Haiti at Blog Ayrton Marcondes

Haiti

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Há partes deste vasto mundo que parecem ter sido criadas para a ocorrência de desgraças e sofrimento. O Haiti sempre foi o pólo oposto do desenvolvimento e da paz. Parece pairar sobre o país uma espécie de maldição que o impede de progredir e beneficiar seus habitantes com mínimas condições de um padrão de vida aceitável.

O Haiti sempre foi e nunca deixou de ser um pouco de Papa Doc, Baby Doc e Ton Ton Macute. O Haiti sempre foi a terra dos zumbis, do vodu e dos mais complexos sincretismos religiosos capazes de unir ortodoxias religiosas a ritos tribais. O Haiti é a terra do absurdo, da estagnação, das revoltas, da violência, da enorme pobreza, do que há de mais atrasado em termos civilizatórios.

Foi sobre um país refém das circunstâncias anteriormente citadas que o grande terremoto se abateu. De nada adianta os geólogos explicarem as grandes possibilidades de abalos sísmicos na região ou se referirem aos movimentos das placas tectônicas: tinha que ser no Haiti e ponto final. Tinha que acontecer num lugar de edificações precárias e ausência de infra-estrutura em todos os setores. Só num lugar assim a destruição e o sofrimento poderiam ser tão grandes, de dimensões quase incomensuráveis.

Ah, se pudéssemos apagar tudo isso, voltar no tempo, evitar o inevitável. Seríamos poupados das imagens terríveis que nos perseguem durante a vigília e invadem os nossos sonhos. Não veríamos os prédios desabados, os corpos em putrefação nas ruas, os cadáveres lançados à vala comum, a precariedade do atendimento médico, a falta de água e gêneros alimentícios, o desespero dos que perderam famílias inteiras, a agonia da falta de notícias, o desentendimento entre membros de governos estrangeiros na luta pela primazia do rótulo de benfeitores, os saques, a revolta da população, o êxodo dos haitianos e a escalada da violência.

A realidade que o Haiti nos passa a cada dia é forte demais, desafia a nossa compreensão, faz-nos perguntar pelo Deus que permite tamanha desgraça e tanto sofrimento. Faz-nos, ainda, questionar sobre as escolhas da morte que a uns poupa e a outros leva sem maiores explicações, com se fora tudo natural e parte do exercício de estar vivo.

Um amigo me disse: isso jamais poderia ter acontecido. Ao que respondi:

- Mas foi no Haiti, só poderia ter sido no Haiti.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 janeiro, 2010 às 12:17 pm

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