2017 agosto at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para agosto, 2017

Os sacis

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Não faz muito tempo um empresário afirmou criar 17 casais de sacis em seu sítio. Segundo ele os sacis têm cerca de 1,20 m de altura, também vivem na mata e protegem a fauna e a flora.

O saci é dos mais destacados personagens do folclore nacional. Negrinho de um perna só, fuma cachimbo e porta um gorro vermelho na cabeça. Existe no país a Associação Nacional dos Criadores de Saci (ANCS). O empresário sobre quem falamos é o representante da Associação em Botucatu. Mas, ele avisa que não é fácil encontrar-se um saci dado o crescente desenvolvimento urbano. Além do que nem todos os sacis são iguais: existem tipos diferentes, uns que têm apenas a perna direita, outros só a esquerda.

Muitas lendas correm sobre sacis. Consta que a cidade de Porangaba teria sido amaldiçoada por uma cigana daí, talvez, o fato de no lugar existirem muitos sacis.

Não sei se hoje as mamães usam o personagem saci para amedrontar crianças peraltas. No passado os pequenos que não se comportavam eram informados de que o saci poderia estar por perto e o melhor seria emendarem-se. A conhecida figura do saci metia algum medo nas crianças por esses interiores do Brasil.

Os sacis sempre eram citados quando não se encontravam explicações razoáveis para fatos incomuns. Atribuía-se a culpa de algum malfeito ao negrinho de uma perna só. Muito comum era culpar-se o saci pelo desparecimento de pés de meia. Mas, a quem interessaria roubar ou fazer desparecer apenas uma meia? Certamente só teria interesse numa coisa assim alguém que só precisasse de uma do par, ou seja, alguém de uma perna só. De modo que desde sempre o saci tem sido responsabilizado pelo desparecimento de meias que estranhamente somem nas casas de famílias.

Há quem ache tudo isso nada mais que uma grande bobagem. Confesso que também me esquecido dos sacis e suas traquinices. Até que, dias trás, conversando ao telefone, ouvi da pessoa com quem falava queixas sobre o desparecimento de um dos pés das suas meias. Reclamava de gavetas cheias com um pé de cada par. O mais interessante é que a pessoa nem mesmo titubeou em atribuir o malfeito ao saci. Ao ouvir isso comecei a rir no que não fui acompanhando pelo queixante que, assim me pareceu, falava sério.

Transtornos de personalidade

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Psicopatas e sociopatas andam por aí. Cruzamos com pessoas aparentemente “normais” muitas vezes sem desconfiar de que, por detrás da máscara com que se apresentam rotineiramente, escondem-se vulcões prontos a entrar em erupção.

Na Alemanha um enfermeiro é suspeito de matar 84 pacientes e confessa ter praticado crimes por simples tédio. Foi pego por um colega de trabalho quando aplicava em paciente injeção de efeito mortal. Sua técnica de eliminação envolvia a aplicação de overdoses de medicamentos em pacientes em recuperação. Já condenado pelo assassinato de dois pacientes o enfermeiro vê-se agora às voltas com novas acusações.

Em Fortaleza revela-se caso assustador: um homem mantinha em cárcere privado a mulher e seis filhos. Adolescentes e as crianças eram mantidas isoladas de parentes e amigos. Nenhuma delas frequentava escola e duas menores não tinham certidão de nascimento.

Do perfil psicológico do homem constam alucinações e relatos de perseguição. O mais incrível era que conseguia manter a família em cárcere privado num apartamento localizado em região nobre de Fortaleza.

Infelizmente não se passa muito tempo entre a descoberta de casos aterradores praticados por pessoas que apresentam graves transtornos de personalidade. Existem casos emblemáticos como o do Bandido da Luz Vermelha até hoje muito citado. João Acácio foi um ladrão, assassino e estuprador que atuou nos anos 60 do século passado. Entrava nas casas para roubar e acordava suas vítimas com uma luz vermelha. Preso e condenado foi libertado após passar 30 anos no Manicômio Judiciário. Pouco tempo depois de sair, dadas suas dificuldades em sociabilizar-se, foi assassinado.

