2018 maio at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para maio, 2018

Esclerose

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Consta que na velhice tem-se boa memória de fatos passados e péssima para os mais recentes. O sujeito se lembra de coisas acontecidas cinquenta anos antes, com detalhes. Por outro lado, mostra-se incapaz de dizer o que aconteceu a ele na véspera.

Para mim a memória do passado distante  a cada dia se revela mais cristalina. Por sorte, também sou capaz de me lembrar de acontecimentos recentes. A ver até quando o previlégio irá durar.

O fato é que, sabe-se lá porque, coisas há muito esquecidas têm retornado com grande clareza. É como se um interruptor fosse acionado na memória, devolvendo pessoas e situações que supunha perdidas. Foi assim, por exemplo, que ontem recebi a visita de um tio do meu pai, falecido na década de 70 do século passado.

Era um sujeito magro, oriundo do Sul de Minas Gerais. Crescido em fazendas o tio sabia tudo sobre cavalos, vacas, porcos etc. Não eram a ele estranhas as técnicas empregadas na lavoura de vários produtos agrícolas. Nunca se deu bem com o sobrinho - meu pai - com quem não comungava das mesmas posições em política.

Ficaria horas rememorandoa episódios da vida do tio, aliás excelente contador de histórias. Entretanto, sigo ao momento da vida dele que me foi devolvido, repentinamente, pela memória.

Pois. Eu o revejo em seus últimos dias, recolhido a um leito hospitalar. Cercavam-no a mulher, a filha e uma irmã que viera do Rio ao receber notícia sobre o estado do paciente.

Lembro-me de que, certa noite, fui ao hospital para visitar o parente. Encontrei-o inconsciente e com diagnóstico de que já não mais se recuperaria. Mas, um hiato. É preciso rebombinar o filme para que se reveja a cena que me foi devolvida pela memória. Lá estou, um sujeito ainda moço, seguindo pelo corredor do hospital até chegar ao quarto onde o tio estava internado. Abro a porta, entro. A mulher do tio e a filha dele me saúdam. Sobre o leito o tio agoniza. Mas, no chão, debaixo da cama onde se encontra o tio, um homem dorme - e ronca. Cena inesperada, absurda. Aquele sujeito deitado no chão é o genro do tio. Na sua sem cerimônia, certamente cansado, decidiu-se por descansar os ossos ali mesmo, sob o leito do moribundo.

O tio viria a falecer dois dias depois. Fui ao cemitério, acompanhando o enterro. Ao lado da cova o genro parecia muito saudável. Dormira muito bem naqueles dias, no hospital.

Ainda agora revejo a face do homem que dorme debaixo do leito onde o sogro agoniza. O movimento de seus lábios a expulsar o ar, enquanto ronca, impressiona. Existe um erro de composição nessa cena exdrúxula. A vida que ressona não combina com a morte ali presente. O fato é que minha memória não consegue compor a face do tio naquele instante. Não me lembro dele. Ficou- me o genro gordo, dormindo.  No chão.

Escrito por Ayrton Marcondes

25 maio, 2018 às 9:04 pm

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Atormentados

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Ouço sobre um australiano que a todo transe lança impropérios ao vazio que o cerca. O homem parece não ter paz. Atormentado, repudia a alguém ou alguma coisa que parece estar sempre a seu lado.

A pessoa que me conta sobre o atormentado viveu na Austrália. Estudante universitário manteve-se em subempregos bastante rentáveis. Trabalhou num bar no qual conheceu o atormentado. Conta que o rapaz cuidava das panelas e louças depois de usadas pelos clientes. Curvado sobre a pilha de pratos, a todo instante voltava a cabeça para trás, xingando não se sabe o quê. No começo os companheiros de trabalho achavam graça. Com o tempo se acostumaram e não davam a mínima.

O caso fez-me lembrar do Paulino. Era um baixinho musculoso, muito forte. Trabalhava como ajudante, carregando caminhões. Naquela época a produção agrícola na região era grande e caminhões saiam para levar frutas e hortaliças aos mercados, em São Paulo. O Paulino dava duro em sua missão. Era comum vê-lo ajeitando caixotes de madeira com produtos agrícolas nas carrocerias de caminhões.

