Arquivo para fevereiro, 2017
Os anos-luz
Fala-se em anos-luz como se fosse a coisa mais natural do mundo. Tal planeta dista cerca de alguns anos-luz da Terra. Tão perto assim quem sabe em tempos não muito distantes de agora possamos dar um pulo até lá ´para ver como andam as coisas.
Acontece que um único ano-luz equivale a mais ou menos 9,5 trilhões de km. Isso mesmo: a medida é em trilhões de km. Bem longe, não?
Mas, o mundo da astronomia anda bastante animado. Há poucos dias o espaço próximo da Terra recebeu a passagem de alguns asteroides, um deles de grande tamanho. Ainda bem que passou longe não havendo perigo de colisão com o nosso lindo planeta.
Agora anuncia-se a descoberta do Trappist-1. Trata-se de um sistema planetário no qual sete exoplanetas giram em torno de uma estrela anã cujo tamanho equivale, mais ou menos, ao do planeta Júpiter. Os astrônomos estão animados pela semelhança com o nosso sistema solar e a possibilidade de que lá exista água, fator fundamental para a existência de vida.
Entretanto, infelizmente não será possível uma visita ao sistema recém descoberto: Trappist-1 fica a 40 anos-luz de distância da Terra. Seriam muitos trilhões de km a percorrer. Com a utilização de naves espaciais atualmente existentes levaríamos cerca de 700 mil anos para chegar lá.
Na Trappist-1 a distância entre os exoplanetas é pequena. A viagem de um a outro seria feita em poucos dias. Os exoplanetas mais próximos da estrela anã seriam muito quentes, Entretanto, os de meia distância receberiam iluminação próxima à que temos na Terra e as temperaturas ambientes seriam mais amenas, garantindo a presença de água no estado líquido.
Os astrônomos procuram no universo pelo menos um planeta semelhante à Terra. Hoje em dia não de duvida que possa vir a ser encontrado. A pergunta que se faz é: quando?
Chega o carnaval
Muita gente não gosta da folia. Essa turma aproveita os dias de folga para descanso, de preferência onde não se ouça nem ao menos um naco de marchinha. Cada um é feliz a seu modo.
Não adianta: foilão nasce. O samba já vem entranhado na criança que um dia se perderá num cordão. A gente nasce Pierrot, a gente nasce Colombina. Tudo bem marcado já na hora do parto. Não acreditei, mas ouvi de uma parteira que disse ter visto uma menina nascer sambando. Verdade que em matéria de samba e carnaval tudo é possível.
Dizem por aí que o velho carnaval já não existe. O desgaste da festa teria começado com a proibição da lança-perfume. Nada mais de rodar pelo salão, ébrio depois de uma bela cheirada. Nada mais de arranjar coragem para chegar naquela morena fabulosa, empurrado pela boa lança, claro. Nem tinha importância uma esnobada ou até - virge! - um tapa na cara. Valia de tudo no cordão.
Arrebentaram com o carnaval de salão. Desde os bailes nos clubes elegantes nos quais as moças de família dançavam sob a vigilância dos olhos maternos. Ah, quantos beijinhos roubados em meio à multidão… Sobrevivem os blocos, mas como são enormes esses blocos. Tanta gente. Só a alegria continua genuína porque folião de raça não desaparece nunca. Ele se destaca. É aquele cara da música do Ari que volta pra casa na quarta-feira acabado, ainda cantando a Jardineira.
Os desfiles das grandes escolas acontecem com pompa, beleza e não muita espontaneidade. São cinematográficos, belíssimos, carnaval tipo exportação. Verdade que não há como não se arrepiar quando a bateria da Mangueira chega na Apoteose, rufando seus tambores. São legiões de centuriões romanos, marchando com tanto garbo que fariam inveja aos poderosos césares.