Assiste-se atualmente a verdadeira explosão de casos de violência. Crimes são praticados sem que os assassinos demostrem qualquer compaixão pelos semelhantes. O campo fértil da criminalidade incontida abre espaço para portadores de transtornos de personalidade externarem seus baixos instintos. Resta-nos torcer para que um deles não cruze com o nosso caminho.

Naufrágios

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Sempre tive medo de águas. Fui criado assim, Perdi dois irmãos por afogamento daí nem mesmo ter me atrevido a fazer natação. Mais um filho afogado seria o fim para minha mãe.

Não gosto de lanchas, barcos, navios. Estive em alguns cruzeiros, num deles enfrentando mar muito agitado. Foi no trajeto entre Santa Catarina e Montevideo. Na ocasião nem mesmo foi possível servir-se o jantar. Os pratos não paravam sobre as mesas. O navio gigante parecia estremecer. Ondas violentas chegavam aos andares mais altos. Na manhã seguinte, em Montevideo, muita gente deixou o navio. Recusavam-se a seguir viagem pelo receio gerado na noite anterior.

Naveguei numa escuna entre Salvador, Itaparica e algumas ilhas próximas. Roteiro turístico belíssimo. Ao anoitecer voltávamos e o mar agitou-se. Tamanho o desconforto que os passageiros atemorizaram-se. Ondas não só balançavam o barco como éramos molhados pela água salgada. Num momento de grande tensão pessoas gritavam. Vi gente rezando. Naquele início de noite tive a impressão de que me uniria a meus irmãos pelo mesmo tipo de fim.

Na semana dois naufrágios aconteceram, um no Xingu, outro com uma embarcação que levava passageiros de Itaparica para Salvador. Em ambos muitos mortos e histórias terríveis narradas pelos sobreviventes. Um menino salvo das águas não resistiu e faleceu horas depois. O caso comoveu o país.

Nessas ocasiões procuram-se os responsáveis pelas tragédias. Mais uma vez surgem notícias sobre falta de fiscalização e destaca-se a extensão o litoral do país como empecilho para controle. A isso se somam irresponsabilidades dos proprietários de embarcações nem sempre preparadas para enfrentar os perigos do mar.

Mas, infelizmente, tudo passa. Fala-se sobre o assunto durante alguns dias, mas a vida continua. Os mortos são esquecidos, os responsáveis nem sempre são punidos. As vítimas serão lembradas daqui a algum tempo, quando da ocorrência de novos naufrágios.

O fim da história?

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Sabe-se que o “fim da história” preconizado por Hegel não aconteceu. A teoria de Hegel propunha que, com o fim das mudanças, a humanidade atingiria o equilíbrio representado pelo liberalismo e a igualdade jurídica.

Acreditou-se que com a queda do muro de Berlin a história tivesse chegado a seu fim. Em 1992 Francis Fukuyama publicou o livro “O fim da história e o último homem”. Para ele, com o fim do antagonismo da Guerra Fria, a destruição do fascismo e do socialismo, a humanidade passar a viver dentro da democracia isso significando o coroamento de sua evolução. A democracia liberal ocidental teria se firmado como a solução final do governo humano.

De lá para cá muita água tem rolado por debaixo da ponte. O proposto “fim da história” simplesmente não aconteceu. O mundo atravessa sério período de desequilíbrio no qual os homens não se entendem. Imigrantes chegam à Europa para fugir de conflitos em seus países. Atos terroristas se repetem. O fundamentalismo islâmico proporciona a formação de grupos radicais para os quais o ocidente não passa de ameaça a ser destruída. Vida de vítimas inocentes são ceifadas quase sempre impunemente. Países como os EUA e a Coréia do Norte mostram-se dispostos a um conflito nuclear. A democracia ocidental não deu conta do recado. Não se converteu no governo resultante do equilíbrio da humanidade. Fukuyama estava errado.

Tudo isso nos leva a pensar que o homem talvez não seja um tipo de ser afeito a equilíbrios. O lado animal da espécie muitas vezes fala mais alto. O apelo à selvageria faz parte do temperamento aguerrido que, em parcelas da humanidade, sobressai-se aos bons instintos. Nisso a razão da violência urbana que nos atinge e ameaça.

