixa dos mortos não o faz por acaso. Não se trata de encontro casual com um pacote há muito esquecido no fundo de uma gaveta. O homem que agora segura a caixa e olha para as fotos age de caso pensado. Ele procura, entre tantas, a imagem da mulher a quem tanto amou. Mas, estranhamente, não a encontra. Em vão repassa, retrato por retrato, o conteúdo da caixa sem que a imagem da amada surja diante de seus olhos.
É caso estranho esse. Ele procura por aquela que o deixou por outro e o fez sofrer. Mas, talvez ela não queira mais ser vista por ele. Dizem que caixas amarelecidas onde se guardam velhas fotos seguem regras próprias. Há quem afirme que os mortos das fotografias têm, no outro mundo, direitos assegurados. Talvez em nome de seus direitos a mulher procurada tenha se eclipsado. Ela bem que o avisara ao observador de que não queria vê-lo nem mais ser vista por ele: nem na vida, nem na morte.
Bloqueio
Não sei se a palavra certa é “bloqueio”. Ideias não faltam mas, convertê-las em texto exige grande esforço. Afinal, escrever para quê?
Suponho que algumas pessoas tragam do berço a capacidade de contar histórias. Algumas delas se tornam escritores medíocres, outras, raras, grandes escritores. No caso de escritores profissionais existem os que se mantêm em atividade até a velhice. Outros param a meio caminho. Há gente como Salinger que se notabilizou por trazer à luz apenas um livro. E por aí vai.
Talvez no cerne daquilo que seria bloqueio exista mesmo nada mais que indiferença. Sim, indiferença em relação a um mundo sobre o qual cada vez mais seja impossível interferir. Os discursos parecem esgotados. Os homens já não reagem aos costumeiros estímulos. Algo de novo paira sobre as cabeças que se mostram incapazes de decodificar o atoleiro de mensagens que circulam à nossa volta.
Um amigo me disse: se você já não tem nada a dizer à pessoa a seu lado, então nada há a ser feito. Que mensagem pode ter um texto bem elaborado, mas cujo conteúdo quase nada tem a revelar? Ou, de outra forma: para que repisar - e mal - temas desgastados, procurando inovar em solos que deixaram de ser férteis?
Entretanto, não há que se esquecer de que somos seres humanos, portanto imprevisíveis. Aliás, seres nos quais nem sempre o bom senso prevalece. Seres tantas vezes dados à irracionalidade. À revolta. À destruição de paradigmas. Seres essencialmente criativos aos quais não falta essa coisa à qual damos o nome de esperança. Desgastada que esteja, sufocada, a esperança sobrevive. Vai daí que o tempo passa e, certa manhã, igual a tantas outras, do nada brota uma trama completa e mergulha-se no texto do qual é impossível fugir.
Assim nascem os livros.
Armas de fogo
Meu pai tinha um revólver Smith-Wesson que herdará de meu avô. Vez ou outra se referia a essa arma que nunca chegou a usar. Ela tinha o significado de segurança de nossa família. Guardada numa gaveta repousava sempre pronta a entrar em ação caso fosse necessário. Mas, naquela época o mundo era mais tranquilo, a vida mais suave. Crimes aconteciam, mas não muitos. Se você lesse a Última Hora, jornal do Samuel Wainer, poderia ficar horrorizado com o noticiário sobre as violências de véspera. Diziam que se o jornal do Wainer fosse espremido sairia sangue…
Mas essas notícias soavam distantes. Na prática os assassinatos em cidades menores eram mais raros. Tanto que, quando aconteciam, geravam comentários generalizados. Usavam-se armas de fogo com parcimônia. Assim se passavam as coisas.
De modo que para quem carrega mais anos de vida em seu currículo as atuais mensagens divulgadas soam estranhas, senão incompreensíveis. Hoje, por exemplo, notícia-se que na noite passada 20 pessoas foram assassinadas em Osasco e Barueri. Outras 9 foram feridas. Banalizou-se o uso de armas de fogo e olhe que são proibidas. Novos tempos!