No momento o carnaval está sob sério ataque. Acusam as marchinhas de terem letras preconceituosas. Nem pensar em cantar sobre a moça do cabelo duro perguntando “qual é o pente que te penteia?”. Mas, se as marchinhas eram e continuam a ser a alma do povo?
Cuidado: nem mesmo o carnaval é de ferro. Numa dessas o Rei Momo não se aguenta e balalau. Então, adeus carnaval.
No mundo dos nudes
Meu celular é impróprio para menores. Não dá para manuseá-lo impunemente. Antes de entrar no WhatsApp é preciso olhar ao redor para ver se não tem ninguém xeretando.
Parece coisa de loucos. Estou virando especialista em mulheres peladas. A essa altura talvez pudesse participar como jurado de concursos de mulheres nuas. Estranho não? O diabo é que é inevitável. Faço parte de grupos de pessoas amigas e seria no mínimo deselegante sair deles. Confesso que nunca escrevi uma só palavra nos grupos. Recebo mensagens e isso é tudo.
Acontece que alguns membros dos grupos adoram enviar fotos eróticas. Mulher pelada torna-se coisa banal no dia-a-dia. Nas fotos aparecem exibindo suas qualidades físicas em várias posições. Moças atraentes de corpos perfeitos, dessas que ninguém deixaria de dar uma espiada só para conferir. Nuazinhas da silva.
O interessante é que nos grupos existem muitas mulheres. Que eu saiba elas nunca protestaram. Vez ou outra alguma delas dá um grunhido. Não passa disso. Atenção: grunhidos em mensagens aparecem na forma de emoticons com cara de infelizes.
O pior é quando uma criança da família pega o celular para caçar pokémons. Essa febre de pokémons está mesmo demorando para passar. O problema começa quando a criança acessa ao acaso as mensagens e dá de cara com os tais nudes.
Minha mulher pergunta porque não saio dos grupos. Respondo que não posso. A segunda pergunta: então por que você olha as fotos? Não tenho resposta. Então ela conclui: você deve gostar de ver os nudes. Não adianta dizer que não, explicar que aquilo cansa.
Mulheres nuas sempre serão atração enquanto o mundo for mundo. A Playboy tinha desistido de publicar fotos de nudes. Na ocasião o fundador da revista, Hugh Hefner, declarou que publicar as fotos perdera o sentido dado que mulher pelada pode ser vista pela internet.
Agora o filho de Hefner acaba de declarar que a revista voltará às origens: a Playboy é revista de mulher pelada e ponto final, daí que voltará a ser.
Enquanto isso o globo terrestre continua em sua rotina de rotações e translações, indiferente a essa bagunceira. Sabe que os seres que abriga são de fato incorrigíveis e talvez se divirta com isso.
Torturas
O livro “1984” de George Orwell está em voga nos EUA. A vitória de Donald Trump despertou o interesse dos americanos do norte sobre o texto de Orwell. Seria Trump um novo Grande Irmão? Não parece que a sociedade norte-americana possa mudar radicalmente permitindo a instalação de um regime totalitário em seu país. Trump já tem experimentado forte oposição. Seus decretos esbarram em barreiras legais. De fato, governar não parece ser tão simples como comandar um programa de TV.
No livro de Orwell a liberdade inexiste. Nada se passa sem que os olhos do Grande Irmão tenham conhecimento. Teletelas reproduzem o cotidiano dos cidadãos sempre vigiados. Mas, o personagem principal, Winston Smith, passa a se encontrar clandestinamente com uma moça por quem se apaixona. Winston trabalha no Ministério da Verdade onde tem a função de falsificar documentos. Winston detesta o sistema daí burlá-lo. Até que é denunciado, surpreendido em seu recanto amoroso em companha da amante e preso.
A tortura de Winston se dá por ele não concordar com o sistema o que é inaceitável. Longamente interrogado chega o momento em que passa a ser torturado. A tortura consiste em ficar numa sala na qual existe a pior coisa do mundo. Mas, o que é pior coisa do mundo?
