2017 outubro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para outubro, 2017

Mulher brasileira

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Quando minha filha voltou da Espanha perguntei a ela se gostara daquele país. Respondeu-me: exceto pelo fato de lá brasileira ser sinônimo de puta, adorei Madri.

Na época noticiava-se que brasileiras eram levadas à Europa com propostas de trabalho falsas e, uma vez no continente, obrigadas a se prostituir. Minha filha, viajante ocasional, certamente topara com essa situação durante sua estadia em Madri.

Mulher bonita sempre desperta o bloco dos garanhões. Samuel Wainer relata em suas memórias caso acontecido em Moscou. Na época o conhecido proprietário da “Última Hora” era casado com a modelo Danuza Leão. Numa recepção um oficial solicitou licença para dançar com Danuza e, claro, que problema haveria. Wainer só começou a se incomodar quando percebeu a presença do vigésimo candidato a uma volta no salão com sua mulher. Olhe que a fila ainda era grande. Hora de ir embora.

Aconteceu numa praia famosa do Ceará, de cujo nome não me lembro. Lugar maravilhoso no qual havia uma barraca bastante agradável e muito bem instalada. Sentamo-nos, eu e minha mulher, para uns goles e os camarões de sempre. Demorei a perceber um americano em mesa não tão próxima, mas que não tirava os olhos de minha mulher. Tudo bem, olhar não mata. Mas cansa. Vinte minutos depois cansa ainda mais - e muito.

Mas, o pior foi quando o cidadão do hemisfério norte simplesmente se levantou, máquina fotográfica em punho, veio até a mesa onde estávamos e pôs-se a fotografar a minha mulher. Assim. Na maior.

Depois o gringo retornou ao lugar dele como se nada tivesse acontecido. Eu? Bem. E agora? Conheço gente que teria partido pra cima e arrebentado o cara ali mesmo. Mas, brigar? Sair no braço com aquele gringo desaforado? Demais, o tal era grande.

Confesso que fiquei mordido e, pior, aquilo não poderia ficar no pé em que estava. Tem hora em que a gente se vê obrigado a ser homem sob pena de trair a macheza. O que fiz? Apenas me levantei, fui até a mesa do gringo, peguei a máquina fotográfica, abri e arranquei o filme. Sim, na ocasião ainda não chegáramos à fotografia digital.

Desenrolei o filme e o joguei sobre a mesa, danificado. O gringo? Ora, era como não se fosse com ele. Mal me olhava. Assistiu a tudo sem gesto, nem palavra. Uma estátua. Não reagiu.

De novo com minha mulher ela me disse que não me supusera tão corajoso. Eu? Bem, contou pontos.

Quando saímos tive a impressão de que o desgraçado ainda olhava a minha mulher. Não tive certeza disso.

Fazer o quê?

Escrito por Ayrton Marcondes

30 outubro, 2017 às 2:05 pm

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O caso Kennedy

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Donald Trump acaba de liberar parte dos documentos secretos relacionados ao assassinato de John Kennedy, em Dallas. Kennedy foi assassinado em 22 de novembro de 1963 durante desfile em carro aberto pela cidade. Ainda hoje as imagens do acontecimento impressionam. O presidente, bastante jovial, seguia ao lado de sua esposa no banco de trás do carro. Há fotos dele instantes antes de ser atingido e já caído sobre a esposa após o projétil atingir sua cabeça. Impressiona a súbita morte do homem mais poderoso do mundo, desparecido de um segundo para outro.

Eram os tempos da Guerra Fria. Pairava sobre nós a ameaça de um embate nuclear que colocaria fim ao mundo em que vivíamos. A cortina de ferro e os EUA não se entendiam. Lembro-me da devastadora repercussão da notícia do assassinato de Kenedy. Parecia-nos impossível que um homem como aquele estivesse simplesmente morto.

A partir do instante em que Kennedy morreu começaram as especulações. Teriam sido os russos? Fidel Castro teria alguma participação? Ou sulistas norte-americanos movidos por interesses regionais seriam os responsáveis pelo atentado? Grupo terrorista?

Prenderam Lee Oswald, o assassino.  Entretanto, Oswald foi assassinado em seguida por Jack Ruby, proprietário de um bar em Dallas. Depois disso especulações. Milhares de páginas foram escritas sobre o caso sem que tenha se chegado a conclusão definitiva.

