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Darwinismo e religião

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darwin-e-religiaoO assunto nunca esfria: volta e meia reaparece o antagonismo entre a teoria evolucionista de Darwin e o texto bíblico do Gênesis. De um lado o darwinismo; de outro o criacionismo.

Essa encrenca vem de longe, desde a publicação do livro “A origem das espécies” de Darwin. Para quem não se lembra, Darwin baseia-se na variabilidade das espécies que são selecionadas pelo meio segundo as características adaptativas delas. Grosso modo, sobrevivem os que possuem características capazes de adaptá-los ao ambiente em que vivem; ao longo de inúmeras gerações tantas características adaptativas são selecionadas que surgem novas espécies, diferentes de suas ancestrais. Essa é, em síntese, a teoria da seleção natural proposta por Darwin. Segundo ela os seres vivos que atualmente existem na Terra não são as que sempre existiram, mas resultaram de mudanças de outras espécies que viveram no passado.

Outra é a visão criacionista que vai buscar no Gênesis, primeiro livro da Bíblia, a explicação para a existência dos seres vivos tal como hoje se apresentam. Trata-se do texto bíblico que começa com a presença de Adão e Eva no paraíso. Nesse caso Deus teria criado todos os seres vivos sem a ocorrência de evolução, daí os seres atuais serem os que sempre existiram na Terra. Esse é o criacionismo tal como se ensina nas escolas, chamado de fixismo porque professa a idéia de que as espécies são imutáveis. Entretanto, o criacionismo tem-se desdobrado em termos de interpretação: uma corrente criacionista admite a evolução, mas dirigida por Deus, prevista por ele.

Agora surge uma pesquisa realizada pelo Datafolha cujo resultado aponta para o fato de que 59% dos brasileiros acreditam em Deus e também em Darwin. Trata-se de uma forma de harmonização entre a seleção natural e a religião. Por outro lado, 25% dos brasileiros são fixistas e só 8% darwinistas puros.

Pesquisas são importantes porque revelam, através de amostragens, o perfil da população em relação a determinado assunto. Entretanto, a pesquisa divulgada pelo Datafolha dá o que pensar. O fato é que os resultados se baseiam na opinião dos brasileiros sobre assunto controverso. O que nos cabe perguntar é se as pessoas entrevistadas têm uma clara noção conceitual sobre o assunto em pauta, condição necessária para opinar com consciência.

A pergunta tem sua razão de ser. Professores de Biologia sabem que não é assim tão simples explicar com clareza o darwinismo de modo que os estudantes entendam a teoria com facilidade. Pois se em cursos específicos as coisas se passam desse modo que dizer da população em geral? Pode-se dizer que o darwinismo é bem compreendido por todos os entrevistados pelo Datafolha? Ou será que pelo menos parte da população pensa que Darwin é aquele cara que disse que o homem é descendente do macaco?

Para a Biologia é importante compreender o darwinismo sem a participação de doutrinas religiosas. A vida é um fenômeno complexo e o que interessa, sob o ponto de vista científico, é o estudo dos seres vivos. Nesse sentido a seleção natural proposta por Darwin revela-se indispensável.

O interessante é que não é preciso abjurar crenças religiosas para pesquisar e compreender a existência dos seres vivos em nosso planeta.



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