Do que se sabe é que o Paulino nunca teve paz. Durante todo o tempo ralhava contra as sombras. Dizia-se que fora devedor de crime de morte e seria atormentado pelo espírito de quem assassinara. Não sei se é verdade. Fosse pelo que fosse o Paulino parecia sempre acompanhado por uma legião de fantasmas que não largavam dele. As mulheres quando o viam benziam-se. Atribuíam a perseguição ao próprio demônio. Seria o diabo o tenaz perseguidor que não dava tréguas aquele homem simples e perseguido.

Certa noite vi o Paulino passar pela rua, vazia àquela hora. Seguia devagar. De tempos em tempos voltava-se e ofendia com palavrões a algo que, provavelmente, ele via. Guardei a imagem desse homem atormentado cujo destino fora traçado de modo tão terrível.

Paulino morreu há muito tempo. Sobre sua morte contam-se coisas que certamente não passam de puro folclore. Mas, pessoas que o levaram ao cemitério juram que, ao baixar o caixão à cova, ouviram-se gargalhadas, saídas do nada. Era o demônio recebendo a alma marcada, supõe-se.

A mulher sem cabelos

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O cantor Sérgio Reis fala sobre a velhice: ficar “veio” é uma desgraça. Acrescenta histórico sobre doenças e cirurgias a que foi submetido. Numa queda quebrou costelas e teve perfuração dos pulmões. Outra cirurgia envolveu os ossos do quadril. Sobreviver é difícil. Mas, aos 78 anos, o cantor segue ativo. Prepara-se para novos lançamentos. A vida é bela.

Na sala de espera de uma clínica de reabilitação eu me sento perto de uma senhora que não tira os olhos de mim. O tempo passa e ela firme em mim. Estamos sós. A certa altura ela me pergunta se me lembro dela. Olho para a senhora e reparo que não tem cabelos. Percebendo, ela se explica: final de tratamento de câncer, felizmente curado.

Ah! Suspiro sem saber o que dizer. Ia pergunta sobre que tipo de câncer, mas me retraí. Afinal… Bem, quem era mesmo aquela mulher?

Então ela me olha bem nos olhos e pergunta: não se lembra de mim?

Coisa chata, não? Por que deveria me lembrar? Será que teríamos, em algum passado remoto, nos conhecido? Mãe de algum amigo do meu filho? Teríamos trabalhado juntos? Eu não me lembrava dela, não. Acabei confessando.

Ela sorriu. Reconheceu que o tempo passa. Depois me perguntou se de fato não me lembrava que, certa ocasião, estivemos muito próximos. Estávamos numa festa e eu lhe dera carona para levá-la à casa onde não chegamos. Paramos num bar, tomamos algumas. Depois…

Pois é. Eu forçando a memória até me lembrar daquela noite, daquela moça bonita. Sim, aconteceu. Então, tivemos… Deve ter sido bom.

Restava entre mim e a mulher sem cabelo pontas de caso mal resolvido. Eu simplesmente não me lembrava de quase nada. Não restavam vestígios naquela senhora da moça que fora.

Para minha alegria a mulher da recepção disse o meu nome e fui chamado para a sessão de fisioterapia. Ao me levantar fui acompanhado pela mulher sem cabelos. Em pé, perto de mim, ela me encarou. Por um instante pareceu-me tê-la, finalmente reconhecido. Mas, não, não tenho certeza. Entrei, sem me despedir.

Sérgio Reis tem razão: ficar “veio” é uma desgraça.

Escrito por Ayrton Marcondes

23 maio, 2018 às 9:10 pm

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Cadê a turma?

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O meu termômetro é o baixinho, dono do bar da esquina, na minha rua. Vai chegando o início da Copa e o cara se enche de patriotismo futebolístico. Acontece há pelo menos três copas, tempo decorrido desde que mudei para a minha casa atual.