Um ano depois a Comissão Warren publicou relatório no qual não se destacaram novidades. Daí o interesse pelos documentos agora liberados dada a possibilidade de trazerem à luz novidades sobre o assunto.

John Kennedy sobrevive nas memórias pela empatia pessoal, cargo que ocupou e, principalmente, pelo conjunto de fatos que cercaram seu assassinato. A posse de Johnson, a presença de Jackeline, o funeral em Washington e a comoção mundial tornaram aquele novembro de 1963 inesquecível.

Dias atrás ouvi uma fala num filme na qual a personagem dizia: o período em que vivi em breve será esquecido. De fato, somos nada mais que seres passageiros nesse mundo, presos às circunstâncias de momento que nos cercam. Entretanto, vale ponderar sobre o fato de que a trajetória de John Kennedy provavelmente sobreviverá por algumas gerações futuras. De tal modo sua passagem por aqui foi tão emblemática que dificilmente será relegada ao esquecimento.

Traição

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Vez ou outra relembro o caso do Aurélio e me ponho a cismar sobre o que teria acontecido a ele. Nos anos sessenta do século passado o Aurélio enamorou-se de bela moça. Apaixonado pediu-a em noivado e, depois, em casamento. Casaram-se na igreja e no cartório. Núpcias realizadas, partiram em viagem de lua de mel.

Passados alguns dias eis que retorna o Aurélio, desacompanhado da mulher que ficara na casa de seus pais em cidade próxima. Entretanto, eis que o tempo passa e nada da mulher. Como se sabe a curiosidade do povo não perdoa a ninguém. Falatório em andamento o Aurélio não tem como manter o silêncio. Acaba confessando que descobrira a mulher não ser virgem, condição sem a qual não poderia ele seguir adiante com ela.

Aurélio nunca mais se casou, nem consta de ter-se ligado a qualquer mulher depois. Assumiu o papel do homem reservado e triste que o destino a ele impusera. Anos depois morreu nessa condição.

Aconteceu há algum tempo ter-me encontrado com um amigo, parente do Aurélio. Conversa vai, conversa vem, retomamos o estranho caso. Eu disse que sempre estranhei a separação do Aurélio, ainda mais de mulher tão bonita e vistosa. Seria possível que ele exigisse virgindade de uma moça naquele final da década de sessenta quando as mulheres alçavam bandeiras de liberdade?

Ouvi de meu amigo hipótese que jamais supusera. Chamava-me ele a atenção para o modo de ser do Aurélio, tipo quietão que, até enamorar-se, jamais tivera relacionamento com qualquer mulher. Aliás, nem antes, nem depois de ter-se casado e separado. Pelo que não seria absurdo se supor que “talvez o problema fosse dele”. Ou seja: o Aurélio poderia ser uma dessas pessoas para quem o sexo inexiste. Aliás, rematou o amigo, a moça com quem ele se casara jamais disse uma só palavra sobre o que teria a eles acontecido na tal viagem de lua de mel. Mais tarde ela se casara e tivera filhos, agora pessoas adultas.

Para o Aurélio a noiva o traíra. Será?

Hoje se publica um caso acontecido em Portugal. Um juiz amenizou a sentença dada a um marido condenado por maus tratos à esposa. A essa conclusão chegou o juiz por considerar inaceitável o fato da esposa ter traído o marido. O adultério cometido pela mulher resultou na minimização da sentença do agressor.

A sentença do juiz veio a público e tem despertado reações na internet. Em seu acórdão o juiz entende que “a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher. Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o ato de agressão”

Que se saiba não houve agressão do Aurélio à mulher que acusou de não se virgem. De todo modo os envolvidos já estão mortos embora tenham nos deixado em aberto o curioso caso de sua malfadada união.

A guerra dos macacos

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No filme “Planeta dos macacos - A Guerra” vemo-nos em situação interessante. O acaso de um erro de manipulação genética tornou os macacos inteligentes. Diante da impossibilidade de convivência pacífica entre homens e macacos acontece a guerra. Um coronel comanda um grupo de soldados que aprisiona macacos e os submete à fome e sede. César, líder dos macacos, é preso e torturado. A luta encarniçada parece não ter solução, nem fim.

Somos induzidos a aceitar que aos humanos não resta outra possibilidade que não a de eliminar os macacos. Constrange-nos a maldade dos homens que tratam os animais inteligentes como nada mais que coisas. O mundo pertence ao homem e a civilização humana ameaçada deve ser salva custe o que custar.

