Arquivo para maio, 2019
A nova Babel
Está no capítulo 11 do Gênesis, primeiro livro da Bíblia, a descrição da Torre de Babel. Até a construção da torre todos os homens falavam a mesma língua e não tinham dificuldades para se comunicarem.
Então um grupo partiu do Oriente e alcançou a planície de Sinar. Nesse local decidiram construir uma cidade e uma torre que alcance os céus. Entretanto, o Senhor decidiu visitar a cidade e a Torre ocasião em que determinou a confusão de línguas para que os homens não pudessem se entender. Assim, os homens espalharam-se sobre a terra.
Não se sabe se também por obra do Senhor - certamente por obra dos homens - vive-se hoje o tempo de uma nova Babel. Habitantes de um mesmo país não se entendem, povos de diferentes nações também não. Vigora enorme dificuldade, não de comunicação, mas de entendimento. Pesa nas relações a força de interesses em jogo, daí os homens deixarem de ver-se como irmãos. Guerras absurdas com grande mortandade instalam-se, sem haver perspectivas de acordos que determinariam o fim dos combates.
Em nosso país a situação é desalentadora. Atravessa-se uma mal disfarçada batalha na qual sobressai-se a alta criminalidade que, até agora, permanece praticamente impune. Crimes odientos se repetem e torna-se comum o desapego pala vida. É matar ou morrer.
Balburdia entre os homens que têm a missão de comandar o mundo. Ditaduras que oprimem o povo. Aqui, bem ao nosso lado, a interminável crise venezuelana que não parece ter resolução a vista. Fome, doenças e insegurança fazem parte do cotidiano de nações inteiras.
É a nova Babel. Dirão que sempre foi assim. Talvez. Mas, no tempo das comunicações velozes o mundo, assim como o rei, está nu. Essa espalhafatosa nudez nos revela um mundo convulso no qual pouco a pouco vai-se degradando a esperança e a alegria de viver.
Game of Thrones
Confesso não ter muita paciência para assistir as séries na TV. Entretanto, tamanho barulho se faz em torno dos capítulos finais da série GOT que não resisti. Comecei desde o primeiro capítulo da primeira temporada e já alcancei a quarta temporada.
Não é minha intenção tecer comentários sobre a série de resto escrita e falada à exaustão. Daí me restringir ao nono capítulo da terceira temporada, avisando que o que se segue é spoiler.
Bem. Robb Stark tinha jurado casar-se com uma das filhas de Walder Frey, mas não honrou seu juramento dado apaixonar-se por outra moça. Em guerra e precisando do apoio de Frey Robb o visita, acompanhado sua mãe e alguns de seus soldados. Frey os recebe magnificamente. Aceita as desculpas do rapaz e promove grande recepção.
Até aí tudo corre maravilhosamente. Acontece, que ao final da festa, Frey manda fechar as portas e surgem seus soldados armados com arcos e flechas. Instala-se grande carnificina. A mulher de Robb, grávida, é das primeiras a ser atingida. Robb recebe várias flechadas, o mesmo acontecendo com sua mãe. Os membros da comitiva de Robb são chacinados dentro e fora do castelo.
Nada de novo numa série na qual a violência é rotineira? Não. Poucas vezes tem-se visto cenas de tamanha crueldade e violência. A personagem de Frey, sentado defronte sua mesa e apreciando, gostosamente, a vingança pela quebra do juramente a ele feita é tremenda. A reação da mãe de Robb que ainda tenta salvar o filho seria comovente não fosse o fato de ter seu pescoço cortado e dele emergir um rio de sangue.
Cenas brutais das quais não nos livramos facilmente. Talvez ao gosto de muita gente, ainda assim inesperadas e difíceis de serem esquecidas.
GOT faz sucesso no mundo inteiro. Mas, não é uma série para ser vista por quem tem estômago fraco.