A história nos mostra que o homem sempre foi o mesmo, a despeito das condições em que viveu em diferentes épocas. Por isso obras escritas há muito tempo, como as de Shakespeare, permaneçam atuais. Elas falam sobre o homem daí suas mensagens serem ouvidas até hoje como de grande atualidade.

Depois da violência

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Sempre me pergunto sobre ”a vida que continua’ de pessoas envolvidas em atos de violência. Essas mulheres que choram a perda de filhos, crianças vitimadas por balas perdidas, como será o amanhã para elas? Que sentido terá continuar vivendo sob a dor lancinante da perda irreparável?

Numa das grandes rodovias do país aconteceu de um casal parar num posto, à beira da estrada, para abastecer o veículo. Tanque cheio, saíram e logo foram abalroados por outro veículo. Fato acontecido o marido parou seu carro para verificar a extensão do estrago. Nesse momento foi surpreendido pelos ocupantes do outro veículo envolvido no acidente que fora proposital. Eram bandidos. À beira da estrada, envolto pela escuridão, o homem entrou em luta corporal com um dos meliantes. Durante a refrega o homem caiu no leito da estrada, foi atropelado e morreu. Em seguida os bandidos roubaram o carro e sumiram.

Impossível imaginar o terror imposto à mulher que acabara de perder o marido em circunstâncias tão violentas. De um minuto para outro seu companheiro simplesmente deixara de existir através de morte absurda, provocada por um bando de meliantes.

Como seguirá a vida dessa mulher após tão estúpida tragédia? Voltará ela algum dia a dormir em paz?

Filho de pessoa minha conhecida, homem de cerca de 40 anos, trafegava na Via Dutra e parou num posto para tomar um café. Ao sair deu com bandidos e foi assassinado. São passados alguns anos. A mãe segue em frente, inconsolável.

A violência ameaça, oprime. Tão cotidiana tornou-se “comum”. Ouvimos noticiais terríveis com sentimento de impotência. Agradecemos à sorte quando tornamos à casa ao final do dia sem termos sido acossados por situações de perigo. Diante de estatísticas que atestam o crescimento desenfreado da criminalidade perguntamo-nos sobre o que será, afinal, o fim de tudo isso.

A civilização se descontrói diante da escalada brutal da criminalidade.

O fuzil de Michael Jackson

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Há quem diga que Michael Jackson não morreu e aguarda-se seu retorno. Ao morrer o ídolo pop deixou órfãos milhares de fãs que não se conformam com seu desaparecimento. Aliás, sobre as circunstâncias da morte de Jackson ainda permanecem algumas sombras sejam elas reais ou inventadas.

Em vida Jackson foi o que foi. Astro de primeira grandeza era um sujeito para lá de esquisito. Mas, quando incorporado em sua arte de intérprete e exímio dançarino não deixava de ser simplesmente fantástico. Enlouquecia seus admiradores e arrastava atrás de si legiões de verdadeiros fanáticos. As acusações que a ele fizeram relacionadas à pedofilia nunca foram comprovadas. Jackson adorava crianças e parece que vida afora nunca deixou de ser ele próprio uma criança.

Em sua conturbada passagem pelo Brasil, onde veio para gravar um clip, Michael Jackson esteve no Rio onde dançou na plataforma da favela situada no morro de Dona Marta. O momento foi eternizado através de uma estátua do cantor que se tornou atração turística na comunidade local.

Mas, é o Rio. Como se sabe a cidade maravilhosa - e ponha-se maravilhosa nisso - atravessa, talvez, o pior momento de sua história. Sitiada pela violência, assistindo a inúmeros assassinatos que se repetem no dia-a-dia, a cidade oferece ao mundo um triste espetáculo de perda da cidadania. Ninguém parece estar seguro no Rio onde facções criminosas dominam o tráfico de drogas e matam, quase sempre impunemente, cidadãos, policiais e mesmo os próprios traficantes. Fotos de bandidos portando armas potentes não são incomuns nos jornais. Muitas vezes até meninos são flagrados portando armamento pesado.

Em meio a essa triste situação eis que nem Michael Jackson é poupado. Está nos meios de comunicação uma foto de sua estátua na qual aparece um fuzil pendurado ao seu pescoço. A arma de grosso calibre na estátua viralizou nas redes sociais e repercutiu em toda parte.