Eis aí um conflito a exigir do espectador que tome partido. Afinal, somos favoráveis aos homens ou aos macacos? Questão difícil, mas que, do modo como nos é colocada, fácil de resolver: a torcida é pela vitória dos macacos.

Pesa nessa decisão o cansaço pela conhecida maldade humana. No filme o homem é o predador, o macaco a vítima. O coração pende para o lado dos humilhados e torturados. O macaco se revolta, mas deixa transparecer que, no fundo, quer o bem. E dá no que dá, assunto para quem assistir a película e se decidir.

A imagem de Charlton Heston, andando numa praia deserta e dando com a Estátua da Liberdade destruída está gravada em nossas memórias. O primeiro “Planeta dos Macacos” dava-nos conta do fim da civilização humana e da supremacia dos macacos. O problema persiste nos filmes do gênero mesmo passadas décadas da realização do primeiro.

Mas, afinal, seríamos mesmo contra a nossa espécie caso fôssemos levados às condições extremas propostas no filme? Não creio. Talvez por isso a supremacia dos macacos não nos encante, por mais que tomemos o partido deles no escuro das salas dos cinemas.

Óvnis

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Já ouvi de pessoa acima de qualquer suspeita ter presenciado um óvni sobre as águas marinhas no litoral norte de São Paulo. Quem me contou disse que, na ocasião, viajava de São Paulo à Praia da Baleia. Madrugada alta, após uma curva, deu com a nave espacial. Impossível negar a si próprio não a ter avistado, logo ele que jamais acreditou nessa história de extraterrestres visitarem o planeta. Na ocasião do relato o amigo tinha a seu lado a mulher que, como ele, jura ter presenciado a nave sobre as águas.

Tantos relatos e possíveis evidências sobre visitas de extraterrestres nos levam a cismar sobre a veracidade desses fatos. Por razões obviamente desconhecidas vez ou outra surgem sinais cuja ocorrência foge às explicações disponíveis sobre fenômenos que consideramos naturais.

Desta vez aconteceu em Peruíbe, cidade litorânea do Estado de São Paulo. No quintal de uma casa surgiu marca que moradores atribuem ao pouso de um óvni. Aconteceu no bairro Balneário de São João Batista, dias atrás. A vegetação de uma área de 130 m2 ficou amassada conforme comprovam fotos divulgadas na internet.

Fenômenos assim sempre intrigam. Destarte opiniões de renomados cientistas que têm alertado não só sobre a existência de vida fora da Terra, mas sobre a possibilidade de recebermos visitas de naves de outros lugares o fato é que, até hoje, nada tem-se de concreto sobre isso.  Advertências sobre o risco de serem enviadas ao espaço informações sobre a vida na Terra têm sido constantemente renovadas. O perigo de tais informações virem a ser recebidas por civilizações mais evoluídas e talvez belicosas não deve ser descartado.

O que intriga é a ocorrência de fatos como o acontecido em Peruíbe cuja explicação foge à nossa compreensão. Mas,  por que uma nave alienígena pousaria naquele lugar? Com que finalidade?

O mistério parece ser a norma do universo.

A debacle do São paulo

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Em 1957 meu irmão me levou ao Pacaembu para assistir ao Choque-Rei. Jogavam o São Paulo e o Palmeiras numa tarde de muito sol. O Pacaembu tinha ainda a Concha Acústica que reverberava a barulheira das torcidas. Era uma cidade de São Paulo já agitada, mas nem de longe presa aos gargalos que hoje enfrenta.

Para mim, ainda menino, foi uma tarde maravilhosa. No Palmeiras destacava-se um jovem centroavante, o Mazzola que se tornaria campeão mundial pelo Brasil na Copa de 58. Do São Paulo me lembro do ponta direita Maurinho, do centroavante Gino e do inesquecível zagueiro Mauro. O empate sem gols não decepcionou num jogo vibrante.

O São Paulo foi campeão paulista em 57, vencendo o Corinthians na final. Torci pelo tricolor, ouvindo o jogo pelo rádio. Já era são-paulino fanático, acompanhando alguns dos mais velhos da família que torciam pelo “colosso”.

De 57 para cá vivemos, enquanto torcedores, grandes alegrias e nem tantas tristezas. O time nem sempre esteve à altura de seu nome e poderio, mas alcançou grandes conquistas, inclusive três títulos mundiais. De modo que para um são-paulino roxo o que se passa hoje nas hostes do “majestoso” soa inaceitável.