Feita a convocação o baixinho inicia suas atividades. De cara imprime nas paredes de fora símbolos da CBF. O colorido se arrasta ao meio fio onde ele manda desenhar um enorme distintivo da seleção. Até aí tudo bem. Em verdade o baixinho quer mesmo é atrair clientes para assistir aos jogos da Copa em seu bar no qual, aliás, existe uma TV de 50 polegadas. Sabem como é, jogo rodando, cervejas rolando, petiscos saindo para todas as mesas.

Mas, como disse, até aí tudo bem. O diabo mesmo é o alto-falante que o baixinho instala na rua. Através desse “maravilhoso” equipamento passamos a ter a oportunidade de ouvir, alto e bom som, hinos e toda sorte de músicas relacionadas ao futebol. Por horas a fio. É de enlouquecer.

Pois neste ano as coisas estão meio paradas. A menos de um mês do escrete canarinho estrear na Copa o baixinho não moveu um só dedo apara alegrar a vizinhança. Pelo jeito que as coisas andam a freguesia do bar terá de se contentar com uma Copa sem tantos comemorativos.

Aliás, em que dimensão se perdeu a emoção e o interesse dos brasileiros pela Copa? Teria sido aquela vergonhosa humilhação diante da seleção alemã, o 7X1, a causa do desencanto da torcida? Por que, queira-se ou não, a verdade é que a Copa a se iniciar não tem sido o assunto nas rodinhas. Fala-se sobre crise, corrupção, Lava Jato e até de jogos entre equipes no Campeonato Brasileiro. Mas, sobre o magno evento do futebol que acontecerá em junho muito pouco.

Pesquisa realizada pelo Instituto Paraná indica que 65% dos brasileiros não estão, ou muito pouco, interessados na Copa do Mundo da Rússia. O brasileiro está cansado de seu país, é o que se diz.

Não sei não. De repente as coisas podem mudar de rumo. Quem sabe no momento da estreia na Copa a velha mágica que envolve a seleção nacional renasça. Mas, a se confiar nas pesquisas e no que se diz por aí, não sei não. O jeito vai ser ver o que baixinho do bar fará nos próximos dias.

Vidas em mãos de outrem

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Melhor não pensar nisso, mas ao embarcar em aviões nossas vidas ficam nas mãos do piloto. Verdade que comandantes de aviões hoje em dia têm em mãos uma parafernália de controles ultra seguros. Não por acaso se diz que voar é mais seguro que circular de carro nas cidades e estradas. De fato, o crescente número de acidentes no trânsito impressiona.

Entretanto, se falamos sobre aviões a verdade é que, uma vez no ar, entregamos nossas garantias aos pilotos. Muitos deles são merecedores de congratulações tal a precisão de suas ações em situações de extremo perigo. Recentemente uma mulher comandava um Boeing e teve que passar pela explosão de um dos motores daquela aeronave. Foi por sua destreza e capacidade que aeronave pousou, garantindo a sobrevivência da tripulação e passageiros.

Desde o ano de 2014 enfrenta-se o mistério do desaparecimento do Boeing 777, da Malásia Airlines, que tinha a bordo 392 pessoas. O avião simplesmente sumiu. Debalde especialistas e peritos tentaram localizar nas águas marinhas vestígios da aeronave. Agora surge explicação para o trágico acidente que vitimou tanta gente. Teria o piloto desviado de sua rota com a intenção de se suicidar. Antes da queda doa avião no mar o piloto teria despressurizado o avião, deixando inconscientes seus ocupantes. Depois disso suicidara-se, matando todos.

A hipótese agora levantada tem sua razão de ser. Descobriu-se que a aeronave alterou sua rota pouco antes de desaparecer. O piloto, natural da Malásia, teria dado uma guinada para dar uma última olhada no lugar onde ele nasceu.

Ainda não se encontraram destroços do Boeing que despareceu no mar. Impressiona muito a hipótese de que um suicídio tenha sido a causa da catástrofe. Como acontece em casos dessa natureza ficam as perguntas: por que não bastava ao suicida dar fim à própria vida? Por que provocar a morte de quase 400 pessoas para consumar seu tresloucado ato?