A pior coisa do mundo é algo individual. Consiste de alguma coisa que para cada pessoa é insuportável. No caso de Winston a pior coisa do mundo é o contato com ratos. Colocar ratos famintos perto da face, embora separados por uma grade, consiste no que de pior existe para o recluso de “1984”.
Torturas acontecem até hoje. Afogamentos, asfixia, choques elétricos, espancamentos, privação do sono, estrupo e outros meios são usados acusam o novo governo dos EUA de ser favorável à tortura. Em todo o mundo pessoas são torturadas e mortas. Quanto aos torturadores permanece a impunidade.
Gente famosa
Estávamos em NY e entramos numa loja que naquela época não havia por aqui. Enquanto minha mulher olhava as roupas deixei-me ficar deslumbrado diante da beleza de Gisele Bundchen. Nas paredes da loja tinham sido colocadas fotos da modelo. Não havia como evita-las: em todos os cantos, de qualquer ângulo em que se estivesse dava-se com o rosto da bela modelo.
Era o ano 2000. Até então eu jamais havia prestado atenção na brasileira que conquistara o mundo. De lá para cá Gisele tem roubado nossas atenções. A presença dela, atravessando o gramado do Maracanã na abertura das Olimpíadas, é inesquecível. Beleza, elegância, enfim tudo o que se pode esperar de uma extraordinária modelo top. Realmente a moça enchia os nossos olhos.
Mas, uma pessoa como Gisele Bundchen encontraria nesse mundo de Deus um homem a quem não fizesse sombra? Não é que ela se casou com o quarterback Tom Brady, dos Patriots? Acontece que Brady não é apenas “o marido” de Gisele. O cara é um jogador fenomenal, detentor de grandes feitos em seu esporte. Ontem Brady e sua equipe operaram o milagre de virar um placar de dez pontos negativos na grande final do Super Bowl. Era de se ver a festa de Brady e Gisele após a grande vitória.
Mas, por que nos interessaria a vida e feitos de gente famosa? Por que acompanhar notícias de ídolos do esporte, personalidades do show bis e tantos outros expoentes em suas áreas de atuação?
Razões existem e muitas. Talvez porque essas pessoas representem o que de melhor se espera do gênero humano enquanto profissionais atuantes. Além do que amenizam a rotina de um dia-a-dia tão repetitivo e carente de emoções. Não é por acaso que nos interessa saber o que se passa com Pelé embora ele tenha parado de jogar há tanto tempo. Amamos nossos ídolos, identificamo-nos com eles. Fazem parte de nossos sonhos e aspirações. Mohamed Ali nocauteando Joe Frazier, alcançando vitória quase inacreditável traz-nos a imagem de que o homem tudo pode. E que dizer dos astronautas que pisaram na Lua pela primeira vez, rompendo a barreira do espaço até então considerada difícil de vencer, senão impossível? Quanta emoção. Éramos nós que chegáramos ao satélite querido. Enviáramos um representante da espécie ao espaço.
Os famosos, os ícones de cada época funcionam como estandartes seguidos pelas multidões. Além das tramas dos filmes o cinema nos oferece os atores com os quais nos identificamos. Marylin Monroe permanecerá um mito enquanto o mundo for mundo. Marlon Brando viverá para sempre nas memórias dos que o viram nas telas. E assim por diante.
Há quem sinta arrepios ao se falar sobre gente famosa. O diabo é o exagero. As revistas de fofocas são de fato insuportáveis. Mas que fazer se precisamos de ídolos?
O 2013FK
Um juiz dos EUA suspende o decreto do presidente Donald Trump que impede a entrada de pessoas de 7 países muçulmanos. Antes da ação do juiz protestos aconteceram contra a determinação do presidente. Aliás, Trump preocupa o mundo ao se mostrar indiferente ao que acontece fora dos EUA. “América forte” é o lema do novo presidente que ameaça invadir o México, desestabilizar o equilíbrio europeu, cutucar a China e assim por diante. Especialistas dizem que Trump poderá levar seu país à guerra. De todo modo líderes políticos em todo o mundo mostram-se preocupados. O lamentável telefonema de Trump ao ministro australiano tem sido apontado como mostra da arrogância do presidente e grande erro. A Austrália tem sido importante parceiro dos RUA e Trump nem mesmo levou isso em conta.