O tricolor de tantas glórias hoje não passa de time apequenado pela má administração, falta de entendimento entre os que o comandam, brigas de dirigentes, má gestão na parte esportiva e, pior, desinteresse dos atletas que o defendem. Não há ligação entre o glorioso time do passado, suas conquistas e história, com os craques que hoje formam a equipe do São Paulo. Veste-se a camisa tricolor como “mais uma”, outra qualquer. A confusa diretoria deixa passar aos atletas a confusão reinante. Em tal situação não existe a unidade da equipe em torno de um mesmo ideal. A impressão transmitida de dentro do campo é a de que se joga por jogar, para cumprir tabela. Tal a apatia mostrada em grande parte dos jogos que se torna lícito perguntar se, pelo menos, não poderia se fazer maior esforço para fazer jus aos altos salários pagos pelo clube.

Que não se diga que existe falta de apoio. A torcida tem demostrado de modo eloquente seu apoio ao time, comparecendo em massa a jogos, torcendo para que o São Paulo consiga livrar-se do descenso que o ameaça no momento.

A possibilidade de que o tricolor participe da segunda divisão no ano vindouro é grande. A equipe não reage. Ontem, no jogo contra o Fluminense, realizado no Maracanã o que se viu foi um time pequeno, aparentemente acovardado, apático, sem nenhuma criação, como que hipnotizado diante de um adversário que também não passa por um bom momento.

Há quem diga que o melhor seria o São Paulo cair de vez, fato que obrigaria a grandes mudanças em toda a estrutura do clube. Enquanto esperamos, resta-nos aguentar a gozação dos torcedores adversários, gozação aliás justa contra uma agremiação que um dia já foi grande.

Resultado esperado?

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O Senador Aécio Neves descende de gente ilustre de Minas, entre eles seu avô Tancredo Neves. Foi candidato à presidência da República, sendo derrotado por Dilma Rousseff. Figura proeminente no cenário político nacional Aécio é desses homens acima de qualquer suspeita. Ou era.

De fato, o senador viu-se envolvido numa trama dos famosos irmãos Batista. A divulgação da conversa gravada por Wesley Batista na qual Aécio pede dinheiro a ele causou grande estardalhaço. Quando o rei fica nu em público torna-se muito difícil esconder seu corpo.

Há pouco o STF suspendeu Aécio de suas funções e o proibiu de sair de casa à noite. A ação do STF causou celeuma por envolver aquilo que juristas consideraram afronta à Constituição. Diz a letra da máxima carta do país que cabe ao Congresso legislar sobre o mandato de seus pares. A partir daí instalou-se o clima de disputa entre poderes com prejuízos para todos e espanto da população.

Entretanto, em nova seção o STF decidiu que, de fato, ao Congresso pertence a decisão sobre a cassação de mandato de seus pares. Mais uma vez a nova decisão não foi bem recebida de vez que fez pairar sobre a máxima corte do país algum tipo de dúvida.

Hoje o Senado Federal foi palco da votação que selaria o destino de Aécio Neves. Seria ou não mantida penalidade a ele aplicada pelo STF? Sobre isso existiam opiniões divergentes. Falava-se sobre o corporativismo dos senadores que poupariam Aécio para não abrir precedentes a futuras intervenções jurídicas sobre mandatos de parlamentares.

Venceu Aécio embora as acusações de corporativismo e impunidade: 44 senadores votaram pela manutenção do mandato e 26 foram contrários a ela.

Seja lá o que se pense sobre o assunto, o fato é que não há lições a se extrair dessa triste sequência de eventos. Vive-se num país no qual as regras do jogo a cada dia não parecem claras. Idas e vindas em decisões conferem aos cidadãos receios de estarem em mãos talvez não tão confiáveis.

A República se alicerça nos poderes constituídos. Embaraços nesses setores abrem caminho para toda sorte de interpretações e mesmo surgimento de perigosos radicalismos. Não por acaso hoje em dia despontam discursos nacionalistas e radicais que têm obtido expressivo apoio de boa parte da população que vê na instalação da mão de ferro a solução para tanta balburdia.

