Arquivo para agosto, 2018
Funerais
Aretha Franklin, diva da música cuja voz encantou gerações, faleceu dias atrás. O corpo da grande intérprete foi velado dentro de um caixão de ouro. O enterro será nesta sexta com a presença de personalidades como o ex-presidente Bill Clinton e o cantor Stevie Wonder. O funeral de Aretha aconteceu em Detroit. Por dois dias o corpo da cantora esteve exposto, em seu caixão, para homenagens de seus fãs.
Também faleceu nos EUA o senador John McCain, republicano que concorreu à presidência com Barack Obama, sendo derrotado. De sua grande participação na vida norte-americana destaca-se o fato de ter sido prisioneiro de guerra durante cinco anos no Vietnam, tendo sido torturado. Consta que McCain preparou com assessores o seu funeral. O político deixou uma carta de despedida a seus compatriotas. Eram crescentes as divergências de John McCain em relação ao presidente Donald Trump.
Vida afora compareci a muitos funerais e enterros. Acompanhei pessoas queridas das quais me despedi com muita dor. Não existe, talvez, momento mais cruel que o da constatação da finitude da vida. À beira do jazido fecha-se um ciclo e não só para o morto. Aos que ficam e com ele conviviam abre-se a grande falha da ausência definitiva. Eis um espaço que não mais poderá ser preenchido, exceto pela memória de momentos vividos e passados.
Há muitos e muitos anos faleceu um tio, irmão de minha mãe. Em verdade eu mal o conhecia, dado que não privei de seu convívio. Na ocasião acompanhei minha mãe ao enterro do irmão que morrera. Confesso que poucas vezes a trama da morte terá me impressionado tanto como naquele dia. O que nós desconhecíamos era que o tio professava crença evangélica, de modo que verdadeira multidão de fiéis compareça para acompanha-lo em seu momento final. Estávamos num bairro periférico e pobre. Os fiéis cantavam sem parar, louvando a Deus. Atravessar a multidão e entrar na pequena sala da casa onde se velava o corpo foi verdadeiro suplício. Mas, enfim, eis que estávamos ao lado do caixão no qual jazia o falecido.
Não me recordo de quanto tempo estivemos ali, naquele ambiente apertado no qual se verificava incessante movimento de pessoas que, em fila, despediam-se do falecido. Mas, eis que foi chegada a hora de se fechar o caixão e seguir para o cemitério.
Pois terá sido esse um dos momentos mais emocionantes que presenciei em minha vida. O tio falecido tinha um único filho. Na hora de se fechar o caixão, o filho aproximou-se, envolveu o corpo do pai com os braços e levantou-o do caixão. Despediu-se do pai com emoção que nos contagiou a todos. Nenhum cineasta com os melhores atores lograria reproduzir aquela cena, triste e, entretanto, magnífica, expressão máxima da humanidade de que podem ser capazes os seres humanos.
Há um tempo na vida em que passamos a conviver mais demoradamente com a memória dos mortos. Eles nos visitam. Recordamos de como eram, de situações vividas, de palavras que nos disseram. Tantas saudades.
Folclore
Meu sobrinho chega da escola pilhado. Na semana do folclore foi a ele apresentado o Saci. Quando as crianças voltaram do recreio encontraram tudo mexido na sala-de-aula. O Saci estivera lá. O danado bulira em tudo como, aliás, de seu costume.
Mas, as coisas não pararam por aí. Sendo semana do folclore o Saci continua em ação. De modo que, mesmo em casa, cuidados devem ser tomados. E muita vigilância. Naturalmente, demos alguma ajuda às desordens praticadas pelo Saci. Sem que o menino percebesse, fizemos algumas desordens. Pronto, o Saci realmente estava em ação. E o menino foi dormir de olhos bem abertos por conta do Pererê.
