Cristo e Judas
É indisfarçável o constrangimento provocado pelo presidente da República ao afirmar que no Brasil, Cristo teria que se aliar com Judas. São palavras do presidente: “se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”.
Nada de pudores religiosos, nada de aversão a frases de efeito e, preconceito, se existe, só em relação a uma confissão pública do tipo “os fins justificam os meios”.
Mas a lição vem de cima e está dada: nada contra aliar-se com alguém que o traiu ou poderá novamente traí-lo se o que está em jogo é alcançar a vitória de momento. Na verdade o passado e o futuro pouco interessam, exceto o esforço para manter o poder em mãos indefinidamente.
Não custa lembrar: Jesus foi torturado e morto justamente para não pactuar com fariseus etc.
Sou dos que tem na Bíblia uma das maiores obras literárias de todos os tempos, isso sem considerar os aspectos ligados à fé cuja interpretação difere de acordo com a crença que cada um professa.
Por falar em literatura, em carta endereçada a Joaquim Nabuco, em agosto de 1906, Machado de Assis afirma que se consola e desconsola com a leitura de um de seus livros prediletos, o Eclesiastes. Um dos trechos preferidos de Machado pode nos servir para consolo e desconsolo diante do que homens públicos afirmam e praticam nos dias de hoje. É o seguinte:
- Vaidade das vaidades. Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.