Resta-nos torcer pelo discernimento dos homens que decidem os destinos do país.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 outubro, 2017 às 10:20 pm

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Mulheres em perigo

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De tempos para cá a palavra feminicídio não sai da mídia. Assassinar mulheres é pratica corriqueira. Aliás, também estuprá-las. Fala-se sobre isso com tal frequência que até parece coisa realmente comum.

Também tem essa coisa de mulher não poder colocar fim a relacionamentos. O envolvido simplesmente decreta não aceitar o fim da relação e parte para a ignorância. Vai atrás da amada e a criva de balas. Em geral também mata quem por acaso esteja ao lado dela.

Ontem foi em Recife. O cara não aceitou a separação, foi atrás da mulher, matou-a e ao pai dela. Dois assassinatos. Simples assim. Outro caso, estarrecedor, o do cara que submeteu a namorada à prisão domiciliar. Começou raspando a cabeça, os cílios e a região pubiana dela. Os vizinhos ouviram os gritos, a polícia chegou a tempo de impedir o celerado de estupra-la.

Vai se tornando rotina homens ejacularem em mulheres dentro de ônibus circulares. Um caso depois de outro. Também no metrô. O sujeito abre a braguilha e ejacula nas costas ou nas pernas de mulheres tomadas pelo susto da inesperada agressão.

Acaba de ser preso um estuprador que se apresenta como policial federal ou como importante empresário dos meios de comunicação. Esse sujeito aborda senhoras de posse junto alugares frequentados por gente mais endinheirada. Uma das mulheres foi abordada no carro pelo falso policial. Percebendo as portas destravadas o malandro entrou no carro, fez a mulher tirar dinheiro no caixa eletrônico e obrigou-a fazer sexo oral nele. Agora preso é defendido por advogado que afirma seu cliente ter problemas de memória: o estuprador não se lembra de nenhum de seus malfeitos. Olhe que várias mulheres abusadas por ele já o reconheceram.

O mundo está de ponta cabeça, disso não restam dúvidas. Obviamente, crimes dessa natureza não são característica apenas do momento em que vivemos. Aconteceram no passado. Acontecerão no futuro.  Hoje mesmo se divulga que, nos EUA, um alto empresário do ramo cinematográfico teria abusado de várias atrizes famosas quando em começo de carreira. Sem nenhum escrúpulo, ameaçando-as de prejudica-las. Atrizes muito conhecidas têm vindo a público para confirmar o caso.

Embora a natureza do crime o situe em todas as épocas, não deixa de ser estranha a atual incidência e recorrência observada. É como se fora declarado um direito de posse atribuído a certa parcela de homens que passam a tudo poder sobre mulheres.

Nunca me esqueci de conhecida atriz que, num domingo, fora convocada para gravação em TV. Ainda cedo, estacionara ela defronte ao prédio onde trabalharia. Ao sair do carro foi abordada por três homens que a conduziram a um terreno baldio onde a estupraram. Mulher lindíssima, forma invejável, padeceu ela nas mãos dos bandidos. Anos depois a atriz relatou que, depois do que a ela acontecera, nunca mais experimentara prazer em relações sexuais.

Há que se punir severamente os celerados que estupram e matam mulheres.

O motorista

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Não demorou a soltar a língua. Percorria o trajeto entre o meu trabalho e minha casa, dirigindo devagar. Era desses motoristas cuidadosos que por vezes esmeram-se demais. Foi o caso da parada para esperar que um carro saísse da garagem e alcançasse o meio-fio. Pareceu-me que o motorista do tal carro não tinha a menor pressa. Atrás de nós uma fila de veículos, todos eles buzinando. Mas, o motorista do Uber não se abalou, nem praguejou. Seguimos adiante quando a pista ficou livre.

Contou-me que fazia o Uber nas horas vagas. Engenheiro de profissão trabalhava como calculista numa empresa pública. Aliás, ele e a mulher, também engenheira, também calculista. Conhecera-a no trabalho, enamorara-se dela e acabara se casando.

Perguntei se o que ganhava como engenheiro não seria o suficiente. Ele riu. Disse-me que ganhava bem. Entretanto, o Uber? Ora, era o jeito de ganhar algum por fora. De ter o seu dinheiro para a reunião semanal com amigos. Gostava de jogar futebol. Reuniam-se nas noites de quinta. Depois da pelada a cervejada no bar de costume. Precisava do dinheiro para não misturar com as despesas de casa. Do que é o “certo”, disse.