Geisel

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Já contei que em 70 um grande amigo torcia contra o Brasil na Copa. Depois da estreia em que o Brasil venceu os tchecos encontrei o amigo na empresa onde trabalhávamos. Eufórico com o jogo de véspera não encontrei no amigo repercussão ao que eu dizia. Explicou-me ser contra porque o governo militar se aproveitaria de possível conquista da Copa. Médici estava no governo durante período que entrou para a história como dos mais radicais na perseguição e tortura de opositores.

Geisel esteve presidente entre 1974 e 1978. A ele se atribui a contribuição para o fim da ditadura que viria nos tempos de Figueiredo. Não tenho memória da data, mas Geisel estava na presidência quando, certa ocasião, veio a São Paulo. Era um sábado, por volta do meio-dia. Eu saíra do trabalho na Rua Tomaz Gonzaga, na Liberdade, e seguia na direção da estação do metrô. Antes de chegar à Praça da Liberdade fui contido por soldados que me fizeram seguir, fila indiana, no mesmo sentido, mas, pela calçada, junto dos prédios. Ao chegar à praça, não pude entrar no metrô. Em torno da praça uma multidão acotovelava-se sem saber o que se seguiria. Então saíram da estação do metrô alguns seguranças que se ocuparam em verificar os prédios do entorno. Só depois disso emergiu da estação o presidente.

Geisel passou pertinho de mim, a não mais que dois metros de distância. Lembro-me de um homem claro e forte, semblante fechado. Circulou na praça durante alguns instantes, sempre seguido por um batalhão de seguranças. Depois voltou à entrada da estação e sumiu no metrô. Pouco depois os cordões que separavam o público do interior da praça foram retirados e a vida tornou ao normal.

Nunca me esqueci daquela figura, representação viva de um regime ditatorial fechado, contra o qual nos posicionávamos quase sempre silenciosamente. Geisel viria a falecer em 1996, deixando trás de si o estigma de ter operado pelo fim da ditadura. Entretanto, nos últimos dias a memória do general tem sido arranhada por documentos publicados pela CIA. Segundo esses documentos as ordens para a matança de oponentes do regime vinham de cima. Geisel não só tinha conhecimento sobre o que ocorria como aprovava as mortes nos porões da ditadura.

Ainda é cedo para julgar friamente a veracidade do que atestam as publicações da CIA. Mas, dificilmente, a nódoa que trazem virá a ser descolada da figura de Ernesto Geisel.

Morte assitida

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Recentemente dois alunos de um colégio em São Paulo se mataram. O caso comoveu a opinião, chamando a atenção para o perigo de mais jovens darem cabo à vida.

No Brasil uma média de 11 mil pessoas se matam, por ano. Entre 2011 e 2015 a média de suicídios foi de 32 por dia.

Da minha infância trago lembranças que muito me assustaram. Certo dia veio ao distrito onde morávamos uma japonesinha que - soube-se depois - viera para visitar o túmulo de seus pais no cemitério local. Horas depois acharam-na morta sobre o túmulo da família. Naquela época usavam-se formicidas e venenos agrícolas para os suicídios. Ao lado do corpo da jovem japonesa havia uma lata de formicida.

Outro caso foi o de uma jovem que, inesperadamente, rompeu seu noivado e desesperou-se. Nunca se soube a razão exata de seu ato final. Matou-se ingerindo um inseticida agrícola. A morte dessa moça, a quem conheci e de quem nunca me esqueci, impressionou-me muito. Eu a vi minutos depois de a terem encontrado morta. Cena horrível que ainda hoje permanece na minha memória.

E quanto a viver demais? A velhice rouba-nos forças e disposição. Agregam-se o cansaço da rotina, a perda de perspectivas, o enfado da vida que passou. Não imagino como será chegar aos 90 anos. No atual estágio do conhecimento humano pouco há a se fazer para minorar os efeitos da velhice. Ouço dizer que muitos velhos simplesmente gostariam de morrer, se possível sem sofrimento. Há quem ainda tenha razoáveis condições de saúde na velhice avançada. O pior está reservado aos presos a leitos, cadeiras de rodas etc. A doença judia muito.