Já vão longe os dias em que armas de fogo permaneciam entre os guardados dos chefes de família à espera de um improvável momento de ação. Hoje moleques de 12 anos ou mais andam por aí armados e tiram vidas sem a menor cerimônia.
As armas de fogo perderam a antiga magia de objetos guardados e protetores.
O papa riu
A foto mostra o papa quase numa gargalhada. Por que riu o papa? Estava com uma brasileira que disse a ele ser Pelé melhor que Maradona. O papa argentino riu ao ouvir a afirmação.
Nunca vi Maradona ao vivo, só pela TV. Pelé pude ver em ação nos estádios, para o bem e para o mal. Para o bem porque não existiu e talvez nunca apareça outro como ele. Para o mal porque ele acabava com o meu time.
Pelé é alguém em que a genialidade pousou sobre um físico perfeito, arrematando-se com a extrema habilidade do jogador. É como se em laboratório se bucasse alguém perfeito para jogar futebol e se lograsse produzí-lo. O cara era de fato uma fera. Perfeito. Genial. Superior aos demais mortais. Inigualável.
O que não quer dizer que se nega a grandeza de Maradona. O “Pibe” sabia tudo de bola. Perfeito. Fenomenal. Genial. Porém alguns degraus abaixo de Pelé.
Dirão que valorizamos Pelé por ser brasileiro. Fôssemos argentinos, Maradona seria o maior. Será?
Não nego que Maradona era o diabo. Ainda tenho travada na garganta a jogada dele, no jogo contra o Brasil, na Copa de 90. Lesionado Maradona pouco correu no jogo. Mas, na única chance que teve, superou um brasileiro e fez aquele primoroso lançamento para Cannigghia. Gol da Argentina que venceu por 1 X 0, eliminando o Brasil.
Pelé e Maradona, grandes figuras. Talvez por isso o papa tenha rido.
A sensação de fracasso
Acontece às vezes. De repente não deu certo. Mas, se tudo parecia tão nos conformes como pode acontecer? Fica a perda, a sensação de fracasso que pode abater até mesmo os mais fortes.
Dizem que nos Estados Unidos o fracasso num empreendimento serve como estímulo para tentar outro. Aqui as oportunidades talvez sejam mais difíceis e recuperar-se do tombo pode custar muito. Dar certo no Brasil exige exige dedicação e talento, além dos meios necessários. Mas, já vi gente muito boa naufragar em negócios que pareciam ter tudo para dar certo.
Difícil compreender como bilionários passam a milionários da noite para o dia. Há casos de perda de fortunas, ficando os ex-ricos em situações difíceis. Recentemente o bilionário brasileiro Eike Batista viu ruir o seu império o que não deixa de ser assustador. Como pode um homem que a todo transe se apresentava como bilionário empreendedor perder tanto? Naturalmente explica-se, mas…
Que dizer sobre os fracassos reconhecidos por quase todo mundo? Há pessoas que ocupam cargos de grande responsabilidade e visibilidade. O fracasso delas em geral tem consequências que recaem sobre muita gente. Mas, será que em seu âmago essas pessoas admitem o próprio fracasso?
Eis que no momento s senhora presidente da República atinge o mais alto nível de reprovação desde que esse índice passou a ser pesquisado em 1990. Hoje a taxa de reprovação da presidente é maior que a dos ex-presidente Collor nas vésperas de seu impeachment. A curiosidade nos leva a pensar sobre como se sente a presidente a respeito disso nesse momento em que se fala sobre possibilidade da saída dela do governo.
Será que a presidente considera a situação atual como fracasso pessoal? Como se passará na cabeça dela, tida como “durona”, a perda de controle sobre a classe política que cada vez mais a acua, roubando-lhe o protagonismo que o cargo lhe confere?
Seria interessante se daqui a alguns anos, distanciados desse complexo momento da vida nacional, a então ex-presidente abrisse o coração e relatasse seu parecer sobre esses dias. Trabalho para um bom biógrafo que contasse com a sinceridade da biografada. Mas, não creio que venha a acontecer.
