2016 novembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para novembro, 2016

Ano após ano

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O bom na passagem do tempo é o fato de que devagar vamos nos esquecendo dos acontecimentos do passado. Você é capaz de, sem consultar o Google, se lembrar de como seguia a vida em novembro de 2011? Pois é decorridos apenas cinco anos eis que as memórias se confundem. Talvez alguém para quem algum fato marcante na vida pessoal tenha ocorrido naquele mês do ano citado seja mais fácil lembrar-se. Mas….

O mundo sempre será o mesmo apesar das mudanças e conquistas alcançadas pelos homens. Se olharmos para uma fotografia da Avenida Paulista nos anos 20 do século passado certamente nos causará estranhamento a ausência das altas edificações a que estamos cotidianamente habituados. Então o mundo era assim, diríamos. Mas se pensarmos nas pessoas que viviam naquele mundo, naquela circunstância, talvez o nosso estranhamento se reduza. Era como se vivia então sem que a gente da época pudesse supor o mundo em que hoje vivemos.

E daí, perguntarão. Daí que toda a febre do momento atual, todas as lutas e questões intestinas que presenciamos são nada mais que episódios passageiros. Os humanos de ontem, assim como os de hoje, conviveram com as questões de suas épocas e as vivenciaram como se fossem eternas. Aliás, tal como fazemos hoje enquanto somos solicitados a opinar sobre os acontecimentos atuais.

Não nos é possível reconstituir com absoluta fidelidade o que terá se passado com o presidente Getúlio Vargas no dia em que se matou. Nenhum fato que pertença à vida de outra pessoa poderá ser integralmente revivido por outra. As impressões que tenho sobre acontecimentos de nosso dia-a-dia poderão no máximo coincidir com as de outra pessoa, mas certamente discordaremos pelo menos em algum ponto. O que tenho como verdade absoluta nem sempre coincidirá com o modo de ver de alguém, ainda que se trate de pessoa muito próxima a mim.

Talvez por tudo isso o melhor seja considerar, pelo menos um pouco, que a vida é passageira e os mundo gira depressa. Esse modo de ver as cosias talvez nos ajude a atravessar esse período de crise no qual somos a toda hora informados de falcatruas nessa voragem que parece não ter fim.

Daqui a cinco anos talvez tenhamos nos esquecido desse tempo confuso. Quem viver verá.

Fidel

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No início doa anos 60 do século passado Fidel Castro já era o vitorioso de Sierra Maestra quando desalojara Fulgêncio Batista do poder em Cuba. Governava a ilha, situada a apenas 150 km dos EUA, e inspirava intelectuais e jovens em todo mundo.  O filósofo Jean Paul Sartre, acompanhado de Simone de Beauvoir, passara um mês na ilha. A invasão da Baia dos Porcos em 61 e a Crise dos Mísseis em 62 levaram ao rompimento dos EUA com Cuba e à decretação do Bloqueio Continental contra a ilha. Rapidamente, Fidel transformara-se num ícone da esquerda em todo o mundo, estreitando-se as relações de Cuba com o governo soviético.

Fidel já visitara o Brasil no governo de Juscelino Kubistchek, mas não me lembro de ter dado maior importância à Revolução Cubana. Entretanto, um episódio viria a chamar a minha atenção para o que se passava na ilha. Na época preparava-me para futuros exames vestibulares. Morando no interior e não dispondo em casa da tranquilidade necessária ao estudo, consegui permissão para passar algumas horas do dia no claustro de uma ordem religiosa. O espaço a mim reservado era uma cela na qual havia uma mesa e uma cadeira, nada mais. Reinava ali o mais absoluto silêncio, condição ideal para quem se dedicava à compreensão da matéria a ser exigida nas provas.

Entretanto, vez ou outra era eu interrompido pela presença de um frade. Vinha ele cheio e dívidas e me propunha questões para as quais eu não estava apto a opinar. Na época o frade escrevia, justamente, uma peça cujo tema era a Revolução Cubana. Em certas partes da trama faltava ele talvez inspiração para as falas das personagens. Não me recordo de pelo menos em uma única vez ter contribuído para ajuda-lo em sua empresa.

Foi desse modo que ouvi falar sobre Fidel, Raul, Guevara, Cienfuegos e outras personagens da revolução. De todo modo o frade - de cujo nome não me recordo - completou a peça que foi encenada por um grupo de atores amadores. A peça fez sucesso, passando por várias cidades. Se não me falha a memória o dramaturgo Joracy Camargo assistiu a uma dessas apresentações e elogiou o trabalho de toda a equipe.