O caso do cientista australiano que se decidiu pelo suicídio assistido chama a atenção. Aos 104 anos David Goodall confessou estar arrependido de viver tanto. Já tentara suicidar-se sem ter conseguido. Na Austrália o suicídio assistido não é autorizado. De modo que Goodall foi até a Suíça, não sem antes visitar e despedir-se de seus muitos parentes. Ontem Goodall finalmente morreu. Na Suíça o suicídio assistido é permitido, mas a pessoa deve ser fisicamente capaz de praticar o ato final por sua própria conta.

O fim do Sol

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Não se assuste, mas o Sol um dia morrerá. Sim, também ele não é eterno. Hoje ele é nada mais que um senhor de meia-idade. Existindo há 5 bilhões de anos restam-lhe outros 5 bilhões para aproveitar de sua estadia no universo. Depois disso a morte. Perderá seu combustível, mas não desaparecerá, transformando-se numa nebulosa planetária massiva. É o que nos informa uma equipe de cientistas em artigo publicado na revista Nature Astronomy.

E quanto à nossa tão querida Terra? Bem, ela não desaparecerá, mas as cosias não ficarão bem por aqui. Dois bilhões de anos antes de o Sol desaparecer ele ficará mais brilhante e o calor gerado será tão intenso que fará ferver os oceanos por aqui, garantem os cientistas.

Para nós que vivemos no máximo 100 anos falar em bilhões parece bobagem. Mas para quem já existe a 5 bilhões parecerá não faltar muito para o fim. Será que o Sol terá que enfrentar algum tipo de crise em relação ao envelhecimento? Claro que sim, mas não da natureza das nossas que assistimos à progressiva debacle dos nossos organismos. No caso do Sol as coisas se passarão de modo bastante traumático. Os cientistas explicam que o Sol perderá cerca de metade de sua massa e suas camadas externas serão expulsas a velocidades de 20 km por segundo. Os restos do Sol brilharão ainda por cerca de 10 mil anos depois de seu fim, estimam os cientistas.

Tudo tem um fim, até o Sol. Enquanto isso seguimos aqui com nossos desentendimentos enquadrados em não mais que sucessões de décadas. O século 20, por exemplo, foi protagonizado com dois conflitos mundiais, isso sem falar nas várias guerras como a da Coréia, a do Vietnam etc. O homem não olha para fora do mundo onde vive. O isolamento na Terra garante às gerações a ilusão de eternidade.

Não se sabe até quando a atual civilização humana sobreviverá na Terra. O apocalipse parece ser uma invenção que jamais se tornará realidade. Por enquanto as leis da física têm garantido o equilíbrio do universo com estrelas, planetas e satélites percorrendo suas órbitas sem entrarem em colisão. Estamos seguros.

Aliás, em relação a planetas uma boa notícia. Lembram-se de que Plutão foi rebaixado e não é mais um planeta? Pois agora erguem-se protestos de cientistas que querem devolver a Plutão sua posição original entre os planetas que orbitam em torno do Sol. Seja bem-vindo ao nosso grupo Plutão.

O brasileiro e o futebol

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Aproxima-se mais uma Copa do Mundo e os brasileiros torcem pela reversão do último vexame. Fomos estraçalhados pela seleção alemã em pleno Mineirão: 7 x 1.

As esperanças estão ao lado do técnico Tite que fez renascer o famoso “escrete canarinho”. Sob o comando de Tite a seleção nacional classificou-se me primeiro lugar, na América, para a Copa que terá lugar nos gramados russos. Jogadores brasileiros de destaque nos campeonatos europeus vestirão a camisa da seleção nacional e espera-se consigam trazer mais uma vez o caneco ao país.