Encontro casual
Ontem um desconhecido quis porque quis trocar ideias comigo sobre a situação de momento no país. O assunto me arrepia. De tempos para cá reparo que as pessoas, atônitas, meio que evitam falar sobre a crise. Aliás, crise se constata, sente-se no bolso, revolta a pele. Daí que temi ter sido descortês com aquele senhor que, a meu lado, fazia compras na barraca de frutas. Eu o ouvi, disse qualquer coisa e continuei a andar.
A indignação daquele homem tinha razão de ser. Aposentado, lutara vida afora para criar os filhos , fazendo deles seres humanos respeitáveis. Fizera milagres com seu dinheiro contado e recebido por trabalho honesto. Indignava-se com as espantosas cifras originadas de desvios, falcatruas e roubos envolvendo altos escalões industriais e políticos brasileiros.
Tenho lido nos jornais sobre a perda de confiança no governo e políticos com seus reflexos sobre a situação do país cuja economia está em frangalhos. Fala-se no prejuízo coletivo mas, nada de adentrar a porta da casa do cidadão comum e ver o que se passa lá dentro, no seio das famílias. Esse homem indignado está esquecido. É ele o sustentáculo do país, aquele que com seu trabalho gera as riquezas que a safadeza de maus brasileiros se aplica em dilapidar.
O fato é que eu não sabia o que dizer ao desconhecido que se dirigiu a mim na feira. Era um idoso ferido em sua crença nos seres humanos, revoltado com a situação cuja compreensão exata escapa a todos nós. Prisões seguem acontecendo assim como revelações de novas negociatas envolvendo somas inimagináveis de dinheiro.
Que perdoe aquele senhor pela força que não tive apara discutir o problema com ele.
A foto de Joan Collins
A Rede Telecine vez ou outra repete a apresentação do ator Billy Cristal num teatro. Ele conta sua vida e faz o público rir de suas aventuras para se tornar o ator hoje mundialmente conhecido. Em certa parte do show Cristal narra a erupção do sexo no início de sua adolescência. O desejo imperativo que passa a dominá-lo nesse período o leva a confessar suas várias visitas diárias ao banheiro para apagar o fogo de seu priapismo.
É certo que a mesma coisa aconteceu e acontece com a rapaziada de todas as épocas. Hoje em dia a profusão de fotos de mulheres nuas e filmes com cenas eróticas talvez banalize demais o sexo embora certamente estimule os chamados pecados solitários. Entretanto, em passado não tão distante a moçada não contava com tais facilidades. Daí que as revistinhas publicadas com as histórias de Carlos Zéfiro fossem tão impactantes. De fato contribuíam e muito para exacerbar o rubor das carnes noviças e puras que ansiosamente aguardavam a oportunidade de uma primeira experiência sexual a dois, com alguém do sexo oposto.
Dos meus tempos de colégio interno guardei a lembrança da dificuldade de contato com fotografias de mulheres senão nuas, pelo menos vestidas com maiôs em poses provocativas. Foi para esse meio austero que certa ocasião chegou ao internato certo Mário, vindo do Rio de Janeiro. Esse Mário era um sujeito estranho, meio aloucado, portador de óculos com lentes muito grossas, falante e conhecedor de todo besteirol do qual se servia a contento fazendo-nos rir. Mas, mais que isso, o Mário trouxera no fundo da mala uma fotografia da atriz Joan Collins, usando maiô e em posição provocante. Essa foto corria de mão em mão, melhor dizendo, acompanhava os meninos em suas demoradas passagens pelos banheiros. Naturalmente, os mais chegados ao Mário eram os mais favorecidos. Aos colegas que ele não gostava frequentemente negava empréstimo, daí que para alguns a foto só chegava mediante o pagamento de uns poucos cruzeiros. No tempo da imaginação em estado puro do que seriam os encantos de uma mulher a foto trazida pelo Mário causava furor.
Leio no Google que ainda vive Joan Collins em seus mais de 80 anos bem vividos. Em vão procurei nas fotos da atriz aquela que servira aos meninos para aplacar a ira de seus baixos ventres. Não imagino qual seria a reação dessa senhora caso viesse saber de uma coisa como essa. Talvez apenas sorrisse lembrando-se de seus tempos de estrela.