Anos depois me encontrei com um dos atores da peça. Disse-me ele que o grupo ficara ligado até 1964 quando o golpe militar colocou fim ao regime democrático no Brasil. Depois disso e com o perigo de identificação com qualquer coisa que sugerisse comunismo a peça não foi mais encenada. Fidel era, notoriamente, marxista-leninista. O governo militar pós-64 rompera relações diplomáticas com Cuba e Fidel ajudava revolucionários no Brasil, na Argentina e na Venezuela.

Não se pode negar a Fidel ter sido um calo nos pés dos americanos cuja política imperialista vigorava fortemente sobre o bloco latino-americano ao tempo da Guerra Fria. Sua atitude de desafio frente a um adversário infinitamente mais poderoso é digna de nota. Por aqui fomos direcionados a não simpatizar com Fidel sempre apontado como um perigo para democracia e a liberdade.

O tempo e a história julgarão melhor a personagem que hoje desaparece.

Esquecimentos

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Pessoas acima dos 60 anos de idade reclamam de esquecimentos. Outro dia telefonei a um amigo que comemorava seu septuagésimo aniversário. Conversa vai, conversa vem, perguntei a ele se estava bem. Ótimo, respondeu. Entretanto, reclamou de esquecimentos. Estava se tornando um sujeito meio esquecido. De coisas menos importantes então nem se fala.

A preocupação, obviamente, é com a doença de Alzheimer. Seriam sintomas iniciais da doença? No sábado ouvi entrevista de um neurologista que falou sobre o Alzheimer. Explicou que até o momento a medicina não dispõe de meios para combater a doença. De repente no córtex cerebral verifica-se a perda de neurônios ligados à memória. As lembranças vão se apagando progressivamente. Até o nada, o alheamento total. Na ocasião da entrevista um jornalista perguntou sobre a eficácia de exercícios de memória como meio de evitar a progressão do mal. Completou, dizendo que ouviu falar sobre a importância de fazerem-se até mesmo palavras cruzadas para manter-se o cérebro ativo. Outro jornalista citou o caso do empresário Antônio Ermírio de Moraes, conhecido por sua intensa atividade e que sofreu, ao final da vida, da doença de Alzheimer. Mas, na opinião do médico nada de realmente efetivo se pode fazer para evitar a perda final da memória.

Assisti ao filme “Alice” no qual a protagonista perde progressivamente a memória. O alheamento progressivo em relação aos membros de sua família e ao mundo que a cerca é chocante. A fase na qual a pessoa percebe estar com dificuldades de memória é dolorosa. É a despedida da própria razão pessoal, lenta e progressivamente anulando-se. Não dá para ver o filme sem sair com algum receio de que um dia venhamos a ter a doença.

Esquecimentos são mais ou menos corriqueiros com o avanço da idade. Sempre tive excelente memória em relação a fisionomias, mas péssima no tocante a nomes. Não posso dizer se essa situação tem-se agravado. De todo modo assusta-me não me lembrar de nomes ouvidos a pouco. Conheço uma pessoa, retenho a imagem de seu rosto, mas o nome…

Também acontece lembrar-me com detalhes de coisas do passado. Às vezes me recordo de situações vividas a muito tempo. Lembro-me delas com tal riqueza de detalhes que fico impressionado. Não deixo de me lembrar de fatos recentes, mas em geral me esqueço, por exemplo, de ter trancado uma porta, isso minutos após tê-la trancado.

O cérebro humano continua sendo um continente desconhecido apesar dos grandes avanços de conhecimentos sobre ele e técnicas para examiná-lo. A doença de Alzheimer é um mal para o qual não existem armas para combatê-la. Enfim o que se pode fazer é torcer para que estejamos livres desse mal. Torcer e esperar.

Cenas chocantes

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A expressão “O Brasil não conhece o Brasil está acontecendo”. Em tempos de “Operação Lava Lato” a toda hora somos sacudidos por surpresas. O Brasil de hoje não reconhece o Brasil de ontem no qual a imunidade campeava solta nos quatro cantos do país.

A surpresa mais recente foi a notícia da prisão de dois ex-governadores do Rio de Janeiro. O primeiro, Sergio Cabral, foi preso nas primeiras horas da manhã em seu luxuoso apartamento, no Rio. Contra ele pesa a acusação de desvio de 220 mi em negociatas durante seus oito anos de governo. Aliás, Cabral há muito despertava atenção pública pelo modo nababesco em que vivia. Ficaram célebres as fotografias de suas estadias em Paris, exibindo riqueza em hospedagens e festas nos restaurantes mais chiques da cidade. Contra o segundo, Anthony Garotinho, existe a acusação de compra de votos nas últimas eleições. De todo modo ambos foram conduzidos ao Complexo Penitenciário de Bangu de onde não há data marcada para saírem.