Agora a polícia informa que, após ação realizada na Favela de Santa Marta, suspeita-se que o fuzil tenha sido colocado na estátua por traficantes. Não respeitaram os bandidos o símbolo da visita do cantor ao local. Michael Jackson estivera ali em 1996 e, no local, gravara cenas do clipe da música “They Don´t Care About Us”.

Dupla eutanásia

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Ouve-se dizer que quem fala bem da velhice simplesmente mente. Não é difícil encontrar quem odeia a expressão “melhor idade”. Melhor idade para quê, pergunta-se.

A velhice é a fase na qual olha-se para trás, reveem-se os momentos vividos que se acumulam sob o manto do passado, e depara-se com a inevitável proximidade da morte. O idoso sabe que o tempo que lhe resta não é grande, além do que passa a prever dificuldades crescentes com o correr dos aniversários.

Filmes sobre esse período da vida nem sempre nos deixam confortáveis. O filme francês “Amour”, estrelado por Jean Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, é desses aos quais não se assiste incolumemente. Os dois atores formam um casal de idosos, Georges e Anne, no período final de suas existências. Anne sofre uma cirurgia depois da qual se torna totalmente dependente do marido. Ele, bastante velho, esgota-se nos fazeres caseiros e atendimento às necessidades da mulher. A atmosfera do apartamento em que vivem reflete o isolamento e tensão do casal, raramente visitado pelo genro ou pela filha. O final, como se pressente, é trágico.

Casais que decidem morrer juntos geram notícias que nos espantam. O caso de Stephen Zweig, grande escritor que se refugiou no Brasil para fugir ao nazismo, é exemplar. Homem habituado à sociedade europeia, renomado, pesou a ele demais a vida isolada em Petrópolis. Encontraram a ele e à mulher, mortos em razão de terem se suicidado.

Agora noticia-se sobre um casal de holandeses que, aos 91 anos, decidiram-se pela dupla eutanásia. Depois de um acidente vascular cerebral, ocorrido há cinco anos, o homem teve limitação de suas atividades, muita dor e hospitalizações. A mulher esgotou-se e adoeceu ao cuidar do marido. Na Holanda a eutanásia é permitida embora seja necessária a autorização. No caso do casal em questão a autorização foi concedida. Assim, despediram-se das pessoas às quais estavam ligadas e entregaram-se à dupla eutanásia. Consta que disseram palavras amáveis um ao outro e morreram de mãos dadas.

Vida de torcedor

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O Palmeiras foi eliminado na disputa pela Taça Libertadores da América. Ganhou jogando em casa, mas foi derrotado na cobrança de pênaltis. Na manhã seguinte gozava-se a gente palmeirense. Torcedores de outras equipes de São Paulo não perdoavam os palestrinos. Campeão brasileiro no ano passado o Palmeiras era tido como o melhor time brasileiro para este ano. Vários jogadores foram contratados, o técnico Cuca voltou a treinar o time, mas algo não está dando certo.

Os torcedores não palmeirenses torceram pela derrota do time palestrino.  Embora isso pareça natural é bom lembrar de que nem sempre foi assim. Nos meus tempos de menino torcíamos, em primeiro lugar, pelo time do coração. Quantas encrencas tive com meu irmão, alguns anos mais velho que eu, apaixonado pelo Corinthians. Dia de jogo entre o Corinthians e o São Paulo sentávamos diante do rádio e era pancada na certa. Ele, mais velho e maior, sempre levava vantagem. Mas, como resistir a um gol do time do coração narrado pelo Pedro Luís?

Depois do time do coração torcia-se pelo futebol do Estado. Se qualquer equipe paulista se defrontasse com adversários de outro Estado - ou do exterior - não havia dúvidas de que torceríamos pelos nossos. Naquela época a rivalidade entre Rio e São Paulo era enorme. Como torcer para Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco quando qualquer um deles jogava contra uma equipe paulista? E no caso da seleção brasileira a questão envolvia a origem dos jogadores convocados. Não se aceitavam muito bem os do Rio.  Naquela magistral linha campeã do mundo em 58, só Pelé jogava em time paulista.

