Na Somália
O Brasil perdeu o campeonato mundial Sub-20 para Gana. Torci pelo Brasil, obviamente. Entretanto, confesso que em muitos momentos não pude conter a minha simpatia por Gana. Por detrás desse sentimento uma só palavra: África.
Gana vive uma situação estável embora tenha grandes desafios pela frente, entre eles a pobreza e a desigualdade. Em abril deste ano realizou-se no país a XII Conferência da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). Em julho Barak Obama visitou Gana onde fez pronunciamento sobre a política norte-americana a ser adotada em relação ao continente africano.
Em águas diferentes navega a Somália, país que volta e meia aparece no noticiário graças aos seus piratas que atacam navios no Oceano Índico. O país vive um caos, daí com frequência ser lembrado como uma terra sem lei. Trava-se ali uma guerra que nenhuma das facções em conflito pode vencer. São várias as facções: as milícias radicais Shabaab, os clérigos Sufi, o governo islâmico moderado e dois governos autónomos do norte do país. Ninguém se entende e a guerra civil é permanente. Em consequência a fome no país atinge limites catastróficos. As fotos de crianças e adultos descarnados, pele e ossos, chocam. E como desgraça chama desgraça, a Somália foi atingida pelo grande tsunami que varreu países da região, tempos atrás.
A Somália é um dos países mais pobres do mundo. Notícias boas nunca chegam de lá. É o caso de uma recentemente divulgada sobre ações do grupo radical islâmico Al Shabaad. Eles estão chicoteando em público mulheres somalis que usam sutiã, acusando-as de enganar outras pessoas. Basta que vejam uma mulher que tem busto firme: imeditamente a chicoteiam e a obrigam a tirar o sutiã.
Os radicais do Al Shabaad não dão mole. Dias trás amputaram um pé e uma mão de dois jovens acusados de roubo. Também é proibido assistir e jogar futebol, ver filmes etc. Homens sem barba são açoitados.
Nem é o caso de falar em atraso cultural. A crise é mais profunda, animalesca. Na Somália 98% das mulheres é atingida pela mutilação do clítoris ou circunsisão feminina. Quase todas as meninas são circuncisadas entre oito e 14 anos de idade.
Civis mortos como bodes, mulheres estrupadas, a Somália é o território da barbárie.
Que mundo é esse?
Mundo, mundo, vasto mundo – como dizia o poeta.