Como não poderia deixar de ser a condução de pessoas tão importantes à prisão causa espanto. Não só os pobres são punidos, chegou a vez dos poderosos, isso é o que se fala por aí. Entretanto, as cenas das prisões dos dois políticos não deixam de ser chocantes. O momento em que Sérgio Cabral chega a Bangu, desce do veículo da polícia, coloca a mochila nas costas e caminha seguido por alguns policiais é impactante. Impossível não racionar naquele momento que também o poder é efêmero, que existe um limite para falcatruas. O poderoso governador de ontem, aquele que víamos com largos sorrisos na mídia, ele, ele mesmo, está preso. Descontrói-se a imagem do poder. É o fracasso do poder que choca nas imagens que não nos saem da memória.

Com Garotinho as coisas se passaram de modo mais teatral, nem por isso menos chocantes. Levado ao hospital por problemas cardíacos ali esteve até que fosse ordenada a remoção para o presídio. Seguiram-se cenas lamentáveis nas quais o ex-governador, conduzido numa maca, negava-se a ser levado ao presídio. A dramaticidade da filha de Garotinho ao chorar e gritar que o pai não era um bandido, a dificuldade de colocar Garotinho na ambulância dado que a todo momento tentava levantar-se protestando, os homens que a custo o seguravam, tudo isso compunha uma sequência de cenas lamentáveis, chocantes. Mais uma vez o poder de outrora sucumbia diante de nova realidade até pouco tempo inimaginável.

De fato este novo Brasil está diferente.

Robert Mapplethorpe

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O que não se pode negar a Robert Mapplethorpe (1946-89) é o fato de ser um grande fotógrafo. Seu olhar lúcido e inquisitivo paira sobre os humanos e objetos inanimados que mereceram a sua atenção. Armado de uma polaróide Mapplethorpe ousou visitar territórios, desnudando espaços nunca antes tão profundamente considerados por outros artistas. Centrado na necessidade de criação que inevitavelmente conduz à fama o grande fotógrafo projetou obra com o intuito de ser sempre lembrado. Para ele era de suma importância não só realizar-se como ser reconhecido. Ao fim da vida engendrou a sua Foundation que perpetuaria o seu nome.

A obra de Robert Mapplethorpe consiste na elaboração de estranhamentos capazes de prender a atenção do observador.  É de um mundo conhecido, mas cujo detalhes prefere-se ignorar, que o fotógrafo extrai as essências de suas criações. Mapplethorpe entrega-se a uma devassa do mundo do sexo, nada poupando, demolindo o que encontra pela frente. Suas incursões no universo das relações sexuais, mesmo as mais bizarras, não encontra paralelo nas obras de artistas de qualquer época. Nem sempre suas fotos primam pela beleza, tantas vezes ligadas à mais desenfreada escatologia. O braço enfiado no ânus e o dedo mínimo introduzido na uretra do pênis provocam mal-estar e indignação em seus detratores. Mas o fotógrafo parece flutuar noutra esfera, aquela em que colhe suas imagens e as divulga, doa a quem doer.

O documentário sobre a vida de Mapplethorpe (Mapplethorpe: Look at the Pictures, realizado pela HBO) é revelador. Ilustra a trajetória do grande fotógrafo e liberta-nos da dúvida sobre quem, afinal, terá sido esse sujeito cuja arte rompeu fronteiras a ponto de até mesmo suscitar a questão: afinal da obra de Mapplethorpe pode-se dizer que se trata de arte?

O gigante da fotografia morreu jovem aos 41 anos. Pagou caro tributo à devassidão de seus desenfreados encontros homossexuais que lhe renderam o diagnóstico de AIDS. A imagem de seus últimos dias, sentado em meio à multidão que silenciosamente compareçou à galeria pera a derradeira exposição do artista, mostra um homem vencido. Consumido pela doença. Esgotara-se sua força. Mas, se o corpo já não era o mesmo os olhos do fotógrafo permaneciam vivos. Neles as últimas chamas de um olhar que ousou ver o que ninguém antes vira, apagava-se devagar.

Ainda hoje a obra de Mapplethorpe incomoda.

Viver na periferia

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Honestamente, não perco um só minuto para pensar na minha condição de periférico. Habitante do terceiro-mundo habituei-me ao estado de coisas nessa parte do planeta, ao vai-e-vem da economia sempre claudicante, aos percalços impostos à democracia que, entre nós, chegou a ser suprimida nos longos anos da ditadura.