Enquanto isso e indiferente ao que acontece entre nós, passa ao largo da Terra o 2013FK. Trata-se de um enorme asteroide - 94 metros de diâmetro - que ao passar por nós estará a uma distância de 2,7 milhões de quilômetros de nosso planeta. Distância segura, portanto, não havendo risco de colisão.
Não é demais lembrar-se de que há 65 milhões de anos uma enorme colisão de corpo celeste com a Terra encerrou o período cretáceo e determinou grande mortandade e seres vivos. Foi o fim da era dos grandes dinossauros, tendo a Terra ficado sob imensa nuvem de poeira que dificultava a passagem de raios solares.
Diante de evento de tal magnitude, frequentemente esquecido, é de se perguntar sobre a existência do homem na Terra. Chama atenção a precariedade de nossa situação, habitantes de um pequeno planeta sujeito às condições nem sempre favoráveis do universo.
A passagem do 2013FK bem que poderia servir como sinal não só da precariedade do planeta que habitamos como da brevidade da vida. Talvez a consideração da pequenez do homem diante da magnitude do universo servisse a reflexões sobre a necessidade de paz entre os povos e preservação de interesses comuns.
Mas, infelizmente, não parece ser essa a natureza do homem. Fortalecidos por suas conquistas e detentores de poderes conferidos por seus pares governantes agem tantas vezes perigosamente. O passado e os percalços vividos ao longo da história humana não são levados em conta. Avança-se em terreno minado sem que isso sirva de advertência.
Família Real
Estávamos na décima garrafa de cerveja e bateu na turma o momento de falta de assunto. Já tínhamos esgotado o futebol, as mulheres e a política. Íamos pedir a décima primeira quando o Haroldo se saiu com essa: não gosto da Inglaterra, o país ainda tem rainha, nem votam para presidente.
Olhamos para o cara, boquiabertos. De ondes fora tirar aquela máxima, naquela hora, naquele lugar? Efeito da cerveja? Bebera mais que a gente?
Ninguém contestou. A bobagem era grande demais para merecer discussão. Vieram a décima primeira e outras tantas até o fechamento da conta. Mas, vai-se saber como funciona o cérebro: arquivei na memória as palavras do Haroldo e vez ou outra me lembro delas.
Anos mais tarde estive no meio da multidão, diante do Palácio de Buckingham, para assistir à troca da guarda. Vendo o palácio pensei que naquele lugar morara e dali reinara a Rainha Vitória no século XIX. Enfim, em Westminster respirava-se tradição e explicava-se a devoção dos ingleses em relação à família real.
Obviamente, esse sentimento é estranho para nós. Desde meninos ouvimos nas escolas sobre o bonachão D. João VI, o mulherengo D. Pedro I, e D. Pedro II pouco afeito ao cargo de imperador. Filmes sobre a nossa história de modo algum valorizam a família real portuguesa que reinou no Brasil. Entretanto, historiadores de renome destacam o êxito dos 50 anos em que Pedro II esteve à frente do governo do país. Além do que o regime monárquico ainda hoje é tido por alguns como a melhor solução para a gerência dos negócios do Brasil.
Enquanto isso na Inglaterra o príncipe George rouba cenas levado por seus pais em viagens ao exterior. George tem 3 anos de idade e figura em terceiro lugar na linha sucessória ao trono. Sendo a monarquia duradoura entre os ingleses no futuro George será rei. Consta da tradição inglesa a proclamação: “o Rei está morto; viva o Rei”. Um dia o “Viva o Rei” soará para George.