Por último, caso um time brasileiro enfrentasse um de outro país logicamente torceríamos pelos nacionais. Deixava de importar se eram equipes paulistas ou cariocas. Naquela época Rio e São Paulo eram os grandes centros do futebol. Outros estados eram menos expressivos.

Daí que ainda hoje estranho o prazer das torcidas adversárias em relação à derrota do Palmeiras. Não posso negar que também torci contra. Mas, o que mudou?

A resposta pode ser ampla. Mudaram o mundo, a sociedade e os costumes. Mudou o homem. Mudaram o companheirismo e o respeito ao próximo. Estes são tempos em que torcidas organizadas agendam brigas pela internet, não raramente com vítimas fatais. Tempos nos quais jogos entre grandes equipes locais são realizados com torcida única para evitar a violência. Tempos em que cada vez mais nos tornamos seres solitários e pouco afeitos aos problemas alheios. Tempos de arrivismo nos quais não sobra espaço para consideração aos semelhantes. Tempos em que se deseja que qualquer adversário, seja de qual tipo for, que ele se dane.

Lee Morgan

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Para quem é fã do jazz é imperdível a oportunidade de assistir ao documentário “I called Lee Morgan”, disponível aos assinantes do Netflix. Nele o espectador pode acompanhar a trajetória desse grande expoente do trompete cuja vida foi tragicamente abreviada aos 33 anos de idade, em fevereiro de 1972.

Morgan foi descoberto pelo jazz ainda muito cedo. Surgiu no cenário musical norte-americano na banda de Dizzy Gillespie. Mais tarde se notabilizou na banda de Art Blakkey, fazendo parte do Jazz Messengers do conhecido baterista. São antológicas as gravações do grupo nas quais o jovem Lee Morgan tocava ao lado de outro jovem, o notável saxofonista Wayne Shorter.

Morgan pertencia à elite dos grandes músicos da era do hard bop. Sua carreira esteve interrompida durante algum tempo dado ter-se viciado em heroína. Relatos da época atestam que durante esse período o trompetista vivia nas ruas como mendigo.

Morgan foi resgatado por Helen Moore com quem passou a viver junto. Helen era figura conhecida em New York, frequentando o ambiente jazzístico da cidade. Foi ela quem trouxe Lee Morgan de volta ao jazz. Entretanto, com o passar do tempo Morgan começou a sair com outra mulher, mais moça que a companheira, fato que despertou o ciúme em Helen. Numa noite em que tocava num dos bares de jazz da cidade, o Slug Sallon, Morgan recebeu Helen que pediu a ele para mandar para casa a moça, também presente, com quem estava saindo. O desfecho da conversa foi um tiro de revólver desferido por Helen que feriu mortalmente o trompetista. Havia grande nevasca em New York, a ambulância demorou a chegar e Lee Morgan chegou morto ao hospital.

O documentário serve-se de uma entrevista cedida por Helen Moore pouco antes de sua morte. Músicos que tocaram juntamente com Lee Morgan falam sobre ele, inclusive um produtor musical que estava presente no Slug Sallon na noite em que o trompetista foi assassinado. Depoimento muito interessante é o de Wayne Shorter que fala sobre a grandeza de Lee Morgan, referindo-se ao período em que tocaram juntos no Jazz Messensgers.

A voz de Helen Moore que narra sua relação com Lee Morgan, inclusive o assassinato de que se arrepende, devolve-nos a atmosfera daqueles anos em que nos bares de New York atuavam memoráveis expoentes do cenário jazzístico. Vale a imersão do espectador nesse mundo reconstituído através da arte cinematográfica.Para quem é fã do jazz é imperdível a oportunidade de assistir ao documentário “I called Lee Morgan”, disponível aos assinantes do Netflix. Nele o espectador pode acompanhar a trajetória desse grande expoente do trompete cuja vida foi tragicamente abreviada aos 33 anos de idade, em fevereiro de 1972.

Morgan foi descoberto pelo jazz ainda muito cedo. Surgiu no cenário musical norte-americano na banda de Dizzy Gillespie. Mais tarde se notabilizou na banda de Art Blakkey, fazendo parte do Jazz Messengers do conhecido baterista. São antológicas as gravações do grupo nas quais o jovem Lee Morgan tocava ao lado de outro jovem, o notável saxofonista Wayne Shorter.