A lembrança do Saci levou-me a um retorno à infância. Revi o menino de cor negra, gorro vermelho, uma só perna, fumando cachimbo e pulando muito. Aprontando sempre traquinices de toda sorte. Com o Saci também retornaram as histórias da minha infância que hoje, infelizmente, nãos e contam mais. Morávamos num lugarejo de menos de 500 habitantes, todos conhecidos um dos outros. Naquela época a energia luminosa faltava com enorme frequência. Era comum a queda de uma das fases de modo que a luz bem fraca perdurava por muito tempo. Eis aí um mundo povoado por fantasmas, sacis, lobisomens, mulas-sem-cabeça e outros tantos seres fantásticos. Coabitávamos com almas do outro mundo que, aliás, jamais víramos. Mas, elas estavam presentes, disso tínhamos certeza. O pai de um colega de escola morrera ao cair do cavalo, assustado que fora pelo surgimento inesperado de um Curupira. Nas madrugadas frias da montanha era comum ouvir-se o ruído do galope de um cavalo que seguia sem seu cavaleiro. A coisa acontecia em certo dia do mês na qual, supunha-se, o cavaleiro fora assassinado e o cavalo voltara à casa sem seu dono. Assim, ficara condenado, pela eternidade, ao triste trajeto.
A narrativa oral há de persistir nesses interiores do Brasil, embora traída pelas novelas. Muitas das histórias que ouvíamos dos mais velhos, naquelas noites, mantinham ligações com tradições folclóricas de origem europeia, trazidas ao novo mundo pelos imigrantes. Nesse sentido nunca será demais recordar-se do grande mestre Luís da Câmara Cascudo, autor de vasta obra relacionada ao folclore. Em seu livro “Contos Tradicionais do Brasil” o mestre nos ensina que as características do conto popular são: antiguidade, anonimato, divulgação e persistência. Ele explica:
“É preciso que o conto seja velho na memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento, e persistente nos repertórios orais. Que seja omisso nos nomes próprios, localizações geográficas e datas fixadoras do caso no tempo.”
22 de agosto é o “Dia do Folclore”. Importante recordar a importância do folclore na educação infantil.
Período eleitoral
Não há como passar impunemente pelo período que se agiganta. A tortura de vozes que perseguem eleitores escancara-se. Não há como escapar a elas, exceto isolando-se, trancando-se, desligando tvs, rádios, celulares e toda sorte de equipamentos de comunicação. O que, aliás, tornou-se impossível dada a dependência que temos dessas geringonças.
Mas, o que mais incomoda é a generalidade dos discursos. A Babel de promessas, quase todas não executáveis. O discurso falho. Até os animais invertebrados são capazes de saber que o país precisa de segurança, saúde, educação etc. De modo que de nada adianta dizer-se que “no meu governo essas áreas…”. Bem, de onde virão os fundos para tais melhorias? Aliás, mais profundamente, quais mesmo serão elas? Você vai criar milhões de empregos, ótimo, mas como? E por aí vai.
Por toda parte o que mais ouço é: o Brasil acabou. Senão o seguinte: se fulano de tal for eleito, caso possa vou sair do país. Ou ainda: que esperar de um país que conta com um Supremo da categoria do atual? É o que se diz nas ruas.
Perdeu-se a confiança em todos os poderes. Entramos na fase do salve-se quem puder. Exagero? Ora, como gostaríamos que fosse. Que nos esfregassem na cara as bobagens que, supostamente, seguimos dizendo.
Mas, o Brasil é o Brasil. Do Oiapoque ao Chuí. Dos nossos amores. Da nossa paixão. Terra cantada em prosa e verso pelos nossos mais inspirados poetas. Terra do hino que sempre cantamos com emoção. País de dimensões continentais habitado pela maior diversidade racial planetária. Terra dos grandes rios, das águas infinitas que correm, céleres, para alimentarem os oceanos. País das grandes matas, da Amazônia tão acossada, da desigualdade que parece nunca se iguala. A nossa terra.
É pelo Brasil que torcemos e sofremos. Em nome dele suportamos tantas declarações e decisões quase sempre inaceitáveis.
Videntes
Há quem não dispense a opinião de videntes para os próximos passos a tomar. Dias atrás conhecida vidente compareceu a um programa de televisão para garantir que Jair Bolsonaro será o próximo presidente. Perguntada sobre o porquê ela respondeu: é a vez dele, existe consonância astrológica. Segundo o entrevistador a vidente possui currículo de respeito, sendo conhecida por vários acertos em suas previsões.