Entretanto, pesquisa recente revela que 41% dos brasileiros não se interessam pelo futebol. Esse número era de 31% em 2010. O aumento de 10% em oito anos é de fato preocupante.

Onde a febre que arrasta multidões aos estádios e gera o consumo de toda sorte de produtos e produções ligadas ao futebol? Teria a permanente crise brasileira desanimado os torcedores a ponto de não se importarem com o futebol?

Muitas razões podem ser citadas para o atual desinteresse. Prefiro apegar-me a uma delas: a baixa qualidade do futebol praticado entre nós. De fato, os jogos de campeonatos nacionais tornarem-se sonolentos. Raramente surgem os grandes jogadores capazes de improvisos que impulsionam as torcidas. Além do que não há como comparar o futebol hoje aqui praticado com o que se joga na Europa. Dias trás ouvi de um repórter que trabalha no velho continente que nunca se viu nos gramados europeus jogos de tão alta qualidade. Equipes como o Barcelona, o Real Madri, o Liverpool, a Roma e tantas outras protagonizam embates realmente inesquecíveis. Enquanto isso por aqui segue-se rotina modorrenta, com jogos nos quais são raros os momentos de emoção.

Verdade que os tempos são outros. O país não é o mesmo de 1958, ano em que ganhar jogo numa Copa parecia ser questão de vida ou morte. Acompanhavam-se partidas pelo rádio, torcendo loucamente pela seleção nacional. Ainda hoje se fala sobre a inesquecível derrota de 1950 quando mais de 150 mil pessoas boquiabertas viram o Uruguai sagra-se campeão em pleno Maracanã.

Soluções existem para renovar o espírito futebolístico dos brasileiros. Entre elas a doção de medidas sérias em relação a dirigentes, enfim , os homens que comandam o futebol.

Até no Nobel?

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No ano que corre o Prêmio Nobel de Literatura não será concedido a ninguém. Acontece que a instituição Nobel passa por crise com divisões entre seus membros. A razão? O fotógrafo francês, Jean-Claude Arnault, que dirige um projeto da Academia Sueca, foi acusado de ataques sexuais a mulheres integrantes e mulheres de integrantes da mesma academia. Algumas delas relatam ter sido atacadas dentro da própria academia. A mulher do fotógrafo também é integrante da academia e seus pares votaram pela expulsão dela. Entretanto, nem todos concordaram com isso fato que ocasionou divisão entre os membros que decidem o Nobel de Literatura. Daí a supressão do prêmio neste ano.

Eis aí uma notícia que nos estarrece pois envolve uma instituição que consideramos acima de qualquer suspeita. O prêmio foi inventado por Alfred Nobel em 1885. De lá para cá, ano após ano, exceto durante as guerras, pessoas proeminentes de algumas áreas têm sido contempladas com o prêmio. A dignidade do Nobel é incontestável, embora existam premiações nas quais as escolhas nem sempre coincidam com a opinião geral. Casos como o do escritor argentino Jorge Luis Borges nunca agraciado com o prêmio são considerados omissões imperdoáveis.

Em casa de meu pai havia um livro do escritor francês Anatole France cujo título é “A Ilha dos Pinguins”. Ainda muito jovem li a obra de Anatole France da qual me recordo a passagem na qual um dos personagens pergunta ao filho, ainda não nascido, se quer nascer. Para estranheza do pai o filho responde que de modo algum quer vir ao mundo. Ele se xplica: seria infeliz dada a herança recebida justamente de seu pai cujos defeitos menciona.

Naquela época nem sonhávamos com a possibilidade de um Google para consultar dúvidas. De modo que perguntei sobre Anatole France, se era bom escritor etc. A resposta que obtive foi a de que France recebera o Nobel de Literatura, o que não era pouco. Foi essa a primeira vez que senti o peso do prêmio concedido em Estocolmo. Daí a natural curiosidade sobre os ganhadores de cada ano.

Anatole France (1844-1924) foi agraciado com o Nobel de Literatura em 1921. Entre seus livros estão “O crime de Silvestre Bonnard” e “A Rebelião dos Anjos”.