Morgan pertencia à elite dos grandes músicos da era do hard bop. Sua carreira esteve interrompida durante algum tempo dado ter-se viciado em heroína. Relatos da época atestam que durante esse período o trompetista vivia nas ruas como mendigo.

Morgan foi resgatado por Helen Moore com quem passou a viver junto. Helen era figura conhecida em New York, frequentando o ambiente jazzístico da cidade. Foi ela quem trouxe Lee Morgan de volta ao jazz. Entretanto, com o passar do tempo Morgan começou a sair com outra mulher, mais moça que a companheira, fato que despertou o ciúme em Helen. Numa noite em que tocava num dos bares de jazz da cidade, o Slug Sallon, Morgan recebeu Helen que pediu a ele para mandar para casa a moça, também presente, com quem estava saindo. O desfecho da conversa foi um tiro de revólver desferido por Helen que feriu mortalmente o trompetista. Havia grande nevasca em New York, a ambulância demorou a chegar e Lee Morgan chegou morto ao hospital.

O documentário serve-se de uma entrevista cedida por Helen Moore pouco antes de sua morte. Músicos que tocaram juntamente com Lee Morgan falam sobre ele, inclusive um produtor musical que estava presente no Slug Sallon na noite em que o trompetista foi assassinado. Depoimento muito interessante é o de Wayne Shorter que fala sobre a grandeza de Lee Morgan, referindo-se ao período em que tocaram juntos no Jazz Messensgers.

A voz de Helen Moore que narra sua relação com Lee Morgan, inclusive o assassinato de que se arrepende, devolve-nos a atmosfera daqueles anos em que nos bares de New York atuavam memoráveis expoentes do cenário jazzístico. Vale a imersão do espectador nesse mundo reconstituído através da arte cinematográfica.

Medos

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De que você tem medo? Conheço pessoas que afirmam desconhecer o medo. Medo seria coisa de gente fraca, refletindo algum tipo de desequilíbrio emocional. Sorte dessa turma que não tem medo, não?

Não dá para imaginar o que se passa na cabeça de um sujeito como Stephen King. O escritor já escreveu tantos livros de terror - muitos adaptados no cinema como “O Iluminado”, “Carie a Estranha” - que se torna justo supor que a mente dele tenha alguma ligação com o mundo de sombras. King escreve tanto sobre o mesmo assunto que não seria demais afirmar que ele habita algum subterrâneo do qual extrai as situações totalmente inusitadas que nos assustam enquanto seus leitores.

Mas, de um homem assim espera-se que ele tenha medo? Em entrevista Stephen King relaciona as coisas que a ele infundem terror. Ele tem medo, por exemplo, de seres rastejantes. Também o assustam os insetos e morcegos. Mas, o pior são os psicopatas que andam por aí. De um minuto para outro um deles pode aparecer na sua frente com uma faca ou revólver. Veja-se o caso de Marc Chapman que assassinou John Lennon, em 1980.

Cada pessoa tem sua reserva de medos, de coisas que as assustam. Menos comum hoje em dia, o medo de almas do outro mundo já ocupou lugar de destaque na hierarquia de medos. Hoje em dia o sobrenatural tem cedido lugar ao receio quanto à violência. Tal o crescimento da criminalidade que já não se pode andar tranquilamente pelas ruas. Num ambiente no qual impera o desrespeito pela vida humana o medo de ser vítima de algum tipo de violência é regra geral.

Sempre gostei da literatura fantástica e filmes de terror. Nos últimos tempos deixei de frequentá-los. Recentemente, li o conto “A loteria”, de Shirley Jackson, considerado um clássico, pela primeira vez publicado em junho de 1948 na revista The New Yorker. A reação negativa dos leitores surpreendeu os editores da revista. Muitos cancelaram as assinaturas e, na África do Sul, o conto foi banido. Ainda hoje se lê “A Loteria” com algum espanto.

É de se imaginar a revolta dos leitores a um conto no qual a violência é extrema. Vivia-se o período otimista do pós-Guerra e o conto abria a possibilidade de violência em pacatas comunidades do interior do país.