A vida oferece seus altos e baixos e passamos por eles, muitas vezes com muita indignação. Numa das minhas baixas fui levado por um amigo a uma vidente que, segundo ele dizia, era fenomenal. Atuava ela em São Paulo e seus clientes eram, em maioria, políticos e agentes do sistema financeiro. Na ocasião fiquei sabendo que políticos e agentes financeiros consultam regularmente videntes famosos para orientar-se quanto a atitudes a serem tomadas.
Por sim, ou por não, compareci a uma sessão da vidente, ainda que totalmente incrédulo quanto à capacidade de alguém ser capaz de prever o futuro. Pois, confesso ter-me surpreendido. Primeiro por certas afirmações dela em relação a fatos passados de minha vida sobre os quais de modo algum ela poderia ter conhecimento. Segundo pelo acerto de algumas coisas que me disse em relação ao futuro e que vieram a se confirmar.
Ainda hoje me pergunto sobre o tipo de sensibilidade que algumas pessoas teriam para fazer previsões. Um conhecido, mais inteirado que eu nesses assuntos, aventa a possibilidade dessas pessoas terem sensibilidades desenvolvidas, tanto que conseguem captar informações da mente do cliente durante os encontros. Será?
Na ocasião em que estive com a vidente, surpreso com o que me dizia, perguntei a ela sobre o seu estranho ofício. Revelou-me ela ter-se dedicado a realizar consultas com clientes após abandonar seu trabalho junto à polícia para esclarecer crimes. Contou-me que, no passado, era chamada, com frequência, a lugares onde crimes haviam acontecido para ajudar a esclarecê-los. Acontece que isso pesava demais a ela. As situações que sensorialmente presenciava, quase sempre horríveis, desgastavam-na. Esse relato me fez lembrar de obras ficcionais nas quais a polícia recorre a pessoas ditas sensitivas para ajudá-la na elucidação de crimes.
Hoje publica-se noticia sobre uma grande vidente dos Balcãs, já falecida. Chamava-se Baba Vanga e teria previsto a Segunda Guerra e o 11 de setembro. Famosa em seu país, Baba enfrentou grandes problema durante a invasão dos comunistas para quem não tinham sentido visões abstratas, mormente as de inspiração cristã. Por isso a vidente passou a ser vigiada e visitas a ela proibidas. Entretanto, consta que segundo 80% das pessoas que visitaram Baba as previsões dela se concretizaram.
Nesse assunto prefiro ficar com a visão de Machado de Assis em seu conto “A cartomante”. Trata-se do caso de um sujeito que tem caso com uma mulher casada. Desesperado ele consulta uma cartomante que prevê o seu futuro. Mas, não farei aqui spoilers para tirar o prazer de quem ainda não leu o conto. Aliás, se você ainda não leu corra a ler. Vale muito a pena.
A viagem sem volta
Meu tio lia diariamente jornais. Em geral demorava-se na sessão de obituários. Frequentava a listagem de mortos, um a um, reparando nas idades com que abandonaram o barco da vida. Não era incomum que, a certa altura, nos alertasse: morreu fulano de tal. Meu tio dizia isso como se conhecesse o falecido e tivesse perdido um amigo. Mas, sabíamos, ele não fazia a menor ideia de quem fosse. Entretanto, tinha algum prazer em vigiar o movimento daqueles que saiam de cena.
Os anos passam. De repente nos vemos naquela fase que decidiram nomear como “melhor idade” que de “melhor” não tem nada. Acontece que nessa fase não é incomum que recebamos notícia sobre o passamento de algum conhecido. Fulano morreu ontem. A notícia chega assim, sem cerimônia. Ocorre que o falecido, a quem conhecíamos, tinha a mesma idade que eu. Ou seja: a minha turma começou a embarcar no tal trem que não tem viagem de volta. Isso nos deixa em estado de alerta. Aliás, a coisa piora quando somos informados que um antigo colega de turma na faculdade está mal, muito doente, com os dias contados.
