Arquivo para setembro, 2018
O meteorito de Bedengó
O incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista é noticiado em todo o mundo. Perdem-se para as chamas cerca de 20 milhões de itens cujo calor histórico e científico é não só inestimável, mas irrecuperável. Tragédia acontecida, levantam-se vozes em busca de culapados. O descaso com bens públicos, o corte de verbas e outras acusações vêm à tona. Não há como aceitar tamanha perda que certamente tem responsáveis por ela.
Na primeira vez que visitei o Museu Nacional tinha 19 anos. Fui em companhia de um amigo que conhecera no Curso Colegial, hoje Ensino Médio. O meu amigo, hoje médico, era empalhador de animais. Foi recebido pelo pessoal do setor de empalhamento como “um dos nossos”. Naquela ocasião estendi a minha visita a todo o museu, deparando-me, pela primeira vez, como o meteorito de Bedengó.
Fora o meteorito encontrado no sertão da Bahia por um menino. Corria ao não de 1784. De lá para cá uma longa história de transportes e pesquisas envolvem o famoso meteorito. Constituído por ferro e pesando mais de 5 toneladas não foi fácil o transporte para o Rio de Janeiro. Na primeira tentativa, levado por um carro puxado por muitos bois, terminou no leito do rio Bedengó. Só 100 anos mais tarde o imperador Pedro II providenciaria a remoção do meteorito até Salvador, de onde foi levado ao Rio por via pluvial.
Hoje publicam-se fotos do famoso meteorito que resistiu ao fogo que destruiu o museu. Informa-se que, capaz de resistir a temperaturas de até 10.000º C o meteorito permaneceu intacto em meio às chamas.
Na época de sua descoberta o meteorito de Bedengó era o segundo do mundo em tamanho. Hoje ocupa o décimo-sexto lugar.
Em minhas incursões pelo sertão da Bahia, região de Canudos, muito ouvi falar sobre o meteorito. Naquelas paragens, distantes do mundo em que vivemos, fatos ali acontecidos ganham muita projeção e perduram nas memórias das gerações. A Guerra de Canudos, por exemplo, é contada em prosa e verso pelas gentes do sertão, conforme ouvida das gerações que as precederam. Mas, bem me lembro de como se falava com orgulho daquele meteorito encontrado, justamente, ali no sertão. O sertão que produzira a guerra também passara à civilização o famoso meteorito.
Sobrevivente ao incêndio o meteorito de Bedengó renasce em meio aos restos daquele que foi importante repositário de nossa história. Ao vê-lo nas fotografias tem-se a impressão de que ali está para gritar que somos um povo forte, maior que a incompetência e desmandos daqueles que nos dirigem.
A beleza das mulheres
Certa ocasião ouvi depoimento impressionante. Uma atriz de novelas, mulher lindíssima, contava sobre a manhã de sábado em que fora trabalhar. Ao estacionar seu carro na rua defronte à emissora, fora abordada por dois homens que a sequestraram. Eles a conduziram a um terreno baldio e fizeram o diabo com ela. Estuprada, a atriz foi abandonada no lugar. Os criminosos nunca foram encontrados. A atriz experimentou longo período de tratamentos para, na medida do possível, recuperar-se do abuso de que fora vítima.
Não conheço as estatísticas sobre estupros, mas esse tipo de crime parece aumentar a cada dia. O alegado empoderamento das mulheres pouco tem contribuído para a redução dos casos de estupro. O uso do corpo feminino como matéria de simples consumo parece ser normal para a horda de tarados que circula por aí. Semana passada, por exemplo, um homem de 70 anos foi preso ao desembarcar de um avião. O que ele fez? Ora, sentado ao lado de uma mulher, decidiu masturbar-se…
Cada povo tem seus costumes. Criminosos agem em todos os grupos populacionais do mundo. A Índia tem se notabilizado por casos medonhos de estupros coletivos. No Brasil volta e meia acontecem situações esdrúxulas como assédios e masturbações em veículos de transporte coletivo. O lado animalesco da espécie, infelizmente, tem-se pronunciado com força e violência.
Entretanto, em meio a tudo isso encontram-se pessoas que atribuem a culpa pelos crimes sexuais justamente às mulheres. As roupas que usam seriam provocativas demais e justificariam ataques. A beleza e o corpo bem torneado funcionariam como estímulo para reações incontroláveis por parte dos homens.
Espera-se que o que está dito no parágrafo anterior seja parte do ideário de pessoas cujo cérebro esteja mais alojado no baixo ventre. Mas, que dizer quando quem fala é alguém de grande projeção, o governante de um país, por exemplo?
Pois, Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, acaba de afirmar que “se houver mulheres bonitas, haverá muitas violações”. Ou seja: a culpa é delas. Quem manda ser bonita e gostosa?
Eis aí a visão sexista, misógina, que permeia os nossos dias. Inaceitável, mas professada por muita gente. Desgraça em grandes proporções.