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O casal Nardoni está sendo julgado, em São Paulo, pelo terrível assassinato da menina Isabella. Culpado(s) ou inocente(s)? A resposta será dada em alguns dias por um júri formado por quatro mulheres e três homens. Nenhum deles tem formação jurídica e alguns estão entre os 20 e os 30 anos de idade. Por esse meio os magistrados transferem à sociedade o direito de julgar um caso que estarreceu a opinião pela sua brutalidade e barbárie. Mas, é o que reza a lei.

Em torno do julgamento está montada uma gigantesca rede de informações. À mídia, como um todo, interessa mostrar o assunto sob todos os ângulos porque fora do âmbito do julgamento,  lá fora, existe uma imensa massa de consumidores para quem todos os detalhes parecem ser muito importantes.

É exatamente a delimitação do que deveria realmente interessar que chama a atenção por ocasião de ocorrências como o julgamento do casal Nardoni. A febre de “estar no ar” e “sair à frente” estimula a concorrência entre as grandes redes de tevê: elas constroem um mundo paralelo ao julgamento em si, algo estranho como se antes de uma partida de xadrez entre grandes jogadores os espectadores pudessem observá-los nas suas intimidades.  Interessa, sim, o jogo e seu resultado, mas também interessa aquilo que não conta, a aparte que poderia muito bem ser desprezada porque não tem e não terá importância.

Foi assim hoje de manhã. De repente alguns canais passaram a transmitir imagens do momento em que Alexandre Nardoni saía do presídio onde passara a noite para se dirigir ao local do julgamento. O que se viu de Nardoni foram nada mais que closes de partes de seu corpo ao entrar no furgão da polícia; depois, diretamente de um helicóptero, transmitiram-se imagens do furgão durante o percurso.

Não basta, portanto, saber que Alexandre Nardoni está sendo julgado. É preciso ter certeza de que ele passou a noite bem trancado pela polícia e que comparecerá ao local do julgamento. Não se pode largá-lo por aí, sem saber por onde anda, ainda que preso dentro de um furgão da polícia. É preciso vigiá-lo, mesmo que não se preste atenção ao que dizem os repórteres ao longo do caminho: eles, por não terem nada a dizer, repetem coisas como “aí está o furgão que leva Alexandre Nardoni, acusado do assassinato de sua filha Isabela, agora chegando à rua tal etc.”

Assim, o caso Isabella, como outros de igual porte, é transformado pela mídia num imenso Big Brother, montado em conformidade com o roteiro da tragédia acontecida. Trata-se de um momento de expiação de um horrível pecado no qual o mínimo que se espera é que se faça justiça. Entretanto, é importante que nada se passe em segredo, longe dos olhos do público. É função da sociedade punir os culpados,  torna-se verdadeiro dever cívico vigiar todos os passos da ação para que isso aconteça, ainda que sob o perigo de tanta vigilância não passar de puro exercício de curiosidade.

Muitas pessoas lutam pela conquista de um lugar na sala do júri; há gente que passa o dia inteiro do lado de fora do local de julgamento apenas para ficar perto dos acontecimentos; um rapaz entrevistado declarou ter vindo de cidade distante para acompanhar, ali da rua, o julgamento; uma moça conseguiu dispensa no emprego e só voltará a trabalhar quando tudo terminar.

Como se trata de um caso em que a menina foi morta covardemente e não existem outros suspeitos identificáveis é notório que o público em geral espera a condenação dos Nardoni. Mas, em caso de condenação ou não, qual será a reação do público? É provável que os órgãos midiáticos já tenham diferentes tipos de cobertura preparados para uma ou outra solução, afinal o que importa mesmo é a notícia em todos os seus detalhes.

Escrito por Ayrton Marcondes

24 março, 2010 às 4:53 pm

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