Arquivo para setembro, 2015
Fotos comparativas
Não sei com que intenção publicam-se fotos de pessoas quando jovens e de agora, lado a lado. Aquela moça que foi capa da revista Playboy há 30 anos hoje é essa senhora… A atriz que estrelou a novela das oito nos anos oitenta transformou-se na simpática avó da foto ao lado… A mocinha que se deixou fotografar nua e fez a alegria da moçada em 90 casou-se, tem três filhos e agora…
São sempre duas fotos, uma de antes no auge da beleza, outra atual depois de passados tantos e tantos anos. Você que adorava aquela mulher a quem todo dia via na telinha da TV pode se espantar ao vê-la envelhecida, embora conserve traços de sua antiga beleza.
O tempo passa, o tempo voa. Você que observa as fotos e vai clicando o mouse para ver as seguintes. Você olha com os olhos de ontem, embora talvez isso não passe pela sua cabeça. Talvez também não se dê ao trabalho de se lembrar de que o cara que está diante da beleza passageira também ele envelheceu, daí que o mais certo seria olhar para as senhoras da coluna da direita com a ternura do fã que compreende as regras inexoráveis da vida.
Amigos, a beleza é imortal. Devemos deixá-la no lugar onde se exibiu com máxima força, encantando os nossos olhos. Ingrid Bergman sempre será a maravilhosa mulher que contracenou com Bogart em Casablanca. As fotos de Bergman envelhecida em nenhum momento destoam da jovem atriz, mas não há que se colocá-las lado a lado como se a escrever um epitáfio. Trata-se, antes de tudo, de respeito pela beleza.
Se você tiver nas mãos um exemplar de “Manchete”, da década de 60 do século passado, poderá encontrar fotografias das “certinhas do Lalau” que faziam a alegria da moçada sequiosa. Pois as “certinhas” que para o gosto de hoje talvez fossem um pouco mais rechonchudas devem permanecer lá, no passado, quando tanto brilharam e emocionaram seus admiradores. Nada de serem ressuscitadas de décadas passadas para se constatar como ficaram. O mesmo se pode dizer das mulatas do Sargentelli, das chacretes do Chacrinha e tantas outras.
Mas, afinal, qual é mesmo o sentido de se exporem fotos comparativas entre o que uma mulher foi e o que se tornou no presente?
Ricardo Oliveira
Se você ama futebol não perca a oportunidade de ver Ricardo Oliveira jogando. Mas, é preciso vê-lo ao vivo, não pela TV. Só no estádio você poderá acompanhar a perfeição de um jogador que sabe tirar proveito de sua idade dimensionando o modo de atuar.
Maradona admirava Romário de quem dizia ser profundo conhecedor dos espaços da área. De fato o lugar onde Romário se tornava rei era a área. O “Baixinho” conhecia os caminhos do gol. Mestre em seguir por atalhos que só sua genialidade e habilidade descobriam e realizavam.
Ricardo Oliveira é jogador dessa estirpe. Pertence ao seleto grupo dos que conhecem os segredos de sua arte e sabe como colocá-la em prática, resultando em gols. Vê-lo em ação é um colírio para os olhos. Ricardo não corre: caminha. Tendo o “timing” perfeito do jogo, está sempre no lugar certo, cercado pelos defensores da equipe adversária. Mas, quando a bola chega ele transforma-se. De repente acontece a explosão muscular. Agora é o Ricardo veloz e fatal, que entra em luta contra os adversários dentro da área, sempre em direção ao gol. Para esse bruxo não há como desperdiçar oportunidades. Rápido e certeiro, eficiente, o atacante contempla os torcedores com a eficácia de suas jogadas e os gols que saem de seus pés.
Ontem à noite, na Vila Belmiro, foi assim. Ricardo Oliveira anotou dois gols. No final do jogo foi substituído, saindo de campo ouvindo seu nome gritado pela torcida em pé. Justa homenagem de um povo que sabe reconhecer os méritos de seu ídolo.
Menino afogado
O refugiado pergunta sobre a diferença entre morrer na guerra da Síria ou afogado no mar. Diariamente centenas de imigrantes arriscam-se em travessias, tentando chegar aos países europeus. Muitos percorrem imensas distâncias a pé. Homens, mulheres e crianças fugindo. A busca por vida melhor conduz massas humanas em travessias das quais nem todos escapam. A toda hora barcos com centenas de pessoas afundam e muitas delas perecem no mar. Nesta semana a polícia austríaca encontrou 71 cadáveres dentro de um veículo à beira da estrada.
Imigrantes. A Europa não sabe o que fazer para conter esse movimento que a todo transe se avoluma. Fronteiras são fechadas, trens impedidos de circular, gás lacrimogênio é atirado para conter turbas que tentam atravessar fronteiras. Governos discutem sobre o melhor modo de agir, radicais exigem que imigrantes não sejam aceitos, instituições lembram que imigrantes também são seres humanos.
São notícias distantes. Acontecem a milhares de quilômetros, não afetam o nosso dia-a-dia. Então aparece esse menino deitado, de costas, em praia turística da Turquia. Ele dorme serenamente. Terá no máximo dois anos, veste camisa vermelha e bermuda azul. Os sapatinhos estão encharcados. Dorme profundamente o longo sono da morte. O pequeno imigrante afogou-se na travessia e foi devolvido pelas ondas marítimas.
Não há como permanecer isento diante dessa cena tão calma e entretanto cruel. A vida que já não habita o pequeno corpo nos interessa de perto. O pequeno cometeu o pecado de ser imigrante, ter sido levado de sua terra pelos pais cujo destino se desconhece, talvez também mortos.
Um pequenino corpo grita alto numa praia da Turquia. Ele nos clama por responsabilidade. É preciso agir diante do perigo de deixarmos ser verdadeiramente humanos.
Festas de casamento
A verdade é que a turma gosta de festas de casamento. Aliás, boas festas custam um dinheirão. Empresas e buffets cobram valores altos de modo que casais pagam em várias prestações pela festa a ser realizada. Para quem é convidado tudo acontece numa boa. Bebida e comida a vontade fazem a alegria da multidão.
Há muitos e muitos anos fui a um casamento num distrito de cidade do interior. A cerimônia foi realizada na igreja do lugar após o que os poucos convidados dirigiram-se à casa da noiva. Era uma manhã de domingo e fazia um calor de rachar. O problema foi que quase nada tinha sido preparado para a recepção. Serviram-se uns poucos salgadinhos e a bebida era apenas a boa e velha garapa. No quintal o pai da noiva manejava um triturador de cana e servia aos convidados bons copos de garapa. Sem gelo, aliás. De modo que, de parte da alegria dos noivos, aquele foi um casamento inesquecível. Realizado dentro dos parcos recursos da família da noiva o importante parece ter sido desencalhar a filha que já ia depois dos trinta. Naquela época mulher que não se casara até a dobra dos trinta passava ao batalhão das “encalhadas”.
Mas, às gordas festas. Pois não é que na Argentina surgiu a ideia de realização de festas de falsos casamentos? Tudo bonitinho, convidados com roupas de gala, atores profissionais no papel de noivos, open bar, etc. Os ingressos são vendidos e se esgotam de modo que os falsos casamentos se tornaram boa opção para noitadas de alegres convivas. Relata-se, ainda, que festas do mesmo gênero acontecem na Rússia.
O fato é que não existem barreiras para a imaginação humana. Tudo se torna possível, há sempre os inclinados para determinados tipos de apelos.
Confesso que não participaria de uma falso casamento. E você?