Da morte ninguém escapa, essa a única certeza absoluta na vida. Mas, fingimos ignorá-la. Pena que fulano morreu, sinto muito, mas continuo bem vivo aqui e sem previsão de deixar o mundo. Entretanto, um dia a ceifadora se ocupará de mim. As circunstâncias do encontro final são desconhecidas. Ainda bem porque não adianta sofrer por antecipação. Importa ter conciência da finitude da vida, embora sem dar muita bola para esse fato.
Não imagino como serão os minutos de espera na plataforma de embarque no trem da viagem sem volta. Pra dizer a verdade não quero mesmo imaginar.
Sugismundos
Na calçada, o velho gritava ao telefone. Protestava contra o fato de um Tal aparecer para dormir na casa dele, mas muito fedido. Repetia sobre a cara de pau do Tal, sujeito que não tomava banho. Parente serpente. O Tal seria primo da mulher ou coisa que o valha. Mas, fedido, malcheiroso, porco mesmo.
O calor anormal que acontece agora na Europa, certamente gera suores com odores não muito agradáveis. Tanto que na Áustria foram distribuídos frascos de desodorantes no metrô. Impossível viajar-se nos trens em meio à fedentina.
No dia-a-dia nem sempre convivemos com pessoas cuidadosas quanto à própria higiene. Há quem seja cercado por uma espécie de fumaça invisível cujo cheiro é de amargar. Certa vez, num avião, sentei-me ao lado de um cara que não tinha nenhum capricho em relação aos seus humores e gases intestinais. De minha parte fui aguentando. As coisas se mantiveram até que uma senhora, no banco detrás, chamou pela aeromoça e reclamou. Entretanto, o malcheiroso simplesmente ficou na dele. Nãos e deu por achado. A usina intestinal dele continuou em plena produção. Mais de uma vez me levantei, tentando achar outro lugar no avião lotado. Em vão. Foram quase três horas de sufoco.
Certos hábitos e comportamentos podem nos escandalizar, mas, nem sempre denotam falta de asseio ou de educação. Da minha infância trago imagens de situações pouco usuais nos dias que correm. Naquela época vivíamos numa zona rural. Aos domingos os trabalhadores de sítios e fazendas vinham até o lugarejo para assistirem às missas. Pessoas simples, mas bem cuidadas. Acontecia, porém, que, por volta do meio-dia, precisavam almoçar. Então era comum ver-se famílias reunidas em círculo, alimentando-se do conteúdo de uma panela a qual era passada de um a outro. Usavam uma única colher e a mesma vasilha que continha os alimentos. Era como era. Em família.
Nem todo mundo prima pelos bons cuidados em relação ao asseio. O velho que gritava ao telefone tinha suas razões para protestar. Era a ele inadmissível alguém aparecer na casa de outrem e submeter os parentes a seu descaso com o próprio corpo. Imagino que qualquer um que anda por aí seja capaz de falar sobre casos desse tipo, tão desconfortáveis.
É, acontece.
Falhas de memória
O que assusta é o esquecimento. Você se lembra de alguém, mas tornou-se incapaz de se lembrar do nome dessa pessoa. Coisa acontecidas não há muito desparecem do horizonte, você não se lembra.
Há também o caso de esquecimento de coisas triviais. Antes de se recolher ao seu quarto para dormir você confere se as portas da sua casa estão trancadas. Depois vai até o quarto, põe a cabeça no travesseiro e surge a dúvida: eu verifiquei as portas? Incapaz de se lembrar você se levanta, confere as portas e volta, agora sossegado. Tudo em ordem. Fica só por contado automatismo?
No passado ficávamos de boca aberta com o grande conhecimento de alguns colunistas diários de jornais. Os caras eram proprietários de memórias invejáveis. Falavam sobre tudo e com propriedade. Citavam autores, páginas de livros com naturalidade impressionante.