O problema era justamente a mulher. Ela pegava no pé dele. Não lhe dava folga. Ontem mesmo, chegara em casa depois do serviço e já ia para a rua com o carro para fazer o extra. A mulher o viu na porta e o fez retornar. De jeito nenhum permitia que ele saísse para trabalhar. Eram seis da tarde, hora da família, dos filhos. E do cachorro que esperava pela volta no quarteirão. Não teve jeito.

Confessou ser louco pela mulher. Emendou dizendo que para conviver tem que se fazer vista grossa. Casamento só vai adiante se você não discutir porque mulher é assim mesmo. Bem que o pai o avisara de que homem nunca deve deixar a mulher saber quanto ele ganha. Pois não aconteceu de a mulher ter encontrado a caixinha onde ele guarda a féria conseguida no Uber?

Pois ela ficou muito brava. Ele escondendo o dinheiro dela. Não é que ela se apropriou daquele dinheiro? Foram ao mercado fazer compras para a casa com o dinheiro que ela achou.

O casal tem três filhos, um deles já na faculdade. A filha se prepara para fazer medicina. Comentamos sobre o alto preço dos cursos particulares de medicina, em torno de R$ 6 mil mensais. O motorista diz que a filha tem que estudar muito para conseguir vaga em escola pública.

Enfim chegamos ao meu destino. Despedi-me do motorista, sujeito muito boa gente. Vai driblando as adversidades. A seu modo consegue ser feliz. É o que me diz quando nos despedimos: a gente tem que fazer força para ser feliz senão a vida não serve para nada.

Aparecida

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Todos os caminhos conduzem a Aparecida. A fé move romarias que percorrem distâncias por vezes inimagináveis. A pé, em cavalos, nos ônibus e carros milhares de fiéis se aglomeram em torno da santa milagrosa. Aparecida resume a fé do povo brasileiro.

Comemoram-se os 300 anos desde que a imagem da Santa foi encontrada por pescadores nas águas do Paraíba. De lá para cá construiu-se uma longa história de acontecimentos, milagres e interesses que pegaram carona no entorno da fé.

Ainda menino estive com minha mãe na Basílica Velha, desde logo muito pequena para atender à demanda de fiéis que visitavam o Santuário. Não me sai da memória a multidão acotovelada que me cercava, a rarefação do ar que me levou a desmaiar. Tornei a mim já fora da igreja, minha mãe a meu lado, socorrendo-me. Não sei que idade tinha na ocasião.

Poucos anos depois morei em Aparecida e acompanhei de perto os acontecimentos relacionados à religiosidade local. Lembro-me de que o subsolo do prédio da escola onde estudava abrigava grande contingente de peças deixadas na cidade por gente que se curara de seus males. Muletas, cadeiras ortopédicas e outras peças compunham verdadeiro arsenal de comprovações de milagres atribuídos à Santa.

Ainda estudante estive presente no momento do lançamento da pedra fundamental de uma das partes da futura Basílica de Aparecida. Ali estavam autoridades e padres que se postavam diante de um sonho realmente grandioso. A maquete da Basílica que hoje existe, projeto idealizado pelo arquiteto Benedito Calixto Neto, dava-nos ideia da monumental construção que doravante envolveria recursos de fiéis e mesmo públicos.

Quem se aventura pela via Dutra hoje em dia depara-se com o a maior templo católico do país, menor apenas que a basílica de São Pedro, em Roma. A igreja de proporções gigantescas reúne espaço suficiente para abrigar os milhares de fiéis que a ela acorrem, vindos de todas as partes do país. A padroeira protegida por um forte cofre recebe multidões que passam por ela, fazendo pedidos e agradecendo por graças recebidas.

Espera-se para amanhã, dia 12 de outubro, a presença de cerca de 200 mil pessoas em Aparecida por ocasião dos 300 anos da padroeira. Difícil saber o que existe de realidade em tantos milagres relatados ao longo desse longo tempo. Mas, é de se ver a comoção que envolve os romeiros agradecidos pela oportunidade única de estarem próximos da padroeira.

Outras religiões simplesmente abominam o culto a imagens. Por sim ou por não vale lembrar de que, de todo modo, é espantosa a energia que se emana de um lugar como a Basílica de Aparecida. Estar junto a uma multidão que se reúne em torno da fé gera algo, energia forte, bastante perceptível. Não há como sair indiferente a uma visita à Basílica de Aparecida.