Ao tempo da crise da Baia dos Porcos estivemos a um passo de uma guerra nuclear. Naquela ocasião o imbróglio envolvendo americanos e russos atingira o seu clímax. Eis que, então, decidiu-se o governo brasileiro a enviar aos EUA um mediador para tentar acertos entre as partes. Ao que me consta o ilustre brasileiro foi ignorado. Os jornais da época criticaram a iniciativa do país em jactanciar-se, tentando impor-se em território para o qual não fora solicitado. Ou seja: aquilo era briga de cachorro grande na qual não teríamos participação.

Agora o imprevisível Donald Trump torna-se o homem mais poderoso do mundo ao vencer as eleições norte-americanas. A inesperada vitória do businessman gera uma reação em cadeia mundo afora. Governos apressam-se em solidarizar-se com Trump, declarando-se abertos a negociações e entendimentos. Mesmo a poderosa Alemanha, embora comedidamente, se diz pronta a negociações. Aqui o presidente não foge à regra e faz as saudações protocolares, dispondo-se a futuros entendimentos.

Bem, nem poderia ser de oura forma. O povo do país mais rico do mundo, o mais poderoso, decidiu-se por um bufão na presidência e isso preocupa os outros povos do mundo. Entretanto, impossível fugir à constatação de colunas vertebrais curvando-se diante do país detentor da maior economia do planeta.

Mas, a apreensão é maior entre os chamados periféricos. Trump não dará importância á América Latina, dizem os jornais. Ou: o Brasil não estará nos planos de Trump. Ou ainda: a crise brasileira enfrentará mais dificuldades com a vitória de Trump.

Eis aí um momento no qual sou convidado a me lembrar da minha condição de viver numa região periférica do mundo. País emergente, uma das maiores economia s do mundo, mas periférico.  Sujeito às diabruras do cara de topete amarelo que no começo do ano vindouro assumirá a presidência. Ele que já promete de cara mandar embora dos EUA três milhões de imigrantes ilegais. Ele que imporá regras duras na imigração aos EUA etc.

A ver no que tudo isso vai dar.

A Terra em perigo

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Os dinossauros desapareceram em consequência da colisão de um grande asteroide com a Terra. O lugar do impacto foi em área do atual México. A Terra foi coberta por imensa nuvem de poeira, impedindo a entrada dos raios solares.

Agora os EUA estão fazendo exercícios para lidar com impacto de asteroides. As agências federais NASA e Fema coordenam os ensaios. Mas, calma, não há nenhum asteroide em rota de colisão com o nosso planeta, pelo menos ao que saibamos. Entretanto, há com que se preocupar: no mês passado foram identificados 15 mil objetos próximos da Terra.

Está correndo hoje na internet um vídeo no qual um grande objeto luminoso sobrevoa a cidade de Governador Valadares. Cerca de 5 minutos antes o mesmo objeto havia sido avistado no céu de Recife. A distância entre as duas cidades é de 2600 km. Isso representa que o objeto voador teria incrível velocidade para em 5 minutos cobrir a grande distância.

Mais: um avião de voo comercial que passava pela rota do objeto desconhecido defrontou-se com grande luminosidade. A tripulação e passageiros sentiram vibrações na parte inferior do avião. Ao aterrissar em São Paulo verificaram-se furos na fuselagem da parte inferior do avião. O copiloto que verificara as condições do avião é testemunha de que a parte inferior estava intacta antes do voo.

O famoso físico Stephen Hawking tem nos alertado sobre a possível chegada de naves extraterrestres à Terra. Mais cedo ou mais tarde elas virão, afirma ele. O físico aconselha aos terráqueos a preparação de sistemas de defesa do planeta. Os que aqui chegarem certamente serão mais evoluídos de modo que poderá se dar algo semelhante à chegada de Colombo à América, entrando em contato com os índios.

Creio que pouca gente leva a sério essa possibilidade. Mas, o vídeo e a narração de pessoas que dizem fazer parte do Cindacta, sistema de controle e defesa do espaço aéreo brasileiro, impressionam.

Consulta ao ex

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Articulista de jornal pergunta por que, antes casar, não consultamos a opinião do(a) ex para saber com que tipo de gente estamos lidando.

Rapaz… excetuando-se bons e pródigos casos é difícil concordar com a ideia. Essa é uma região nebulosa, terreno minado ao qual relutamos retornar. Envolve amor, quem sabe paixão, lares desfeitos, separação de filhos, divisão de bens e todos os comemorativos ligados ao divórcio.