Hoje me pergunto sobre os mecanismos que usavam para manter-se tão atualizados. Não existiam computadores, no máximo contavam com o auxílio de boas enciclopédias. Mas, estas também envelheciam. Quem sabe a memória deles era organizada em fichários. Pode ser.
Ninguém discorda do quanto a leitura é importante. Vida afora li uma enormidade de obras, algumas por prazer, outras por dever de ofício. Entretanto, confesso não me lembrar do conteúdo de muitos livros aos quais dediquei um bom tempo. Não é incomum que ache na minha pequena biblioteca algum livro, com anotações que fiz e que, absolutamente, hoje não me dizem respeito.
Julio Cortázar dizia que uma história só e boa quando você não se esquece dela. Li obras de muitos autores russo na minha juventude. Não sei se saberia falar ou escrever sobre algum conto de Gogol, por exemplo. Guardei dele o título do conto “O capote”. Mas, não me lembro de nada sobre essa história. Claro, existem obras marcantes com as quais afinamos nosso espírito. Como esquecer o enredo de “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde? Que dizer do incrível “A consciência de Zeno” de Italo Svevo? Tantos livros muitos bem lembrados, outros tantos esquecidos.
Penso que boa parte das falhas de memória possam ser devidas à preguiça. O cérebro se acomoda à preguiça. Hoje em dia não há assunto a que não tenhamos acesso através da internet. Se preciso falar sobre o pintor Diego Rivera, por exemplo, não é necessário perder muito tempo, consultando a memória. Basta digitar o nome dele no Google para, num instante, ter acesso a dados sobre ele e observar as telas que nos deixou.
Poderá haver um tempo em que os homens deixarão de pensar, deixando tudo por conta das máquinas. Já acontece em filmes de ficção. Por enquanto vamos nos virando com acessos aos bancos de dados eletrônicos.
Maratonas
Alguns amigos participam de maratonas. São 42 km a percorrer, lutando contra o tempo. A filha de um amigo acaba de ficar em trigésimo lugar na maratona de Porto Alegre. Isso na classificação geral. No grupo dela alcançou o oitavo lugar.
Confesso que detesto exercícios físicos. A coisa chega a absurdos. Por exemplo: evito passar por ruas nas quais existem academias. Ver aquela turma pedalando nas bicicletas me dá nos nervos.
Outra coisa é correr. Até perto dos 30 não me exercitava. Depois passei a correr. No começo parecia-me que morreria pela falta de ar. Mas, de quilômetro em quilômetro, cheguei a correr 20 pelo menos três vezes por semana.
Adoro correr. Fone de ouvido, com boa e movimentada música, contribui para acelerar o passo. As neuras também. A distância a percorrer tem que ser religiosamente completada. Parar com apenas 1 metro a menos invalida tudo. A sensação é de não ter corrido. Neuras.
Eu corria num parque, nos finais de tarde. Tinha um sujeito que corria lá, na mesma hora. Até parecia que marcávamos encontro. Eu saia correndo para um lado do circuito e ele no sentido contrário. O cara corria bem melhor e mais que eu. O fato é que a cada volta completada ele chegava ao ponto médio bem antes que eu. Assim, o cara ganhava sempre.
Bem. Aconteceu-me tirar férias nas quais treinei muito numa região montanhosa. Quando voltei fui ao parque no horário de sempre. O cara estava lá. Começamos a correr em sentidos opostos, como sempre. Para surpresa dele fui o primeiro a chegar ao ponto médio. Nas voltas seguintes fui ganhando terreno.
Até aquele dia eu e o meu competidor não tínhamos trocado uma só palavra. Quando venci ele não se conteve. Queria saber como eu alcançara o feito. O cara não se conformava. Era bem mais neurótico por corridas que eu.
Hoje, na “Folha” o colunista Nizan Guanaes escreve sobre maratonas. Conta que chegou a pesar 200 kg. Tinha insônia, passava mal. Hoje é um triatleta. Diz que a maratona obriga o corredor a abandonar tudo o que é desnecessário nessa vida. Isso torna o empresário muito mais focado. Uma maratona exige planejamento, estratégia, e muita disciplina, coisas de que um bom empresário necessita. Daí que, segundo o Guanaes, correr é um novo MBA.