Furacões
De furacões estamos habituados a receber imagens e notícias. Acontecem em outras partes do mundo, em geral no Caribe e leste dos EUA. As imagens são assustadoras. Há cidades literalmente devastadas. Mortes. Perdas. Ventos de mais de 150 km/h arrastam tudo o que encontram pela frente. Pessoas abandonam suas casas antes da chegada dos furacões, migrando para onde possam ser protegidas. Convive-se com isso. Aliás, nos EUA, também com incêndios frequentes, na California.
Desastres naturais. O Brasil tem sido considerado pátria abençoada. Não existem vulcões por aqui. Até hoje nenhum tsunami chegou às nossas praias. Furacões, então…
Pois é. Domingo desta semana fortes ventos atingiram o litoral de São Paulo. A região de Ilhabela e São Sebastião foi a mais atingida pela convulsão dos ventos. Relatos e imagens de barcos levados pelas ondas, árvores arrancadas pela força dos ventos, muita destruição. Segundo pessoa ligada à administração de Ilhabela, o que aconteceu não foi apenas tempestade com ventos fortes. Foi um furacão. A sempre bela Ilhabela teria sido atingida por um furacão.
Divulga-se que, no domingo, os ventos chegaram à marca de 150km/h. A ser assim aconteceu mesmo um furacão, categoria 1 na escala de Saffir-Simpson. A escala 2 compreende furações acima dos 150km/h.
O furacão de domingo, em Ilhabela, notabizou-se pelo desaparecimento de conhecida modelo e apresentadora de TV. Estavam, ela e o marido, num barco a fazer a travessia entre Ilhabela e São Sebastião. Justamente naquele lugar. Naquela hora. Eis que fortes ondas e ventos fizeram que a modelo caísse no mar. Em vão o marido tentou resgatá-la. O corpo da moça foi encontrado, depois, sem vida.
Naquele lugar. Naquele momento. A força do acaso. Combinação de circunstâncias desfavoráveis como se a morte engendrasse cruel sequência de acontecimentos que resultariam no fim de uma vida.
Foi assim que aconteceu. Desse modo a jovem foi-se embora.
Messi e Pelé
Fala-se muito sobre Messi. O argentino do Barcelona joga demais. Bem demais. Atingiu a marca dos 600 gols e será, mais uma vez, o melhor do mundo. Muito justo, aliás.
De Messi reclama-se não jogar bem na seleção argentina. Grande no Barcelona, menor na seleção. Com Messi em campo a Argentina não coleciona títulos. Messi não logrou vencer uma Copa do Mundo.
Acontece que Messi é um jogador, fabuloso jogador, de equipe. Sua grande visão de jogo requer companheiros afinados com ele. Capaz de definir partidas, distribui e recebe passes precisos. No Barcelona joga com companheiros que anteveem o seguimento dos lances do ídolo. Na seleção argentina Messi mais parece o grande capitão de um navio, mas em terra firme. A bola sai de seus pés, nem sempre volta.
No rádio comenta-se a grande atuação de Messi no jogo de ontem. Surge uma pergunta: Messi compara-se a Pelé?
Os radialistas confessam não terem visto Pelé jogar. Perguntam se o endeusamento do Rei não faria parte de exaustiva repetição das qualidades do mito.
A comparação entre Pelé e Messi na verdade não tem sentido. Pelé foi um jogador fora da curva. Não é que ele não precisasse de seus companheiros em campo. Entretanto, sua genialidade era explosiva. Sim, explosiva. De repente, do nada, eis a criação de algo inesperado, genuíno. Para isso não precisava de ninguém.
Eu vi Pelé jogar. Presenciei o Rei partir com a bola do meio do campo, driblar uma defesa inteira e entrar com bola e tudo dentro do gol. Inimaginável.
A grandeza de Pelé provinha de sua inteligência, genialidade, físico excepcional e imensa habilidade com a bola nos pés.
Não há que se fazerem comparações de Pelé com quem quer que seja. O fato é que ele foi único. Nenhum demérito para Messi, grandíssimo jogador, mas de outro estilo.