Arquivo para outubro, 2018
Dinheiro e felicidade
Um homem afirma ao amigo: dinheiro não traz felicidade. Ao que o amigo retruca: então eu não quero ser feliz.
Agora um professor da Universidade de Michigan publica pesquisa na qual conclui que dinheiro traz, sim, felicidade. Segundo o professor aumento de 10% na renda já condiciona melhora na qualidade de vida e traz felicidade. Outro professor afirma que também importa a forma como o dinheiro é obtido.
No momento o país atravessa grande crise na qual são detalhados vultosos desvios de dinheiro público. Negociatas com subornos e propinas vêm a público, estarrecendo aqueles que lutam no dia-a-dia pela sobrevivência. Tão desmedidas são as ações de gatunos que se locupletam com dinheiros, aliás de enorme utilidade no combate à miséria no país, que a população clama contra a impunidade. Demonstra a reação popular o recente pleito eleitoral no qual caciques políticos não conseguiram se reeleger.
Quando se fala em desvios, roubos de toda sorte, sempre impressiona o montante do dinheiro surrupiado. Não dá para entender, por exemplo, porque determinada pessoa mantém em contas pessoais externas fortunas de alguns milhões de dólares. Afinal, de que vale ter tanto dinheiro se é impossível gastá-lo em sua totalidade?
Estima-se que o total de propinas investigadas pela Operação Lava- Jato seja de cerca de 10 bilhões de reais. Só o ex-diretor da Petrobrás devolveu 70 milhões aos cofres públicos. Mas, pergunta-se: para que o ex-diretor precisaria de 70 milhões? Ter esse dinheiro na conta proporcionaria ele mais felicidade que a quantia de, digamos, 5 milhões?
Há pouco tempo o ex-governador do Rio, preso e condenado por desvios, confessou não ter sabido se conter diante de tanto poder. Ele admitiu ter movimentado 500 milhões de doações eleitorais. Dessas afirma ter retido 20 milhões para uso pessoal. Confessa ter-se perdido na promiscuidade das doações eleitorais.
Talvez aqueles que viveram sob os auspícios de tão grandes fortunas tenham experimentado períodos de felicidade. No caso do ex-governador tornou-se notório jantar em restaurante muito chique de Paris, acompanhado de seus companheiros de governo. E a aquisição de fortuna em joias…
Não imagino em que categoria se enquadram essas felicidades episódicas quando o assunto em tela é a felicidade advinda do dinheiro, como propõem os estudiosos norte-americanos. Ente nós o que se pode dizer é que, pelo menos em relação a casos conhecidos, a roubalheira não deu certo. Safaram-se aqueles que optaram pela delação premiada. Outros ainda tentam se explicar, como o caso do político que mantinha num apartamento, em Salvador, caixas em cujo interior foram encontrados mais de 50 milhões de reais em espécie. Será que isso o fazia feliz?
Os novos
Não há outro assunto no momento que não o resultado das eleições em primeiro turno. Respira-se vingança contra quadros que dominaram a cena política do país nos últimos trinta anos.
O clima é, ainda, de incerteza. Trocar pelo novo tem seus riscos. A ascensão da direita é sempre vista com ceticismo. Discursos radicais atraem descontentes, mas não parecem confiáveis. O país entrega o poder a mãos desconhecidas. Os dois candidatos à presidência não passam a certeza de serem confiáveis.
Nova política? Novas medidas econômicas? Combate à criminalidade? Podem-se elencar várias perguntas sobre temas em relação aos quais não se sabe como agirá a equipe do futuro presidente.
Bem. Essas linhas na verdade são sobre cansaço. Cansaço em relação à pátria amada, salve, salve. Se você tem mais de 50 anos, certamente já passou por tudo e mais um pouco nesse país. Recordo-me de estar dentro de um ônibus, no largo São Francisco, quando aqueles estudantes saíram da Faculdade de Direito, portando cartazes, bombas etc. De repente, da rua São Bento, emergiram as forças de repressão e a batalha teve início. Um carro estacionado foi virado e incendiado. Bombas explodiram. Um estudante entrou no ônibus jogando papéis contra a ditadura. A repressão cercou a praça, atirando. Quando tomei consciência encontrei-me deitado no chão do ônibus, com gente empilhada sobre mim. Aquilo deve ter durado minutos, mas tempo suficiente para que experimentássemos a sensação de horror.
Isso sem falar em atentados, torturas etc. Lá atrás, antes da ditadura, o Jânio e sua inacreditável renúncia. Depois da ditadura a redemocratização. E veio o Color com o sequestro do dinheiro, uma barbaridade. Os tais governos petistas que meteram, descaradamente, a mão no dinheiro público. E tudo o mais.
Agora me diga: você não se sente cansado?
Pesquisas eleitorais
O atual governo publica série de medidas indispensáveis que deverão ser adotadas pelo novo governo, de preferência no primeiro trimestre do próximo ano. Trata-se de alerta baseado em números reais. O país está a ultrapassar o limite de tolerância em relação às contas públicas. A previsão é a de que se medidas urgentes não forem tomadas a bancarrota será certa.
Enquanto isso candidatos aos cargos eletivos se digladiam em acusações, buscando convencer o eleitorado de suas intenções de governo. Infelizmente ficam apenas no terreno das intenções. Ninguém se aventura a falar, claramente, sobre o que será necessário fazer. Há o receio do descontentamento dos eleitores diante da previsão de medidas duras a serem adotadas, porém necessárias.
Há quatro dias das eleições polariza-se a disputa de dois candidatos pela presidência da República. Nenhum dos dois parece reunir condições para despertar a confiança dos eleitores. Fala-se por aí sobre a escolha entre o ruim e o pior. Será?
A atual campanha é nascida do desespero e da desconfiança. O despreparo dos postulantes é mais que evidente. Contam eles, certamente, com seus seguidores. Mas, às vésperas do pleito, milhões de pessoas se perguntam sobre a escolha menos pior. Esse exército de indecisos poderá causar alguma surpresa quando o resultado das urnas for publicado.
Ouvi que há algo de errado num país em que as novas gerações não lograram produzir políticos de peso. Além do que a destemperança acusatória contribui, e muito, para o crescimento da desconfiança em homens públicos.
Acabo de encontrar, por acaso, com um conhecido que militou contra a ditadura. Consta que à época teria sido preso e torturado. Ele me falou sobre o medo em relação à eleição do futuro presidente. Pesa a ele o receio do retorno da ditadura. Tem como certo que a vitória do candidato do PSL representará o advento de novos tempos ditatoriais. Digo a ele que, por outro lado, o adversário mais forte está ligado ao grupo acusado pelos recentes casos de corrupção no país. Ele encerra a conversa, dizendo que votará em qualquer um que seja contrário à volta do regime ditatorial.
Eu. Ora, até agora não sei em quem vou votar.