A força espacial
A guerra vai começar. O governo dos EUA anuncia a formação de uma força militar que tomará conta do espaço. Não basta aos EUA estarem no espaço; é preciso dominar a região dada a competição com outros países - leia-se Rússia e China.
Não se trata de roteiro de filme. Americanos são muito bons na criação de batalhas travadas no espaço. A sempre preocupante invasão de alienígenas tem levado multidões aos cinemas. Obviamente, o homem quase sempre vence. Estaria no DNA humano a supremacia sobre invasores vindos de outras galáxias. De modo que não é tão inesperado esse salto para a realidade. Os americanos decidiram chamar para si o domínio do espaço.
A decisão dos EUA não deixa de causar estranheza. Para o mortal comum a decisão de dominar o espaço soa megalomaníaca. Havia nas palavras do vice-presidente Mike Pence a arrogância do “nós podemos fazer isso”. A tal grandeza norte-americana que seus adversários dizem ser às custas do restante do mundo parecia impregnar o ato.
E não sem razão. Num mundo atolado na miséria e com problemas ambientais que caminham para tornar-se insolúveis os EUA, mais uma vez, olham para o próprio umbigo. Aliás essa é a declarada política do presidente Trump que, dia após dia, aplica-se em salvaguardar apenas os interesses de seu país, em detrimento dos demais. A liderança e poder inconteste dos EUA vem sendo colocada a serviço de interesses que excluem os de outras nações.
Segundo se anuncia a força espacial já estará em ação em 2020. Por enquanto vai soando aos nossos ouvidos como peça de ficção. Mas que não nos enganemos, a coisa é pra valer. E veja-se o lado bom: se um dia a Terra for atacada lá estará, no espaço, a força norte-americana para salvar-nos. Como nos filmes.
Matança de animais
Na Austrália o governo permite aumento do número de cangurus a serem abatidos. Com a seca os cangurus têm aparecido até mesmo em cidades em busca de alimentos. Grande número de acidentes com cangurus tem acontecido. Espera-se grande aumento no número desses casos até o final do ano.
No Pantanal um frigorífico tem capacidade para matar até 600 jacarés por dia. A carne desses animais é comercializada. Importante lembrar de que os jacarés são predadores de piranhas. As populações desses peixes aumentam com a redução do número de seus predadores.
Na Indonésia uma população enfurecida matou 300 crocodilos. A revolta se deu depois que um crocodilo matou um homem de 48 anos. A fotografia dos crocodilos abatidos circula na internet.
Entre nós vigora a discussão sobre o terrível javaporco. Trata-se de um animal descendente do cruzamento entre javalis e porcos. Considerado uma praga para a agricultura o javaporco é temido pela sua velocidade de reprodução, agressividade e tamanho. Devido a publicação de fotos de javalis sendo mortos o governo de São Paulo proibiu a caça aos javalis e javaporcos em todo o estado. A medida não foi bem recebida pelos agricultores que advertem sobre a possibilidade de extinção de áreas de agricultura pelo ataque e voracidade desses animais.
Os javaporcos foram introduzidos no continente por uruguaios e argentinos visando a produção de carne. A introdução revelou-se um desastre dada a ausência de predadores para esses animais. Além do que a carne de javaporcos revelou-se pouco apetitosa. No mais esses animais devoram o que encontram pela frente e suas fêmeas dão à luz cerca de 15 filhotes após gestação de apenas 110 dias.
Como atestam vários registros em todo o mundo a introdução de espécies em ecossistemas aos quais não pertencem costuma ser prejudicial. Caso clássico é o da introdução de coelhos - Oryctolagus cuniculus -, oriundos da Península Itálica, na França e na Inglaterra onde se tornaram pragas para a lavoura. No Brasil o mexilhão dourado, oriundo da Ásia, infestou rios e lagos da região Sul e do Pantanal. Capaz de entupir tubulações, provocar contaminações e interferir nas cadeias alimentares o mexilhão coloca em risco espécies nativas e o sistema elétrico do país.