Não sei dizer se os piores ex são os homens ou as mulheres. Impossível generalizar. Pelo que vi e vivi mulheres separadas - pelo menos algumas - continuam se considerando proprietárias de pelo menos parte do ex-marido. Há titularidade e posses em jogo. Nos homens o pior é quando o demônio do ciúme prepondera. Quantas vezes não socorri um amigo diante de um copo de cerveja, afogando mágoas de uma separação que partiu dela. Isso sem falar nesses caras possessivos que batem nas mulheres e, depois, as matam quando elas conseguem livrar-se deles.

Sinceramente, eu não teria coragem de perguntar a um ex de mulher com quem me casaria sobre os prós e contras da futura empreitada. Se me proponho a casar é porque não só estou gostando da pessoa como devo ter identificado seus predicados e defeitos. Obviamente, o amor prepondera e encobre muita coisa. Mas, como dizia o Rosa, viver é muito perigoso. E estamos vivos, não?

O problema é que o cotidiano desgasta. Hoje em dia existe tendência a uniões sem casamentos no papel. Dois apaixonados passam a viver juntos e o futuro a Deus pertence. Bom ou ruim, quem pode saber?

Há muitos anos uma jovem, filha de uma amiga, decidiu-se a se casar. O sujeito era um cara meio difícil, daqueles que só concordou com a cerimônia para satisfazer a vontade da família da moça. Poe ele tudo como dantes no quartel de Abrantes. Então a minha amiga perguntou sobre o que eu achava que ela, a mãe, deveria fazer. Ao que de pronto respondi que nada haveria a se fazer senão seguir a vontade dos noivos. Mas, acabei mudando de ideia. Como a amiga insistiu sugeri que ela fizesse a cerimônia na casa dela. Viria o cartorário, faria o casamento e a coisa se completaria com comes e bebes. A cerimônia emprestaria certa “oficialidade” à união.

Foi assim. O tal casou-se, mas sem deixar de explicar aos colegas de trabalho que estava ali a cumprir a tabela exigida pela família da noiva. Depois viveram alguns anos juntos, sem filhos, e acabaram se separando. Ele não era mau sujeito, mas prepotente e meio difícil de aturar. Não me consta que a moça com quem ele se casara tenha guardado ressentimentos dele. Mas, duvido que se outra mulher a consultasse sobre o ex-marido ela falasse bem dele. Certamente, daria maior ênfase aos defeitos o ex.

Você acha boas as consultas ao(à) ex?

Gente como a gente

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Não dá para entender a fobia contra homossexuais. Talvez porque o homem não goste do que parece a ele estranho. Ou não aceite alguém de seu gênero sexual pedalando em outras trilhas.

Outro dia ouvi numa roda de homens alguém dizer que hoje em dia há mais homossexuais que no passado. Não creio. Hoje pela maior aceitação popular mais pessoas sentem-se à vontade para sair do armário. Décadas atrás não de viam dois homens de mãos dadas, beijando-se em público.

Recriminam-se atos covardes praticados contra homossexuais. A violência nesses casos é injustificável. Preconceito é um mal contra o qual deve-se lutar diuturnamente.  Preconceito é o tipo da coisa inaceitável.

Todo mundo topou, ao longo da vida, com alguém considerado diferente. Menino nos anos 50 conheci um rapaz que vivia com outro homem. Tinha namorado. Membro de família conservadora, tribo de machões, vivia ele na capital. Era um sujeito ótimo, educado e culto. O pai aceitava-o na medida do possível. Os irmãos torciam um pouco o nariz. Mais, convivia-se com o “caso”.

Tive um grande amigo, já falecido, que tínhamos como homossexual não assumido. Surpreendeu-nos quando, certo dia, apareceu com uma bela mulher com a qual mais tarde se casaria. Tiveram filhos etc. Era um grande amigo que perdera a mãe ainda muito pequeno e fora criado pela irmã como se fosse uma menina. Homossexual?

Quem estudou em colégios internos de meninos conhece as dificuldades dos menores sempre ameaçados pelos maiores que a todo custo os querem sexualmente. No colégio em que estudei uns raros menores entregavam-se sem resistência. Anos mais tarde encontrei um desses meninos. Tornara-se alto funcionário de empresas multinacionais, homem vistoso que tinha sobre sua mesa fotos da mulher com os filhos. Nada a ver com o menino que deixava-se perder entre os arbustos com colegas mal-intencionados.

Não creio que se chegue a um tempo no qual os humanos se aceitem sem reservas. Talvez esteja no DNA da espécie a tendência à intolerância seja ela racial, religiosa, sexual etc. Intolerância que deve ser sempre combatida.