2017 agosto at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para agosto, 2017

Pródromos da guerra

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Perigosamente avançam os desentendimentos entre a Coréia do Norte e os países do mundo ocidental. O presidente Trump avisa aos coreanos sobre “fogo como o mudo nunca viu”.

Mas, a Coreia do Norte não parece intimidada. Informa dispor de mísseis de longo alcance portadores de ogivas nucleares. O país se diz pronto para responder às provocações do ocidente. Tudo depende do líder Kim Jong-un tomar a decisão. O primeiro ataque seria a bases norte-americanas de Guam, no oeste do Pacífico.

Notícias alarmantes surgem diariamente. A impressão é a de que não são levadas a sério as intenções do líder norte-coreano. Talvez ele esteja até mesmo blefando. Pela cabeça dos povos do mundo a última coisa que passa é a deflagração de uma guerra nuclear. Fala-se sobre essa possibilidade apenas em hipótese. Trump terá o bom senso de não atacar a Coreia. Kim Jon-um nada mais é que um jogador blefando à mesa de pôquer.

Não custa recordar que a Primeira Guerra Mundial teve início após o assassinato d um príncipe em Sarajevo. Há um texto de Stephan Zweig relatando a surpresa dos vienenses ante a notícia de que a guerra estaria começando. Os soldados partiram felizes para combates que, assim acreditava-se, teriam curta duração. Seguiram-se quatro longos anos de lutas ao custo de muita destruição e milhares de mortos.

A História de nada parece servir para que os homens reflitam sobre erros do passado e perigos do presente. Mais dia, menos dia, o ditador coreano acaba apertando um botão. O que será do mundo daí por diante nem mesmo o mais iluminado vidente será capaz de prever.

Nervos em fúria

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No trânsito. Manhã de sol, temperatura agradável, na janela do apartamento um canário engaiolado canta. Sinal fechado. De repente a porta do carro da frente se abre e aparece o motorista que, dedo em riste, aponta para frente.  Num segundo surge o motorista do outro carro, muito bravo. Os dois homens discutem. Dá para ouvir um deles dizendo que, afinal, tratava-se apenas de um esbarrão, nenhum amassado. Mas, a essa altura o tempo já está quente. De um dos carros desce um homem, do outro dois. Pronto: são cinco pessoas discutindo acaloradamente. Um deles, um baixinho, é mais aguerrido. Ele perde o controle e é preciso segurá-lo para que não agrida o motorista do outro carro.

O sinal abre, mas ninguém se aventura nem mesmo a buzinar. Os que discutem parecem pessoas preparadas para o que der e vier. Receia-se que um deles saque de uma arma e sabe-se lá o que poderá acontecer em seguida.

O confronto não se resolve bem. O baixinho é forçado por um de seus companheiros a entrar no carro. De repente, todos estão em seus carros, esperando pela abertura do sinal. Inexplicavelmente o primeiro motorista, aquele que desceu com com o dedo em riste e começou a confusão, sai novamente do carro e começa a gritar. Mas, o sinal abre, o carro da frente acelera, distanciando-se. A impressão é a de que o sujeito que ainda grita o siga para continuar a discussão.

Respiramos aliviados. Enorme confusão gerada por quase nada. Mas, felizmente, não foi dessa vez. Saímos ilesos, nenhum tiro, nenhuma morte. Pode-se considerar que tivemos sorte. Hoje em dia quase tudo termina em assassinatos. Estar por perto de uma discussão dessas oferece o risco de ser atingido por uma bala perdida. Acontece toda hora

Já no trabalho me sinto feliz. Ganhei o meu dia, a minha sobrevivência.

Tem muita gente boa

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Aconteceu no Jornal Nacional. Reportagem sobre fatos ocorridos em cidade interiorana mostrou pessoas agindo com honestidade. Um homem que encontrou dinheiro perdido por alguém ao sair de uma lotérica, devolveu o dinheiro; uma mulher, muito simples, recebeu de volta cerca de 5 mil reais que acumulara durante muito tempo e perdera dentro de uma meia de criança; o proprietário de uma barraca de beira de estrada deixa produtos de sua plantação para que as pessoas comprem e depositem o dinheiro numa caixa sem a presença de nenhum vendedor.

No fim da reportagem a apresentadora do Jornal não se contém. Olha para a câmera e diz, com emoção: tem muita gente boa por aí.

Pois é. Muita gente boa. A frase soa estranha num veículo que se ocupa, dia e noite, em divulgar safadezas, desvios milionários, propinas, roubos ao erário público, enfim toda sorte de corrupção. É quando fatos corriqueiros praticados por gente desconhecida surgem como semente fértil para lembrar-nos de que, afinal, não somos um povo de safados como somos induzidos a acreditar através de tanto falatório sobre falcatruas.

Fala-se por aí que ao brasileiro falta recuperar a esperança. Mais que isso talvez nos falte recordar de que somos um povo bem diferente da corja que se ocupa das atividades políticas no país. Será retomando a crença no ser humano que começaremos a sair do terrível imbróglio que se instalou no país.

Ventania

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As noites de ventania são dolorosas. O vento cortante passa pelas casas e reúne a dor dos homens. É a dor que uiva nas janelas quando o vento passa. A dor sem remédio dos homens. O vento que faz bater as persianas lembra-nos de que somos perecíveis. O vento é um aviso.

Ventou na madrugada. Não pudemos dormir porque sobre nós abateu-se o horror das forças incontroláveis. Temíamos que nossa casa fosse levada. No escuro as crianças choravam. Que Deus é este que nos manda a revolta da natureza a assustar-nos? Que Deus mostra sua força assim tão impunemente?

O velho da casa defronte gritou. A voz estridente do medo foi engolida pelo vento. Maria seguiu no rosário as ave-marias, pedindo clemência ao Senhor dos ventos. Ouviu-se o ruído de telhas arrancadas, estraçalhando-se no chão.

Até o súbito silêncio. Só então pudemos ouvir as ondas do mar arrebentando-se na grande ressaca. Fim do mundo?

A manhã surgiu calada. O dia nasceu nublado e saímos de casa. Por toda parte sinais de destruição. Milagrosamente nossa casa sobreviveu incólume à tormenta da noite.

Reunimo-nos à mesa para o café. Éramos fortes, de algum modo resistíramos.

Maria, ajoelhada a um canto, ainda rezava. Foi a menina quem disse que o Senhor ouvira as preces de Maria.

Escrito por Ayrton Marcondes

2 agosto, 2017 às 12:45 pm

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