O neto de Elvis Presley
O neto de Elvis Presley assina contrato de 5 milhões de dólares com a Universal para gravar cinco discos. Benjamin Presley tem 17 anos de idade e é filho de Lisa Marie Presley, filha de Elvis.
A notícia nada diz sobre o talento musical de Benjamin, exceto que ele declara ser seu trabalho diferente do de seu avô. Entretanto, o fato desperta curiosidade: quem será esse Benjamin, tão jovem e já assinando um rico contrato com grande gravadora? Qual o peso do sobrenome Presley na transação?
Quando li no jornal sobre o neto de Elvis algo me pareceu fora de lugar. A princípio não consegui identificar o que me causou estranheza na notícia. Afinal, não parece haver nada de anormal no fato de um jovem presumivelmente talentoso ser contratado para gravar discos, ainda mais com as coisas facilitadas pelo seu sobrenome.
Foi só depois de algum tempo que consegui identificar a razão do meu desconforto: nada a ver com a juventude de Benjamin, com o Presley de seu nome ou com a alta soma de dinheiro que receberá: o que está fora de lugar é a associação entre o nome Elvis Presley e a palavra avô.
Ora, uma cara como Elvis jamais poderia ser avô de ninguém, até porque ele não envelheceu. Avô é um cidadão de duas gerações passadas, teoricamente um sujeito de cabelos brancos e circunspecto. Avôs não comparecem ao programa de Ed Sullivam com uma banda e são filmados apenas da cintura para cima para não ofender a moral da época; avôs não precisam provar que são bons rapazes e não estimulam a degradação de costumes da juventude; avôs não dançam movendo louca e sugestivamente o ventre enquanto cantam rock, dando início a uma nova era musical; avôs não são apelidados de “Elvis The Pelvis”; avôs não encetam a revolução pioneira realizada por Elvis que passa a ser perseguido por reacionários e gente de todas as etnias; e assim por diante.
Não adianta, é impossível pensar em Elvis como avô de alguém. No máximo pode-se aceitar a figura de Elvis um pouco mais velho, proporcionando shows memoráveis a grandes platéias.
Elvis Presley morreu em 16 de agosto de 1977. Tinha 42 anos de idade. De certa forma pode-se supor que ele tenha conseguido parar o tempo já na década de 60 quando se tornou uma atração internacional. A partir daí ele simplesmente não envelheceu: aprimorou-se cada vez mais com a sua grande voz e preciosas interpretações. Não importa que os anos tenham passado para ele - poucos na verdade, porque morreu cedo -, nem que entre a data de sua morte e o dia de hoje tenham decorrido outros muitos anos: Elvis permanece jovem, muito jovem, cantando e dançando.
Elvis atraiu multidões e rompeu inúmeros paradigmas. Ele criou um novo jeito se ser e arrastou multidões com a sua música. Aqueles que atribuíram o sucesso ao seu aspecto físico e à novidade de suas apresentações estavam enganados. Elvis sobrevive até hoje graças ao seu talento e ousadia musical.
As pessoas mais jovens talvez não possam avaliar o que representa, num mundo em que reina certa ordem de costumes, o surgimento de um ícone da estatura de Elvis Presley. Uma coisa é assistir hoje em dia a filmes de apresentação do cantor ou ouvir as suas gravações. Outra é estar no mundo dos anos sessenta, seguir a onda Elvis através de jornais e revistas e ouvir as suas músicas no momento em que foram lançadas. A sensação de ouvir “Jailhouse Rock” no instante em que se tornou sucesso mundial não cabe em palavras. Talvez também seja impossível reproduzir aquele Brasil dos anos sessenta, subdesenvolvido, marginal na economia mundial e a juventude de um país de terceiro-mundo que, desde os anos cinquenta, ouvia e dançava rock para o espanto das suas famílias.
Eles continuam todos lá, Elvis e essa gente toda, cantando e dançando no passado, estalando os dedos, movendo os ventres, arriscando passos ousados, afrontando os costumes. Ninguém envelheceu. Por isso, Elvis não pode ser avô e a notícia está errada.
Não importa o que digam, a verdade é que no imaginário popular Elvis continua tão jovem quanto Benjamin.